sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Das caixinhas mágicas...

Como referi por aqui, em Julho tive um casamento no Douro. Em Santa Marinha do Zêzere, mais precisamente. Nunca tinha estado naquela zona, e é impossível ficarmos indiferentes à beleza do que vemos, àquelas paisagens, à forma como o Douro serpenteia entre aquelas encostas, que se sucedem umas a seguir às outras, até ao fim do que os nossos olhos conseguem alcançar.



Não houve tempo para muito, mas ainda deu para passear um bocadinho, comer muito boa comida, e ficar com vontade de lá voltar, para explorar melhor a região (será em Outubro, com ou sem trail!).




Não me alongarei muito a falar de um casamento que não o meu, porque acho sempre que este tipo de cerimónias são tão pessoais e íntimas, que devemos guardá-las para quem teve o privilégio de nelas participar, por ser essa a vontade dos noivos. Mas não podia deixar de escrever sobre aquilo que de mais importante trouxe comigo, naquele dia, e para o resto da vida.

Eu não sou uma pessoa religiosa. Já há muitos anos que me desliguei completamente da Igreja Católica (se é que algum dia estive verdadeiramente ligada), e nunca me debrucei sobre outras religiões, pelo que continuo a acreditar nas minhas crenças muito próprias e pessoais, e pouco mais.

Assim sendo, e sabendo que os noivos são pessoas muito religiosas e crentes, bem como os seus familiares e amigos, estava à espera de uma cerimónia religiosa com tudo a que as mesmas têm direito, demorada e pouco interessante para quem, como eu, não se identifica com a religião.

E o que aconteceu foi exactamente o oposto! Foi uma cerimónia muito bonita, muito personalizada, em que, mais do que uma religião, celebrou-se o amor entre aquelas duas pessoas.

E o mérito é não só dos noivos, pelas escolhas que fizeram e pela forma como se preocuparam em fazer uma cerimónia bonita e inclusiva, mas também do Padre escolhido (o Padre Vasco Pinto Magalhães), um Padre muito especial, que conhecia bem os noivos, que fez uma cerimónia única, com um tom descontraído mas sério, com as piadas certas no momento certo. As leituras escolhidas, as mensagens passadas, o coro, o ofertório feito pelos padrinhos (nunca tinha visto nada assim!), foi tudo pensado ao mais ínfimo pormenor e resultou numa cerimónia realmente bonita. Ali, não se falou de religião, falou-se de amor, de entrega, de partilha, de fazer o bem, de humildade, de saber perdoar. Tudo coisas com as quais me identifico inteiramente, e que vão muito para além de qualquer Deus no céu ou na terra.

Uma das coisas que nunca esquecerei foi a caixinha mágica que o Padre ofereceu aos noivos. Uma caixinha invisível, onde ele colocou três palavras: obrigado, descentrar-se e acreditar.

Obrigado todos os dias por todas as coisas boas que temos nas nossas vidas. Porque é fundamental sentirmo-nos gratos pelo que temos, pelas pessoas à nossa volta, pelo que nos faz feliz, pelo facto de estarmos vivos.

Descentrar-se é saber não nos colocarmos no centro de tudo. É não pensarmos só em nós, no nosso centro, no nosso umbigo. É saber o que é estar no lugar do outro. É conseguirmos olhar para tudo o que nos rodeia e decidirmos e agirmos em função disso.

Acreditar é essencial. Temos de ter fé. Diz a Wikipedia que a fé "é a adesão de forma incondicional a uma hipótese que a pessoa passa a considerar como sendo uma verdade sem qualquer tipo de prova ou critério objetivo de verificação, pela absoluta confiança que se deposita nesta ideia ou fonte de transmissão". Acreditar é isto. É não duvidar. É ter a certeza de que vai correr tudo bem. É acreditar em nós, é acreditar no amor, é acreditar na nossa força e nas nossas capacidades. Acreditar, sempre. Mesmo nos dias em que tudo parece negro, acreditar. Sempre.

E nada disto tem a ver com religiões. Isto tem, apenas e só, a ver connosco, com a forma como escolhemos viver a nossa vida, com o que decidimos fazer para sermos felizes e fazermos os outros à nossa volta felizes. E o que é isso de ser feliz? Leiam mais aqui.

8 comentários:

  1. Acho que tenho de fazer algo mais (ou menos) por ser feliz!

    Olha... Obrigada por isto :)

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  2. Também não sou religiosa...mas estas ideias agradam-me :)

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    1. Religiosos ou não, acho que todos queremos ser felizes :)

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  3. Lindo e verdadeiro texto

    Beijinhos :)

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  4. Dos textos mais bonitos que li nos últimos tempos. :)
    Beijinho!

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    1. Tu já levas uns anos de casamento, já deves saber como se faz :)

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