Daqui a dois meses, mais coisa menos coisa, já devo ser tia. Tia. Eu? Tia? Não encaixa. Já fui tia que chegue durante uma certa fase da minha adolescência. Depois passou-me.
Não estou particularmente entusiasmada, mas já dei comigo a entrar numa loja de roupas para bebés, o que foi algo de muito surreal. Acho que não estou delirante com a ideia por duas razões: em primeiro lugar, porque nunca concordei com esta gravidez; em segundo lugar, porque quem está grávida não é a P., mas sim a L. Se fosse a P., seria diferente. Por tudo, porque eles podem, porque eles têm condições (a todos os níveis) para isso, porque estão mais próximos de nós (a P. até trabalha connosco no emprego nº2), por mil e uma coisas mais. Mas, em derradeira análise, porque, por mais que queiramos, e por mais anos que passem, eu não olho para os meus dois irmãos da mesma forma. É impossível. O meu irmão mais velho é filho da minha mãe e do meu pai. Foi com ele que eu cresci toda a vida, foi com ele que brinquei, chorei, ri, dei e levei tareia. E o meu irmão mais novo é filho da minha madrasta e acabámos por não viver muito tempo juntos. Vivemos dois ou três anos juntos, até eu ir para Coimbra, e depois quando eu voltei, já ele tinha ido para o Algarve. Mesmo com a F. e a B. acabo por ter uma relação mais de irmãs, porque convivemos muito mais, porque somos todas meninas, porque vivemos muito mais tempo juntas. O G. foi para o Algarve e, inevitavelmente, acabamos por nos ver somente 3 ou 4 vezes por ano. Talvez seja por isto que eu não esteja tão desejosa de conhecer a minha sobrinha, porque não tenho acompanhado de perto a vida deles e a gravidez.
Por isso e porque, como já referi, não concordo com a gravidez. Já o disse aqui há uns meses. Não acho que se deva ter filhos só porque sim. Nem se deve nem se pode. Não falamos de brinquedos, carros, casas. Falamos de um ser vivo, uma criança, que não pediu para nascer e que não tem culpa nenhuma dos pais que tem. Bolas! Para quê? Qual é a necessidade? Eles são tão novos, têm uma vida toda para ter filhos. Eu sei que não devemos falar como se estivéssemos no lugar dos outros (isto em inglês soava melhor), e que só passando pelas situações, saberíamos o que faríamos. Falar é fácil, eu sei, eu sei essas coisas todas. Mas, mesmo assim, há situações em que não podemos arriscar o passar por elas para ver se corre bem. Esta é uma situação que eu acho, no fundo, que não vai correr bem. Achamos todos, na verdade. Mas eles não entendem, não pensam, ou não querem saber. Eu tenho a certeza que o meu irmão vai fazer tudo para dar o melhor à criança que aí vem, mesmo que isso implique ter três empregos e não dormir. Mas qual é a criança que precisa de um pai com três empregos? Ele pode comprar-lhe as melhoras roupas e levá-la aos melhores médicos (e eu sei que se vai esforçar por isso), mas se ele não tiver tempo para estar com ela, de que é que isso vai servir? Eu também sei que é fácil culpá-la só a ela, e não culpar o meu irmão. A verdade é que têm os dois culpa, e ele tem culpa sobretudo por ser tolinho e por se deixar manipular por ela. Mas ele não tem culpa de ser estupidamente carente e de se agarrar a alguém só porque esse alguém lhe dá os mimos e a atençao de que ele precisa. Mas isso não chega. Mais cedo ou mais tarde, isso não vai chegar. E vamos ter mais uma criança que vai viver sem ter os pais juntos.
Cada vez menos sei se algum dia quererei ter filhos. Há dias em que acho que sim. Há dias em que acho que não. Mas uma coisa é certa: só vou ter filhos se puder mesmo tê-los. E quando digo se puder, incluo ter dinheiro, ter saúde, ter uma casa nossa, não ter dois empregos, ter estabilidade emocional e ter disponibilidade a todos os níveis. E não sei se algum dia conseguirei reunir todas estas condições. Bom, a bem dizer, só me falta o não ter dois empregos, o que vai acontecer já no fim de Março. Isso e a estabilidade emocional, que não tenho. Eu vou ser daquelas que quando marcar a primeira consulta para o GO para começar a pensar em engravidar, marca também logo consulta para o Psi. Just in case.