sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

Dos 6 meses da Isabel...


Seis meses de Isabel.

Meio ano. Uma metade de um ano. Já passou meio ano desde que a Isabel chegou a este mundo, e virou as nossas vidas de cabeça para baixo. Seis meses que voaram, respeitando o cliché que toda a gente nos repetiu até à exaustão: aproveitem, que passa depressa. E passou. Passou tão depressa que ela, não tarda, vai para a creche. Vai ser do Mundo, a minha filha. Vai deixar de ser minha e do Pai, para ser de quem a agarrar. Cresceu tanto nestes 6 meses. A última novidade foi ter conseguido rebolar sozinha. Claro que a gracinha aconteceu enquanto eu estava a trabalhar. Claro. Vai ser sempre assim, não vai? A partir de agora, vou ter de me habituar à ideia de poder perder muito do que acontece na vida dela. Chama-se crescimento, dizem. Independência, autonomia, vida para além da minha. Ela vai crescer e eu nem sempre vou lá estar. Mas vou lá estar sempre, quando ela quiser repetir as gracinhas. O rebolar, o agarrar os pés, os ruídos novos que todas as semanas explora com a boca. Agora aprendeu a imitar um toiro enraivecido. Do alto dos seus seis meses, faz um misto de rosnar com zurrar, e põe um ar de fazer chorar as pedras da calçada... De riso. Continua uma bem disposta. Ri-se que nem uma perdida. Por tudo, e por nada. Ri-se cada vez mais para o gato quando ele passa por ela. Passou aí uma fase muito crítica nas noites, mas parece estar ligeiramente melhor. Resta saber por quanto tempo. Vai começar a comer nos próximos dias. Fez um sucesso tremendo no Natal. Como faz sempre, aliás, nas raras vezes em que está com outras pessoas. É uma bebé Covid. Estranha barulhos e confusões. Mas distribui sorrisos e ninguém lhe resiste. Gostava que ela tivesse estado com mais pessoas este Natal, que tivesse andado em mais colos, em mais casas. Mas um dia vou contar-lhe o quão estranho foi o seu primeiro Natal. Hoje, para celebrar os seis meses, fui dar com ela a chuchar no dedo... Do pé. Acho que ela o fez apenas para calar as más-línguas que dizem que ela é gordinha. Pode ser gordinha, mas agilidade não lhe falta e vá de comer os pés. Outras más-línguas talvez digam que ela passa fome e, por isso, come os pés. Mas, olhando para aquelas bochechas, ninguém acredita. A minha filha faz hoje seis meses. Caramba. Seis meses. E eu que ainda não consigo olhar para mim como mãe. 

terça-feira, 22 de dezembro de 2020

Das coisas que a pandemia nos roubou...

Esta manhã, enquanto trabalhava, calhou em estar a passar uma música dos The National. E eu emocionei-me. Foi a segunda vez que isto aconteceu, em cerca de uma semana. Emocionei-me com algo tão simples como uma música dos The National (pouco importa qual).

A última vez que vimos os The National ao vivo foi há um ano e uns dias, no Campo Pequeno. Lembro-me de sair do escritório a correr, ir buscá-lo ao aeroporto (no tempo em que era normal as pessoas viajarem em trabalho), e irmos directos para o Campo Pequeno, onde comemos qualquer coisa num instante, e nos sentámos naquelas cadeiras estupidamente desconfortáveis.

O concerto começou e esquecemos o desconforto. O concerto começou e eu deixei-me levar pelas músicas. Com uma mão na tua mão e a outra na barriga (que ainda nem existia), eu quis guardar aquele momento para sempre. Fomos felizes, ali. Nós e a nossa sementinha, que ainda era segredo para a maioria das pessoas. Não me lembro, mas é provável que tenha chorado. Pelo menos, podia culpar as hormonas. Sei que gostei muito do concerto. Só podia, aliás.

Hoje, ao ouvir aquela música, voltei a esse concerto. E não pude deixar de me emocionar, ao pensar que não sei quando voltaremos, verdadeiramente, a um concerto. A pandemia tem-me levado tanta coisa boa, e a cultura é uma delas. Não sei quando voltaremos aos concertos, aos teatros, ao cinema. Não sei. E eu sei que eles continuam a existir. Eu é que não sei quando serei capaz de lá voltar. A pandemia levou-me a cultura e deixou-me o medo. E isso é uma grandíssima merda. 

quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

Dos 5 meses da Isabel...

 

Cinco meses de Isabel.

No último mês a grande descoberta da Isabel foram os pés e as pernas. Se antes já não parava quieta com eles, agora passa tempos infinitos com eles no ar. E tenta apanhá-los e agarrá-los. Mudar a fralda tornou-se um desafio muito mais interessante, claro. Quer ver tudo o que a rodeia e distrai-se facilmente, mesmo quando está a comer. Olha para o Snow e ri-se. Ele, continua a ignorá-la, mas já encostou o nariz ao dela. Já quase se aguenta sentada. Tentamos que ela rebole, mas os presuntos que tem no lugar das pernas, não ajudam. Continua a adorar o banho e ri-se quando percebe que a vou levar para ele. Curiosamente, ri-se ainda mais quando a tiramos da água. Também berra, quando lhe dá para isso. E agora tem-lhe dado para isso a meio da noite. Compensa na fofura durante o dia. Toda ela é bochechas e ninguém lhe resiste. Ri-se muito, já disse? É um pequeno génio e já abre a boca e deita a língua de fora quando chega a hora de lhe dar as gotas da Vitamina D. Continua a não gostar da chucha, e nós continuamos a insistir para que ela goste. Continua a portar-se lindamente na Ergobaby. Gosta de passear e de ir de cabeça no ar, a ver o céu, as árvores, os pássaros, e o que quer que seja que lhe apareça à frente. Dizem que é igual a mim, mas eu acho-a demasiado bonita para ser igual a mim. Olha fascinada para a forma como a comida desaparece na nossa boca. Não tarda, está ela a comer também. Cinco meses. Como? Não sei.


(quinze dias de atraso... diz muito sobre os últimos tempos...)

terça-feira, 1 de dezembro de 2020

Das fotografias que dão alegria... - Day 336



Não tenho cozinhado tanto quanto gostaria. Pergunto-me, diversas vezes, o que raio é que eu fazia com o meu tempo, antes de a Isabel nascer. Nada, aposto. Eu não fazia nada. É a única explicação que encontro. 

Hoje acordámos mais tarde que o habitual (a noite foi má e "obriguei" a Isabel a dormir mais um bocadinho de manhã). Fiz panquecas para o pequeno almoço. Fomos para a expo. Eu corri, enquanto ele caminhou com ela. Eu peguei nela, voltei para casa, e ele fez o treino dele e voltou a correr para casa. Tomei banho e fiz o almoço. Almoçámos. A Isabel fez a sesta. Eu arrumei a cozinha e fiz estas bolachas. Pelo meio, trocar fraldas, dar de mamar, brincar e palrar. Recebi uma notícia menos boa que me deixou a pensar. Falei com o meu Pai. Ainda fiz sopa. Estivemos a fazer testes para a sessão fotográfica de Natal. Demos banho e deitámos a Isabel. Jantámos. A Isabel acordou e eu voltei a adormecê-la. Comemos bolachas e chocolates da árvore de Natal. Vegetámos. Eu escrevo este post. Não tarda, vou dormir que amanhã é dia de trabalho.

