quinta-feira, 9 de maio de 2019

Da Maratona da Europa... - VIII (Ou Das Mulheres em Prova...)

A Maratona da Europa teve 1367 inscritos e 1135 finishers a cortar aquela meta no dia 28 de Abril em Aveiro.

Parece um número muito interessante, se pensarmos que foi a primeira edição da prova, e que havia muita gente com dúvidas se esta prova ia vingar. Conseguir mais de 1000 inscritos numa primeira edição de uma Maratona, é mais do que um excelente indicativo de que a Maratona da Europa tem tudo para se afirmar como uma prova de referência no território nacional, e ainda bem que assim é! Sempre posso dizer que participei na primeira!

No entanto, dos 1367 inscritos, só 197 eram mulheres. E dos 1135 finishers, só 149 eram mulheres.*

São poucas. Manifestamente poucas.

É mesmo urgente pôr mais mulheres a correr. Como, curiosamente, me disseram a Aurora Cunha e o Filipitisch.

Não por moda, não por ser giro. Mas porque somos tão capazes como os homens. Mas porque estou em crer que esta tão baixa participação de mulheres em provas de longas distâncias é um reflexo da realidade da nossa sociedade e que cada vez mais estudos confirmam: as mulheres não têm tempo para elas e são responsáveis por uma parte muito mais significativa das tarefas domésticas do que os homens.

Este não é um blogue sobre feminismo. Mas é um blogue de uma menina que, por acaso, também corre. E hoje deu-lhe para pensar sobre isso.

Quantas mulheres conseguem gerir uma carreira, uma casa, os filhos, toda uma vida, e ainda ter tempo para despender 10, 15 ou 20 horas por semana a treinar? Não as suficientes. E não, não é só por falta de vontade. Até posso acreditar que fazer algo como uma Maratona ou uma Ultra, possa ser mais apelativo para os homens do que para as mulheres. Talvez até haja algo na história da evolução humana que explique isto. Mas não é isso que justifica esta discrepância tão grande nas presenças da Maratona da Europa (estamos a falar de menos de 10% dos participantes serem mulheres...).

Para as mulheres poderem meter-se nestas aventuras, não acredito que precisem apenas de vontade. Porque até acredito que a têm. Para as mulheres poderem meter-se nestas aventuras, precisam mesmo que a igualdade de género deixe de ser apenas um tema da moda e passe a ser uma realidade do nosso dia-a-dia.

Muito se tem feito, como o projecto Women Runners Portugal, mas ainda há muito mais a fazer. Vamos a isso?




*Estes números foram tirados há uns dias do site Stop and Go, mas entretanto deixaram de estar online. Podem não estar 100% correctos, mas acho que a ideia geral se mantém.

12 comentários:

  1. Aqui não há vontade nenhuma em dispender 25h semanais a correr ahahah.
    Dispendo de 2h30 semanais no pole e dou imensos passeios com a miúda.
    Em casa o Ricardo faz tanto e às vezes mais que eu em casa (por causa de horários e de estar em casa sem a miúda 1 dia de folga que ajuda imenso) por isso não é por não ter tempo, é que eu prefiro muito mais estar com a minha filha do que ir correr 1h. Podia sair do trabalho e ir correr 1h ou treinar 1h e quando chegasse a casa era tempo de lhe dar um beijo de boa noite mas prefiro ir para casa com ela, darmos-lhe jantar os 2 brincamos com ela e depois vai para a cama. Passo 8h sem ela, ela deita-se às 19h e acorda(mos) às 6h/6h30, de manhã é arranjar para ir para a creche/trabalho e ainda assim durante a semana acho que passo pouquíssimo tempo com ela.
    "Oh Vera podias ir correr depois dela ir para a cama", claro que podia mas se vou correr às 19h chegar a casa pelas 20h, banho jantar e pouqíssimo tempo para namorar? Também não! Já vou 2 dias ao pole pelas 20h e mal estou com o Ricardo.
    Bem depois de expor a minha vida toda aqui só queria dizer que não é só por não gostar e não é necessariamente por não ter tempo, é porque as prioridades mudam quando se tem filhos, também mudaram para o Ricardo, se calhar somos uma minoria mas mesmo assim, eu não treino mais porque não quero e não porque não posso, porque prefiro estar com a minha filha e marido do que ir correr/treinar.

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    1. A tua primeira frase diz tudo: tu não tens vontade! Ahahahah

      Estas generalizações são sempre isso mesmo, generalizações. Cada caso é um caso, e agradeço a tua partilha. Percebo perfeitamente o que dizes, em relação às prioridades. Cada um tem as suas e cada um faz a sua gestão das 24h do seu dia.

      E eu sei que as coisas têm mudado, mas ainda há pouco tempo saiu mais um estudo que diz que as mulheres portuguesas são das que gastam mais tempo diariamente com as tarefas domésticas. Claro que isto no quer dizer que todas iriam a correr fazer desporto se tivessem mais tempo livre, mas, pelo menos, deviam ter essa opção.

      Eu conheço vários casos à minha volta de mulheres demasiado sobrecarregadas pela rotina familiar. E não falo de tempo de qualidade com os filhos e o respectivo. Falo mesmo de tarefas domésticas.

