Ontem assisti, pela primeira vez, ao programa "E se fosse consigo?".
E percebi agora por que motivo se tem falado tanto dele!...
Não sei se foi por ter sido este tema em concreto, mas a verdade é que o programa mexeu muito comigo.
A violência doméstica, física ou psicológica, é ainda um tema tabu. Todos nós conhecemos quem sofra ou já tenha sofrido de uma ou ambas.
E todos nós nem sonhamos a quantidade de pessoas à nossa volta que sofrem/sofreram de uma ou ambas.
Porque quem é vítima de violência doméstica... Quem é que assume que é? A quem é que conta que é? Quem é que acredita? Quem é que imagina o que se passa entre quatro paredes?
Quantas e quantas histórias já ouvimos, das quais só tivemos conhecimento quando as coisas ultrapassaram todos os limites?
Falta mais apoio, falta que se fale mais nisto, falta que todos nós saibamos o que é violência. Sobretudo, a violência emocional. Aquela que não é tão clara. Tão óbvia. Aquela em que ficamos na dúvida se é preocupação excessiva, se é violência.
Um dos exemplos que mais mexeu comigo foi quando uma das vítimas contou o que lhe acontecera certa vez, quando o namorado lhe disse que se não tinha nada a esconder, não tinha problemas nenhuns em mostrar-lhe o telemóvel, dar-lhe as passwords, etc. Sim, eu já passei por isso. E fiquei sem resposta. Porque eu não tinha nada a esconder, e se não tinha nada a esconder, só tinha que mostrar tudo. E assim fiz. A chantagem psicológica e a pressão emocional podem ser tremendas. E cedemos. Cedemos uma e outra vez. Em coisas pequenas, em coisas maiores.
Conheço, infelizmente, mais alguns casos deste género. Considero-me uma pessoa inteligente, informada, com educação, com acesso a tudo e mais alguma coisa. E nos outros casos que conheço, o cenário é idêntico.
E é isto que é assustador. É que existam pessoas (mulheres e homens) que se sujeitam a esta violência, sem saberem ao certo ao que se estão a sujeitar.
É assustador, sobretudo, em idades mais jovens. Muitos adolescentes, muitos jovens, acham que estas coisas são normais. Que fazem parte de uma relação.
E cabe-nos a todos nós ensinar-lhes o que é uma relação normal, o que é o respeito, a dignidade, a privacidade, o direito ao espaço e à vida de cada um. Cabe-nos a todos nós passar cada vez mais a mensagem do que é o amor, do que é aceitável numa relação, de qual é o ponto de não retorno. Cabe-nos a todos nós não fechar os olhos e não olhar para lado, da próxima vez que virmos ou ouvirmos uma história destas.
Para que menos mulheres e homens passem por isto no futuro!...