sexta-feira, 31 de maio de 2019

Das decisões super inteligentes que eu tomo... - já lhes perdi a conta...

Esta pessoa tinha dito por aqui, e por outros lados, que este fim-de-semana seria apenas de praia e treino, porque esta pessoa já está meio farta de provas e ainda faltam 4 até ao final da temporada. 

Esta pessoa ganhou um passatempo e vai à Corrida de Santo António amanhã.

Esta pessoa não aprende nunca. 

terça-feira, 28 de maio de 2019

Das dúvidas que me inquietam pela manhã...

Tenho uma unha a abanar. Estava a ficar roxa, desde a Maratona, e depois do Almonda, começou a abanar. Eu nunca tinha tido uma unha a abanar mas... Não é bom sinal, pois não? 

segunda-feira, 27 de maio de 2019

Do Trail do Almonda... - III

O Trail do Almonda foi, para mim, todo um conjunto de surpresas. Umas boas, umas menos boas. Mas foi mesmo surpreendente.


Já não me lembro ao certo o motivo por que nos inscrevemos nesta prova, mas o louco mais louco do que eu falou nisso, e eu, nalgum momento de pouca clareza mental, concordei. Curiosamente, já depois da prova, ele disse-me mais do que uma vez que para a próxima tenho de lhe dizer para ter juízo e não nos metermos nestas coisas. Com um bocado de sorte, isto passa-lhe entretanto, e para o ano estamos lá outra vez.


Trail do Almonda. Trail curto de 16km e Trail Longo de 28km. O ideal para irmos os dois, com distâncias confortáveis para ambos. 


Comecemos por aí, talvez. 

A última vez em que esta pessoa tinha feito trail tinha sido... Esperem... Contem até 20... Tive de ir confirmar ao strava quando pensei nisto pela primeira vez... Foi... No Columbus, no longínquo dia 2 de Fevereiro! Desde então, limitei-me a treinar estrada. Diz até que fiz uma Maratona faz amanhã um mês. Mas trail, já nem sabia bem o que isso era...


Mas voltei a descobrir. E a apaixonar-me. E a rogar pragas ao mundo em geral e às minhas decisões em particular. E a sentir-me bem. E a perguntar-me por que motivo estava ali e não na praia. E a adorar andar pelos trilhos, só eu e os meus pensamentos.


Já não me lembrava do quanto gosto de trail! Que gosto. Mesmo quando me custa. Mesmo quando as dores nos gémeos são tantas que eu acho que não vou conseguir subir mais um metro. Mesmo quando o calor aperta e eu vejo subida atrás de subida. Mesmo quando quase dou a maior queda de sempre. Mesmo quando tenho de fechar a boca para não comer (mais) mosquitos. Mesmo quando acho que não vou aguentar mais as dores nos pés. Mesmo quando me doem as unhas que já não estavam famosas da Maratona e que agora vão cair de certeza. Mesmo quando desespero e só quero chegar ao fim.


Gosto das vistas incríveis. Gosto do cheiro a rosmaninho que me faz querer não sair dali. Gosto dos recantos escondidos que jamais descobriria de outra forma. Gosto da liberdade de andar ali no meio de lado nenhum. Gosto do espírito de ajuda, da mão estendida para ajudar numa descida-difícil-e-técnica-e-que-não-foi-feita-para-pessoas-de-metro-e-meio. Gosto das borboletas à minha volta que me fazem sorrir. Gosto da comida nos abastecimentos. Gosto da sensação de superação no final ao cortar a meta.


O Trail do Almonda foi um trail sofrido, duro, no meio de muito calor, muito mais exigente do que eu esperava e do que a minha condição  física actual permitia. Foi um Trail em que as subidas foram infinitas e difíceis, e em que as descidas não permitiam que me soltasse e rolasse por ali abaixo. Muito calhau, muita pedra solta, muito single track técnico, em que o nível de concentração tinha de ser sempre alto. Ainda assim, foi um trail em que parei muitas e variadas vezes para tirar fotografias e apreciar as vistas. Em que me diverti. Em que tentei aproveitar o que estava a viver.


O Trail do Almonda não foi fácil. Nem poderia ser. Mas foi um trail feliz. E isso, é só o que importa.

domingo, 26 de maio de 2019

Do dia de hoje...

Eu gostava de vir aqui escrever o relato do Almonda, enquanto ainda está fresco e as emoções estão à flor da pele (para o bem e para o mal).

Mas não consigo. 

Estou demasiado chocada com os valores da abstenção. Talvez não devesse, não é verdade? Mas estou. Porque, às vezes, tenho fé nas pessoas e acredito que as coisas podem mudar. Mas não mudam.

Continuamos um país de gente indiferente, com pouco ou nenhum sentido cívico, que não aproveita as oportunidades que tem para manifestar as suas opiniões, mas que adora criticar tudo e todos, de preferência, nas redes sociais.

Isto cansa-me. Deprime-me. Envergonha-me. Custa-me que, nisto como noutras coisas, não me reveja no meu país. Mas a verdade é essa.

E, pasmem-se, enquanto continuarmos assim, vão lá continuar os mesmos de sempre, a fazer o mesmo de sempre. E esta, hein? 

Das fotografias que dão alegria... - Day 146


Trail do Almonda. Feito. 

segunda-feira, 20 de maio de 2019

Das fotografias que dão alegria... - Day 140


E é isto. 

Do Trail do Almonda... - II

Portanto, parece que já tooooooooda a gente sabia que o Trail do Almonda é conhecido pelo calor infernal habitual. 

Toda a gente menos eu, pois claro. 

Diz que estão previstos entre 30 e 35 graus para Domingo (depende das fontes).

Já não dá para lhe chamarem Trail da Idade do Gelo, não é verdade?... 

domingo, 19 de maio de 2019

Das fotografias que dão alegria... - Day 139


Mais um Domingo de Troféu de Oeiras. Desta vez, Linda-a-Pastora.