E dizia eu antes que não tinha tempo... 

segunda-feira, 30 de novembro de 2020

Da polémica das provas virtuais pagas...

Por essas redes sociais fora, têm-se visto todo o tipo de comentários e críticas às organizações de provas, que estão a cobrar por provas virtuais.

A mais recente polémica estalou hoje, com a abertura das inscrições para a São Silvestre de Lisboa.

Vamos lá ver... 

Ninguém é obrigado a inscrever-se em prova nenhuma, certo? Também ninguém é obrigado a pagar, se não o quiser fazer, certo? E não é porque umas organizações fizeram provas gratuitas, que todas têm de o fazer. Até porque muitas há que recebem apoios e fundos das autarquias para o fazerem, por exemplo. 

Eu já estou inscrita para a São Silvestre de Lisboa. Porquê? Porque faço questão de fazer aquela que é a prova mais especial para mim, ainda que este ano seja apenas de forma virtual. Porque faço questão de ficar com a t-shirt da prova, para juntar às 5 que já tenho. Porque faço questão de apoiar a HMS, que é, no que toca a provas de estrada, a que considero a melhor organização que existe. Em última análise, já estou inscrita porque me apetece.

Quem não quer pagar, não se inscreve e não paga. 

Para mim, faz sentido inscrever-me e pagar. E acho que também devia fazer para todas as pessoas que gostam de fazer provas (que não são todas as pessoas que gostam de correr, naturalmente).

Estamos a atravessar um período único, uma situação extraordinária, uma pandemia como nenhum de nós já tinha visto. Tudo isto, terá consequências devastadoras para a nossa economia. Já está a ter, aliás. São raros os sectores que não vão sofrer com isto. São raros os sectores onde não existiram ou existirão despedimentos.

Eu gosto de ir a provas de corrida. E quero que elas continuem a existir. E eu gosto (muito) da São Silvestre de Lisboa. Se a minha inscrição puder contribuir um bocadinho que seja para que a HMS ultrapasse tudo isto e continue a organizar a São Silvestre de Lisboa, e todas as outras provas que organiza, então aqueles 9€ foram muito bem gastos.

terça-feira, 24 de novembro de 2020

Das fotografias que dão alegria... - Day 329

Introdução ao Passeio Marítimo de Oeiras.

[fui mostrar-lhe o sítio onde comecei a correr, onde mais corri, onde fiz o meu primeiro quilómetro sem parar, onde treinei horas a fio, onde organizei treinos de grupo, onde ri, onde chorei, onde fui feliz, onde sofri, o sítio onde vou sempre querer voltar, uma e outra vez]

quinta-feira, 19 de novembro de 2020

Do meu nível de senilidade... Ou do meu quase regresso ao trabalho...

Hoje tinha pensado vir aqui escrever um post super inspirado sobre o facto de faltar, precisamente, uma semana para regressar ao trabalho.

A meio da manhã, o louco mais louco do que eu, veio ter comigo ao quarto da bebé e pergunta-me:

- Quando é que tu voltas ao trabalho mesmo?

- Daqui a precisamente uma semana...

- Então mas não era quarta-feira?

- Oh... Pois é... Eu pensava que era quinta e que ainda faltava uma semana. Já me deprimiste para o resto do dia... - e lá fiquei eu a pensar com os meus botões, que já não faltava uma semana inteira.

Pois não. Falta menos de uma semana para eu regressar ao trabalho. Como?! Não sei.

Também não sei o que andei a fazer nos últimos quatro meses e meio. Também não sei onde foi parar o tempo. Também não sei como é que, de repente, estamos a chegar ao fim de Novembro e deste ano memorável. 

Não sei se foi da pandemia, se foi de mim e da minha inércia, mas tenho a clara sensação de que não fiz nada este ano. Nada. Eu sei que gerei, trouxe ao mundo e cuidei de um pequeno ser. Mas foi só isso. "Só". Sim, eu estou ciente da grandeza do que fiz. Mas... Sabe-me a pouco. Este ano não viajámos. Não convivemos. Não estivemos com as nossas pessoas. Não fomos a concertos. Não experimentámos restaurantes novos. Não fomos a provas. Estamos a pouco mais de um mês do final do ano, e eu vivo sentimentos agridoces: 2020 foi o ano em que veio ao mundo a nossa maior obra, mas foi também o ano em que toda a nossa existência esteve em suspenso.

É também com sentimentos agridoces que regresso ao trabalho. Precisamente devido a este sentimento de inutilidade no que a este ano diz respeito, tenho uma necessidade tremenda de voltar a trabalhar e sentir-me útil. Ao mesmo tempo, assusta-me pensar que está a chegar ao fim uma altura que nunca se irá repetir: o poder estar 100% dedicada à Isabel. Em breve, muito em breve, a Isabel deixa de ser apenas nossa e passa a ser do mundo. E isso tem tanto de incrível como de assustador. Caramba, que ainda ontem ela nasceu, e não tarda está na escola!... 

terça-feira, 17 de novembro de 2020

Do quão boa eu sou a arranjar desculpas para não correr...

Domingo passado, cá vim eu contar o quão feliz e entusiasmada estava, por ter voltado a correr. Foram meses parada, e tinha tido, finalmente, autorização médica para voltar a correr.

Pois que segunda feira fui a uma consulta de dermatologia. E saí de lá com a indicação de voltar no dia seguinte, para ir tirar um sinal de aspecto duvidoso, que não devia ser nada mas que mais valia tirar. E terça feira lá fui eu. Sempre perdi uns bons dois gramas. Problema? Saí de lá com a indicação de reduzir esforços, não praticar actividade física, ter cuidado com a amamentação e cuidado também a pegar no meu pequeno leitão, perdão, na Isabel.

Portanto, menos de 48 horas depois de ter voltado a correr, arranjei uma desculpa para deixar de correr outra vez. Eu sei, é de génio. 

Fui lá hoje trocar o penso, e resolvi perguntar se já podia voltar a correr. Diz que não, que ainda não posso, porque corro o risco de ao suar molhar o penso e deixar a zona húmida, que é tudo o que não se quer. Ainda tentei dizer que eu corro devagar e que mal suo, mas não consegui mais do que arrancar um sorriso à enfermeira. 

Portanto, mais uma semana sem correr. Eu sei, é de génio. 

domingo, 8 de novembro de 2020

Dos dias que marcam o mundo...

 


Hoje voltei a correr. 317 dias depois da São Silvestre de Lisboa, onde tinha corrido pela última vez. Pelo meio, uma gravidez, uma cesariana, e um pós-parto chato. 

