quarta-feira, 9 de junho de 2010

Das coisas que eu queria dizer e não digo... - I

Hoje apetecia-me vir aqui despejar um pouco de fel. Mas sei que devo controlar-me. Mas apetecia-me mesmo. Só porque sim. Só porque estou farta-fartinha de gente tola-tolinha que merecia levar dois pares de estalos para ver se acordam para o mundo real. E gente tola-tolinha que também merecia levar dois pares de estalos por se acharem superiores ao Estado, às leis, aos outros. Não há paciência.

Eu tenho tantos defeitos, mas tantos, tantos. Mas se há coisa de que não me podem acusar é de não ter os pés assentes na terra e de não saber o que é viver no mundo real e em sociedade. S-o-c-i-e-d-a-d-e. Assim do género, eu pago os meus impostos e se todos pagassem os seus, o país estava bem melhor. É um raciocínio difícil? É, pois. É muito mais giro pensar que eu não pago nada, mas depois vivo do RSI. Muito mais giro.

A sério, eu, às vezes, penso em fugir para uma ilha deserta, plantar couves, e esquecer-me que há mais pessoas no Mundo. É que eu não gosto das pessoas. É mais forte do que eu. As pessoas são idiotas, têm mentalidades idiotas, egoístas, irresponsáveis. E depois, as pessoas acham sempre que são muito mais espertas que as outras pessoas, que elas é que sabem. E isto tira-me do sério. Não devia. Mas tira-me.

Há coisas que me passam ao lado, como aqueles que não têm dinheiro para comer mas têm carros mais caros do que a nossa casa. Problema deles, que passam fome, não meu.

Mas há coisas que não podem passar-me ao lado. Como pessoas que conduzem em excesso de velocidade; pessoas que conduzem alcoolizadas; pessoas que não pagam impostos; pessoas que vivem dos subsídios do Estado e passam o dia em casa a olhar para as paredes enquanto eu me mato a trabalhar; pessoas que acham que não têm que pagar a Segurança Social porque são superiores a isso; pessoas que não respeitam as outras pessoas e usam e abusam da boa vontade dos outros. Isto não pode passar-me ao lado. Isto mexe comigo, dá-me a volta ao estômago, revolta-me. E, felizmente, já vou ganhando juízo e já não me calo perante certas coisas. As pessoas olham para mim como se eu fosse um bicho do mato quando eu falo na minha consciência.

A consciência. Essa coisa estranha que muita gente já não sabe o que é. Pois é, mas eu exemplifico. Eu quando bebo não conduzo. Porquê? Não é por ter medo de ser apanhada pela polícia e pagar uma multa ou ficar sem carta. Felizmente, tenho dinheiro para as multas, e podia sempre tirar a carta outra vez ou podia bem andar mais de metro. E também não é por ter medo de bater com o carro e ter de arranjar outro ou gastar dinheiro a reparar o que tenho. Não, não é por aí. E também não é por ter medo de me magoar ou de morrer. Não, também não é por isso. Eu quando bebo não conduzo porque morro de medo de magoar alguém com a minha irresponsabilidade. É por isso. E só por isso. Porque a minha consciência não me deixaria viver. É só mesmo por isso.

E se eu batesse no carro de alguém, ficava à espera do dono, ia à procura do dono, ou deixava os meus contactos (os verdadeiros, caso alguém tenha dúvidas). Como já fiz, aliás, quando dei um toque (sublinho, um toque), ao estacionar. Não me ia embora a pensar que "ah, não faz mal, se tem um bom carro é porque tem dinheiro para o reparar". E agora queria escrever aqui umas asneiras mas sou uma menina de bem e vou respirar fundo e continuar.

E não, eu não sou perfeita e as minhas acções não são irrepreensíveis. Já aqui referi que tenho muitos defeitos. Às vezes, também conduzo em excesso de velocidade, passo semáforos amarelos-côr-de-vinho, ou aldrabo o parquímetro. Estou a dever uma ecografia no Hospital dos Capuchos porque quando lá fui tinham o sistema em baixo e não pude pagar. Cometo os meus erros, os meus pecados, as minhas falhas. Não há ninguém perfeito. Nem é bom que haja.

Mas tem que haver um meio termo. Tem que haver um mínimo que todos nós fazemos para podermos viver todos juntos. Eu sei que os políticos são uns maus e querem roubar-nos o dinheiro todo e fazem leis idiotas, yada yada yada. Mas se eles lá estão, alguém votou neles. Eles fazem o trabalho deles, nós fazemos o nosso. Uns melhores, outros piores. Porque é que as pessoas se acham no direito de exigir o que quer que seja, se não cumprem os seus deveres? Devíamos voltar à época medieval. Eu planto couves e troco as minhas couves com quem planta batatas. Se eu não plantar couves, passo fome. Lógica simples e fácil de acompanhar. Mas hoje em dia vivemos na sociedade do "eu, eu, eu". Eu não faço nada, alguém há-de fazer por mim. Eu não pago impostos, mas o Estado dá-me subsídios. Só não sei é por quanto tempo.


E eu, para quem não queria dizer nada, já falei de mais.

7 comentários:

  1. Tiraste-me as palavras da boca.....

    Gosto muito de ler o teu blogue :)

    Bjocas

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  2. Gaja, já me ri imenso com as tuas desbaratinações... Li de uma ponta à outra, mas não descobri porque é que estás tão passada com isto de sociedade... (?)

    Beijo!

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  3. PA obrigada :)

    Senhor Ogre, o meu problema com a sociedade tem a ver com as pessoas. Com as pessoas que fazem estas coisas todas que aqui referi, esquecendo-se que não estão sozinhas no mundo. Não tenho paciência para as pessoas, para as ouvir, para as aturar, para os seus disparates, para o seu egoísmo. Continuo a pensar na opção da ilha deserta e das couves.

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  4. Estou contigo e com a ilha deserta. Já com as couves, deviamos ponderar sobre isso... :P

    eheheh

    Beijoca animada!

    P.S.: Espero que já tenhas acordado...! ;)

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  5. Olá vim cá parar por acaso e gostei muito deste "desabafo" porque sinto-o como se fosse meu!

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  6. Flor obrigada, é bom saber que há mais pessoas a pensar como eu :)

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