Nos últimos tempos, tenho falado com algumas pessoas sobre as suas relações. Não sei exactamente por que falam comigo sobre este tema, mas já pensei abrir um consultório sentimental. Já houve, inclusivamente, quem em tempos me enviasse emails através do blogue, pedindo ajuda com dúvidas amorosas, às quais eu tentei responder o melhor que sabia. O que acham? Inauguramos aqui a rubrica "Divã da Agridoce"?... Ou continuo a falar sobre bolhas?
É que não deixa de ser curioso que eu, doutorada em relações falhadas e divorciada desde os 27 anos, ande a dar opiniões sobre relações alheias... Curioso, irónico e sem sentido, talvez.
Apesar de, claramente, não perceber nada de relações, gosto de pensar sobre elas. E tenho pensado recentemente sobre a quantidade de gente que vejo à minha volta que põe fim a relações de anos e anos (com ou sem filhos), ou que não chega sequer a ter grandes relações fruto de uma qualquer incapacidade ou fruto de uma certa falta de vontade.
Será que nos tornámos mesmo permanentemente insatisfeitos? É cansativa esta coisa de estarmos sempre a questionar tudo, à procura de mais, à procura de melhor. Quando é que deixámos de saber apreciar o que temos para nos perdermos a pensar no que poderíamos ter?
Por outro lado, também deixámos de ser conformados. Também deixámos de aceitar toda e qualquer migalha que alguém nos dê, também aprendemos a lutar pelos nossos direitos, também passámos a ter consciência do nosso valor e daquilo que merecemos.
O problema? O problema é traçar a tão fina linha que separa estes dois mundos. É conseguir perceber quando chegou a hora de nos darmos por satisfeitos e pararmos de procurar algo melhor. Haverá sempre algo melhor, mas também poderá haver algo pior. E nunca haverá nada perfeito.
Cansa, esta coisa de viver.
Somos bombardeados diariamente com objectivos de felicidade, toda a gente nas redes sociais é fantástica e espectacular e "tal".
ResponderEliminarComo tal a fasquia está supostamente muito alta.
Além disso, actualmente é tudo imediato e ter uma relação e MANTER a mesma dá trabalho.
Lembrei-me desta:
https://youtu.be/zC30BYR3CUk
Então para ser feliz é preciso trabalho? Ou será que é o outro do lado que está errado?
Deixámos de ser conformistas?
Talvez, os números e as estatísticas de violência entre casais jovens não sei se não contrariam essa percepção.
E pronto, a partir de agora só respondo ao tema bolhas e suas derivações.
Posso abrir excepções para unhas negras ou a cair.
Acho que o problema é exactamente esse. É esta exposição tremenda a vidas "perfeitas", que nos fazem questionar a nossa vida "imperfeita".
EliminarSer feliz dá trabalho, e estamos a criar gerações que não sabem o que é isso de ter trabalho para o que quer que seja….
Quanto à violência entre casais jovens, não sei o suficiente sobre o tema. Fico sempre na dúvida: ela aumentou de facto, ou o que aumentou foi a coragem para a assumir e divulgar?... Felizmente, hoje em dia fala-se mais sobre os temas da violência, entre jovens e não só, e há mais gente a denunciar.
Voltemos às bolhas e unhas!
(2 dias depois da Maratona de Madrid ouvi os Arcade Fire lá ao vivo… e que concerto!!! Só mesmo eles para me porem aos pulos 2 dias depois de uma Maratona!... Obrigada por me trazeres essa memória de novo)
Ora aqui está um tema que está muitas vezes em cima da mesa lá por casa. Acho que juntando o teu texto com o comentário do "JNR" (Boas Hélder, tudo bem?) está tudo dito. Hoje em dia é tudo tão perfeito (de fachada) que qualquer coisinha que saia dessa "perfeição" é o suficiente para saltar fora. É só olhar à nossa volta … tantos amigos e amigas, conhecidos e conhecidas, pessoas bonitas, inteligentes, interessantes e sozinhas … e infelizes com isso. É estranho, no minimo …
ResponderEliminarE essas bolhas? ;)
Esta sociedade anda mesmo estranha… Não sei se melhor, se pior…
EliminarEstão péssimas, depois do treino de hoje :/
Como se calahr já lesta no blogue eu e o Ricardo estivemos assim em dias menos bons. Crianças são sempre um stress extra e nunca boa ideia para salvar relações porque o mais provável é que acabe com a mesma!
ResponderEliminarDepois como já és doutorada em relações falhadas, sabes o que falhou e talvez seja mais fácil identificares essas falhas nos outros.
O meu conselho é super cliché mas é "falar", quando me dizem algo, mesmo em relação a relações de trabalho eu pergunto sempre se já falou com a outra pessoa sobre isso, a maioria das vezes não e eu acho esse o grande erro! Temos sempre de falar com a pessoa em causa, principalmente se é a pessoa com quem vivemos/namoramos. Nada se faz sem conversar e timming é fulcral porque andar a arrastar só torna tudo por e mais difícil!
Mas sim, Divã da Agridoce parece bem ;)
A comunicação é mesmo fundamental. Não é cliché! Ter essa capacidade de falar, do que se passa, e, sobretudo, de ouvir.
EliminarSobretudo em fases mais difíceis, como essa que viveram, se não houver essa comunicação, o fosso só fica cada vez maior…
Ainda bem que já passou convosco :)
Se as pessoas vêm ter contigo para falar sobre os seus problemas, é que sentem em ti uma pessoa que sabe escutar. E o não saber escutar, em muitos casos, é a falha numa relação. O saber escutar e compreender que há outro ponto de vista, o que não é necessariamente algo que separe mas complemente.
ResponderEliminarO que noto é que há a tendência para se ir para o mais fácil, acabar tudo, em vez de trabalhar para conciliar. E isto porque muita gente pensa em primeiro lugar em si, de seguida em si, e só pensa no outro se lhe poder dar jeito. Um casal pode amar-se mas precisa de outra condição muito importante, serem amigos. E amar e ser amigo não é a mesma coisa, são dois factores ambos imprescindíveis. E há quem consiga desabafar com amigos mas não com a respectiva cara-metade, exactamente por faltar essa condicionante.
Ora tu sabes ouvir, provavelmente sem julgar, e isso atrai as pessoas, independentemente de te auto-intitulares como "doutorada em relações falhadas". Tens é que pensar que neste momento estás numa boa relação e que muitos bons nutricionistas não são propriamente elegantes :)
Beijinhos e um óptimo fim-de-semana
Eu para escutar devo ter jeito, sim… Fosse eu tão boa a falar como a ouvir, e a minha vida seria mais fácil :)
EliminarNão só nas relações amorosas, mas em tudo na nossa vida, estamos a ir cada vez mais pelo mais fácil, pelo mais simples, pelo que dá menos trabalho… E isso raramente é bom!...
A capacidade de nos pormos no lugar do outro é algo que não é fácil, mas que é imprescindível em toda a nossa vida. Se conseguirmos fazer isso, e se conseguirmos ouvir o outro, já é meio caminho andado.
Ahahahah! Adorei a tua última referência :)
Um beijinho, João!