Foram só quatro quilómetros e feitos a um ritmo miserável, mas souberam-me a uma maratona. Quando hoje comecei a correr, estava em crer que nem um quilómetro seria capaz de fazer, e contava ir alternando corrida e caminhada. Afinal, foram quase 11 meses parada. Fui fazendo caminhadas, fui fazendo algum treino funcional, mas só isso. Quando o primeiro quilómetro acabou, pensei que era giro fazer mais um. E quando o segundo acabou, achei que três eram uma bela conta. Mas depois acabou o terceiro, e já só faltava um para o carro. E foi assim que eu fiz quatro quilómetros. Quatro míseros quilómetros, que me souberam a tanto, que me deram tanto. 

Estava a precisar disto. Muito. Tanto. Durante quase meia hora, sozinha com a minha música e o rio como pano de fundo, eu voltei a ser eu. Eu deixei de ser só a mãe da Isabel, e voltei a ser a Inês. Eu não pensei em nada. Eu pensei na passada, na respiração, na música que me inspirava, nas dores boas que voltaram a surgir. Quando cheguei ao fim, estava cansada, mas sentia-me incrivelmente bem e orgulhosa de mim mesma. Superei-me. E já não me lembrava da última vez em que isso tinha acontecido. 

Agora é não parar. 

quinta-feira, 5 de novembro de 2020

Dos altos muito altos e dos baixos muito baixos desta vida...

 


Há dois anos estávamos em Nova Iorque, naquela que foi uma das viagens das nossas vidas.


Há um ano estávamos no Porto, a viver dias muito felizes, a gozar um segredo que ainda era só nosso.

Este ano, estamos fechados em casa há 9 meses, num confinamento sem fim à vista. Um confinamento que nos consome, que nos suga as energias positivas, que nos arrasta numa espiral de desespero.

Tenho muita curiosidade em saber como vai ser o fim de tudo isto. Já nem me pergunto o quando, porque já sei que essa resposta não existe. Mas o como. Como é que vamos voltar à normalidade? Como é que vamos voltar a dar beijinhos e abraços? Como é que a nossa sanidade mental vai recuperar? Como é que eu vou ser capaz de voltar a uma sala de espectáculos? Como? Como? Como?... Parece uma realidade ainda tão distante e impossível, que eu não consigo sequer imaginá-la.

Tenho demasiado medo do impacto que esta pandemia teve em mim. Não me revejo na pessoa que sou agora. Não me revejo nestes medos e paranóias. Não me revejo na ansiedade que certas idas ao exterior me provocam. Nos raros momentos de lucidez que vou tendo, sei que, talvez, esteja a exagerar. Mas, depois, assisto às notícias, leio relatos, vejo o caos no SNS, vejo os números a aumentar, e fico a perguntar-me se estarei mesmo a exagerar. Porque também não me revejo nos comportamentos à minha volta. Porque também não me revejo nas teorias da conspiração. Porque também não me revejo em quem acha que está tudo bem e continua com a sua vida social habitual. Não consigo. Não sou capaz.

Sanidade mental procura-se.

terça-feira, 3 de novembro de 2020

Das fotografias que dão alegria... - Day 308 (ou do não-Natal 2020)

 


Eu sempre fui A pessoa do Natal. Pelo menos, para as pessoas que me rodeiam, e que acham sempre que eu sou a mais apressada (prefiro despachada) e histérica (prefiro entusiasmada), com esta época do ano e seus afazeres. 

E sim, eu sei que ainda agora estamos no início de Novembro. Mas à velocidade a que 2020 está a passar, corremos o risco de esta noite fechar os olhos para ir dormir, e amanhã acordar com a lareira cheia dos presentes que o Pai Natal deixou. Correm vocês, diga-se. Que eu não só não tenho lareira, como tenho uma rica filha que não permite que isso de só acordar no dia seguinte aconteça. Eu estou safa.

Assim sendo, enquanto o Natal não chega, eu vou pensando sobre ele. 

Ninguém sabe em que moldes vai decorrer o Natal este ano. Vamos estar todos confinados outra vez? Vão ser proibidas as deslocações? Fica cada um em sua e fazemos o jantar da Consoada via Zoom? 

Não sei. Ninguém sabe.
 
Eu gostava muito que este ano pudesse haver Natal. Natal em família, com convívio, com abraços, com gargalhadas, com comida até mais não, com partilha e união. 

Infelizmente, nem no mais fundo do meu ser, eu consigo encontrar esperança de que isso venha a acontecer. 

Ainda que o Natal possa ser uma época propícia a milagres, este ano, acho que não há milagre que nos valha. Tínhamos de ter todos muito juízo nas próximas semanas (que não temos), para que os números voltassem a baixar drasticamente e pudéssemos recuperar alguma normalidade. Mas isso não vai acontecer. E, um dia, eu vou contar à Isabel que o primeiro Natal dela foi passado em casa, a quatro, com as bolas de Natal mais pirosas de sempre. 

sexta-feira, 30 de outubro de 2020

Das conversas de sexta-feira à noite...

Estivemos a ver o documentário Dick Johnson is dead, e, quando acabámos, eu estive a elencar as minhas preferências para quando eu morrer. Como sei que ele só ouve 10% do que eu lhe digo, fica aqui, para registo futuro:

- quero ser cremada. As cinzas devem ser espalhadas no mar. Idealmente, em Santa Maria. Mas como é meio fora de mão, o meu irmão que pegue no barco e me leve para ao pé dos golfinhos, que já não é mau. Sintra ou Monsanto também são opções válidas.

- não quero cravos no meu funeral. Nem um. Odeio cravos.

- não quero padres nem missas. Façam uma coisa qualquer gira e simbólica, quem quiser diz umas palavras, e está feito.

- quero comida e bebida. Muitas gordices e muito álcool, para afogarem as mágoas.


E é isto. Parecem-me exigências bastante razoáveis, até.

Tentei que ele me dissesse as suas preferências, mas não foi capaz. Diz que nunca pensou sobre isso. Quem é que nunca pensou sobre o seu funeral?!... E o pânico que é pensar se lhe acontece alguma coisa e eu não sei o que fazer?... Já lhe disse que tem de pensar nisso, que isto não pode ser assim: ir embora e quem cá fica que resolva... Não. Nem pensar. 

domingo, 25 de outubro de 2020

Dos 4 meses da Isabel...


Quatro meses de Isabel.

Quatro meses de descoberta, de crescimento, de deslumbramento. Os avanços são, nesta fase, gigantes. A nossa mini-pessoinha está cada vez mais crescida. Já dá gargalhadas, e derrete-nos completamente. Continua tagarela. Cada vez mais. Aprendeu a guinchar e usa e abusa da sua voz para chamar a atenção. Continua a não gostar da chucha. Decidiu deixar de gostar de andar de carro, e berra desalmadamente. Faz mini-micro sestas. Todas as noites me brinda com um jogo incrível: nunca saber quantas horas vou conseguir dormir, porque as noites dela são, ainda, completamente aleatórias. Adora a girafa Sophie, que rói com afinco. Está cada vez mais desperta para o mundo que a rodeia. Já percebeu que o Snow existe e já olha para ele. Ele continua a desprezá-la, excepção feita a uma ou outra cheiradela. Ponho-a a ouvir muita música, e gosto, sobretudo, de a pôr a ouvir coisas como Patrick Watson e The National, apenas para lhe dizer que os ouviu ao vivo quando ainda estava na barriga da mãe. Sobrevive, sabe deus como, a ouvir-me cantar para ela. Adormeço-a a cantar-lhe Silence 4 e Jeff Buckley. Danço com e para ela. Encho-a de beijos e ela enche-me de baba. Continua a chuchar no dedo. Não é por ser minha filha, mas está cada dia mais bonita. A nossa gordinha. Que nos arrebatou. Definitivamente.

quarta-feira, 21 de outubro de 2020

Das fotografias que dão alegria... - Day 295


Por aqui, já começámos a estimular o gosto pela leitura. Neste caso, com um livro que não tem nada para ler, mas cujas folhas a Isabel já procurou agarrar e tocar. Se sair à mãe e ao pai, vai passar a vida com a cabeça enfiada no meio dos livros, pelo que bem pode começar já... 

domingo, 18 de outubro de 2020

Das fotografias que dão alegria... - Day 292

 


O passeio de hoje foi até à Caparica. O dia amanheceu cheio de nevoeiro, e custou a crer quando, à meio da tarde, saímos de casa e percebemos o calor que estava. Quando falei em irmos à praia, ele deve ter achado que eu estava louca, mas acho que o venci pelo cansaço e lá concordou. 

E que bem que soube!... As praias com pouquíssima gente, um fim de tarde espectacular, e uma caminhada à beira-mar, com a Isabel a aproveitar para fazer a sua sesta.

A minha paranóia com a Covid continua (cada vez mais) elevada, e conseguir encontrar sítios onde me sinta em segurança, pode ser um desafio... Mas este passeio pela praia fez maravilhas pela minha sanidade mental.

Boa semana, Mundo! 

sábado, 10 de outubro de 2020

Das fotografias que dão alegria... - Day 284

 


O que fazer com uma lata de leite condensado fora do prazo? Brigadeiros, pois claro.

Já que não posso correr, sempre posso comer. É parecido. 

sexta-feira, 9 de outubro de 2020

Das fotografias que dão alegria... - Day 283 (ou de como Monsanto é sempre Monsanto...)

Um dos últimos sítios onde fomos antes de a Isabel nascer, foi Monsanto. Não cheguei a pôr aqui as fotografias desse dia, mas talvez venha a pôr, se um dia me derem as saudades do meu estado de pequeno cachalote.

Um dos primeiros sítios onde fomos depois de a Isabel nascer, foi Monsanto. 

E um dos sítios onde fomos esta semana, foi Monsanto. 


Pegámos em nós, numa manta, nas 137 tralhas da Isabel, passámos numa hamburgueria que queríamos experimentar, escolhemos a melhor oliveira, e sentámo-nos a fazer um piquenique à sombra, com aquela vista incrível que só Monsanto nos dá.


Depois das três mil e quinhentas calorias ingeridas no almoço, fomos dar uma volta a pé, aproveitando o nosso carrinho todo o terreno. A Isabel dormiu, e nós respirámos fundo, para aproveitar aquele cheiro único dos pinheiros.
 

O luxo que é termos algo assim em plena cidade de Lisboa, não tem preço...

quinta-feira, 8 de outubro de 2020

Das fotografias que dão alegria... - Day 282 (ou da minha paixão por Van Gogh...)

 


Hoje fomos visitar a exposição Meet Vincent Van Gogh, que está em Belém até Janeiro. 

É uma experiência engraçada, que se pretende muito interactiva, com recurso às mais diversas tecnologias, e que nos permite ficar a conhecer um pouco mais da vida e obra de um dos mais importantes pintores da nossa história. 

Eu sou apaixonada pelo Van Gogh. Não foi uma paixão fácil ou imediata, mas foi uma paixão que foi surgindo, quanto mais o conhecia e descobria a sua obra. Quando li o livro "A Casa Amarela", percebi que havia muito mais por detrás daquelas pinceladas errática e aqueles amontoados de tinta. 


Há uma linha muito fina que separa a genialidade da loucura, mas em Van Gogh essa linha está muito esbatida. Ele era um génio, mas também era um louco. No meio de toda aquela instabilidade mental, ele conseguiu uma produção artística incrível (sobretudo, porque só produziu durante 10 anos), que, como se sabe, só foi devidamente reconhecida após a sua morte. Van Gogh tem uma história triste, dura, pesada. E isso só confere ainda mais beleza à sua obra. 


Vão ver, se puderem. E se puderem mesmo muito, vão ao Museu Van Gogh em Amesterdão. É só dos melhores museus que eu já visitei. 

terça-feira, 6 de outubro de 2020

Das fotografias que dão alegria... - Day 280


Hoje fomos apresentar-lhe a Gulbenkian. Ainda é cedo para que ela se delicie com os patos e patinhos, mas eu fiz a festa por ela. 

Andar pelos jardins da Gulbenkian é fazer uma viagem no tempo. Passei muito tempo naqueles jardins a estudar (e não só), e perdi a conta às vezes que visitei ambos os museus. 

Ficou a vontade de lá voltar, daqui a uns tempos, para que a Isabel já possa usufruir de tudo o que ali há. 

 

segunda-feira, 5 de outubro de 2020

Das fotografias que dão alegria... - Day 279


Nutro um carinho especial pela Torre de Belém. Não sei bem por que motivo. Talvez por ser do estilo manuelino. Todos os edifícios manuelinos são bonitos. Mas a Torre de Belém é particularmente bonita. E hoje a Isabel foi conhecê-la. 

quarta-feira, 30 de setembro de 2020

Das dúvidas que me inquietam às 22h39...

Quem mais já dorme de meias? Digam-me que não sou a única, por favor...

É que, de repente, o Outono trouxe um frio glaciar e os meus pés de princesa não aguentaram mais... 


(eu devia estar a dormir, que a Isabel hoje adormeceu demasiado cedo e eu vou pagar isso caro em breve, mas estas questões apoquentam-me... Fazer o quê?!) 

domingo, 27 de setembro de 2020

Da Corrida (virtual) do Tejo...

Não podendo eu correr (ainda), tenho passado um bocado ao lado das provas virtuais. Mas a Corrida do Tejo captou a minha atenção... Tinha o desafio tradicional dos 10km a correr, mas depois oferecia uma série de outras opções, para fazer a distância em vários dias e a correr ou caminhar. E, a juntar a isto, tinha uma t-shirt bem gira. Quando dei por mim, estava inscrita, com a Isabel inscrita por arrasto.

A prova tinha de ser feita esta semana e eu optei por fazer duas vezes 5km. Ainda não tinha feito 5km a caminhar vez nenhuma, mas foi um bom incentivo para fazer um bocadinho mais do que faço habitualmente.

Fiz a primeira parte na quinta-feira.

E fiz a segunda parte hoje. 

Em ambos os dias estive na zona da expo, junto ao rio, para fazer jus ao nome da prova. Hoje fui equipada a rigor, com a t-shirt da prova e o dorsal.


