terça-feira, 23 de junho de 2020

Da Gravidez... - VII (ou de como a gravidez não é doença mas...)

Gravidez não é doença,

Quem nunca ouviu isto?...

De facto, gravidez não é doença, mas... 

Mas eu sinto-me muito pouco saudável, na maior parte dos dias.

Ou estou enjoada, ou estou com azia, ou estou com alguma dor, ou fico sem fôlego se subo dois lanços de escada. Gravidez não é doença, mas é cansativo e pode ser exasperante, para alguém que estava habituada a um certo nível de actividade.

Chego ao final da gravidez em modo repouso e a tomar 10 comprimidos por dia.

Se isto é estado de graça, eu não vejo onde está a graça (perdoai a piada óbvia).

Comecemos pelo princípio: os enjoos. Eu não vomitei uma única vez ao longo da gravidez, felizmente. Sei que há mulheres que passam muito pior do que eu e talvez nem me devesse queixar. Mas eu passei tanto tempo tão enjoada, Senhores!... Os enjoos começaram logo no início e esqueçam lá a conversa dos enjoos matinais. Eu tinha enjoos de manhã, à tarde e à noite. Eu tinha enjoos com chá, eu fazia um esforço tremendo a lavar os dentes, eu cheguei a correr para a sanita algumas vezes, eu sofria horrores no caminho de e para o trabalho (entre o percurso a conduzir e o percurso no metro em hora de ponta, não sei o que era pior). Mais ou menos no final do 1º trimestre, eu comecei a tomar o Nausefe. E a minha vida melhorou. Ligeiramente, mas melhorou. Quando comecei a ser acompanhada no privado, a obstetra mandou-me alterar a forma como tomava o Nausefe, e a quantidade. E a minha vida melhorou. Ligeiramente, mas melhorou. Quando comecei a trabalhar a partir de casa, mais ao menos aos 5 meses de gravidez, a obstetra aumentou-me ainda mais a dose. Não o quis fazer antes porque, em teoria, o Nausefe dá imenso sono, e ela não me queria a conduzir com sono. Quando aumentei a dose, a minha vida melhorou mais significativamente. Os enjoos diminuíram e eu comecei a sentir-me melhor. Curiosamente, há 3 ou 4 semanas, eu achei que era boa ideia reduzir a dose do Nausefe. Pensei eu para mim que, em estando no final da gravidez, já não haveria de ter enjoos. Pois... Má ideia. Bastou o primeiro dia, para eu chegar a meio da tarde terrivelmente enjoada, e perceber que hei-de tomar o Nausefe até entrar para a sala de partos. E está tudo bem.

Não me posso esquecer de uma conversa telefónica que tive com o meu Pai, em que eu comentava os enjoos e ele me dizia:
- Oh, deixa lá! Dizem que isso depois dos 3 meses passa.
- Sim, Pai. O problema é que eu já faço 5 meses para a semana!...
- Ah! Então fazes parte da excepção que há sempre em todas as regras...

Podia ser pior, eu sei.

A juntar às coisas chatas da gravidez que, não sendo doença, pode fazer-nos sentir doentes, resolvi arranjar mais uma coisa gira: Síndrome do Tunel Cárpico.

Diz que é coisa que afecta 25% das grávidas. Não é tão raro assim, portanto. Surge graças às maravilhosas alterações hormonais que o corpo sofre durante a gravidez e ao inchaço natural deste estado.

Desde cedo na gravidez que eu sentia as mãos mais dormentes do que o normal. Com coisas simples e básicas (como estar mais tempo ao telemóvel), eu ficava com as mãos dormentes. Achava que era normal, e desvalorizava. E andei assim uns tempos. Até que ali pelos 6/7 meses de gravidez, a determinada altura, eu comecei a acordar a meio da noite cheia de dores na mão direita. A sensação que tinha era de que os dedos estavam a arder e dedos e mão estavam inchados. Estávamos em plena pandemia, e eu não queria ir ao médico por causa disso. Fiz uma teleconsulta e disseram-me que devia ser o dito Síndrome. Mandaram fazer gelo, repouso e ver se passava. A coisa melhorou, mas ao fim de umas semanas voltou a piorar, já me afectava as duas mãos, e eu achei melhor marcar uma consulta de ortopedia. Confirmou-se o diagnóstico e vim de lá com uma tala, para usar durante a noite, que imobiliza a mão e impede o pulso de dobrar (que é o que provoca as dores, ao comprimir o nervo). E é assim que eu estou há mais de um mês a dormir com uma linda tala, que dá imenso jeito (só que não). É chato. Não é nada do outro mundo, mas é chato. Voltei a conseguir dormir, só acordando com um ou outro desconforto pontual, e durante o dia tenho algumas dormências e dores nas articulações, mas estou bem melhor. Diz a médica que, depois do parto, pode demorar até 2 meses a passar completamente... O que vai dar imenso jeito com uma recém-nascida para cuidar. Mas tudo bem.

