Santa Maria. A ilha do Sol. A ilha mais oriental dos Açores. A ilha mais antiga dos Açores e a primeira a ser avistada.
É uma ilha pequena, com apenas 97 quilómetros quadrados e com um comprimento máximo de menos de 17km. Sim, Santa Maria é mesmo uma ilha pequena. Para quem vive em Portugal continental e, para mim, que vivo em Lisboa, faz-me alguma confusão imaginar o que é viver num sítio tão pequeno. Mas há cerca de 5000 pessoas que lá vivem. E gostam.
Eu sou suspeita, claro, não só pelos motivos óbvios mas porque (ainda) não conheço todas as ilhas dos Açores. Não vos vou dizer que é a ilha mais bonita dos Açores. São os próprios marienses que dizem que a mais bonita é a ilha das Flores. Mas é muito bonita, é muito especial, é muito peculiar.
Santa Maria é uma ilha de muitos contrastes, de muita diversidade, de muitas paisagens que nos surpreendem, por serem únicas. Há zonas da ilha que nos fazem duvidar se estaremos mesmo nos Açores. Outras há que são tudo o que esperamos deste arquipélago e mais ainda.
Não me vou alongar com descrições históricas, que é para isso que o Google serve, nem com grandes e complexas considerações, que não é para isso que me pagam.
Santa Maria, para mim, foi um turbilhão de emoções. Vivi momentos incríveis, vivi momentos em que me faltou o ar e só queria fugir. Foram altos e baixos. Muitos altos muito altos. Alguns baixos muito baixos. Mas foi uma viagem que já andava a adiar há demasiado tempo.
Contextualizando: eu nasci em Santa Maria, vivi lá até aos 3 anos, e depois ainda lá voltei, mas já lá não ia há cerca de 25 anos. Toda uma vida, portanto.
Não me lembrava de grande coisa. Com o passar dos dias, foram surgindo alguns flashes e algumas memórias. Lembrava-me do porto, que agora está completamente diferente. Lembrava-me da Praia Formosa. Lembrava-me da zona do cinema, da igreja, do Clube Ana e do Clube Asas do Atlântico. Lembrava-me, vagamente, da casa e da rua onde morava a ama do meu irmão. Não me lembrava de muito mais. Foi bom voltar aos sítios de que me lembrava, foi ainda melhor ir descobrir sítios novos, e apaixonar-me por aquela ilha. A ilha a que tenho a arrogância de chamar minha.
Chegámos a Santa Maria na quinta-feira, à hora de almoço. E, logo no aeroporto, fui muito bem recebida! Tinha à minha espera aquela que foi a minha ama, enquanto lá vivi, e que não me via há demasiados anos. Foi muito bom sentir-me assim e foi fácil sentir-me logo em casa.
Fomos à Pousada da Juventude pousar as coisas e apaixonei-me logo pela vista do quarto: verde, vacas e o mar. Muito mar. Mas já era tarde e a fome era muita. A opção foi A Travessa. Não há muitas opções em Vila do Porto, mas ainda há algumas, e eu já ia de Lisboa com uma lista das mais interessantes. A Travessa não desiludiu e, já de barriga cheia, voltámos para a Pousada para descansar e dormir a sesta, claro está. Não sem antes passar no supermercado, para eu comprar (a primeira dose de) Mulatas.
Ao final da tarde, e porque estávamos a 2 dias da prova, fomos fazer um mini treino de reconhecimento, aproveitando o facto de a prova mais longa, a que dava a volta à ilha inteira, partir mesmo junto ao sítio onde estávamos. Pelo caminho, já se encontravam as marcações, e decidimos segui-las. Foi uma forma de esticarmos as pernas e, ao mesmo tempo, de começarmos a deliciar-nos com o que a ilha tinha para nos oferecer.
Entretanto, o Sol começou a pôr-se e ainda deu para algumas fotografias e paisagens incríveis. