sábado, 15 de outubro de 2016

Do ser mulher...

Hoje levei o meu carro à inspecção. Não foi a primeira vez, nem será, certamente, a última.

Mas hoje passou-se algo que me deixou a pensar.

O técnico que fez a inspecção ao meu carro foi o mesmo que já tinha a feito há dois anos atrás, e com  quem tinha feito alguma conversa de circunstância na altura.

Desta vez, ele foi, diria, excessivamente simpático. Ou mais descarado, vá. Dentro do razoável, do respeito, da boa educação, mas foi.

E eu deixei. Também porque as minhas circunstâncias há dois anos atrás não eram as que são hoje, mas porque, naturalmente, me soube bem ao ego.

Por outro lado, e o que me fez pensar foi isso, quantas vezes não nos vendemos nós para conseguirmos o que queremos? Quem nunca foi mais simpático para um funcionário numa repartição pública, na esperança de conseguir resolver um problema? Quem nunca apareceu com um café na secretária de um colega, antes de lhe pedir um favor? Quem nunca ajudou a mãe na cozinha, para depois lhe pedir autorização para sair? Quem nunca cedeu numa negociação, para a seguir pedir alguma coisa em troca? E isso faz de nós o quê, mesmo?

Ou não faz de nós nada porque é a base do relacionamento humano? O Carnegie diz que sim. 

Eu, confesso, se por um lado saí de lá a sentir-me mal comigo mesma, por outro, sei em consciência que não fiz nada de mal: fui simpática e estive 20 minutos a conversar com alguém (no meio de aceleradelas, piscas, trava e destrava, ...) que estava a prestar-me um serviço. Que sociedade é esta que me faz sentir uma vendida por isto?...

A conversa acabou com ele a convidar-me para participar nas vindimas da vinha dele no próximo ano e a pedir que o adicionasse no Facebook.

Nem uma coisa nem outra vão acontecer e o mais provável é que, para o ano, se ainda me lembrar disto, marque a inspecção noutro centro qualquer. Porque me sinto mal com isto.

Traumas. Tantos traumas nesta cabeça. Ignorem as partes sem sentido do texto. Ou ignorem o texto todo, vá. Vou dormir que bem preciso e amanhã é dia de corrida.

21 comentários:

  1. Eu, no teu lugar, via as coisas pelo lado positivo. O teu carro pode ir sempre a cair aos bocados que aquele técnico em particular nunca o vai chumbar :P Uma boa prova ;)

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    1. Ou não, ou não... Se me chumbar tenho de lá voltar :)

      Obrigada!

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  2. Falas de manipulação, portanto...

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    1. Aquilo que fizeste? Evidentemente.
      Rapidamente identificaste que tinhas "leverage" sobre o senhor e usaste-a a teu favor. Foste excessivamente simpática para quem não pretendias, apenas por que necessitavas que ele não implica-se com o estado físico do teu veículo. Influenciaste o seu comportamento sob a premissa da tua atratividade física e intelectual. O resultado foi de tal modo favorável que para além de teres o teu objetivo concretizado, ainda acabaste por ser convidada para uma vindima e para ser adicionada no Facebook.

      Se até aqui dúvidas existissem acerca da manipulação, tu própria referes que - "Nem uma coisa nem outra vão acontecer e o mais provável é que, para o ano, se ainda me lembrar disto, marque a inspecção noutro centro qualquer. Porque me sinto mal com isto."

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    2. Eu não fui excessivamente simpática. Simplesmente, deixei que ele fosse excessivamente simpático. Podia ter feito má cara e ter sido antipática, mas não o fiz. Isso é manipular? O meu carro ia passar na inspecção na mesma, como passou sempre, sem qualquer problema. Talvez isso não tenha ficado claro, e possa levar a que aches que fiz isto para "contornar" o sistema e para que ele desse "um jeitinho". Não foi o caso.

      A questão do post é exactamente essa. Eu não fiz nada de mal e, devido a pressões e dogmas da nossa sociedade, sinto-me mal.

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    3. Depois de ler novamente a publicação continuo com a mesma sensação inicial. Não tinhas razão para o fazer, no entanto, toleraste o excesso de simpatia do senhor. Ora, ele nunca seria excessivamente simpático para quem não lhe retribuísse...
      Podes ter manipulado simplesmente para te fazer bem ao ego... Não implicaria que necessitasses que o automóvel passasse pela "porta do cavalo".

      É que este parágrafo é bastante esclarecedor do que pensastes. - "Por outro lado, e o que me fez pensar foi isso, quantas vezes não nos vendemos nós para conseguirmos o que queremos? Quem nunca foi mais simpático para um funcionário numa repartição pública, na esperança de conseguir resolver um problema? Quem nunca apareceu com um café na secretária de um colega, antes de lhe pedir um favor? Quem nunca ajudou a mãe na cozinha, para depois lhe pedir autorização para sair? Quem nunca cedeu numa negociação, para a seguir pedir alguma coisa em troca? E isso faz de nós o quê, mesmo?"

