quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

Do meu estado actual... Ou do meu estado permanente, não sei bem...


(encontrei no Facebook)


O plano para os próximos dois meses é este (faltam dois meses, pessoas! dois meses menos um dia para quem vai a Madrid!).

Se quero combinar alguma coisa para os fins-de-semana, tenho sempre de ver primeiro que treino/prova tenho nesse fim-de-semana. Se tenho treino longo ao Domingo, não posso combinar jantares ao Sábado. Se tenho treino longo ao Sábado e prova ao Domingo, posso esquecer a vida social...

Este fim-de-semana dei comigo a pôr o despertador para Sábado e para Domingo, para mais cedo do que ponho durante os dias de semana. Se isto é normal? Não, não é. Mas Sábado tinha treino e Domingo tinha corrida. E isto ainda se vai repetir muitas vezes até ao dia 28 de Abril.

Na verdade, gostava de poder dizer, de facto, que isto vai ser assim até dia 28 de Abril. Mas não é verdade. Porque depois do dia 28 de Abril vou dar-me duas semanas de recuperação, e depois começa uma nova fase de treinos, que logo a seguir vem a Serra Amarela.

E a seguir há-de vir outra coisa qualquer. E outra. E outra.

E é isto a minha vida.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

Das viagens da minha vida...


Há 3 anos estava em Praga. A fazer aquela que foi a minha primeira viagem sozinha. Já tinha tirado uns dias de férias sozinha, mas em território nacional, na casa de praia da família. Ir assim, para um país diferente, com uma língua estranha, completamente sozinha, foi toda uma novidade para mim.

Foi uma viagem de muitas emoções. Quando decidi fazer a viagem, decidi fazê-la sozinha. Quando marquei a viagem, já ia fazê-la com companhia. A 10 dias da partida, a companhia desapareceu da minha vida de um dia para o outro e eu fiquei com uma viagem marcada para 2, para ser feita a 1. Mas fui na mesma. 

E foi das melhores coisas que já fiz na vida.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

Columbus Trail Half Marathon... - II

Já muito disse sobre o Columbus Trail, mas fica sempre muito mais por dizer.

Encontrei, nas palavras (e imagens) dos outros, outras visões sobre esta prova que foi tão especial para mim:


- Vídeo oficial com os melhores momentos da prova:


O facto de eu aparecer em ambos os relatos que aqui partilho, é pura coincidência, sim? Que eu sou pessoa muito isenta nestas coisas! E a minha voz super irritante é para ser ignorada, sim?

Não me canso de dizer que foi mesmo uma prova única.

Tanta publicidade lhe tenho feito, que já tenho na minha equipa das corridas um grupo simpático a dizer que lá quer ir para o ano! Eu já me ofereci para organizar tudo e sei que seria um prazer tremendo levar aquela gente à minha ilha e àquela prova!

domingo, 24 de fevereiro de 2019

De Santa Maria...


Santa Maria. A ilha do Sol. A ilha mais oriental dos Açores. A ilha mais antiga dos Açores e a primeira a ser avistada.

É uma ilha pequena, com apenas 97 quilómetros quadrados e com um comprimento máximo de menos de 17km. Sim, Santa Maria é mesmo uma ilha pequena. Para quem vive em Portugal continental e, para mim, que vivo em Lisboa, faz-me alguma confusão imaginar o que é viver num sítio tão pequeno. Mas há cerca de 5000 pessoas que lá vivem. E gostam.

Eu sou suspeita, claro, não só pelos motivos óbvios mas porque (ainda) não conheço todas as ilhas dos Açores. Não vos vou dizer que é a ilha mais bonita dos Açores. São os próprios marienses que dizem que a mais bonita é a ilha das Flores. Mas é muito bonita, é muito especial, é muito peculiar.

Santa Maria é uma ilha de muitos contrastes, de muita diversidade, de muitas paisagens que nos surpreendem, por serem únicas. Há zonas da ilha que nos fazem duvidar se estaremos mesmo nos Açores. Outras há que são tudo o que esperamos deste arquipélago e mais ainda.

Não me vou alongar com descrições históricas, que é para isso que o Google serve, nem com grandes e complexas considerações, que não é para isso que me pagam.

