Eu sempre achei que seria daquelas grávidas super activas durante a gravidez.
Já tinha lido sobre o assunto e, quando descobri que estava mesmo grávida, li ainda mais sobre o exercício físico na gravidez, em geral, e sobre a corrida, em particular. Tinha uma perspectiva muito idílica da gravidez e do treino e achava que ia continuar a treinar como se nada fosse.
Depois aconteceu a realidade. E voltamos, pela 3ª vez, à bela lição nº 1 da maternidade, já por aqui referida: nada será como tinhas planeado. E não foi.
Eu continuei a correr nos primeiros tempos. Pouco, mas ia correndo.
Quando, uma semana depois de sabermos que eu estava grávida, tivemos a Family Race, decidimos que não fazia sentido fazer os 15km. Eu não andava a treinar para fazer 15km e, se em circunstâncias normais, eu teria ido na mesma nem que demorasse 3 horas, naquelas circunstâncias, seria só parvo insistir nisso.
Talvez agora faça mais sentido para algumas pessoas por que raio eu só fiz 6 ou 7km da prova... Está explicado!
História curiosa: lembro-me de ir na prova, nos primeiros quilómetros que fiz com o João Lima e de irmos entretidos na conversa, como sempre. Perguntava-me ele que maratonas é que tínhamos previstas para os próximos tempos, e eu disse-lhe que o louco mais louco do que eu estava a pensar ir fazer Valência em 2020, mas que eu não estava a pensar nem nessa nem em maratonas nos próximos tempos. O João, insistindo, perguntou-me se eu não tinha assim nenhuma nos meus sonhos que gostasse de fazer este ano. Eu, sem me descoser, disse-lhe que os meus sonhos para este ano eram outros. Felizmente, a conversa morreu ali, comigo a rir-me por dentro, e com o João talvez a pensar que eu ia desistir de correr.
Pouco tempo depois, fui fazer um treino na expo, porque queria mesmo continuar a correr, mas ao mesmo tempo passei o treino todo a pensar se estaria a fazer a coisa certa ou se estaria a correr o risco de hipotecar algo tão importante, só pelo capricho de continuar a correr. Incrível como, grávida de tão poucas semanas, e já todo o meu esquema mental se estava a alterar e tudo girava à volta daquele pequeno ser dentro de mim!... Acabei por falar com a minha médica de família sobre isso, que me disse apenas para ter juízo e reduzir a intensidade.
Duas semanas depois da descoberta, tivemos os Trilhos de Casainhos. Na altura, escrevi para mim: O meu regresso aos trilhos, por um lado, e provavelmente o meu último trail durante uns tempos, por outro. Ele foi amoroso e fez a prova comigo. Morreu de tédio, mas não saiu de ao pé de mim um segundo, sempre preocupado, sempre a perguntar se eu estava bem. Já não me lembro da última vez que tínhamos feito uma prova juntos, mas foi muito bom este regresso. Se não tivesse feito a prova com ele, muito provavelmente, teria desistido. Tê-lo ao meu lado ajudou-me a acalmar e a não estar constantemente a pensar no disparate que era estar a pôr em risco esta gravidez pelo capricho de fazer aquele trail. Vá, não foi um risco assim tão grande quanto isso, se tivermos em consideração que demorei quase duas horas e meia para fazer aqueles 15km. Digamos que fomos dar um passeio pelo monte, inseridos numa prova de trail. Não me andei a matar, não andei no limite, caminhei sempre nas subidas e abrandei sempre que senti que o ritmo cardíaco estava a disparar. Tentei esquecer-me que estava grávida e tentei aproveitar. As saudades que eu tinha de andar nos trilhos!... Do verde, dos single tracks, da lama (nem tanto), dos cheiros e dos sons... Sim, provavelmente foi a minha despedida dos trails durante muito tempo. E, por isso mesmo, valeu a pena!
Seria mesmo a minha despedida dos trails. Ainda estava inscrita em mais duas provas (Picos do Açor e Trilhos dos Reis), mas não me sentia mesmo confortável em andar sozinha no meio dos trilhos, com tudo o que isso implica. Se correr em estrada tem os seus riscos, mas em qualquer altura paramos e temos assistência, quando andamos nos trilhos qualquer pequena queda (e eu sou pessoa que gosta de cair nas provas de trail...) pode provocar estragos e pode acontecer em sítios inacessíveis e aos quais a ajuda pode tardar em chegar. Assim, despedi-me dos trails em Casainhos, e foi uma bela despedida!
Já das provas de estrada, demorei mais um bocadinho a despedir-me.
Ainda fiz as duas primeiras provas do Troféu de Oeiras (Porto Salvo e Cruz Quebrada), fiz a São Silvestre de Lisboa e fiz a São Silvestre dos Olivais em modo caminhada.