Fiz uma prova miserável, mas consegui ser ligeiramente melhor do que no ano passado, pelo que achei que merecia um prémio de consolação: uma bola de Berlim. A primeira do ano! Já que não vou à praia, vingo-me nas corridas. É justo, não?

Já a minha equipa, ficou mal habituada, e hoje trouxemos outra taça para casa. Se não faltasse apenas uma prova para o fim do Troféu, ainda fazíamos um brilharete no final! 

terça-feira, 14 de maio de 2019

segunda-feira, 13 de maio de 2019

Do Troféu de Oeiras... - Corrida da Outurela

Decorreu ontem mais uma prova do Troféu de Oeiras, também conhecido como Corridas das Localidades. 

A prova de ontem era na Outurela, e foi organizada pela Associação de Moradores do Bairro 18 de Maio, que é o clube pelo qual eu corro. Claro que era uma prova especial!


O percurso não é dos melhores, mas também não é dos piores, e estava um calor tremendo. Ainda assim, a prova foi bastante participada e o resultado não podia ter sido mais positivo.


Pela primeira vez em muitos, muitos anos, a minha equipa ganhou uma taça na classificação geral das equipas! Ficámos em 7º lugar e teve um gosto especial ganhar aquela taça em casa! Costumamos ganhar algumas medalhas nas classificações individuais, mas ganhar uma taça foi mesmo uma festa!


A juntar a isto, o clube preparou um simpático pós-prova para nós, com comida e bebida, e foi ainda melhor celebrar esta vitória, com aquele convívio no final!

Comecei a correr com esta equipa sem saber bem como nem porquê, sem conhecer o clube e sem conhecer praticamente ninguém. Mas já lá vão três épocas, a equipa tem crescido imenso e agora somos uma pequena família. Na primeira prova a que fui, a da Cruz Quebrada em 2016, éramos só duas meninas e quatro rapazes. Ontem, éramos mais de trinta! E nem estávamos todos!

A corrida tem-me trazido muita coisa boa mas, acima de tudo, tem-me trazido pessoas. Muitas pessoas. Boas pessoas. Pessoas que eu quero guardar, haja corrida nas nossas vidas ou não. 

sexta-feira, 10 de maio de 2019

Da Maratona da Europa... - IX (Ou Da Prova em si...)



Não sendo eu grande entendida em Maratonas, dado que ainda só fiz duas, é assim a modos que presunçoso vir aqui fazer uma análise da prova, mas vou tentar manter a minha visão o mais objectiva possível, e fazer uma última análise global à Maratona da Europa.

Quando acabei a prova, repeti várias vezes que não tinha gostado. E isso é, obviamente, uma opinião altamente subjectiva. Nem todos gostamos do cor-de-rosa, lamentavelmente. E a verdade é que, passados alguns dias da prova, eu continuo a manter a minha opinião, já não tão peremptória, mas continuo a achar que não gostei particularmente da prova. Mas também sei que isto tem em parte a ver com a forma como a prova me correu. Pondo os meus sentimentos pessoais de parte, vamos a isto.

Pontos positivos da Maratona da Europa:

  • a data - finalmente, alguém decidiu fazer uma Maratona em Portugal no 1º semestre, numa altura em que ainda não está demasiado calor, e distanciando-se o suficiente de Lisboa e Porto.
  • o sítio - Aveiro vale por si só. É central, é uma cidade gira e cheia de pinta, que permite agradáveis passeios e muita comidinha da boa.
  • a mobilização do público - se eu, que era das últimas, ainda apanhei imensa gente na rua a apoiar, nem imagino quem passou umas horas antes! E isto só se consegue com um grande trabalho de envolvimento da comunidade, como foi a distribuição de bandeiras nas caixas do correio.
  • a madrinha da prova - a grande, incrível e incansável Aurora Cunha!
  • as duas t-shirts - a da prova e a de finisher (só podiam ter mais atenção aos tamanhos, mas isso é um drama tão recorrente na maioria das provas, que uma pessoa já se resigna, não é verdade?).
  • o preço - para o que oferecem, é muito baixo!
  • o local de partida e chegada - o Centro de Congressos de Aveiro. Pode revelar-se um problema, com o crescimento da prova, mas que é giro e muito agradável, é.

Pontos menos positivos da Maratona da Europa:
  • a falta de ovos moles no final. Desculpem, mas tinha de falar nisto. E sim, aqui a minha opinião é menos objectiva, mas os ovos moles eram mesmo importantes para mim. Eu passei meses aqui, no strava, no instagram, a referir-me à Maratona dos Ovos Moles. Há quem corra com o objectivo de levar mais uma medalha para casa. Eu fui correr para comer ovos moles. Porque foi isso que a organização me prometeu. E não cumpriram. E eu fiquei triste. Mais do que o meu drama pessoal, importa rever isto e garantir que no final há o que é prometido para todos os finishers, neste caso, os ovos moles e as maçãs.
  • o percurso - aquela parte inicial é meio sem graça e sem grande apoio, e a ida à universidade no final (que está deserta ao Domingo, naturalmente) também podia ser repensada. Talvez haja ali alternativas mais interessantes, e talvez também não seja o ideal aqueles metros finais naquele caminho à beira do canal. É giro, que é, mas não sei se é a melhor opção.
  • os abastecimentos - podiam ser menos espaçados, sobretudo na parte final da prova. Não vem mal nenhum ao Mundo se continuarem só de 5 em 5km, que há muitas provas assim, mas a partir de certa altura, entre a quebra normal e o adiantado da hora que faz com que o calor aumente, ter mais água pelo caminho dava muito jeito. Isso e não haver falhas... Quando eu passei nos 30km já não havia os anunciados géis. E sim, todos os participantes devem levar para as provas os géis que querem tomar. Mas a organização também deve cumprir com o que promete.
  • a organização da partida - acredito que a prova vá crescer, e será inevitável que arranjem outra solução, mesmo que possa não ficar tão bonita na televisão. Ter as várias distâncias a partir ao mesmo tempo, numa zona relativamente estreita e que começa logo com curvas, não é o ideal. Digo eu, que ia nos lentos dos lentos, e que nem tive direito a caixa propriamente dita...
Se virmos bem, os pontos positivos são bem mais do que os menos positivos! 