Santa Maria, para mim, foi um turbilhão de emoções. Vivi momentos incríveis, vivi momentos em que me faltou o ar e só queria fugir. Foram altos e baixos. Muitos altos muito altos. Alguns baixos muito baixos. Mas foi uma viagem que já andava a adiar há demasiado tempo.

Contextualizando: eu nasci em Santa Maria, vivi lá até aos 3 anos, e depois ainda lá voltei, mas já lá não ia há cerca de 25 anos. Toda uma vida, portanto.


Não me lembrava de grande coisa. Com o passar dos dias, foram surgindo alguns flashes e algumas memórias. Lembrava-me do porto, que agora está completamente diferente. Lembrava-me da Praia Formosa. Lembrava-me da zona do cinema, da igreja, do Clube Ana e do Clube Asas do Atlântico. Lembrava-me, vagamente, da casa e da rua onde morava a ama do meu irmão. Não me lembrava de muito mais. Foi bom voltar aos sítios de que me lembrava, foi ainda melhor ir descobrir sítios novos, e apaixonar-me por aquela ilha. A ilha a que tenho a arrogância de chamar minha.


Chegámos a Santa Maria na quinta-feira, à hora de almoço. E, logo no aeroporto, fui muito bem recebida! Tinha à minha espera aquela que foi a minha ama, enquanto lá vivi, e que não me via há demasiados anos. Foi muito bom sentir-me assim e foi fácil sentir-me logo em casa.


Fomos à Pousada da Juventude pousar as coisas e apaixonei-me logo pela vista do quarto: verde, vacas e o mar. Muito mar. Mas já era tarde e a fome era muita. A opção foi A Travessa. Não há muitas opções em Vila do Porto, mas ainda há algumas, e eu já ia de Lisboa com uma lista das mais interessantes. A Travessa não desiludiu e, já de barriga cheia, voltámos para a Pousada para descansar e dormir a sesta, claro está. Não sem antes passar no supermercado, para eu comprar (a primeira dose de) Mulatas.



Ao final da tarde, e porque estávamos a 2 dias da prova, fomos fazer um mini treino de reconhecimento, aproveitando o facto de a prova mais longa, a que dava a volta à ilha inteira, partir mesmo junto ao sítio onde estávamos. Pelo caminho, já se encontravam as marcações, e decidimos segui-las. Foi uma forma de esticarmos as pernas e, ao mesmo tempo, de começarmos a deliciar-nos com o que a ilha tinha para nos oferecer.






Entretanto, o Sol começou a pôr-se e ainda deu para algumas fotografias e paisagens incríveis. Tomámos um duche rápido e já tinha a minha ama à minha espera para começar a volta pelas "capelinhas". Dizia ela, que havia muita coisa que me queria mostrar, e que havia muita gente que me queria ver. Andámos às voltas, fizemos algumas visitas, e ela mostrou-nos algumas coisas, incluindo a casa onde eu vivi. Depois de todo este mini roteiro turístico pela Vila, fomos jantar.

E, neste dia, jantámos no Central Pub. É difícil ir a Santa Maria e não ir ao Central Pub. E vale mesmo a pena lá ir! É um sítio curioso, com uma decoração muito própria, onde são notórias as influências americanas (na ilha há muitos emigrantes que estiveram nos EUA e no Canadá), e onde são famosas as pizzas e o brownie. Pois que as pizzas merecem toda a fama que têm! São enormes, muito saborosas e baratas, como se quer. É um ponto de encontro para comer qualquer coisa, para tomar café, para beber um copo, com gente de todas as idades. Ficámos fãs.



Como estávamos cansados e queríamos acordar cedo, acabámos por nos deitar relativamente cedo. O dia seguinte, sexta-feira, era o dia que tínhamos para explorar e conhecer a ilha.

Começámos pelo Norte da ilha, pelos Anjos, depois seguimos em direcção ao Barreiro da Faneca, e ainda fomos à Ermida de Nossa Senhora de Fátima, onde iria começar a minha prova no dia seguinte. De toda a parte, em todos os caminhos, as vistas eram indescritíveis.




Alguém falou em vento e mar agitado?!







