No tempo em que nem toda a gente tinha telemóveis e quem tinha telemóveis nem sempre tinha saldo, combinámos encontrar-nos no Vasco da Gama. Tu vinhas de longe. Não do outro lado da rua, mas do outro lado do rio. E eu esperei por ti. Via os minutos a passar e crescia em mim a dúvida se tu virias mesmo. Mas vieste. E chegaste.
Passeámos pela Expo. Sentámo-nos num daqueles bancos listados e contemplámos o rio. Falámos. Não me lembro do que falámos mas lembro-me de que gostava de falar contigo. Tanto. Gostava do teu jeito de menino rebelde, que se revoltava contra o sistema e o meio favorecido de onde vinha.
Lembro-me do teu sorriso. Ainda hoje sorrio quando me lembro do teu sorriso.
Também me lembro da nossa despedida, junto aos barcos. Não sei se ainda se apanham barcos no mesmo sítio. Não cheguei a apanhar nunca o barco para ir ter contigo. Mas lembro-me sempre de ti quando passo naquele sítio.
Lembro-me do abraço que demos. Lembro-me de ficar nos teus braços e de te sentir junto a mim. E lembro-me do beijo que não demos. O beijo que não demos porque éramos os dois demasiado orgulhosos.
Falámos sobre isso, tempos mais tarde. Aprendemos os dois a mesma lição: no amor não pode haver orgulho. E na vida não há maior arrependimento do que aquele que sentimos pelo que não fizemos.
Pergunto-me se, 14 anos depois, vou concluir que não aprendi nada com isto.
Não esperes mais 14 anos para te arrependeres do que não fizeste hoje. Só me ocorre a frase de que eu mais gosto, do meu filme preferido: as long as you don't choose, everything remains possible.
ResponderEliminarSabes que eu olho para essa frase e a única coisa que tiro daí é: deixa-me cá estar quieta, não tomar decisões, não me mexer e fica tudo bem...
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