segunda-feira, 13 de agosto de 2018

Das coisas que só acontecem na minha família... Ou de como a vida dá e tira a um ritmo que eu não consigo acompanhar...

Aos 34 anos de idade, ganhei uma avó.

Talvez seja ainda prematuro dizer que ganhei uma avó. Que uma avó não é prémio que se ganhe ou receba em qualquer jogo de lotaria ou de feira popular. Talvez uma avó se conquiste, se quiser ser conquistada, se a quisermos conquistar. Que isto das relações de sangue pouco ou nada valem, como a vida tão bem já fez questão de nos ensinar.

Ontem conheci a minha avó paterna. A mãe do meu pai, sangue do sangue dele, que lhe deu vida e luz. Não a avó a que chamei avó durante 31 anos da minha existência e que nos deixou há quase 5 anos. Coisa estranha esta em que uma avó não é só uma avó. Uma avó, ou duas avós, neste caso, são muito mais do que isso. São toda uma história, são muitas histórias, mas são histórias que não são minhas e que não me sinto no direito de contar, de partilhar, de expor assim para que o mundo as leia e julgue, como é tão hábil em fazer com tudo o que não conhece, com tudo o que não entende. Quem somos nós para entender o que seja das histórias dos outros? Eu, certamente, não sou ninguém.

Foi então ontem que conheci a minha avó. E nela vi, desde logo, os olhos do meu pai, que eu gostava de ter e não tenho. Vi também, não no imediato mas em pouco mais do que algumas palavras, o feitio do meu pai, que eu gostava de não ter mas tenho. Vi as parecenças, vi as semelhanças, vi aquilo que os une, mesmo tendo estado uma vida inteira separados. Quanto do que somos está nos nossos genes para além dos sinais exteriores visíveis e óbvios? Teria Platão razão? Será possível que tenhamos em nós também um pouco dos que nos deram vida? Que sejamos mais do que a carne e ossos deles, mas também o espírito, o querer, o ser?

Entre tantas dúvidas, ainda não sei se saberei acolher uma avó com esta idade. Todos estamos habituados a nascer com avós, crescer com elas, tê-las sempre ali por perto. Num mundo ideal, pelo menos. Ainda que eu não saiba o que é isso de um mundo ideal. Mas depois lembro-me da avó que perdi este ano. Que também soube acolher quando já tinha quinze anos. E apercebi-me que, como dizem, o nosso coração é mesmo elástico, que estica, que consegue sempre adaptar-se a estas manobras estranhas da vida, que nos faz ganhar e perder pessoas, mesmo que nos pareça fora de tempo. Creio, cada vez mais, que a vida não sabe o que é isso do tempo, dos timings ideais que perdemos tanto tempo a idealizar e que raramente conseguimos aplicar na prática. A vida tem o seu tempo. O seu ritmo. A sua vontade.

E a vida quis que em 2018 eu perdesse uma avó e ganhasse uma avó. E eu, resignada, não tento sequer entender.

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