Continuámos a contornar a ilha pelo Norte, em direcção à zona oriental, e passámos pelo Miradouro das Lagoinhas. Daí, seguimos para a Baía de São Lourenço, uma das vistas mais conhecidas de Santa Maria, e ainda passámos no Poço da Pedreira, um lugar mágico, escondido, tão sereno e tão bonito!





Voltámos para a Vila para almoçar, fomos levantar os dorsais, e continuámos o nosso passeio, tendo como destino o Pico Alto, o ponto mais alto da ilha (onde as outras duas provas iam passar). Foi curioso estar lá em cima, ter vista a 360 graus para toda a ilha, e poder ver onde ia começar e terminar a minha prova. Visto assim, tornou-se mesmo real e, convenhamos, meio assustador... Nunca tinha tido esta experiência, de poder ver do alto todo o percurso que ia fazer numa prova, e foi mesmo especial! 



Seguimos depois para o Farol de Gonçalo Velho, outro marco da ilha, já em Santo Espírito, onde depois fomos ver a zona da Maia, e a famosa Cascata do Aveiro (que não há foto que lhe faça justiça...).







À noite, jantámos no que é tido como um dos melhores restaurantes da ilha: Espaço Em Cena. Foi pena estarmos em modo véspera de prova e não podermos comer tudo o que nos apetecia... Mas fiquei com vontade de lá voltar, e o próprio espaço merece uma visita, pela decoração, pelo ambiente, pela quase estranheza que um espaço tão diferente naquela ilha nos causa. Comi uns hambúrgueres de peixe porco que estavam óptimos! E, para a sobremesa, um crumble de pêra com gengibre que estava qualquer coisa!...




O dia seguinte foi dia de prova, e já disse mais do que suficiente sobre isso. Dizer apenas que a noite terminou com um muito simpático jantar de entrega de prémios, com uma sopa de peixe maravilhosa e um ambiente muito bom!


No Domingo, dia de regresso, ainda houve tempo para as últimas visitas a quem não podia deixar de visitar, e ainda fui ver a casa onde eu vivi quando nasci. Hoje em dia, a visão é meio assustadora, porque está tudo ao abandono e em vias de ser destruído. Mas diz quem sabe que, há 35 anos atrás, havia ali um bairro muito particular, com uma comunidade engraçada de quem trabalhava no aeroporto e ali vivia, por serem maioritariamente pessoas do "continente" que ali estavam desterradas. 


Não nasci para as poses de blogger...


Ainda demos um salto à Praia Formosa, uma praia muito especial pelas suas areias claras (contrariamente ao que acontece na maior parte das praias dos Açores), e onde se realiza o Festival Maré de Agosto. Nesta altura do ano tem muito pouca areia, mas no Verão vale a pena!


Seguiu-se um almoço muito especial, em casa da minha ama, que fez questão de cuidar de mim, como se eu ainda fosse pequena. Comemos tanto e tão bem!... E ainda vim carregada para Lisboa, pois claro. Malassadas, búzios, biscoitos, bolo de pão... Todas as calorias gastas no trail já estavam recuperadas antes mesmo de regressar a Lisboa!

Santa Maria é uma ilha pequena, de facto. Mas é uma ilha cheia de recantos e pérolas escondidas, que é impossível transmitir aqui. Santa Maria é, também, uma ilha de gente simpática, genuína e humilde, que gosta de bem receber. É uma ilha em que facilmente nos sentimos bem, onde nos deslumbramos, onde comemos maravilhosamente. Sim, sou suspeita. Mas, se puderem, não deixem de lá ir!


Eu, vim de lá com a promessa de não voltar a estar tanto tempo sem lá ir, isso é certo.


terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

Das marcas quase imperceptíveis da passagem do tempo...

Ontem, mais uma vez, dei comigo a pensar sobre estas marcas do tempo que a vida nos vai mostrando. Que nos vai deixando. Como uma pequena ruga que nos surge no rosto, dia após dia, sem que nos apercebamos a não ser quando vemos as fotografias antigas e fazemos as inevitáveis comparações.


O tempo passa e a nossa vida muda. E nós crescemos, nós envelhecemos.