Voltei a cometer o erro de deixar que fosse ele a tratar das inscrições, e o resultado está à vista. Um dia vou ter de explicar à Isabel por que motivo o primeiro dorsal dela diz "gremlin". Ou posso mandá-la falar com o Pai, simplesmente. 

Disparates à parte, foi bom voltar a calçar os ténis com um objectivo, um propósito, um gosto muito suave a prova e desafio. 

As saudades de correr são cada vez mais, e das provas idem. Dá para saltarmos já para daqui a uns meses, quando isto normalizar?... 

sexta-feira, 25 de setembro de 2020

Dos 3 meses da Isabel...

 


Três meses de Isabel.

A velocidade a que cresce é assustadora. Já mais do que duplicou o peso que tinha à nascença. Já se parece mais com uma mini-pessoinha, com expressões e reacções muito próprias. Continua a adorar comer, e pára de mamar só para se rir e demonstrar o quanto é feliz a comer. Já dorme melhor, mas não tanto quanto a sua mãe gostaria. Continua a adorar o banho. Adorou as férias e a praia. Na maior parte dos dias, pelo menos. Ainda não fez amizade com o Snow. Ganhou o vício de chuchar no dedo. Continua a não pegar na chucha. Ri-se que nem uma perdida quando acorda de manhã. Claramente, não sai à sua mãe. Também se ri que nem uma perdida quando vê o seu pai, por quem tem uma paixão desmedida. Não sei se gosta de música, mas não tem outro remédio se não ouvir muita e variada. Já se aguenta melhor no tapete de actividades e já tenta agarrar os bonecos. Voltou das férias uma autêntica tagarela. Não gosta de dormir a andar de carro. Não é completamente anti-social e distribui sorrisos, mesmo a quem só viu uma vez na vida. Não gosta de dormir tapada.

Acho que é feliz. 

quinta-feira, 10 de setembro de 2020

Das fotografias que dão alegria... - Day 254 (ou do dia em que a Isabel sentiu o mar pela primeira vez...)


Pequena Isabel estreou-se hoje na água do mar. E, após um primeiro susto ao primeiro impacto, até parece que gostou. Ali esteve, a molhar os pés, a pisar a areia, a ver as ondas. Foram uns bons três minutos, mas souberam a muitos mais. 

Se a Covid-19 deixar, aos seis meses pequena Isabel há-de ir para a natação. E se ela quiser, daqui a um ano, pequena Isabel já vai chapinhar à séria neste mesmo mar.

segunda-feira, 7 de setembro de 2020

Da Maratona de Valência...

É oficial. A Maratona de Valência foi cancelada.

Nada que nos surpreenda, não é verdade? Toda a gente já sabia que este seria o desfecho mais provável mas a optimista em mim (que a há!), continuava com uma muito pequena esperança de que a prova se mantivesse, que a Covid-19 desaparecesse como que por artes mágicas, e que em Dezembro fôssemos fazer a nossa primeira viagem em família. Quis a vida, ou a Covid-19, que assim não fosse.

Ainda não conferenciámos com a restante família que também ia, mas não creio que a viagem vá acontecer. Houve uma altura em que eu achava que sim: mesmo sem prova, a viagem estava paga, pelo que íamos lá passear na mesma. Com a actual escalada de casos, e com a previsão do que vem aí com a chegada do Inverno, eu já mudei de ideias e não me vejo a ir para Espanha nos próximos tempos. O que é pena.

Pontos positivos: pode ser que lá vamos em 2021 e eu já possa fazer a prova (só tenho de arranjar babysitter para ficar com a miúda), e já andamos a ver possibilidades de alteração dos bilhetes, para ir fazer outra coisa gira, noutro sítio, nos primeiros meses de 2021. Se bem que seja impossível fazer planos nesta altura, mas uma pessoa sempre pode ir sonhando...

A propósito, ou não (que não tem nada a ver), um dia destes apanhámos na televisão uma reportagem sobre o campeonato mundial de Trail, em que falavam da última edição do MIUT. Tinha muitas e variadas imagens da prova, dos atletas, do percurso, e eu fiquei de boca aberta a olhar para aquilo. Já percebi por que motivo há alguns malucos que lá voltam, ano após ano... Eu sei que a Madeira é bonita, eu sei que a prova é incrível, mas ver aqueles vídeos dos percursos da prova, deixou-me mesmo maravilhada e com vontade de lá ir um dia...

Voltamos ao mesmo: uma pessoa sempre pode ir sonhando...

quinta-feira, 3 de setembro de 2020

Das fotografias que dão alegria... - Day 247


Hoje fui fazer um passeio matinal com a Isabel, e na nossa volta aproveitei para ir à lota comprar marisco. 

Faz parte dos nossos rituais nas férias em Lagos: ir comprar marisco fresco à lota, sempre no mesmo sítio, sempre à mesma senhora. 

Este ano, talvez fruto da Covid-19 e de uma eventual diminuição da afluência de turistas, tem havido mais variedade e quantidade de mariscos, e eu agradeço. 

Já comemos conquilhas, que eu adoro e que já não comia há toda uma vida (a apanha está frequentemente interdita), percebes, que eu também adoro, e hoje fui mais comedida e trouxe só um quilo de berbigão e uma caixa de ostras para ele (eu dispenso comer coisas vivas...). 

Depois de 6 meses fechada em casa, estes pequenos rituais são ainda mais especiais, e estes petiscos têm um sabor único. No fundo, trazem-me lembranças de outros tempos de normalidade, em que a vida fluia feliz e leve... 

Aproveitemos! 

quarta-feira, 2 de setembro de 2020

Das fotografias que dão alegria... - Day 246

 

Hoje fomos apresentar-lhe a Meia Praia, onde eu já passei horas e horas e horas e horas, noutra vida. Nesta vida, sei que a partir do próximo ano também ali hei-de passar horas e horas e horas, porque enquanto não há vento, a Meia Praia é o sitio ideal para quem quer pôr crianças a chapinhar na água, com mini-ondas, piscinas e poças à beira-mar e muito espaço para o distanciamento social (antes da Covid-19, eu já era anti-social). Mais tarde, quando ela estiver a treinar para nadadora olímpica (alguém falou em projecções?), havemos de a levar a praias incrivelmente bonitas como o Zavial ou a Cordoama. Há todo um mundo por explorar, à espera que ela o conheça, e a sensação de lhe poder dar esse mundo, é incrível. 

terça-feira, 1 de setembro de 2020

Das fotografias que dão alegria... - Day 245


Há quem fale em Setembro como um mês de recomeços, de regresso à rotina, à vida, à escola, ao trabalho. 

Para a Isabel, este Setembro é um mês de estreias. Hoje foi dia de se estrear na praia.

sábado, 29 de agosto de 2020

Das fotografias que dão alegria... - Day 242


Temos andado a percorrer os parques e jardins de Lisboa com a Isabel, ao ritmo de um por semana. 