Acredito que a Maratona da Europa tem tudo para ser uma excelente Maratona. Como já disse por aqui, não imagino sequer o que seja preparar uma prova desta envergadura, e o que é certo é que a GlobalSport conseguiu fazê-lo. Mesmo os pontos menos positivos são, em geral, pequenas coisas que podem facilmente corrigir.

O balanço final é muito positivo, acredito que a prova tenha imenso potencial para crescer nos próximos anos, e talvez até lá volte um dia, para fazermos as pazes. Talvez!

quinta-feira, 9 de maio de 2019

Da Maratona da Europa... - VIII (Ou Das Mulheres em Prova...)

A Maratona da Europa teve 1367 inscritos e 1135 finishers a cortar aquela meta no dia 28 de Abril em Aveiro.

Parece um número muito interessante, se pensarmos que foi a primeira edição da prova, e que havia muita gente com dúvidas se esta prova ia vingar. Conseguir mais de 1000 inscritos numa primeira edição de uma Maratona, é mais do que um excelente indicativo de que a Maratona da Europa tem tudo para se afirmar como uma prova de referência no território nacional, e ainda bem que assim é! Sempre posso dizer que participei na primeira!

No entanto, dos 1367 inscritos, só 197 eram mulheres. E dos 1135 finishers, só 149 eram mulheres.*

São poucas. Manifestamente poucas.

É mesmo urgente pôr mais mulheres a correr. Como, curiosamente, me disseram a Aurora Cunha e o Filipitisch.

Não por moda, não por ser giro. Mas porque somos tão capazes como os homens. Mas porque estou em crer que esta tão baixa participação de mulheres em provas de longas distâncias é um reflexo da realidade da nossa sociedade e que cada vez mais estudos confirmam: as mulheres não têm tempo para elas e são responsáveis por uma parte muito mais significativa das tarefas domésticas do que os homens.

Este não é um blogue sobre feminismo. Mas é um blogue de uma menina que, por acaso, também corre. E hoje deu-lhe para pensar sobre isso.

Quantas mulheres conseguem gerir uma carreira, uma casa, os filhos, toda uma vida, e ainda ter tempo para despender 10, 15 ou 20 horas por semana a treinar? Não as suficientes. E não, não é só por falta de vontade. Até posso acreditar que fazer algo como uma Maratona ou uma Ultra, possa ser mais apelativo para os homens do que para as mulheres. Talvez até haja algo na história da evolução humana que explique isto. Mas não é isso que justifica esta discrepância tão grande nas presenças da Maratona da Europa (estamos a falar de menos de 10% dos participantes serem mulheres...).

Para as mulheres poderem meter-se nestas aventuras, não acredito que precisem apenas de vontade. Porque até acredito que a têm. Para as mulheres poderem meter-se nestas aventuras, precisam mesmo que a igualdade de género deixe de ser apenas um tema da moda e passe a ser uma realidade do nosso dia-a-dia.

Muito se tem feito, como o projecto Women Runners Portugal, mas ainda há muito mais a fazer. Vamos a isso?




*Estes números foram tirados há uns dias do site Stop and Go, mas entretanto deixaram de estar online. Podem não estar 100% correctos, mas acho que a ideia geral se mantém.

terça-feira, 7 de maio de 2019

Da Maratona da Europa... - VII (Ou Das minhas bolhas...)

Então e as bolhas?

As bolhas foram A surpresa da Maratona da Europa!

É verdade!

Já aqui tinha dito que a minha maior preocupação antes da Maratona da Europa eram os meus pés e a forma como eles se iam portar. Também já tinha dito que se não cortasse aquela meta, seria por causa deles. E não é que eles se portaram bem?

Aqui há uns tempos tinha feito aqui um post sobre as minhas bolhas, e o jnr tinha-me deixado como sugestão a RUNSOX. Eu, que naquela fase já estava por tudo, andei a espreitar o site, decidi mandar-lhes uma mensagem via Facebook, e lá acabei por fazer uma encomenda. No dia 20 de Abril, fui levantar a encomenda à loja deles (em Odivelas). Conheci o Nuno Baixinho e ainda estivemos um bocado à conversa, a trocar experiências e a ouvir mais dicas sobre o que fazer com estes pés de princesa que, de vez em quando, parecem de ogre.

Nesse dia, era a Scalabis. E o que é que esta alma super inteligente decide fazer? Estrear as meias novas, pois claro. Sem as lavar nem nada. 

Tinha optado por umas meias da Mund, o modelo Running. Porquê este modelo? Porque fazem o tamanho 34-37 e porque tinham umas em cor-de-rosa mesmo giras! 

Carregar imagem para Galeria, Running
(imagem do site da RUNSOX)

E lá fui eu para a Scalabis, com as minhas meias novas cor-de-rosa mesmo giras nos pés. E a coisa até não correu mal! Se foi das meias? Se foi da fita kinesio? Se foi da hidratação intensiva nos tempos anteriores? Eu não sabia. Mas, de facto, não correu mal.

Nos últimos tempos andei a testar tantas variáveis, que cheguei ao dia da Maratona da Europa sem saber o que fazer. Ponho fita? Não ponho fita? Ponho creme? Não ponho creme? Levo as meias novas? Levo as meias velhas? As dúvidas eram muitas.