Ontem, enquanto estava no quarto velório em menos de um ano, dei comigo a pensar que crescer também é este aprender a lidar com a morte e a sua inevitabilidade. 

Crescer é ver a morte tornar-se banal. Não tão banal que deixe de nos chocar, mas banal ao ponto de quase aprendermos a aceitá-la. 

O tempo passa, a nossa vida muda e a morte começa a fazer parte da nossa vida. E nós crescemos, nós envelhecemos. 

Primeiro, passa apenas à nossa janela, acena-nos ao longe quando ouvimos falar na morte daquela tia afastada que víamos uma vez por ano. Depois, começa a aproximar-se, a pouco e pouco. Até ao dia em que nos entra pelo peito adentro em toda a sua força.

E nós crescemos, nós envelhecemos.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

Do dia dos Namorados...

Nunca liguei muito ao Dia dos Namorados. Pelo menos, que me lembre. Sempre achei que era mais uma moda americana a incitar ao consumismo. Mas também nunca o reneguei ou desprezei. Temos convivido pacificamente, em paz e respeito mútuo.

Já houve no meu passado quem achasse que era boa ideia ir jantar fora no Dia dos Namorados. Não é. Nunca foi. E à segunda tentativa, eu jurei para nunca mais. 

Também já houve no meu passado quem pusesse fim ao que quer que seja que tínhamos, entre outros motivos, porque eu não quis comemorar o Dia dos Namorados a preceito. Almoçarmos juntos e passarmos a tarde no sofá pareceu-me um excelente programa. Pois que não.

No dia de hoje, o programa do Dia dos Namorados vai incluir um fantástico e muito romântico treino a dois, comigo a tentar lutar contra a otite e a tosse que teima em não desaparecer, e com ele a tentar lutar contra o tédio de correr em ritmo de tartaruga. E vai incluir uma tigela de sopa para jantar. E talvez umas tostas com o resto do queijo que trouxemos dos Açores. Na loucura, abrimos uma garrafa de vinho e bebemos um copo ou dois. E está tudo bem.

Como não sou completamente insensível, esta manhã enfiei uns chocolates em forma de coração na mochila do trabalho dele. Talvez ele me traga um ovo Kinder. Ou um Kit Kat cor de rosa, que não sabe assim tão bem mas de que eu gosto só por ser cor de rosa. Ou então não me traz mesmo nada porque, ele sim, é o verdadeiro insensível. E está tudo bem.

Feliz Dia dos Namorados! Ou feliz quinta-feira, se preferirem! 

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

Das fotografias que dão alegria... - Day 42



Ou das fotografias que se tiram às três da manhã na cozinha enquanto esperamos que o termómetro apite apenas para constatarmos que temos de parar de nos auto-medicarmos e ir ao médico. Estamos em modo otite por aqui. E sem vinho, portanto. Nem bom nem mau. 

domingo, 10 de fevereiro de 2019

Das fotografias que dão alegria... - Day 41


"Como estou doente, vou ao ginásio." 

(ou das coisas estranhas que a malta da corrida diz quando quer ir correr mas tem de admitir que não deve e opta por uma solução alternativa...) 

sábado, 9 de fevereiro de 2019

Do Columbus Trail Half Marathon...

Há precisamente uma semana atrás, estava a dar início à minha participação no Columbus Trail, na prova Half Marathon, com uma distância prevista de 23km.

As expectativas eram muitas. Os receios também. Era a prova que marcava o regresso à minha ilha. Era a prova que marcava a minha estreia em distâncias menos curtas.

Nunca me senti tão nervosa como para esta prova. Ao ponto de me sentir fisicamente mal, a tremer por todos os lados, a achar que me ia dar uma coisinha má e que o melhor era voltar para a cama. Ter estado sozinha nas horas que antecederam a prova, não ajudou.

Mas voltemos ao início. 

Fomos levantar os dorsais na sexta-feira à tarde. Na primeira tentativa, disseram-nos que tínhamos de levar o material obrigatório para verificação. Na segunda tentativa, lá conseguimos levantar os dorsais.

