Corria o longínquo dia de 2 de Junho de 2020 quando, depois de mais uma CTG, a minha obstetra me disse, definitivamente, que a Isabel iria nascer de cesariana.
E eu tive, mais uma vez, a confirmação daquilo que já vinha a descobrir nos últimos meses na gravidez: nada é como tínhamos imaginado. Podemos ler, fazer cursos, sonhar, planear, tudo e mais alguma coisa. Mas a maioria das coisas fogem do nosso controlo, e resta-nos aceitar.
Lembro-me de me ter sentido particularmente inútil. Eu não servia para trazer a minha filha ao mundo. Dramático, eu sei. Exagerado, eu sei. Mas foi o que senti naquele momento.
A opção da obstetra pela cesariana era discutível e, apesar de ela já ter falado nisso uns meses antes, eu achei que era apenas uma possibilidade e que continuaria a haver a hipótese de se tentar um parto natural. Naquele dia, eu percebi que não. E fiquei sem chão.
Questionei tudo. Questionei-me a mim. Muito. Falei com várias pessoas e pedi várias opiniões, que se dividiam.
Eu não queria fazer uma cesariana. E não era um mero capricho meu de quem acredita em fadas e unicórnios. Eu não queria fazer uma cesariana porque eu não tinha a certeza de que a cesariana fosse a única opção, ainda que a minha obstetra achasse que era a melhor opção, para minha segurança e da bebé.
Mas a opinião da minha obstetra não era consensual, não era completamente objectiva, não era a única. E, com 36 semanas de gravidez (quase 37), eu só tinha duas opções: aceitar o que a obstetra dizia e queria fazer, ou mudar de obstetra (o que implicava mudar também de sítio onde a bebé ia nascer). Ainda consegui que uma amiga falasse com uma obstetra que seria uma hipótese para mim, e que achava que não era linear que eu fizesse uma cesariana, mas que não estava a aceitar novas grávidas.
Foram tempos confusos em que, na verdade, não tinha muito tempo para uma decisão. Se, por um lado, uma parte de mim achava que eu devia ir à procura de outro obstetra que me desse uma hipótese, uma parte de mim já estava contaminada pelo grilo falante que iria estar sempre a perguntar-me se insistir num parto normal não seria um erro e se não estaria a pôr em causa a minha segurança e a da bebé. Conhecendo-me, eu sabia que mesmo que mudasse de obstetra, iria ter sempre aquela dúvida de saber quem é que teria razão e do que seria realmente melhor no meu caso. Até podia ter avançado para um parto normal, mas era provável que passasse o tempo todo com medo de uma eventual complicação (que podia ser muito complicada). Ou então não, e eu podia ter tido um parto natural espectacular.
Nunca vou saber. Na altura, decidi manter-me com aquela obstetra. Hoje? Arrependo-me profundamente. Já aceitei e já quase me perdoei. Sei que tomei a decisão que me fez sentido na altura, com a informação que tinha. Também sei que me faltou alguma força e coragem, mas, às 36 semanas de gravidez, eu tive medo de bater o pé e pôr em risco a bebé. Também sei que não seria fácil arranjar novo obstetra naquela fase da gravidez. E sei que nunca me perdoaria se alguma coisa tivesse corrido mal, porque eu tinha mudado de obstetra de repente. Na altura, mesmo sabendo que talvez a opção pela cesariana não fosse a melhor, eu decidi como me fez sentido. Agora, já não há nada a fazer em relação a isso. No futuro, já sei quem será a minha nova obstetra.
"Overtinking..."
ResponderEliminarJust my two cents...
Mas pensa assim, se a decisão de optar pela cesariana tivesse sido quase após 48 horas de trabalho de parto, sem a dilatação necessária, às 41 semanas, já com pouco liquido amniótico para começar, no meio da troca de turno de equipas e a médica que acabou por fazer o parto (e que por motivos de baixa médica da obstetra habitual foi a que calhou) ainda lhe disse que por ela não fazia a cesariana mas como já estava o processo iniciado que remédio teve ela (não posso replicar aqui o que pensei e me apeteceu fazer quando ela me falou disto), já ficavas descansada em relação às opções ;).