No dia anterior à prova, estive muito entretida a tratar dos meus pés: leia-se dar cabo de todos os vestígios de bolhas anteriores, cortando as peles que restavam e pondo muito creme. Isto era algo que eu não fazia antes, e que comecei a fazer regularmente e, de facto, acho que ajudou, porque deixei de fazer tantas bolhas em cima de bolhas.

No próprio dia, acabei por optar por levar mesmo as meias novas. Mais um disparate? Talvez. Um risco? De certeza. Mas eu já passei por tanta coisa com os meus pés, que achei que pior era impossível. Aquelas eram as meias melhores (ou mais caras, pelo menos) que eu já tinha comprado, tinham um tamanho mais adequado do que a maioria das minhas meias, e tinham-se portado bem na Scalabis. E eram cor-de-rosa e mesmo giras, já tinha dito? Acabei mesmo por optar por elas e pela fita, que pus com a ajuda do louco mais louco do que eu, nos sítios mais críticos.

Quando saímos do apartamento em direcção ao Centro de Congressos, num trote lento em jeito de aquecimento, sentia uma impressão no dedo gordo do pé direito, que me estava a incomodar e que eu não sabia bem do que era, mas achava que era da fita. Enquanto estava na fila para a casa de banho, antes da prova, ainda me descalcei e tentei perceber o que se passava, mas sem sucesso.

Durante a prova, talvez por estar focada noutras coisas, talvez por ter outras dores, talvez pelo desespero psicológico que se sobrepôs a todo e qualquer sentimento físico em alguns momentos, não dei pelas bolhas. A sério! Esqueci-me delas! As dores horríveis que eu tive noutras provas e em treinos que tornavam cada passada um tormento? Nem vê-las! Nem senti-las, melhor dizendo! Acho que só me lembrei delas depois, confesso. 

Claro que, depois da prova, tive dores. Claro que, ao chegar ao apartamento e ao tirar as meias, percebi que elas estavam lá. Andei ali que tempos a ganhar coragem para tirar a fita, com medo do que estaria por baixo dela. Mas, quando o fiz, fiquei deveras surpreendida! Tinha uma bolha gigante no tal sítio onde ainda antes da prova tinha sentido a tal impressão, e depois tinha as bolhas do costume nos sítios do costume, mas em versão relativamente controlada. Fiz apenas 5 bolhas no total. Cheguei a fazer mais de 10 em treinos!... Foi uma melhoria tremenda e que me deixou mesmo surpreendida!

Se foi das meias? Se foi da hidratação? Se foi da fita? Não sei. Talvez tenha sido só dos ares de Aveiro e do ambiente da Maratona da Europa.

O que sei é que me tornei doutorada em bolhas, tratamento de bolhas e prevenção de bolhas. Valeu por isso!

segunda-feira, 6 de maio de 2019

Do Trail do Almonda... - I

O próximo trail que tenho previsto é o Trail do Almonda.

Esta manhã, partilharam na página do evento o mapa do percurso e o gráfico de altimetria:


Assim, que o vi, a primeira coisa que me ocorreu (para além de um pequeno "oh-meu-deus-por-que-raio-me-meti-nisto"), foi que o gráfico parece o elefante d'O Principezinho:

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À tarde, o louco mais louco do que eu envia-me pelo whatsapp o mesmo gráfico. Eu digo-lhe que já tinha visto e o que tinha achado.

A seguir, ele manda-me o mapa do percurso dele, dizendo que parece uma preguiça ou o Yoda.


E não é que eu olhei para lá e vi imediatamente o Sid, da Idade do Gelo?

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Só se estraga uma casa, não é verdade?...

Da Maratona da Europa... - VI (Ou do Pós-Prova...)

Mais uma vez, cortei a meta da Maratona da Europa e não baixaram em mim todas aquelas emoções que baixam em muitas outras pessoas. Mais uma vez, fiquei meio apática, sem saber como reagir. Acho que sou um bocado lenta, nas emoções como na corrida, e demoro a processar o que acontece comigo. Ou isso ou sou, nas palavras de alguém, reservada, e não sei o que é isso de expressar grandes emoções em público. Nem em privado, já agora.

Talvez esta falta de emoções no final seja reflexo do que foi a prova durante: dura, difícil, puxada a ferros. Foi um carrossel de emoções, com momentos muito bons e com momentos muito maus. Momentos em que eu pus tudo em causa. Momentos em que eu tive a certeza de que ia conseguir.



Depois da prova, ofereci-me o meu prémio de consolação: uma barrica de ovos moles. Por coincidência, descobri durante a prova que o João Lima tinha decidido oferecer-se o mesmo presente, caso cortasse a meta. Ainda longe de sonharmos que não teríamos direito a ovos moles no final!... Mas cortámos os dois a meta, e os dois tivemos a nossa muito merecida barrica! Great minds think alike!

Os dias que se seguiram foram melhores do que eu esperava. Curiosamente, desta vez, não foram tanto as pernas ou os pés que me doeram. Foram as costas, na zona dos rins. Nunca tal me tinha acontecido e, confesso, fiquei ligeiramente preocupada. Mas até isso acabou por passar (abençoado Adalgur!), e ao fim de 3 dias eu estava pronta para outra. Salvo seja!

A Maratona da Europa deixou-me a pensar no que ando aqui a fazer, na minha vida, nas minhas prioridades (como falámos por aqui algumas vezes). Não me imagino a voltar a fazer uma Maratona tão cedo. Talvez tenha dito o mesmo depois de Madrid. Mas agora é a sério.

Se foi uma Maratona feliz como eu gostava que ela tivesse sido? Não. Se foi a Maratona que eu gostava que tivesse sido? Não. Mas como diz o Filipe Torres, a Maratona é a prova justa. E eu tive a Maratona da Europa que merecia. Para a próxima, eu que treine!

domingo, 5 de maio de 2019

Do Dia da Mãe...