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    4. Depois desse parágrafo, a minha resposta é que essa é a base do relacionamento humano.

      Ou sempre que somos simpáticos com alguém, estamos a manipular?

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    5. "Por outro lado, e o que me fez pensar foi isso, quantas vezes não nos vendemos nós para conseguirmos o que queremos?"
      Será que é esta a base do relacionamento humano? Deixas-me a pensar.

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    6. Toda a situação me deixou a pensar, daí o post, e o aviso para ignorar o texto...

      A minha questão é essa. Desde sempre que somos condicionados e ensinados a agradar o outro, a fazer algo para obter algo em troca... "Come a sopa e podes comer a sobremesa"... Ouvimos isto desde sempre. Sabemos que a melhor forma de o outro fazer o que queremos, é se o agradarmos.

      É manipulação? Ou é relacionamento humano básico? Estamos a vender-nos ou estamos a relacionar-nos, simplesmente?

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  3. Depois de acompanhar toda esta dialéctica textual, a minha pergunta é: Agridoce, sentes-te confortável aí deitada no divã do terapeuta virtual? :P Não estamos a ser um bocadinho duros demais contigo? Se calhar, estamos... Digo eu, não sei.

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    1. Ahahahah! Obrigada pela preocupação :) São sempre saudáveis estas discussões, ainda que mais animadas. Temos mesmo de animar a blogoesfera, que anda um tédio!...

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  4. Eu decidi ignorar o post todo, conforme solicitado.
    Fui bem mandado ou excessivamente simpático?

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  5. Eu sou uma pessoa simpática por natureza. Sou também conversadora e gosto de mostrar boa disposição mesmo quando o meu dia está a correr da pior forma. Uma vez, um médico em tom de brincadeira disse que eu era uma flirtadora nata, algo que nunca me passou pela cabeça. Acontece que infelizmente as pessoas têm tendência a confundir a simpatia/boa educação com flirt.

    No teu lugar também não adicionaria no facebook. Não são amigos, tampouco conhecidos. A vossa relação é estritamente profissional na medida em que ele cumpre um serviço a ti.

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    1. Percebo-te :) Há pessoas que são mesmo assim! Para ti, provavelmente, uma situação destas seria perfeitamente normal e dificilmente te questionarias, como eu fiz.

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  6. Sua oferecida!!! :P
    Percebo-te perfeitamente! não fizeste mal nenhum. Quase toda a gente tem essa tendência para numa situação em que precisa de algo, faça tudo ou quase tudo que esteja ao seu alcance para resolver o problema ou conseguir algo. Até fazemos isso muitas vezes inconscientemente. O problema é que muitos homens pensam que por uma mulher ser simpática, quer logo ir para cama com ele(exagerando claro :P), o que nem sempre acontece.
    Dou-te um exemplo, veio aqui ao meu trabalho uma mulher para elaborar um orçamento, e eu como comunicativo (e muito muito charmoso) comecei a conversar e a fazer perguntar à medida que íamos visitando os espaços, dizendo umas gracinhas etc, tudo para que desse um preço mais baixo :) não forcei nada, mas sempre fui assim, gosto de falar com pessoas mesmo que sejam estranhas. Será que fiz mal? claro que não, apenas puxei a brasa à minha sardinha. Ela no final depois fez uma pergunta como é que a empresa podia ganhar a adjudicação. Claro que comecei logo a pensar mil e uma coisas porcas :P mas tive que dizer que era o preço mais baixo :) Será que ela fez mal? claro que não... também quis ganhar.. é normal. Ela ficou com o meu contacto para mandar orçamento. será que ela me vai engatar? não percas os próximos episódios :) :P
    Por isso não te sintas mal, mas tens que compreender que muitos homens quando vêm uma mulher comunicativa acham logo que está disponível, só tens de ter cuidado em não exagerar na dose de simpatia.

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    1. Faz parte, portanto, das relações humanas? :)

      Eu não sou uma mulher comunicativa, longe disso. Posso é estar mais ou menos permissiva a que sejam comunicativos comigo. Mas, regra geral, é como dizes: ser demasiado comunicativa, pode levar a ser mal interpretada. E eu gosto mesmo é de estar quieta no meu canto :)

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    2. Ai... estás a ser muito comunicativa comigo! Estás interessada em alguma coisa é? :P
      Vá... bom resto de dia :) jokas

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  7. Foste simpática para uma pessoa que foi simpática para ti também. Não há absolutamente nada de errado :)

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