Hoje, fomos à Quinta das Conchas. Eu, só lá tinha ido duas vezes e ambas em plena Corrida do Aeroporto. Ele, nunca lá tinha ido, mas ficou com vontade de ir lá treinar. Ela, dormiu o tempo todo, mas um dia há-de correr por aqueles relvados infinitos ou pelo meio da mata. 

quinta-feira, 27 de agosto de 2020

Das fotografias que dão alegria... - Day 240


A foto não é de hoje. Obviamente e lamentavelmente. 

É de há um ano. Em Chamonix. Numa das viagens da minha vida, numa outra vida, num outro tempo. 

Sei que nunca mais vamos viajar como viajávamos, mas sei que um dia gostava de levar a Isabel a percorrer aqueles trilhos. 


terça-feira, 25 de agosto de 2020

Dos 2 meses da Isabel...

 


Dois meses de Isabel. 

Está enorme. A diferença nas últimas semanas é abismal. Sai à sua mãe no gosto por comer. Não sai à sua mãe no gosto por dormir. Ri-se muito. Porque fazemos palhaçadas, porque acabou de comer, ou só porque sim. Sorri muitas vezes antes de adormecer e eu gosto de acreditar que ela é feliz. Acumula toneladas de cotão no seu triplo queixo. Suja mais roupa num dia do que eu numa semana. Faz muitos e variados barulhinhos, e o Pai chama-lhe Gremlin. Já se aguenta melhor na espreguiçadeira. Não se aguenta tanto no tapete de actividades. Gosta de tomar o seu banho relaxante na shantala. Não gosta de chucha. Dizem que é igual a mim quando eu tinha esta idade. Gosta de conversar. Sobretudo, sozinha. Gosta de passear. 

Dois meses de Isabel. 

Dois meses do maior desafio da minha vida. Dois meses da minha vida virada do avesso. Dois meses de um novo papel, no qual ainda não me reconheço. Dois meses de altos e baixos. Dois meses de aprendizagens e descobertas. Dois meses de medos e deslumbramentos. Dois meses de dúvidas e certezas. 

Dois meses de Isabel. 

segunda-feira, 24 de agosto de 2020

Da Gravidez... - XVII (ou da [in]fertilidade...)

Uma pessoa passa a vida a ouvir histórias de pessoas que engravidam sem querer, que engravidam só por respirar, que engravidam à primeira, e mais um sem fim de coisas que nos fazem acreditar que engravidar é fácil. Uma pessoa fica a achar que é só fazer o amor e puff... Fez-se o bebé! (só para quem se lembra do anúncio do Chocapic).

Depois uma pessoa depara-se com a realidade, que é bem diferente do que vemos nos filmes e ouvimos nas histórias, e percebe que engravidar pode não ser assim tão fácil.

Numa outra vida, eu já tinha tentado engravidar durante um ano, pelo que já sabia que não era fácil.

Desta vez, com mais uma cirurgia pelo meio e mais uns aninhos em cima, eu sabia que ia continuar a não ser fácil. Mas quis fazer diferente. E a melhor forma de fazer diferente, é informarmo-nos. E eu informei-me. Muito.

Antes de mais nada, tive de esperar que passasse o tempo necessário após a minha cirurgia. Depois disso, e de termos a certeza de que era isto que queríamos e que estava na altura certa (se é que isso existe!...), fiz os exames habituais para ter a certeza que estava tudo bem, e comecei a tomar a suplementação recomendada.

Depois disso, fui então informar-me. Comecei pelo trabalho da Patrícia Lemos, com o seu Círculo Perfeito. Vasculhei o seu site de uma ponta à outra, devorei o seu ebook, li tudo o que tinha no Instagram. E eu aprendi. Aprendi tanto, tanto, tanto sobre mim e sobre o meu corpo, que fiquei a achar que passara 35 anos da minha vida completamente a leste do que se passava em mim. Sem fundamentalismos nem extremismos, mas a verdade é que somos muito mal preparados para estas questões do auto-conhecimento e da fertilidade. Acho que todas as mulheres deviam ler o ebook dela e perder um bocadinho de tempo a pensar sobre este tema, que não tem nada a ver com querer engravidar. 

Ainda me choca a quantidade de mulheres que oiço dizer que tomam a pílula para regular o período, ou que usam aplicações para ver o dia da ovulação (que, curiosamente, calha sempre no meio do ciclo...). Não critico, não condeno, não censuro. Eu também era assim. Mas, depois, informei-me. E agora sinto-me um bocadinho no dever de informar e espalhar a palavra pelas pessoas à minha volta.

Nesta luta para perceber melhor o meu corpo e o meu sistema reprodutor, também comprei a bíblia da fertilidade feminina: o livro Taking Charge of Your Fertility. Mais uma vez, não se trata apenas de conseguir engravidar. Trata-se, acima de tudo, de entender o nosso corpo, saber percebê-lo, conhecê-lo e ler os seus sinais.

Em ambos os casos, é abordado o Método Natural de Fertilidade (Fertility Awareness Method), que é um método que ajuda a engravidar, evitar uma gravidez e, acima de tudo, a conhecer o nosso ciclo e detectar eventuais problemas (as hormonas que produzimos dizem muito mais sobre nós do que poderíamos imaginar). Foi assim que eu comecei a olhar para mim e para o meu ciclo com outros olhos, a estar atenta aos sinais, a fazer o registo da minha temperatura basal, a olhar para gráficos e curvas. Aqui sim, existem aplicações que podem ser úteis, desde que devidamente alimentadas com a informação necessária (a informação é mesmo tudo e, sem ela, não há milagres).

Foram meses de descoberta, de aprendizagem, sempre com um sentimento de choque em relação ao quão mal andei a tratar o meu corpo durante tantos anos!... Não percebo como é que não há mais informação e mais atenção a um tema tão importante, e andamos a encher as adolescentes, e futuras mulheres, de pílulas, só porque sim e porque é mais prático.

No meu caso, mesmo assim, a coisa não foi tão rápida como gostaria, e em Setembro passado tive uma consulta na MAC. Nessa consulta, e perante o meu historial e a minha idade, a obstetra decidiu encaminhar-me para a Consulta de Apoio à Fertilidade. Ainda me lembro do que me custou subir as escadas até esse departamento, o ar pesado que lá senti, e a quase vergonha ao dizer que estava ali para me inscrever naquelas consultas. Deram-me um monte de papéis para preencher com dados meus e dele, pediram-me para aguardar uns minutos que pareceram horas, e fizeram uma primeira consulta de triagem. Aí, disseram-me logo: os tempos de espera para a primeira consulta eram de cerca de um ano.

Como se não bastasse o que custa uma pessoa andar a tentar e, mês após mês, não conseguir, ainda tem de esperar um ano por uma consulta de especialidade, numa especialidade que, só por si, luta contra o tempo. Triste país o nosso, no que toca à saúde!...

Apesar de tudo, do choque do encaminhamento para esta consulta, do choque do tempo de espera, do abanão que levei, ao fim de uns dias eu consegui mentalizar-me que isto não era uma sentença de morte. Que era apenas uma recomendação da médica, uma forma de "pouparmos" tempo se eu não conseguisse entretanto, porque os tempos de espera eram mesmo absurdos. Apesar de tudo, eu tentei não desanimar, continuei a cuidar do meu corpo, continuámos a tentar.

