sexta-feira, 1 de março de 2019

De Santa Maria...

A viagem a Santa Maria não foi só feita de paisagens incríveis e da prova mais especial que já fiz.

Foi também feita de uma viagem ao passado, a um passado muito longínquo, do qual tenho poucas ou nenhumas memórias, mas do qual muito ouvi falar.

Não estava preparada para isto. 

As pessoas não fazem por mal, mas todas perguntaram pela minha mãe, todas falaram na minha mãe, todas contaram histórias da minha mãe. Não foi por mal. Mas é natural que todas as memórias que têm associadas aos meus primeiros anos de vida, em que vivi naquela ilha, incluam a minha mãe.

E custou-me. Custou-me ouvir, uma e outra vez, falar nela. Houve momentos em que senti o chão desaparecer, em que o ar me faltou, em que agarrei discretamente a mão dele e respirei fundo. 

Não estava preparada para isto.

Curiosamente, as opiniões que ouvi e as histórias que me contaram tinham um denominador comum, que a modos que me tranquilizou, de uma forma sinistra e curiosa ao mesmo tempo: talvez a minha mãe não tenha mesmo nascido para ser mãe. De uma forma absolutamente inexplicável, cruel e estupidamente racional ao mesmo tempo, apercebi-me de algo de que não tinha noção: a minha mãe sempre foi pouco mãe, desde o início. E isso, apesar de brutalmente doloroso, foi profundamente revelador e quase apaziguador.

Mas não estava preparada para isto.

Foi uma viagem de muitas emoções inesperadas. Foi uma viagem tão mais complexa do que eu podia imaginar. Na minha ingenuidade, achei que ia a Santa Maria fazer o Columbus Trail e rever as caras de quem lá deixei há tantos anos. Na realidade, fui lá completar mais algumas peças deste meu puzzle a que chamo vida. E, apesar de ainda estar a digerir as emoções, quase um mês depois, tenho ainda mais a certeza de que fiz esta viagem na altura certa, na companhia certa, e que será daquelas memórias que guardarei em mim para sempre.

Mesmo que não estivesse preparada para aquilo.



(foi há 35 anos, no dia 29 de Fevereiro que este ano não existe, 
que eu nasci naquela ilha.)

6 comentários:

  1. Se foi quase apaziguador, foi muito positivo.

    Um beijinho de parabéns (dei ontem e hoje portanto devo ter apanhado algures o não dia) :)

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  2. Por vezes é preciso fazermos viagens (sejam elas reais ou não) ao nosso passado para conseguirmos perceber o nosso presente.

    Fico muito feliz que esta viagem que tenha dado algum esclarecimento! :)

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  3. Às vezes é assim, as nossas escolhas levam-nos onde precisamos estar!

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