quarta-feira, 19 de agosto de 2020

Da Gravidez... - XIV (ou do meu primeiro breakdown... e de todos os outros...)

Uma das coisas boas da gravidez, é que podemos culpar as hormonas por 99% das coisas que nos acontecem. Têm as costas muito largas, as pobres hormonas.

Curiosamente, eu não me senti muito "hormonal". Bom, talvez alguém cá em casa discorde. Mas foi o que eu achei.

Claro que tive os meus momentos e as minhas crises. Claro que chorei pelas coisas mais tolas e me emocionei por coisas que antes talvez ignorasse. Mas podia sempre culpar as hormonas, e estava tudo bem.

Culpa das hormonas, ou não, lembro-me perfeitamente do meu primeiro breakdown a sério. De repente, já não sei a propósito de quê, eu dei comigo na casa de banho a chorar convulsivamente. De repente, eu pus tudo em causa.

Naquele momento, eu perguntei-me se seria capaz de ser mãe, se estaria à altura do desafio, se teria nascido para ser mãe, se não seria tudo um grande erro. Chorei, chorei, chorei. Depois enfiei-me na banheira, chorei, chorei, chorei, e, eventualmente, passou. Podia sempre culpar as hormonas.

Mas culpa das hormonas, ou não, ao longo da gravidez fui tendo diversos momentos de dúvidas e medos.

O meu principal medo? Aquele que mais me assaltou, que mais me tirou o sono, que mais me fez chorar? O mais óbvio: serei eu capaz de ser melhor mãe do que a minha mãe foi para mim? Se, por um lado, a resposta parece evidente: não é difícil ser melhor mãe do que ela foi. Por outro lado, é difícil eu conseguir acreditar que posso ser melhor mãe, quando não tenho grandes referências ou exemplos. Houve muitos momentos em que eu me questionei se seria capaz de, não tendo tido uma boa mãe, ser uma boa mãe.

Ainda me faltam muitos anos de terapia para resolver e arrumar de vez aquilo que foi a minha relação com a minha mãe. Com ela morta, a coisa fica ainda mais difícil. Mas um dia eu hei-de lá chegar. Enquanto não chego, é inevitável que isso condicione a minha experiência enquanto mãe. Claro que, de forma muito racional, eu sei perfeitamente o impacto que isso pode ter e uso todas as estratégias possíveis para que isso não me influencie negativamente. Posso não ter as coisas bem resolvidas, mas tenho consciência delas e, lá está, sendo muito racional, sei perfeitamente que posso fazer diferente. Muito diferente. O problema são aqueles momentos em que eu não consigo ser muito racional, e em que eu me vejo condenada ao fracasso, incapaz de ser uma boa mãe para a Isabel. São poucos esses momentos, são cada vez menos, mas, de quando em vez, ainda me assaltam os pensamentos.

Para além de todos os grandes desafios que a maternidade nos traz, para mim, trouxe este muito difícil: o obrigar-me a olhar para mim, para a relação que tive com a minha mãe, para o que fui enquanto filha e o que (não) quero ser enquanto mãe. E tem sido uma luta monstruosa!...

8 comentários:

  1. Mesmo pessoas como eu que tiveram uma boa mãe duvidam se vão ser capazes, ainda hoje duvido se estou a ser boa mãe quando perco a cabeça e falo mais alto, faz parte e eu acho que isso é uma coisa boa. Se não te preocupasses é que seria meio caminho para não seres boa mãe.
    Já te disse e repito, acho mesmo que estás a fazer um excelente trabalho :)

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    1. Obrigada, Vera! A sério :) Aqui de longe, do que vou vendo da vossa vida, também não tenho dúvidas de que estás a fazer um excelente trabalho! Mesmo que, por vezes, duvides disso... A Bia está o máximo e é graças a vocês :)

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  2. Não tenho a mínima das menores dúvidas que és e serás uma excelente mãe! E não digo isto para agradar mas porque é 100% convicto! És uma pessoa extraordinária, muito!
    Todas as dúvidas são a certeza do quão preparadas estás pois é a prova que te preocupas. Todos nós, por melhor preparados que estejamos para um desafio, temos as naturais dúvidas de quem encara a situação com a máxima da consciência e responsabilidade.
    E esses breakdowns não são sinal de fraqueza mas pelo contrário! Não te esqueças que o corajoso não é aquele que não tem medo (esse é o inconsciente), o corajoso tem medo mas enfrenta-o!
    Um grande beijinho :)

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    1. Muito obrigada pelas tuas palavras, João :)

      Saberás, certamente, que existe estes momentos de dúvida, em que questionamos tudo! Mas depois passam :) uns dias melhores, outros priores!

      Um beijinho!

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  3. O simples acto de nos pormos em questão parece ser um bom caminho.

    Beijinhos

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  4. Acredito que o simples facto de verbalizares esse receio te tornará uma melhor mãe do que a tua o foi. E tens uma referência... aquilo que não gostaste e sentiste falta no teu crescimento. Saberás dar a dose certa de amor e apoio à Isabel no seu crescimento.
    Mas, posso colaborar nessa sensação de que ao ser mãe, a relação que temos com a nossa mãe fica a nu e damos conta de muitas coisas que antes não reparávamos. Seja qual for o espectro do relacionamento. Como sabes também não tenho mãe há uns anos e eu dava-me lindamente com ela. Ser mãe expôs todas as fragilidades que eu não esperava. Às vezes ainda o faz.

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    1. Uma má referência também conta como referência, não é verdade?

      Nem imagino como seja para ti gerires o teu papel de mãe, sem a tua mãe (fisicamente) por perto. Acredita que seja uma grande viagem de auto descoberta, mas que te faz crescer ainda mais.

      Se daqui a umas semanas ganhar coragem para ir passear até à linha, ainda te chateio ;)

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