A São Silvestre de Lisboa acabou por ser a minha última prova. Nem cheguei a escrever o relato da prova, porque não saberia explicar por que motivo demorei 1h15 a fazê-la. Agora é fácil perceber. Eu sabia que não queria faltar a esta prova. Foi a minha primeira prova de 10km de sempre e é aquela a que todos os anos volto, sem falhar. Também foi a primeira prova que fizemos a dois, em tempos idos. E, em 2019, eu não ia falhar. Fui, ciente de que faria o que conseguisse, como conseguisse, sem me preocupar com tempos ou ritmos. E assim foi. Tive a companhia do meu pai durante uma boa parte do tempo, mas aos 6km disse-lhe que seguisse, porque eu precisava de caminhar um pouco. Estávamos no Terreiro do Paço e, a partir daí, fui alternando corrida e caminhada, preocupada, com algum desconforto e com medo de fazer algum disparate. No final, cortar aquela meta teve um sabor especial. Foi a primeira São Silvestre de Lisboa da nossa filha. De muitas, não tenho dúvidas!
Acabei por não fazer mais provas... Ainda corri algumas vezes e ainda fui algumas vezes ao ginásio, durante estes primeiros 3/4 meses de gravidez.
Mas depois... Depois veio a dura realidade: eu não tinha vontade. Eu andava cansada e permanentemente enjoada. Chegava ao final do dia e a última coisa que me apetecia era treinar. Acabei por cancelar o ginásio e arrumar os ténis.
Depois veio a Covid-19, eu vim para casa em teletrabalho e em reclusão total, e parei completamente de treinar. Ao fim de algum tempo, comecei a fazer uns treinos de força que via no YouTube, e ao fim de mais tempo ainda, com indicação médica, eu comecei a fazer pequenas caminhadas na expo e aqui no bairro.
Depois veio a indicação de repouso e tenho estado parada. E é isto.
Uma pessoa até queria... Uma pessoa tinha mil e uma expectativas e mil e um sonhos... Mas depois acontece a vida.
De tudo o que li e investiguei sobre o tema, tudo indica que quem já tem uma vida activa e pratica desporto, pode e deve continuar a fazê-lo (com eventuais adaptações, que devem ser vistas caso a caso). O desporto faz bem ao corpo e à alma, e pode ser uma grande ajuda na preparação para o parto e na recuperação do mesmo.
Tenho pena, tenho mesmo, de não ter treinado mais e durante mais tempo. Mas os enjoos e a preguiça tomaram conta de mim... Resta-me esperar por poder regressar aos treinos depois dela nascer!
Quando deres por ti estarás novamente a correr e estes meses já ficaram para trás. Tens muito tempo para recuperar e esta pausa foi por uma muito boa razão :)
ResponderEliminarSim, confesso que me admirei o porquê de apenas aquela distância no Porto mas pensei que talvez não estivesses em forma. Na altura estava longe de imaginar :)
Sobre o continuar a correr durante a gravidez, há extremos, como a atleta que cortou a meta na Maratona de Chicago 2011, com 39 semanas e horas depois deu-se o parto. Creio que já te enviei a história mas se afinal não o fiz, aqui vai: http://joaolimanet.blogspot.com/2011/10/ciclo-sem-fim-morte-e-nascimento-na.html
Beijinhos e tudo pelo melhor. Força!!! :)
Assim espero :)
EliminarSim, lembro-me de teres falado sobre isso! História incrível :) Acho que devemos ser conscientes e fazer o que faz sentido para a nossa realidade. Cada caso, é um caso, e generalizar que não se deve correr, é só tonto... Mas ainda é o que muitos médicos dizem, infelizmente!
Beijinhos!
Tenho lido todos os teus posts sobre a gravidez e tenho gostado imenso!
ResponderEliminarMas este merece um comentário pois, e podes não acreditar, mas quando te vi no Porto achei que estavas com cara se grávida. Juro! Achei que estavas com um ar feliz e luminoso =)
E ler estes teus textos deixa-me com um sorriso na cara pois transpareces bem os teus sentimentos. E apesar de não vos conhecer assim tão bem fico muito feliz por vocês =)
Muitas felicidades!
Beijinhos
Ohhhh! A sério? Que engraçado :) Foi um fim-de-semana muito feliz, sem dúvida :)
EliminarObrigada pelas tuas palavras, Isa :)
Um grande beijinho!
Tem só em atenção que é super desaconselhado determinados tipos de treinos, muitas vezes corrida e abdominais só os hipopressivos para ajudar a fechar a diástase... Pois os enjoos não ajudam, no meu caso como andava enjoada a fazer exercício e sem o fazer optei por fazer, mas baixei bastante o nível, adaptar e aceitar que um dia voltarás às corridas :)
ResponderEliminarSim, para já vou começar com as caminhadas, e depois logo vejo com a médica o que posso fazer e quando!
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