No ciclo seguinte, engravidei. 

Nove meses depois, no mesmo dia em que eu soube que ia fazer uma cesariana, no preciso instante em que saía dessa consulta, toca o meu telemóvel e eu vejo no ecrã: MAC. Era para marcarem a primeira consulta.

Coincidências ou curiosidades da vida. Nem sei...

Isto tudo para dizer: informem-se, leiam, aprendam, conheçam o vosso corpo e os sinais que ele vos dá. Não se deixem levar (e frustrar) pela história dos ciclos de 28 dias e a ovulação ao 14º dia. Esqueçam aplicações com algoritmos fraquinhos que dão o mesmo resultado a toda a gente, quando toda a gente é diferente. Seja para engravidar, para evitar uma gravidez, ou só para saber se está tudo bem: oiçam o vosso corpo.


E, com este post, encerro (por ora) o tema da gravidez. Talvez se me lembrar de mais alguma coisa, volte a ele, mas acho que isto já se arrasta há demasiado tempo, já nem eu tenho paciência para mim, e acho que acabamos em bom. Seguem-se 137 posts sobre a aventura que é a maternidade e o pós-gravidez, pois claro.

domingo, 23 de agosto de 2020

Da Gravidez... - XVI (ou dos momentos amorosos...)

Já por aqui referi que não gostei particularmente de estar grávida, e que também acho que o devo (em parte) à nossa amiga Covid, que nos obrigou a estarmos mais fechados e isolados do mundo.

Mas até entrarmos em confinamento, a gravidez teve os seus momentos bons, os seus momentos amorosos, os seus momentos em que me senti mais acarinhada pelas pessoas à minha volta.

Desde o meu sobrinho de 4 anos a dar festinhas e beijinhos à minha barriga, aos presentes inesperados, às atenções e cuidados redobrados com a minha pessoa. Desde muito cedo, percebi que a Isabel ainda não tinha nascido e já tinha muita gente a gostar dela e a torcer para que tudo corresse bem, e isso foi maravilhoso.

Lembro-me também, e não queria deixar de o registar por aqui, de um momento em particular que me deixou de lágrimas nos olhos (as hormonas! ai, as hormonas!). Estávamos em Arganil, para os Picos do Açor. Eu estava inscrita para os 18km, ele para os 36km. Eu estava com quase 3 meses de gravidez e decidi não participar na prova, sobretudo, porque estava mau tempo e era um disparate arriscar uma queda na lama ou algo pior. Por coincidência, estava no mesmo hotel que a ET e tive de lhe mentir com uma desculpa esfarrapada qualquer para justificar não ir correr, e outra para justificar quando nos encontrámos no pequeno-almoço e eu lhe disse que não tinha ido assistir à partida da prova dele. Que raio de roadie é que nem assiste à partida da prova? Uma roadie grávida, enjoada e a precisar de dormir, pois claro!...

Continuando... Nós não somos particularmente emocionais, nem de grandes demonstrações de afecto. Por isso, quando naquele dia frio de Dezembro, antes de sair do quarto para ir para a prova, ele me pediu para ver a minha barriga porque lhe queria dar um beijinho de despedida, eu não pude não ficar completamente derretida... Ainda estávamos tão no princípio, ainda era tudo tão surreal, mas aquele pequeno ser já nos estava a mudar e a conquistar... 

Ao longo da gravidez, fomos tendo vários momentos assim, em que percebemos que ela ainda não tinha nascido, mas nós já estávamos a nascer como pais. Nós, e as pessoas à nossa volta, já estávamos irremediavelmente mudados por uma Isabel que ainda vinha a caminho, para abalar ainda mais o nosso mundo. E era uma sensação incrível!

sábado, 22 de agosto de 2020

Das fotografias que dão alegria... - Day 235


Hoje fui dar com o Snow na espreguiçadeira dela. Era uma questão de tempo, não é verdade? 

A relação deles (ainda) é inexistente. Ela, não deve saber bem que ele existe. Ele, ainda não percebeu bem o que ela é e já lhe deu 3 ou 4 lambidelas, mas, na generalidade do tempo, limita-se a ignorá-la. Veremos por quanto tempo. 

sexta-feira, 21 de agosto de 2020

Da Gravidez... - XV (ou do dia em que eu soube que ia fazer uma cesariana...)

Corria o longínquo dia de 2 de Junho de 2020 quando, depois de mais uma CTG, a minha obstetra me disse, definitivamente, que a Isabel iria nascer de cesariana.

E eu tive, mais uma vez, a confirmação daquilo que já vinha a descobrir nos últimos meses na gravidez: nada é como tínhamos imaginado. Podemos ler, fazer cursos, sonhar, planear, tudo e mais alguma coisa. Mas a maioria das coisas fogem do nosso controlo, e resta-nos aceitar.

Lembro-me de me ter sentido particularmente inútil. Eu não servia para trazer a minha filha ao mundo. Dramático, eu sei. Exagerado, eu sei. Mas foi o que senti naquele momento.

A opção da obstetra pela cesariana era discutível e, apesar de ela já ter falado nisso uns meses antes, eu achei que era apenas uma possibilidade e que continuaria a haver a hipótese de se tentar um parto natural. Naquele dia, eu percebi que não. E fiquei sem chão.

Questionei tudo. Questionei-me a mim. Muito. Falei com várias pessoas e pedi várias opiniões, que se dividiam.

Eu não queria fazer uma cesariana. E não era um mero capricho meu de quem acredita em fadas e unicórnios. Eu não queria fazer uma cesariana porque eu não tinha a certeza de que a cesariana fosse a única opção, ainda que a minha obstetra achasse que era a melhor opção, para minha segurança e da bebé.

Mas a opinião da minha obstetra não era consensual, não era completamente objectiva, não era a única. E, com 36 semanas de gravidez (quase 37), eu só tinha duas opções: aceitar o que a obstetra dizia e queria fazer, ou mudar de obstetra (o que implicava mudar também de sítio onde a bebé ia nascer). Ainda consegui que uma amiga falasse com uma obstetra que seria uma hipótese para mim, e que achava que não era linear que eu fizesse uma cesariana, mas que não estava a aceitar novas grávidas. 

Foram tempos confusos em que, na verdade, não tinha muito tempo para uma decisão. Se, por um lado, uma parte de mim achava que eu devia ir à procura de outro obstetra que me desse uma hipótese, uma parte de mim já estava contaminada pelo grilo falante que iria estar sempre a perguntar-me se insistir num parto normal não seria um erro e se não estaria a pôr em causa a minha segurança e a da bebé. Conhecendo-me, eu sabia que mesmo que mudasse de obstetra, iria ter sempre aquela dúvida de saber quem é que teria razão e do que seria realmente melhor no meu caso. Até podia ter avançado para um parto normal, mas era provável que passasse o tempo todo com medo de uma eventual complicação (que podia ser muito complicada). Ou então não, e eu podia ter tido um parto natural espectacular. 

