Hoje levei o meu carro à inspecção. Não foi a primeira vez, nem será, certamente, a última.
Mas hoje passou-se algo que me deixou a pensar.
O técnico que fez a inspecção ao meu carro foi o mesmo que já tinha a feito há dois anos atrás, e com quem tinha feito alguma conversa de circunstância na altura.
Desta vez, ele foi, diria, excessivamente simpático. Ou mais descarado, vá. Dentro do razoável, do respeito, da boa educação, mas foi.
E eu deixei. Também porque as minhas circunstâncias há dois anos atrás não eram as que são hoje, mas porque, naturalmente, me soube bem ao ego.
Por outro lado, e o que me fez pensar foi isso, quantas vezes não nos vendemos nós para conseguirmos o que queremos? Quem nunca foi mais simpático para um funcionário numa repartição pública, na esperança de conseguir resolver um problema? Quem nunca apareceu com um café na secretária de um colega, antes de lhe pedir um favor? Quem nunca ajudou a mãe na cozinha, para depois lhe pedir autorização para sair? Quem nunca cedeu numa negociação, para a seguir pedir alguma coisa em troca? E isso faz de nós o quê, mesmo?
Ou não faz de nós nada porque é a base do relacionamento humano? O Carnegie diz que sim.
Eu, confesso, se por um lado saí de lá a sentir-me mal comigo mesma, por outro, sei em consciência que não fiz nada de mal: fui simpática e estive 20 minutos a conversar com alguém (no meio de aceleradelas, piscas, trava e destrava, ...) que estava a prestar-me um serviço. Que sociedade é esta que me faz sentir uma vendida por isto?...
A conversa acabou com ele a convidar-me para participar nas vindimas da vinha dele no próximo ano e a pedir que o adicionasse no Facebook.
Nem uma coisa nem outra vão acontecer e o mais provável é que, para o ano, se ainda me lembrar disto, marque a inspecção noutro centro qualquer. Porque me sinto mal com isto.
Traumas. Tantos traumas nesta cabeça. Ignorem as partes sem sentido do texto. Ou ignorem o texto todo, vá. Vou dormir que bem preciso e amanhã é dia de corrida.