Ao fim da tarde, fomos assistir ao briefing. Nunca tinha assistido a um briefing de uma prova... Mas o do Columbus Trail foi meio surreal. Aliás, houve muita coisa surreal em toda a preparação para esta prova, porque as informações contraditórias foram uma constante ao longo dos últimos meses. Fui para a prova sem saber a distância ou a altimetria da mesma. Mas isso não interessa nada, não é verdade?

Voltando ao briefing, ainda deu para rir, quando a organização disse que tinham andado a marcar o terreno e a rever as marcações, mas como em alguns sítios usaram marcações mais ecológicas e biodegradáveis, as vacas gostavam de as comer... Dramas de trails nos Açores!

À noite, já no alojamento, preparei o material todo, sem me preocupar muito, porque ia ter muito tempo no dia seguinte. Para variar, ainda não sabia ao certo o que vestir, porque decidi que queria usar os mesmos calções que tinha usado no treino de reconhecimento de quinta-feira, e que tinha lavado à mão, mas que, obviamente, ainda não estavam secos. Tinha levado três pares de calções, mas embirrei que queria aqueles. Dramas de menina-princesa com a mania que corre!


O Sábado chegou e eu estava com medo de acordar com a partida do Columbus Grand Trail, que era a 50 metros da nossa janela e às 6 da manhã. Mas não só não acordei com isso, como não acordei com o louco mais louco do que eu a levantar-se e a sair para tomar o pequeno-almoço. Como é que se deu este pequeno milagre? Graças a uns abençoados tampões de ouvidos, que eu nunca tinha usado, mas que já foram promovidos a meus melhores amigos. Ele voltou do pequeno-almoço, acabou de se arranjar, e saiu para apanhar o autocarro de transfer para a partida da prova dele, o Columbus Trail Marathon, que partia às 7h30. 

Eu fiquei a dar mais umas voltas na cama, e acabei por me levantar, mas o meu autocarro só partia às 10h, sendo que a minha prova só começava às 11h. Tarde, demasiado tarde. O que é que uma pessoa faz durante aquele tempo todo à espera da prova?... Eu gosto daquele nervoso de acordar e de comer e de me vestir e de me despachar e de ir para a prova e de ir correr... Compassos de espera não são para mim. Deve ter sido pelo excesso de tempo que me deu para me sentir mal... Só pode.

Já ia a caminho do autocarro quando me lembrei que me tinha esquecido de pôr o creme anti-fricção nas pernas. Os quilos a mais fazem-se sentir nestes pequenos presuntos que roçam um no outro (que imagem bonita, hein?!), e se eu não pusesse creme, com os quilómetros que ia fazer e com o calor que ameaçava fazer-se sentir, a coisa ia correr mal. Toca a voltar para trás.

Lá chegou a hora, lá apanhei o autocarro, lá me acalmei, lá cheguei ao início da prova.

Fazer tempo, apanhar frio, comer uma banana e uns frutos secos. E o drama que foi arranjar uma banana que não estivesse completamente verde naquela ilha? Em dois supermercados, não havia uma que se aproveitasse. A que comi foi ele que conseguiu arranjar no pequeno-almoço e guardou para mim. E ainda bem. Que quando lá cheguei, só restavam as verdes.


A prova Columbus Trail Half Marathon começava na zona norte da ilha, junto à Ermida de Nossa Senhora de Fátima, coisa que fica lá no cimo de uma encosta, no topo de 150 degraus. Escusado será dizer que a única casa de banho disponível, ficava no cima desses degraus. Menos mal, ficou o aquecimento feito e ainda tirei mais umas fotos.


A prova começou e eu, que estava nos últimos dos últimos, deixei-me ir devagar, devagarinho. Passado pouco tempo começámos a descer e eu lá passei 3 ou 4 pessoas. E passado pouco tempo estávamos a subir, claro.


Passámos por sítios incríveis, começámos a atravessar pequenos cursos de água, andámos no meio de arvoredo mais ou menos denso, e fomos fazendo aquela que seria a pior subida da prova. Se é para ser, que seja logo ao início, que uma pessoa sempre fica despachada. Seguiu-se o Barreiro da Faneca, uma espécie de deserto vermelho e plano e muito singular, e voltámos às encostas junto ao mar.