Nunca vou saber. Na altura, decidi manter-me com aquela obstetra. Hoje? Arrependo-me profundamente. Já aceitei e já quase me perdoei. Sei que tomei a decisão que me fez sentido na altura, com a informação que tinha. Também sei que me faltou alguma força e coragem, mas, às 36 semanas de gravidez, eu tive medo de bater o pé e pôr em risco a bebé. Também sei que não seria fácil arranjar novo obstetra naquela fase da gravidez. E sei que nunca me perdoaria se alguma coisa tivesse corrido mal, porque eu tinha mudado de obstetra de repente. Na altura, mesmo sabendo que talvez a opção pela cesariana não fosse a melhor, eu decidi como me fez sentido. Agora, já não há nada a fazer em relação a isso. No futuro, já sei quem será a minha nova obstetra.

quarta-feira, 19 de agosto de 2020

Da Gravidez... - XIV (ou do meu primeiro breakdown... e de todos os outros...)

Uma das coisas boas da gravidez, é que podemos culpar as hormonas por 99% das coisas que nos acontecem. Têm as costas muito largas, as pobres hormonas.

Curiosamente, eu não me senti muito "hormonal". Bom, talvez alguém cá em casa discorde. Mas foi o que eu achei.

Claro que tive os meus momentos e as minhas crises. Claro que chorei pelas coisas mais tolas e me emocionei por coisas que antes talvez ignorasse. Mas podia sempre culpar as hormonas, e estava tudo bem.

Culpa das hormonas, ou não, lembro-me perfeitamente do meu primeiro breakdown a sério. De repente, já não sei a propósito de quê, eu dei comigo na casa de banho a chorar convulsivamente. De repente, eu pus tudo em causa.

Naquele momento, eu perguntei-me se seria capaz de ser mãe, se estaria à altura do desafio, se teria nascido para ser mãe, se não seria tudo um grande erro. Chorei, chorei, chorei. Depois enfiei-me na banheira, chorei, chorei, chorei, e, eventualmente, passou. Podia sempre culpar as hormonas.

Mas culpa das hormonas, ou não, ao longo da gravidez fui tendo diversos momentos de dúvidas e medos.

O meu principal medo? Aquele que mais me assaltou, que mais me tirou o sono, que mais me fez chorar? O mais óbvio: serei eu capaz de ser melhor mãe do que a minha mãe foi para mim? Se, por um lado, a resposta parece evidente: não é difícil ser melhor mãe do que ela foi. Por outro lado, é difícil eu conseguir acreditar que posso ser melhor mãe, quando não tenho grandes referências ou exemplos. Houve muitos momentos em que eu me questionei se seria capaz de, não tendo tido uma boa mãe, ser uma boa mãe.

Ainda me faltam muitos anos de terapia para resolver e arrumar de vez aquilo que foi a minha relação com a minha mãe. Com ela morta, a coisa fica ainda mais difícil. Mas um dia eu hei-de lá chegar. Enquanto não chego, é inevitável que isso condicione a minha experiência enquanto mãe. Claro que, de forma muito racional, eu sei perfeitamente o impacto que isso pode ter e uso todas as estratégias possíveis para que isso não me influencie negativamente. Posso não ter as coisas bem resolvidas, mas tenho consciência delas e, lá está, sendo muito racional, sei perfeitamente que posso fazer diferente. Muito diferente. O problema são aqueles momentos em que eu não consigo ser muito racional, e em que eu me vejo condenada ao fracasso, incapaz de ser uma boa mãe para a Isabel. São poucos esses momentos, são cada vez menos, mas, de quando em vez, ainda me assaltam os pensamentos.

Para além de todos os grandes desafios que a maternidade nos traz, para mim, trouxe este muito difícil: o obrigar-me a olhar para mim, para a relação que tive com a minha mãe, para o que fui enquanto filha e o que (não) quero ser enquanto mãe. E tem sido uma luta monstruosa!...

quinta-feira, 6 de agosto de 2020

Das séries que eu vejo...

Vamos lá desenjoar um bocadinho da gravidez, até porque algo me diz que quando a miúda entrar para a faculdade, eu ainda hei-de estar a escrever sobre isso...

Nos últimos meses (não tanto no último, mas nos anteriores), aproveitei (e aproveitámos) para ver algumas séries que tínhamos na nossa lista de séries a ver, mas que nem sempre tínhamos tempo.

Deixo aqui algumas sugestões, para quem ande à procura de coisas (mais ou menos) novas para ver (ou não).


Começamos por uma série com 13 anos. Eu sei. Mas eu nunca tinha visto Mad Men, e no final da gravidez resolvi (finalmente!) começar a ver. Era uma grande falha na minha vida sobretudo, por motivos profissionais. Mesmo com 13 anos, é uma série que vale a pena ver, nem que seja as primeiras temporadas. É interessante saber mais sobre os primórdios das agências de publicidade, ver como tanto mudou e como eram aceitáveis certas mentalidades naquela época.


Não é novidade nenhuma, mas Big Little Lies nunca esteve no topo das minhas prioridades. Mas merecia! Não é uma série extraordinária, mas é uma série que se vê muito bem, que nos prende ao ecrã, e que tem grandes actrizes com algumas interpretações fabulosas. Só pelo elenco, já valia a pena! Mas, para mim, valeu também a pena pelas histórias que conta de cada uma das 5 actrizes principais: foi impossível não me identificar um bocadinho com cada uma delas, não reviver histórias do passado, não sentir que, de facto, nunca sonhamos o que vai verdadeiramente nas vidas (aparentemente) perfeitas de quem nos rodeia.


Snowpiercer é mais uma que, não sendo extraordinária, se vê muito bem. Para quem goste de séries de ficção científica, é engraçada. É baseada no filme com o mesmo nome, e decorre toda num comboio que nunca pára de dar voltas ao planeta Terra, sete anos depois de todo ele ter congelado. Fala de privilégios, luta de classes, da podridão da espécie humana em momentos de crise, e de como poderá ser um dia o mundo, se não coubermos cá todos...



Tentámos ver esta, mas desistimos. O Nuno Lopes é o Nuno Lopes, e uma pessoa nunca se cansa de o ver, mas não foi o suficiente para nos manter motivados a ver White Lines até ao fim... É pena. Mas diz que serviu para lhe dar ainda mais projecção internacional, e ele merece isso e muito mais!



After Life conta com um Ricky Gervais genial, numa série depressiva, sobre o sentido da vida e o que fica depois da morte repentina da nossa metade. A forma como está construída, as personagens, os diálogos e o humor negro, são muito bons. É uma série que mexe connosco e não é uma série propriamente divertida para passar o tempo, mas tem momentos deliciosos e vale a pena ver.



Já viram? Querem ver? Têm outras para sugerir? Eu, nos próximos tempos, gostava de espreitar a Brave New World, pois estou curiosa para ver a adaptação que fizeram do livro. Assim tenha tempo!

Os devaneios Agridoces mais lidos nos últimos tempos...