Mas... E porque nem tudo é mau... Há uma série de outras coisas que são comuns na gravidez e das quais não me posso queixar: não tenho grandes dores nas costas, não estou particularmente inchada, ainda consigo andar sem parecer uma pata, não tenho grande sono (antes tivesse)... 

Não, nem tudo é mau. Mas a verdade é que me custa lidar com estas limitações que o meu corpo me auto-impõe, sinto-me meio inútil na maior parte dos dias, e não estou a adorar esta fase. Mas diz que está quase a acabar...

8 comentários:

  1. O Síndrome de túnel cárpico tenho eu todos os dias e a Bia já vai em 12 kilos, mas faz-se. Os bebés pequenos são leves e habituas-te a usar outra mão e acredita que aguentas a dor antes de a deixar cair.
    Os enjoos é uma chatice, a gravidez toda ainda pior e lá porque há piores não quer dizer que não te possas queixar!
    Recta final, está quase, tudo passa (acredita, válido também para os picos da miúda que no início são tipo semana sim semana sim)

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    1. A sério!?!? E fazes alguma coisa para aliviar? Não fizeste nenhum tratamento?... Eu não me imagino a aguentar isto muito tempo depois... Além do incómodo a dormir, durante o dia é mesmo desconfortável, até nas coisas mais básicas!

      Ahahahah! É esse o mantra: tudo passa! :)

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    2. Há uns anos largos andou mesmo mal e levei injecções nos pulsos que dói que se farta. Anda controlado, há dias mesmo difíceis, há dias que fazer pole é limitador e tenho de escolher o que fazer, flexões só de punho fechado, etc...

      Eu sei que vai parecer que não, mas tudo passa, nào quer dizer que não procures ajuda para saber o que é normal ou não e o que outros podem ter feito para contornar ;)

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    3. Nem imagino o que seja andar anos assim :/

      Eu espero mesmo que isto melhore, que com uma bebé para cuidar, não é fácil. Eu tenho dias de ter dificuldade em segurar na chávena de chá ao pequeno almoço...

      Vamos ver o que o tempo me reserva!

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  2. Mas a questão do Síndroma do Túnel Cárpico no teu caso apareceu por causa da gravidez? Ou piorou?

    Se usas muito o rato, arranja um suporte para o pulso, vê o teclado, também há a possibilidade de mexer na altura do mesmo e tens apoios de pulso que se colocam no teclado, altura do(s) monitor(s), um rato diferente (vê como costumas agarrar/pousar a mão o rato) e logo partes daí.

    Há a mania entre as mulheres que o rato tem que ser algo minúsculo e que ratos diferentes e mais específicos é coisa de gajo e supérfluo (sim, uns 3 ou 4 estereótipos pela manhã mas é a minha percepção).

    Quanto ao resto, não me vou pronunciar, sou gajo e a esposa não teve a gravidez mais simples mas felizmente, no fim, tudo se conjugou ;)

    Beijinhos e mantenham-se felizes e saudáveis.

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    1. Ahahahha adorei os estereótipos!

      No meu caso, apareceu com a gravidez. Aliás, estive uns tempos mais afastada daqui, por isso mesmo, para evitar estar no computador, mas não adiantou...

      Agora estamos à espera para ver se isto passa :)

      E, sim, eu não me posso queixar porque nunca houve nada grave ou muito complicado. Só coisas chatas...

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  3. "sinto-me meio inútil na maior parte dos dias" Compreendo o sentimento mas já viste a tão importante missão que estás a cumprir?!? :)
    Olha, vou dar o caso pessoal. Na 1ª gravidez (Joana) a Mafalda não teve qualquer enjoo ou similares. Mas... ao 3º mês sofreu descolamento da placenta e teve que ficar em repouso total, ou seja 6 meses sempre na cama e com a gravidez em risco até ao parto que, felizmente, depois tudo correu bem. Na 2ª gravidez (Ricardo), a Mafalda teve enjoos, vómitos e tudo do género. Mas... foi uma gravidez sem qualquer problema e risco...
    Conclusão, não se consegue ter o melhor dos dois mundos mas depois tudo passa quando se sente aquele minúsculo ser nos braços :)
    Beijinhos e força!!! Tudo a correr pelo melhor :)

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  4. Claramente que a Mafalda experimentou de tudo! E alguma me diz que preferiu os enjoos, do que ter de ficar de repouso tanto tempo.

    Acho que são sempre experiências únicas, e o que importa é mesmo o resultado final :)

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