Fui tirando fotografias. Muitas fotografias. Demasiadas fotografias. Ia distraída, desconcentrada, em modo passeio. Resultado? Caí aos 4km. Nada de especial. Ainda tenho um buraco na mão e dois ou três nas pernas. Mas rapidamente me levantei, sacudi a poeira, e continuei a minha cruzada, tentando disfarçar a perda temporária de estilo. Também foi aqui que percebi que era melhor reduzir o número de fotografias, concentrar-me no que estava a fazer e começar, efectivamente, a correr.



As vistas continuaram incríveis e a descida para os Anjos foi por uma encosta extraordinária, muito muito verde, em que eu me senti uma verdadeira cabra do monte, aos saltinhos por ali abaixo. Não tenho memória de alguma vez ter descido alguma coisa tão inclinada e tão verde, sem trilhos definidos, que só davam mesmo vontade de uma pessoa se enrolar toda e deixar-se ir a rebolar por ali abaixo. Mais uma vez, o trail a despertar sensações incríveis de liberdade, misturadas com muita adrenalina e uma felicidade que é um misto de serenidade e de entusiasmo.



Em cima, a descida vista de cima. Em baixo, a descida vista de baixo. Em ambas assinalei outros atletas que aí vinham, para tentar dar a ideia da dimensão da coisa.




Estas descidas sempre a olhar para o mar, não têm preço. Adoro andar no meio da montanha, mas sou mesmo filha do mar...



Quando cheguei aos Anjos encontrei o primeiro abastecimento. Além de gente muito simpática, os abastecimentos tinham de tudo um pouco: um bolo de cenoura maravilhoso, bananas e laranjas, amendoins, tomates e sal, marmelada, bolachas, chocolate, água, isotónico... Aquela gente trata-se bem e tratou-nos muito bem, também!


Ao sair dos Anjos seguimos durante algum tempo muito perto do mar, com mais paisagens incríveis.


E eu nunca vi uma prova com tantos fotógrafos!... A sério. Estavam nos sítios mais inusitados, a tirar as fotografias mais incríveis. Ainda não consegui descobrir todas, mas já tenho algumas bem giras!


Lá seguimos nós, sempre junto ao mar, com umas subiditas simpáticas, e com esta sensação simpática, mas assustadora ao mesmo tempo, de podermos ver lá ao longe os outros atletas, e o caminho que teríamos de fazer.




Depois de uma subida, uma pessoa sempre aproveita as fotografias para recuperar o fôlego, não é verdade?... Mais uma vez, as vistas, sempre incríveis.


Como seria de esperar, eu comecei a desesperar a partir de certa altura. Estava cansada, com muitas e variadas dores, estava imenso calor, e quando cheguei aos 10km, achei que devia desistir. Pensei mesmo nisso. Achei que tudo aquilo era um disparate e que eu jamais faria os 23km. Se aos 10km eu já estava de rastos, como é que ainda ia fazer mais do dobro?... No meio de tanto drama e dúvida, lá ia fazendo mais um bocadinho, e mais um bocadinho, e mais um bocadinho. Aos 12km fiz a última grande subida da prova e dizia para mim mesma que metade já estava. Sabia que a partir dali seria relativamente plano, mas também sabia que seria a parte mais chata, junto à vedação da pista do aeroporto. Foi uma parte desesperante, em que morri de tédio, em que achei que não ia aguentar o calor, em que tive mesmo de parar para alargar os atacadores porque estava com os pés dormentes de estarem inchados. Foi nesta altura que me agarrei à salvação possível: o gel da Gu.

Foi no final da pista, quase aos 17km, que estava o meu segundo abastecimento. Enchi o soft flask, comi umas laranjas e umas batatas fritas, e segui viagem. Não sei como, nem porquê, mas fui arranjar forças lá no fundo do meu ser, e larguei a correr feita louca. Dentro do meu ritmo, claro, mas num contraste gigante com o que tinha feito nos últimos quilómetros.



Na fotografia não se vê muito bem, mas aqui estávamos no cimo de uma falésia e tínhamos um caminho de terra e umas escadas de cimento (que me custaram horrores a descer), e que nos levavam mesmo até à beira-mar, por uma espécie de praia que tivemos de atravessar.



