quarta-feira, 31 de julho de 2019

Do Limestone Ultra Trail e das mulheres nas corridas...



Quando escrevi o post anterior, foquei-me no facto de ter ficado em último lugar da prova. Foi uma opção minha.

Podia ter-me focado no facto de ter ficado em 10º lugar das mulheres. E seria uma opção igualmente válida, porque é verdade.

Talvez nos meus tempos áureos, em que cheguei a ficar em 4º e 5º lugar do meu escalão, eu já tenha ficado assim tão bem classificada na geral feminina. Não faço ideia, porque nunca liguei muito a isso.

O certo é que ter ficado em 10º lugar nesta prova não é, exactamente, motivo de festa. Não só pela constatação óbvia de que eu fiquei em 10º porque não havia mais mulheres, mas também pela constatação óbvia de que eu fiquei em 10º porque não havia mais mulheres. E eu não deixo de me perguntar: por que raio não havia mais mulheres? É que ficar em 10º porque não havia mais mulheres é só triste.

A prova teve um total de 73 finishers, e apenas 10 eram mulheres. Como? Porquê? As mulheres deste país (e de outros, que também são bem-vindas) já foram todas de férias? Estava tudo na praia? Não, não estava. Porque na prova dos 16km os finishers foram 141, e 42 eram mulheres! A diferença é abismal...

Eu já aqui falei sobre isto, a propósito da Maratona da Europa, e é mesmo algo que me intriga, por um lado, e me preocupa, por outro.

Gostava mesmo de ver mais mulheres a correr. E a correr distâncias mais longas! Claro que ninguém é obrigado a nada só porque agora eu acho que isso é giro (tinha a sua graça... mas não!). Mas, de facto, gostava de saber se há alguma coisa que se possa fazer em relação a isso. Será que as organizações podem fazer mais por isso? Será que grupos como o Women Runners Portugal (do qual já aqui falei) podem ajudar? Será que as mulheres não correm mais porque não querem mesmo ou porque lhes faltam condições para isso?

Vou continuar a pensar sobre o assunto...

10 comentários:

  1. Percebo o que dizes e apenas te posso dar a minha opinião sobre o assunto (que não sei se é a generalizada ou não).

    No meu caso, eu não corro mais porque não quero. A distância mais longa que corri foram os 15km da family race do Porto e foi um sofrimento. O André já tentou aliciar-me para eu correr uma meia maratona e a minha resposta é um redondo não! Para mim, correr uma distância superior a 10km é um martírio porque fico sem paciência. O engraçado é que se for a caminhar já não tenho essa questão (não sei mesmo explicar).

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    1. Lá está, acho que ias adorar os trails :)

      Percebo perfeitamente o que dizes. Quando não há vontade, não há, e cada um deve fazer aquilo de que mais gosta. Mas será que as mulheres têm, genericamente, menos vontade do que os homens? Ou há mais por detrás disto?...

      Vocês vão ao Porto este ano?

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    2. eu sou muito medricas. no outro dia fomos fazer uma caminhada e em certo ponto, para cortar caminho, tínhamos de subir por um sitio mais íngreme. eu preferi ir à volta só por ter medo de resvalar e cair encosta abaixo.

      em principio sim. o André quer fazer um treino de 35 nesse fim de semana por isso a intenção será ele correr até aos 35 e eu estar lá para o regrar em ritmo de caminhada até à meta.

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    3. Eu também sou... Mas quando estou sozinha e não tenho outra opção, descubro em mim super poderes :D

      Então vamos a isso! Queres ir fazer os 15km comigo? Ou não vale mesmo a pena chatear-te para fazeres mais do que 10? ;)

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    4. Quem sabe um dia não aceito o teu convite.... mas neste momento não!
      Ando numa fase sem paciência para treinar corrida. No dia que fui fazer a corrida milionária pus-me a pensar e dei-me conta que a última vez que tinha corrido tinha sido em Guimarães (23/06).

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    5. Sem problema :) percebo-te perfeitamente! Eu também tenho fases :) havemos de nos ver lá na mesma!