      E também conheço mulheres que treinam às seis da manhã, para conseguir que isso não afecte o tempo que têm com a família. Lá está, é tudo uma questão de gestão de tempo e de prioridades.

      Não faço ideia de como será comigo um dia que tenha filhos. O que sei é que, hoje em dia, já passo 11 horas por dia fora de casa, à conta do trabalho. Se juntarmos a isso os treinos, e as horas de sono, sobra muito pouco. Alguma coisa vai ter de cair...

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    2. Pois mas às 6 já eu acordo num dia normal ahaha antes dela existir chegava a acordar um bocadinho mais cedo e treinar perto do trabalho 1 horita, agora não dá.
      Quando tiveres filhos falamos mas eu não a deixo mais de 8h30 na creche (a creche é ao lado do meu trabalho e eu não faço horas extra, não aceito reuniões perto da hora de a ir buscar com algumas excepções claro). Se calhar o que tem de mudar em Portugal, fora a carga de trabalho doméstico que em parte é culpa das próprias (sorry mas se eu não me tivesse sentado com o Ricardo a dividir tarefas também acabava por fazer quase tudo eu) a falta de equilíbrio entre vida pessoal e profissional é enorme! Também a responsabilidade sobre filhos doentes recair quase sempre nas mães é ridícula (nós vamos partilhando e depende dos dias e das semanas) mas também depende muito de ti e podes sempre adiar uns aninhos correr uma maratona e ficar pelas meias até a cria ser maiorzita (tipo 5/6 anos que já têm horários diferentes e dormem menos)

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    3. Aí os horários também são diferentes. Aqui o normal é as empresas começarem a trabalhar às 9h, 9h30. No meu caso, às 10h. Só chego a casa pelas 20h. Quando tiver filhos, não sei mesmo como vai ser, porque não me passa pela cabeça continuar assim. Como é que consegues que ela fique só 8h30 na creche? Eu trabalho 8 horas, mais 1 hora de almoço.. Mesmo sem contabilizar as deslocações, dá logo as 9h...

      Acho que o mal em Portugal é mesmo a questão cultural e a falta de flexibilização laboral. As empresas continuam a apostar em horários rígidos de 40 horas... Claro que também há muitos casos em que são as próprias pessoas que não fazem essa separação da vida pessoal e profissional, mas há sítios em que és olhada de lado se cumprires "apenas" o teu horário. Eu sempre fui contra isso e é muito raro sair fora de horas. Lamento, mas se eu faço o meu trabalho nas 8 horas que é suposto, não vou ficar no Facebook a fazer tempo, para os chefes acharem que trabalho muito...

      Olha, não sei. Quando chegar a altura, logo se vê. Mas não é por acaso que já por aqui disse que não volto a fazer uma Maratona tão cedo. Tenho consciência que não vai dar, mesmo, porque as minhas prioridades são outras.

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    4. Aqui não há 1 hora de almoço, é 20/30minutos e a creche é literalmente a 1 minuto de bicicleta ;)

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    5. Lá está, a questão cultural e de mentalidades... Se me dessem essa opção, eu preferia mil vezes almoçar em meia hora e sair mais cedo!

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  2. Por curiosidade fui ver os números de Madrid 2019. No geral temos 8084 finishers, 1037 dos quais mulheres. Terminaram 141 portugueses, dos quais 17 eram mulheres.

    Dessas 17, a Vanessa de quem falei no meu relato foi a melhor companhia que eu podia ter tido. E que fique registado que digo isto sem segundas intencoes!

    Acrescento também a nota de que (ainda) há provas que descriminam as mulheres no que diz respeito a prémios e a escaloes, dando valores monetários inferiores e/ou alargando o escalao etário do sector feminino. É vergonhoso e inadmissível.

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    1. Mesmo assim, pensei que em Madrid fossem mais! Mas não vi os números no meu ano e não faço ideia se também foram assim. Mas já são melhores do que em Portugal!

      Uma das coisas que mais me chateia no troféu de Oeiras é precisamente a diferença entre as provas masculinas e femininas... Espero que um dia repensem isso, bem como essa questão que referes dos prémios!

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  3. É uma diferença abismal. No estrangeiro os números já se aproximam um pouco mais.

    Infelizmente no nosso país ainda há um pouco essa mentalidade,as mulheres tratarem de tudo e ficarem com pouco tempo para elas.

    É de facto preciso que as mulheres saiam para a rua e mostrem aquilo de que são capazes. E somos capazes de feitos incríveis!

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    1. Está nas nossas mãos mostrar isto :) não só nas corridas, mas também na forma como educam os os homens à nossa volta, na forma como eles nos tratam!

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  4. Excelente análise! Sabes que há Maratonas nos países nórdicos e EUA que a participação feminina é de cerca 50%? Serão essas mulheres diferentes das portuguesas ou terão outras condições / compreensões e inclusive outra cultura desportiva?
    Quanto a capacidades, está provado que as mulheres têm mais resistência que os homens.

    Beijinhos!

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    1. Não sabia e fiquei agradavelmente surpreendida!

      Sim, claramente que é uma questão cultural e de condições, e não de capacidades... Pode ser que as coisas vão mudando aos poucos!

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