Quando falamos em praia nos Açores, o habitual é falar em praias de pedras ou de areia muito escura. Era o caso desta. Andei aos saltinhos por cima de pedras e mais pedras, a tentar não me magoar numa altura em que os movimentos já saem meio trôpegos e as forças já não permitem levantar os joelhos tanto quanto devíamos. Molhei as mãos no mar. O meu mar. Molhei os braços, a cabeça, o pescoço. Respirei fundo e guardei em mim aquele cheiro. Ganhei forças para a subida que se seguia.


Ao cima da subida, vacas. Muitas vacas. Vacas que estavam soltas e que a qualquer momento podiam vir confraternizar com quem andava a correr. Não vieram. Comigo, pelo menos.


Vila do Porto, lá ao longe, mas já tão perto. Foi bom ver esta imagem. Deu-me aquela sensação reconfortante de saber que já não faltava muito.

Estava com 20km. A prova teria 23 ou 24km, as informações eram contraditórias e eu não sabia ao certo. Aproximo-me da vila, já depois de ter despachado as subidas todas, e vejo um grupo muito animado com um cartaz a dizer que só faltava um quilómetro. Pergunto-lhes se é verdade, se só falta mesmo um, porque ainda estava com 21km. Dizem-me que sim. Dão-me a melhor notícia do dia e lá vou eu feliz e contente. Atravesso sem pestanejar um último riacho cheio de lama, em que em cada passo o meu pé se afunda e fico com lama até ao tornozelo e me pergunto se não vou ficar ali atolada. Não quero saber. Está quase a acabar. Entro na avenida principal da vila. Acelero. Entro no acesso à meta. No meio da multidão incansável a apoiar os atletas, reconheço o rosto de quem me deu colo nos primeiros anos de vida. Faltam poucos metros. Corto a meta a sentir-me estupidamente feliz. Foram três horas e trinta e quatro minutos de prova. A mim, pareceu-me toda uma vida.


Foi uma prova muito especial, pelas razões óbvias e por muitas outras. Foi mágico correr na ilha que me viu nascer. Sim, só lá vivi três anos, mas sinto-me um bocadinho filha daquela terra, daquele mar, e foi muito bom poder lá voltar para fazer algo que me dá tanto prazer.

Nunca tinha feito 23km em trail e não estou na melhor fase da minha vida em termos de treinos, pelo que sabia que ia ser uma prova dura, sabia que me ia custar. Não sabia que me ia custar tanto e que seria um desespero tão grande. Mas valeu a pena. Quando cortamos a meta, tudo vale a pena.

No final, aquela sensação agridoce da frustração de saber que podia (e devia!) ter feito melhor, porque tenho consciência que fui demasiado lontra em algumas partes, mas a sensação de que consegui, cheguei ao fim, e quero muito lá voltar, porque foi dos sítios mais bonitos onde já corri.

Adorei a prova, adorei os abastecimentos (no final tínhamos imensa comida à nossa espera, incluindo sopa!), adorei todo o apoio ao longo do percurso. Nunca tinha visto nada assim, mas ao longo do percurso passámos por imensos pontos de controlo. Nada de muito elaborado: uma ou duas pessoas, que nos tiravam fotografias e que tomavam nota do nosso dorsal, perguntando-nos se estava tudo bem e se precisávamos de alguma coisa. Não imagino o que tenha sido com o que ali aconteceu o ano passado, e, por isso, percebo esta preocupação reforçada com a segurança e o bem-estar de todos os atletas. Da minha parte, só posso dizer que foi muito reconfortante saber que havia sempre alguém relativamente perto, caso acontecesse alguma coisa.

O relato já vai longo, mas ainda ficou muito por dizer. O Columbus Trail foi uma prova de muitas emoções, de muitos altos e baixos (literais e figurativos), de muitas memórias que ficam. Fica também a promessa de, se algum dia me quiser aventurar numa distância maior, ir lá fazer a minha estreia. Gosto do conceito de uma prova em que se dá uma volta inteira à ilha, na prova dos 75km. Se é para correr, que seja com um propósito. E dar uma volta a uma ilha, parece-me um bom propósito!

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