Andei o dia todo com um nó na garganta. Pensei diversas vezes vir aqui escrever mais um post melancólico e deprimente sobre este tema mas já nem eu tenho paciência para mim mesma e este não é, claramente, o melhor sítio para continuar a bater nessa tecla.

Há bocado cruzei-me com este artigo. E é isto. Talvez um dia eu seja capaz de olhar para o Dia da Mãe de uma forma diferente. Hoje não é o dia. 

sábado, 4 de maio de 2019

Da Maratona da Europa... - V (Ou das Pessoas...)

Esta Maratona foi, também, a Maratona das Pessoas.

Esta foi uma viagem que eu não sei se teria sido capaz de fazer sozinha.

Durante os treinos, tive a Fabiana e o louco mais louco do que eu. À sua maneira, e em momentos diferentes, cada um deles puxou por mim e deu-me ânimo, quando ele me faltou. Lamentavelmente, esta era para ter sido a estreia da Fabiana, e foi para isso que nos inscrevemos as duas, mas o corpo dela fez greve e entendeu que ainda não era desta. Será numa próxima, com certeza. Ela desistiu da prova mas não desistiu de me acompanhar na minha preparação, e não sabe a diferença que me fez! Foram horas e horas de partilha, de desabafos, de conselhos e de incentivos. 

Já durante a prova, do lado de fora, a Fabiana, a Sofia, e tantas outras pessoas, deram-me forças e ânimo. Recebi mensagens do meu Pai e delas durante a prova. Ri-me. Emocionei-me. Roguei pragas à Fabiana quando ouvi a primeira mensagem dela, que me deixou de lágrimas nos olhos. Como se não fosse difícil que chegasse uma pessoa fazer uma Maratona, ainda tem de gerir sentimentos e emoções e não se enrolar num canto a chorar baba e ranho. Nas ruas, os incentivos, os cartazes, as palmas. Dos desconhecidos, que me davam palavras de ânimo, que me incentivavam a continuar, que faziam uma festa enorme só por eu ser mulher. 

Do lado de dentro da prova, as caras conhecidas, as caras menos conhecidas. As outras mulheres, poucas, tão poucas. Os sorrisos de solidariedade. O Sr. Arlindo (que já fez mais um trail, entretanto), a D. Helena, companheiros daquelas rectas infinitas quando o Sol teimava em queimar-nos e vergar-nos. E o João. O João Lima. Que diz que eu o arrastei nos últimos 2 quilómetros, mas que não sonha que me arrastou durante os 16 primeiros. Que fez com que eu tivesse quase vergonha de pensar sequer em seguir em direcção à meia, e não em direcção à Maratona. Que me tem dado dicas e conselhos preciosos nestes últimos anos. Que nos enriquece a todos nós com a sua partilha de experiências.

Antes, durante e depois, o louco mais louco do que eu. Que me espicaça, que me provoca, que me manda treinar, que me chama de lontra (há dorsais que o provam...). Mas que me dá força quando ela me falta, que me dá confiança quando eu quero desistir, que me dá colo quando eu só preciso de um abraço, que tem uma paciência infinita para fazer treinos lentos (tão lentos!) comigo, que espera uma eternidade por mim no final das provas.

Sim, esta Maratona foi, também, a Maratona das Pessoas. Porque fazê-la sozinha não teria nem metade da graça!

sexta-feira, 3 de maio de 2019

Da Maratona da Europa... - IV (Ou do Pré-Prova...)

A minha preparação para a Maratona da Europa foi aquilo que se sabe: deficiente.

Por muitos e variados motivos, não treinei tanto quanto devia, e falhei alguns treinos essenciais, como os mais longos.

A poucos dias da prova, a meio de uma crise existencial, só me apetecia desistir e nem ir a Aveiro. Foi toda uma montanha russa de emoções, como é a preparação de uma coisa destas!...

Depois desse drama, e já mais racional, tinha definido os meus objectivos, com um ritmo para os primeiros 30 quilómetros de 6'30m/km, e a certeza de que a partir daí, seria gerir dentro do possível.

Tentei ter cuidado com a alimentação nos dias anteriores, bebi muita água, tomei a Magnesona, aumentei a ingestão de sal, mas acabei por não descansar tanto como devia nos dias anteriores, porque, em estando fora, uma pessoa acaba sempre por não resistir e passear um bocadinho.

Na véspera, fomos à Pasta Party, com a Sofia e o André. E eu já não me lembrava do que era comer numa cantina universitária e ainda deu para rir! Comemos muito e bem, e ainda fomos beber um copo, porque era cedíssimo. Por copo, leia-se uma garrafa de água.

Voltámos para o apartamento e a pressão começou a instalar-se. Estive tempos e tempos a vestir e a despir calções, a tentar escolher quais havia de levar. Acabei por tomar a decisão com base num critério muito prático: escolhi os que tinham o melhor bolso, porque percebi que não ia conseguir enfiar na bolsa da cintura todos os géis que queria levar. Levei uns calções relativamente novos da Nike, mas que já tinha usado num treino de 15km e numa ou outra prova. Foi uma decisão mais ou menos arriscada, mas relativamente consciente. Acabou por correr bem e eu fui feliz e contente com os meus calções cor-de-rosa (ou coral, vá).

O segundo drama: os géis! Tinha levado várias opções, e ali fiquei a pensar o que tomar, quando tomar. Lá dividi os géis com o louco mais louco do que eu, lá defini a ordem pela qual tinha de os tomar, e ainda juntei umas gomas, só para o caso de enjoar os géis e precisar de uma alternativa.

Seguiu-se o último drama: as meias. Tinha duas opções e só tomei a decisão final no dia da prova de manhã, enquanto me vestia. Mas isso será tema para outro post. Quanto aos meus pés, mantive o que já vinha fazendo nos últimos meses: muita hidratação! Estava receosa porque na semana anterior me tinha aparecido no pé direito, na zona das bolhas, uma mancha de sangue pisado, que me tinha dado grandes dores nos últimos treinos.

