Hoje foi dia de mais uma Meia Maratona de Cascais. O ano passado, fiz uma prova relativamente feliz, com o meu 2º melhor tempo numa meia, e muito bem acompanhada.
Este ano, as expectativas eram muito diferentes. Sabia que era impossível fazer um ritmo sequer parecido com o que tinha feito o ano passado (média de 6'20/km). Sabia que não tinho treinado o suficiente, fruto de uma sequência de maleitas consecutivas. Sabia que, ao contrário do ano passado, em que já tinha feito o Fim da Europa e o Peninha, ia para esta prova com um treino de 14km como o mais longo dos últimos tempos (os 22km do Columbus Trail não contavam para estas estatísticas...).
Também ia com um espírito muito particular: ia em modo de treino, com a companhia da equipa, e com a Fabiana, minha companheira de treinos rumo aos ovos moles.
Tínhamos falado em começar os primeiros quilómetros a 6'45/km, mas é fácil deixarmo-nos levar pelo entusiasmo inicial da prova... Na verdade, tivemos muita dificuldade em abrandar e estabilizar, porque com tanto sobe e desce, uma pessoa (ou esta pessoa!), não consegue manter sempre o mesmo ritmo.
Íamos relativamente bem, mas a partir de certa altura, a Fabiana começou com dores num joelho (ela há-de escrever o relato dela, por isso, não me vou alongar com dores que não são minhas), e começámos a abrandar. O calor também começava a fazer-se sentir, na estrada mais descoberta em direcção ao Guincho. Acho que comecei a tornar-me chata, a dizer-lhe para beber água, a perguntar-lhe como estava, a tentar motivá-la mas sem saber como que isto de uma pessoa continuar a correr com dores é uma decisão muito pessoal e muito arriscada. O que é certo é que, a meio dos 9 quilómetros, a Fabiana mandou-me embora. Não foi uma decisão fácil para mim. Queria fazer a prova com ela, mas já tínhamos falado muito racionalmente sobre isto, antes da prova, e sabíamos que não podíamos deixar que o querermos ir juntas, prejudicasse a prova de uma ou de outra. E era o que estava a acontecer. E lá fui eu à minha vida!
Acelerei um bocadinho, mas sabia que ainda me faltava quase meia prova, estava muito calor, e não quis exagerar. As dores nos pés começaram. Quando ia nos 13km, comecei a questionar-me. Foi mais ou menos nesta altura que passámos num abastecimento que tinha laranjas e eu decidi pegar em dois bocados, numa garrafa de água, e encostar. Caminhei durante cerca de 100 metros, em que aproveitei para respirar fundo, comer as laranjas sem me engasgar e tomar o segundo gel, bebendo alguma água e usando a restante para me refrescar. A estrada para o Guincho é linda, mas é um sufoco quando está muito calor e não há praticamente vento (o que até é bom, eu sei!). Depois destes 100 metros, voltei a correr, mas muito lentamente. Lá fui buscar forças não sei bem onde para lutar contra as dores nos pés, cada vez piores, e comecei a fazer contas aos quilómetros que me faltavam, e a traduzir isso em minutos, para me tentar convencer de que já não faltava muito.
Consegui ir sempre a acelerar a partir do quilómetro 18, mesmo com subidas. Como? Pensando que tinha de fazer o esforço final, que só queria acabar com aquele sofrimento, que só queria acabar de correr e tirar os ténis. Cada um vai buscar a motivação onde quer, e isto, para mim, funcionou.
Mais uma vez, foi uma sensação incrível cortar aquela meta, porque sei que a minha forma não está brilhante, porque tive muitas dúvidas ao longo do percurso, e porque as dores eram muitas. Mas consegui!
Fiz mais 7 minutos do que no ano passado. É uma miséria, eu sei. Mas, sinceramente, com o que eu (não) tenho treinado, achei que podia ser pior.
Cheguei a casa com os meus pés no pior estado de sempre. As bolhas são inacreditáveis e em sítios novos, onde não era costume fazê-las. Não sei mais o que fazer, mas vou em busca de ajuda especializada.
Agora é descansar... Mas pouco, que para a semana há mais!