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  2. Concordo em absoluto com o que dizes. Há uma miríade de explicações. Nos países nórdicos as provas, desde curtas a Maratonas, costumam ter uma percentagem de participação feminina na casa dos 50%. Por exemplo, na Suécia essa relação situa-se entre os 50 e os 52%, sabendo que a população feminina sueca é de 51,4%, estamos a falar de equilibrio absoluto. Também em várias Maratonas nos Estados Unidos, das mais participadas por estrangeiros, chega a números próximos desses. Uma miragem em Portugal. No entanto, é com agrado que noto uma boa melhoria. Quando iniciei-me nas corridas (2006) as provas tinham 3 a 6% de atletas femininas (estou a falar de estrada pois ainda não se tinha dado o boom dos trails). Hoje em dia a média geral é de 24%. Uma boa melhoria mas longe ainda do ideal. No entanto não é linear pois à medida que as distâncias vão aumentando,essa percentagem diminui. Tomenos o exemplo da Maratona do Porto do ano passado com 15,7% no universo de todos os atletas mas se nos cingirmos apenas a portugueses, a relação diminui para 11,9. Mesmo assim, uma boa evolução desde a 1ª edição em 2005 com 2,5% (apenas 8 atletas num pelotão de 317). Será que as portuguesas, ao contrário das suecas e outras, não gostam de distâncias? Ou será que não têm a qualidade de vida delas que têm menor carga laboral e vivem em igualdade de direitos? Para distâncias, há que treinar muito e enquanto os homens têm normalmente um trabalho, cá as mulheres têm dois, sendo o segundo a casa. Como pode sobrar tempo (e energia!) para treinos longos? Além de sermos um país que vem duma carregada tradição machista. Enquanto as suecas alcançaram a igualdade nos anos 60, as portuguesas até 1974 eram pertença do marido. Não tinham passaporte, estava anexo ao do marido, não podiam ter negócio próprio sem autorização expressa do marido e depois de ultrapassarem uma montanha de burocracia. Para trabalharem por conta de outrem, bastava o marido chegar ao patrão e dizer que não queria que a mulher trabalhasse e tinha que ser despedida. E muitos muitos mais casos poderiam ser citados.
    Isto não contando com os conceitos. A multi campeã nacional (46 vezes), Georgette Duarte, foi entrevistada pela televisão num treino no final dos anos 50 e como apareceu de calções (estava a treinar...) passou a ouvir todos os piores impropérios onde morava (Moita). A Rosa Mota até ter conquistado honrarias, por andar a treinar na rua, ouvia de tudo onde o mais suave era “vai para a cozinha que é o teu lugar!”, Aliás, conta quem se iniciou nos anos 80 que mesmo homens a treinarem na rua era usual ouvirem “vai trabalhar, malandro!”.
    Quando comecei a treinar era raro ver mulheres sozinhas a treinarem e hoje é usual. Tem-se evoluído mas há MUITO por fazer. A começar por erradicar mentalidades retrógradas herdadas dum regime cinzento e cerceador.
    Beijinhos e aproveita a sensação de liberdade que a corrida dá! :)

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    1. Muito obrigada por esta análise e mais uma excelente partilha de informação! Nem tinha noção de haver países com esse equilíbrio! Só achava que a discrepância seria menor... Mas isso dá-me esperança :)

      Acho que a explicação está no que dizes. É o que eu penso, mas não quis aqui dizer. A nossa sociedade ainda tem um longo caminho a percorrer no que toca à igualdade de direitos entre homens e mulheres. Porque sim, a maioria das mulheres tem dois empregos a tempo inteiro. Ainda há muito machismo, ainda há muito preconceito, ainda há muitos entraves a que uma mulher consiga conciliar um plano de treinos e uma família e uma carreira.

      A pouco e pouco, as mentalidades vão mudando. E eu tenho esperança de ainda estar cá a tempo de assistir a um maior equilíbrio nesse aspecto. Seja para que as mulheres possam ir correr, seja para fazerem o que quer que seja que lhes apeteça. Mas que não deixem de o fazer por falta de possibilidade para isso!...

      Aproveito sim! Que sei bem o que muitas mulheres passaram, para hoje nos podermos dar a esse luxo :)

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  3. Venho tarde mas vou dar o meu bitaite na mesma!

    Concordo em absoluto, claro, com os dados fantásticos e muito bem apoiados do João, e dou apenas estes contributo: venho do atletismo, federado na associação distrital de Santarém.

    E havia muitas raparigas, em alguns casos até bem mais que rapazes.

    Por exemplo, em Rio Maior, com a fantástica equipa de marcha (ainda treinámos conjuntamente com a maravilhosa Susana Feitor e restante equipa) era maioritariamente feminina, pelo menos enquanto iniciados, juvenis e juniores.

    E repara que o uso de "rapazes e raparigas" não foi inocente.

    À medida que avançávamos no escalão etário a proporção de atletas femininas diminuía.

    Questões sociais, gosto, enfim, o João descreveu muito melhor que eu faria.

    Em Portugal, além da paupérrima cultura desportista que temos, muitas das provas também são promovidas como "duras", "a mais difícil", e isso afastava quem está menos preparado.

    Mas o futuro é cada vez mais cor-de-rosa (pumba, cliché do dia), menos agora que está muito cinzento.

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    1. Muito pertinente este teu comentário e essa partilha de uma realidade que desconhecia :)

      Acho que é mesmo uma questão social, então... A partir de certa altura, as mulheres dedicam-se a outras coisas e o desporto fica para trás. Mas é pena, porque temos tão bons e grandes exemplos no Atletismo português!

      Olha, o dia hoje está mais azul. Pode ser que seja passageiro e que o rosa volte a dominar!

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