Antes da prova começar, estava plenamente consciente de que não estava tão bem preparada como devia, e estava preocupada com o pé direito, tendo mesmo comentado que seria ele a decidir o desfecho da minha prova. 

Sabia que me ia custar horrores, mas que havia de cortar aquela meta. A única razão que me podia impedir de o fazer seria mesmo aquele pé e as suas dores, se se tornassem insuportáveis. Tudo o resto, eu havia de ultrapassar, nem que demorasse as seis horas de tempo limite.

quarta-feira, 1 de maio de 2019

Da Maratona da Europa... - III

Decorreu Domingo a primeira edição da Maratona da Europa. Ou Maratona de Aveiro. Ou Maratona dos Ovos Moles, como carinhosamente lhe chamei nos últimos meses.

Comecemos por aí: a Maratona dos Ovos Moles não foi Maratona dos Ovos Moles. Para mim, foi Maratona das Caixas Vazias. O que, convenhamos, é chato. Uma pessoa passa quatro meses a treinar focada num único objectivo, os ovos moles, e chega ao dia e não encontra ovos moles. É mesmo chato.

Mas voltemos ao princípio. 

Eu estava com mixed feelings em relação a esta prova e esta organização. De um lado, óptimas referências, de outro, alguma confusão e desinformação desde o lançamento da prova. 

Nos últimos dias, a organização deu tudo a anunciar patrocinadores, brindes, ofertas, gravações gratuitas nas medalhas, massagens, porco no espeto, ovos moles e tudo e mais alguma coisa. As expectativas foram subindo, mas continuava receosa porque não deixava de ser uma primeira edição de uma maratona (que é coisa que eu não imagino sequer o que seja organizar). 

Mas avancemos até ao dia M. Dia 28 de Abril de 2019.

Não dormi nada de jeito, claro. Acordei eram duas e meia da manhã, em pânico, porque ouvia barulho na rua e achava que já era de manhã e que tínhamos adormecido. Não adormecemos. Mas também não dormi muito mais. 

O despertador tocou e começou todo o ritual de preparação antes da prova. Pequeno-almoço do costume (continuo apologista de reservar apartamentos por causa disto), trânsito para ir à casa de banho (para a próxima, escolho um apartamento com duas casas de banho...), a comida a não querer entrar com os nervos a crescer, as últimas dúvidas na escolha das meias (deixei tudo escolhido de véspera mas as meias são sempre aquele drama...), telefonemas e mensagens de apoio. O tempo a passar e nós atrasados. Saímos de casa e fazemos uma mini corrida de aquecimento até ao Centro de Congressos. 

Encontro a Sofia e o André. Depois a minha Fabiana, a minha corajosa que acordou de madrugada para estar ali!

Já tinha feito xixi três vezes antes de sair de casa, mas ainda me pus nas filas para a casa de banho (que eram poucas...). 

O tempo passou a voar e já estávamos na hora de partida. O louco mais louco do que eu foi para a sua caixa de partida, últimas despedidas e emoções ao rubro. Vou com a Fabiana até à minha caixa e acabo por encontrar o João Lima, com a Isa e o Vítor. Despeço-me da Fabiana e combinamos os pontos de encontro e toda a estratégia de suporte que ela tinha para mim. 

Já tinha combinado com o João que iríamos tentar fazer os primeiros quilómetros juntos. O João queria ir um pouco mais depressa do que eu, mas a diferença não era muita, e ele fez a gentileza de aceitar ir comigo no início. E fomos. 

A prova começou e lá fomos nós, dando início a mais uma longa jornada de 42,195km.


Os primeiros quilómetros não são os melhores. São onde se concentram a maior parte das subidas, passamos por uma zona industrial sem grande interesse e com pouco ou nenhum apoio, e vamos começando a entrar no ritmo para o que aí vem. 

Felizmente, o tempo estava do nosso lado. Alguma neblina matinal, céu encoberto, sem vento. Temperatura fresca, mas não fria. Nesta altura, estava como se queria. 


Lá vamos nós em direcção ao centro, para fazer a subida da mítica Lourenço Peixinho. Ninguém merece aquele empedrado!... Pelo menos, foi na parte inicial. Mas foi custoso... Felizmente, nesta fase já tínhamos mais apoio nas ruas e como íamos subir e descer esta avenida, sempre dava para ir olhando para ver quem vinha em sentido contrário. 


Seguiu-se a passagem para a zona das salinas. E o verdadeiro início da prova, já sem quem ia fazer os 10km.

A parte das salinas era gira, ou foi isso que tentei pensar enquanto lá passava. Com o tempo que estava, a visibilidade não era muita, mas eu quis acreditar que sim. Eu não me estava a sentir particularmente bem desde o início. Sabem aquela euforia inicial que costuma aparecer quando começamos uma prova? Não apareceu para mim neste dia. Os quilómetros custavam a passar, as pernas não respondiam, o ânimo não aparecia.

Valeu-me o João Lima, a quem eu ia dizendo para seguir viagem, se quisesse acelerar. Mas o João ficou ao meu lado, sempre a falar comigo, a contar-me histórias, a partilhar experiências. Falámos muito de corridas, mas não só (obrigada pela partilha, João!). Falámos? Bom, na verdade, falou ele. Eu ia-me limitando a dizer que sim e que não, a soltar umas gargalhadas, e a acrescentar pouco à conversa. Não dava para mais. Mas seguíamos no nosso ritmo, à volta dos 6'30m/km.

Quando, por volta dos 14km, fizemos o retorno nas salinas, eu disse ao João para seguir, que estava a começar a morrer. Ainda nos rimos, ao relembrar que em cada Maratona morremos e renascemos muitas vezes. Mas o João não seguiu e continuámos juntos.