Os benefícios do parto natural são mais que muitos, Portugal é um dos líderes da cesariana na UE, em especial em hospitais privados e nem vou entrar pelos possíveis motivos.
Mas, as coisas são como são e sinceramente quase no fim da gestação as decisões são mais custosas e pouco lineares e se a médica recomenda e foi ela que vos acompanhou desde quase o início da gravidez, parte-se do principio que é uma decisão ponderada e a mais benéfica para vocês.
E como disse o grande poeta portuense, "prognósticos só no fim do jogo", assim é fácil ;)
Aproveita o momento e respira fundo, apenas isso.
Beijinhos
Não foi de propósito mas estava na lista do spotify:
https://youtu.be/kuq7RYQ8Wa0
É sempre tudo uma questão de perspectiva, não é verdade? Não imagino o que tenha sido... Tenho lido muito sobre más práticas e violência obstétrica e é assustador o que certas mulheres passam, numa altura que se quer tão bonita e especial. É lamentável.
EliminarSim, agora já não vale a pena pensar muito nisso. Já está, já está. E naquela fase já não tinha forças para grandes decisões. Agora... Let's just breathe :)
Beijinho e bom fim de semana!
Amiga... não penses e repenses tanto (em especial quando apenas serve para te martirizares). Fizeste o mais sensato, o que foi mais seguro e pronto. Tal como dizes, se não o tivesses feito e algo tivesse corrido mal, nunca te perdoarias. Portanto foi o melhor. Vê por esse prisma e, copiando a frase do Hélder porque é a que mais se ajusta, respira fundo :)
ResponderEliminarUm beijinho e tudo de bom
Eu não seria eu, se não pensasse tanto! Ahahahah
EliminarMas sim, e escrever isto aqui também é uma forma de me ajudar a arrumar o assunto. Foi o que foi, correu tudo bem, agora é olhar para a frente.
Beijinhos
concordo plenamente com o Joao. tomaste a decisao que consideraste acertada com a informação que tinhas. correu tudo bem. agora coloca um ponto final no assunto.
ResponderEliminarEstou a tratar disso :)
EliminarPor muito que não se queira pensar e repensar é complicado não é?!
ResponderEliminarA Bia também nasceu de cesariana por opção minha, era isso ou induzir um parto pélvico. Tive as opções e foquei-me na estatística (Taxa de mortalidade no parto em ambas as situações) o que me deu a certeza que se tentasse um parto pélvico e algo acontecesse não me iria perdoas (1/300 vs 1/2000 para cesariana).
Muita gente pode criticar a opção analítica e científica da coisa, mas eu sou assim! analítica e científica quando posso ser.
Fazemos o melhor que sabemos com a informação que temos! A Isabel é uma bebé saudável logo a tua opção levou-te ao teu objectivo primordial- ter um bebé saudável.
Compreendo-te mas reforço que não tens porque te sentir menos mãe!
Estou completamente contigo na opção analítica! Aliás, o que me faltou na minha tomada de decisão foi isso mesmo... Se eu tivesse dados concretos, como no teu caso, seria bem mais fácil. E, no teu caso, sem dúvida que faria o mesmo que tu!
EliminarÉ isso. Foco no objectivo :)
Obrigada!
Uma pergunta honesta: qual é o problema da cesariana? Os meus dois nasceram de parto natural, mas acho que nunca falei disso com a Sara. Acho que se nos tivessem dito na altura que era cesariana não teríamos pensado muito nisso. Sinceramente, não sabia que era uma questão.
ResponderEliminarUi... É todo um mundo de questões! Ahahahah
EliminarAgora a sério. Do ponto de vista racional e científico: a maior parte da comunidade médica defende que o parto natural é o melhor para a mãe e para o bebé, por vários motivos. Há umas correntes que não concordam, mas são minorias. Do ponto de vista emocional: a capacidade de dar à luz é uma característica muito especial dos mamíferos, e é algo que eu acho que deve ser uma experiência única e inesquecível. É a natureza no seu estado mais puro e animal. É a vida a dar vida. Eu não sou de romantizar particularmente as coisas, mas gostava mesmo de ter tido um parto natural, não só por ser o melhor, mas pelo simbolismo em si.
Não tive, não devo ter nunca, paciência. É seguir em frente :)