Ainda passámos pela Sofia, e deu-se a divisão da meia e da Maratona. Se não tivesse o João ao meu lado, acho que tinha pensado seriamente em seguir para a meia e desistir da Maratona. Será que mais vale uma meia feliz do que uma Maratona sofrida? Não sei. Talvez não. No Domingo, eu achei que não.

Passaram-se mais dois quilómetros e eu achei que não aguentava mais. Tinha a cabeça a mil, a pensar em tudo, a tentar ir buscar energias sem saber onde, a tentar encontrar motivação, mas não estava mesmo fácil. Disse ao João que seguisse, que eu não aguentava mais. Devo ter feito um ar tão grave e sério, que ele limitou-se a dar-me a mão e a despedir-se de mim. Ele seguiu, e eu encostei à berma, com o intuito de começar a caminhar. Mas não caminhei. Curiosamente, mandei o João embora e fiquei a vê-lo ali perto de mim, a ganhar distância a pouco e pouco, e a pensar por que raio o tinha mandado embora, se continuava a correr.

Mas a distância foi aumentando, o percurso foi piorando, e ao fim de dois quilómetros, tive mesmo de começar a caminhar. Estávamos com mais de 18km. Faltava mais de metade da prova. E eu já naquele estado... O futuro não se adivinhava muito risonho e eu começava a pensar o que raio estava ali a fazer. 

Entretanto, pus os phones, para ouvir a minha música, e oiço a primeira mensagem via Endomondo: o meu Pai, a mandar-me força. Como não estava previsto haver live tracking da prova (a organização só o anunciou já depois de a prova ter começado...), tinha decidido levar o Endomondo ligado, para quem quisesse ir acompanhando, tendo a vantagem de o Endomondo permitir enviar incentivos durante os exercícios, que depois são lidos por uma voz robótica. Pouco tempo depois, recebo a primeira mensagem da Fabiana, que me deixa emocionada, com vontade de chorar baba e ranho, e que coincide com a chegada à Gafanha, numa zona onde voltamos a apanhar imensa gente a assistir (coisa que já não acontecia há algum tempo...). Entre as mensagens e o apoio do público, as emoções estavam a rubro. Viramos para uma rua mais deserta e eu tenho mesmo de encostar, e tentar respirar fundo, para controlar os soluços que se formavam na garganta. Caraças! Meses de treino não nos preparam para isto!...

A partir daqui, começou a segunda parte da minha prova.

Liguei à Fabiana, avisei-a de que tinha quebrado e para não se assustar com isso. Pedi-lhe que avisasse o louco mais louco do que eu, porque ia demorar bem mais do que o previsto. Estava relativamente bem, mas sabia que ainda tinha muito caminho pela frente e não estava em grandes condições de o fazer.

Na zona da Gafanha, e depois já na Barra, havia imenso apoio. Palmas para aquela gente toda! E eu já passei tarde... Imagino mais cedo! Havia gente a bater palmas, cartazes, crianças, adultos, velhotes. Também não faltavam voluntários e polícias a indicar o percurso (nisso, zero falhas!). Com este apoio todo, uma pessoa sente-se obrigada a fazer um esforço, não é verdade? E lá fui eu, andando e correndo, conforme conseguia.


Na passagem da Ponte da Barra ia distraída a ver quem lá vinha, e vi o louco mais louco do que eu, já a voltar para Aveiro, fresco e fofo como se nada fosse. Só lhe disse "esquece lá as 5 horas!". Foi também nesta Ponte que fui trocando incentivos com quem vinha em sentido contrário. Sobretudo, com as mulheres. Não tinha ideia de que éramos tão poucas mulheres na prova, mas isso só acabou por servir de elemento de união e de solidariedade espontânea!

Quando já ia com duas horas e meia de prova, lembrei-me que não tomava um gel há uma hora... Tinha definido tomá-los a cada 40 minutos, mas no meio da animação e da emoção, esqueci-me completamente. Também não deve ter sido por isso que quebrei tanto, não é verdade?

25km. Mais um abastecimento. Estávamos numa zona mais deserta, depois de termos feito parte da avenida principal da Barra, e seguia-se um trajecto junto à Ria. Começava também a estar mais sol e calor. Parei no abastecimento como se estivesse num trail. Comi, bebi, comi mais um bocadinho. Já se sabe que adoro laranjas nestas coisas... Acho que foi também aqui que comecei a fazer amigos. Entre trocas de olhares de desespero, palavras de ânimo e umas piadas secas, comecei a identificar aqueles que eram os meus companheiros de luta nesta fase. Segui viagem. Metade já estava e agora, mesmo que quisesse desistir, não tinha opção a não ser voltar para trás para Aveiro. Mais valia correr.

Continuei, caminhando e andando. Tentei ir alternando 800m a correr com 200m a caminhar. Nem sempre conseguia. Já não me lembro bem ao certo de quando foi, mas acho que foi já a sair da Barra e na ida de volta à Gafanha, em que comecei a falar com o Sr. Arlindo, que vinha a fazer mais ou menos o mesmo ritmo que eu. Ora eu passava por ele a correr enquanto ele caminhava, ora ele passava por mim a correr enquanto eu caminhava. Também na nossa zona andava a D. Helena, a quem acabei por dar da minha água, por não se estar a sentir muito bem (e o que ela me agradeceu!). O calor era já bastante, e eu ia despejando água em cima de mim, para tentar arrefecer. Lá fomos andando os três. Ela dizia que não podia parar de correr. Lá ia no ritmo dela, e iamo-nos passando conforme calhava. Eu e o Sr. Arlindo acabámos por fazer bastantes quilómetros juntos, puxando um pelo outro. "Vá, agora só até àquela placa", "Agora já chega", "Vamos correr mais um bocadinho?". Dei por mim a ser eu a puxar por eles. Eu! Eu que continuava sem saber o que andava ali a fazer...

Mas lá fomos, e fiquei a saber que era a primeira Maratona do Sr. Arlindo, que na véspera tinha estado a fazer um trail de 15km, e que tinha 52 anos. Perante isto, como é que eu me podia queixar, não é verdade?... Cala-te e corre, Inês!...

Continuamos no nosso regresso a Aveiro (finalmente!), e começamos a fazer contas à vida, que já não falta tudo, que vamos fazer cinco horas e pouco, que está quase...

E quem é que está no quilómetro 38 à nossa espera? A Fabiana, claro! Que festa! Que energia! Põe-se a correr ao nosso lado, dá-me as últimas palavras de ânimo e combinamos encontrarmo-nos perto do final. Estava quase.

Começamos a ir em direcção à zona da Universidade, numa parte do percurso que eu já conhecia, porque tinha feito por ali um treino na véspera. Entretanto, junta-se a nós a Célia Azenha, que me conta que estava a fazer a sua 59ª Maratona (sendo que vai fazer em breve a 60ª no Canadá). Ia ali um grupo de elite, sem dúvida!

Houve aqui um período muito grande em que fomos a caminhar, tendo feito praticamente toda a ligeira subida a andar... Lá convenço o Sr. Arlindo a corrermos até ao abastecimento dos 40km, que já não faltava quase nada e tínhamos de dar tudo nos últimos quilómetros. Quando entramos na recta que antecedia o abastecimento, e que era ligeiramente a subir, quem é que eu vejo lá ao fundo? O João Lima! Qual é que passa a ser o meu objectivo? Apanhar o João! "Vá, vamos lá, só mais um bocadinho!" O João ia lá bem longe e eu achei que, mesmo a correr, ia tão lenta que não o ia conseguir apanhar, mas ele abrandou no abastecimento, e eu consegui apanhá-lo pouco depois. Na verdade, gritei por ele e ele esperou por mim! 

E começaram assim os últimos dois quilómetros. Eu só perguntava ao João se ele estava bem, porque para eu o ter conseguido apanhar era porque algo se passava... Ele dizia-me que não, não estava bem, mas de sorriso nos lábios (aquele sorriso de quem sabe que mais uma está feita!). Quem é que está bem aos 40km de uma Maratona? Que pergunta! O João ainda me disse para seguir algumas vezes, talvez porque eu estava a ser um bocado chata a puxar por ele (desculpa!)... Mas eu não lhe dei hipótese e disse-lhe que se tínhamos começado juntos, havíamos de acabar juntos.

Lá seguimos. Faltava tão pouco! Eu só queria chegar ao fim. Sentia-me leve. Tinha passado o meu Cabo das Tormentas, tinha batido no fundo, tinha chegado ao mais alto nível de desespero, e agora faltava tão pouco!

Apanhámos a Fabiana perto do final do quilómetro 41 (ou ela é que nos apanhou a nós?), e seguimos os três, naquelas centenas de metros finais, até à meta.


Quando entrámos na passadeira azul, a Aurora Cunha estava à nossa espera, para nos acompanhar até ao fim. 




E foi assim que eu cortei a meta da Maratona da Europa. Com duas grandes referências e inspirações para mim. Melhor? Só se a minha Fabiana estivesse connosco. Mas há-de chegar a Maratona dela, e havemos de cortar a meta juntas!

Depois da meta, dei um abraço ao João, fui dar os parabéns ao Sr. Arlindo e à D. Helena, que me voltou a agradecer e me pediu para tirar uma fotografia comigo porque eu a tinha salvo! Eu só lhe dei água, juro! Mas numa Maratona um pequeno gesto pode mesmo fazer a diferença, não pode?... 


Vi o louco mais louco do que eu (que morreu de tédio à minha espera - quem o manda correr depressa?), recebi a minha medalha e fui em busca dos ovos moles. Apenas e só para encontrar as já referidas caixas vazias... Fiquei de boca aberta, incrédula, a olhar para as mesas e as caixas onde outrora estiveram os ovos moles... Também já não havia maçãs. Havia porco no espeto, que é coisa que dispenso. E havia cerveja, menos mal. 


Mais fotos, mais umas palavras trocadas. Eu nunca sei bem o que sentir, o que pensar. Acho que não estava bem a acreditar que tinha mesmo conseguido. Mas parece que sim.

Quis ir gravar o tempo na minha medalha (que é bem gira, por sinal!). E eis que me dizem que a tenda das gravações ia fechar para almoço e só voltavam às 14h30. Como assim!? Vão fechar? Lá fiz o meu choradinho, disse que tinha de me ir embora porque tinha um comboio para apanhar. Perguntaram-me o meu tempo. Achava eu que era suposto serem eles a dizerem-me o meu tempo... Pois que não. Disseram-me que visse no meu relógio quanto tempo tinha feito e era isso que eles gravavam. Disse-lhes três horas. Não acreditaram. Não percebo porquê!... Lá lhes disse: 5h12m45s. É isso que está na minha medalha. A diferença para o tempo oficial, que só vi depois, foi só de um segundo. Menos mal.


Últimas despedidas, últimas fotografias, e regresso ao apartamento.

Foi assim a minha Maratona da Europa. Hei-de escrever mais uns quantos posts sobre ela, claro, que isto é coisa que é preciso fazer render.

Por ora, deixo-vos com este testamento. Podia oferecer-vos uns ovos moles, em jeito de compensação pela leitura de tamanha obra mas olha, lessem mais depressa!



(as fotos deste post têm as mais diversas origens: Sofia, Facebook, fotógrafos oficiais, fotógrafos oficiais do João Lima [foi só por isso que eu quis correr ao lado dele!], etc. Se alguém quiser que eu elimine alguma das mesmas, é só dizer!)

Os devaneios Agridoces mais lidos nos últimos tempos...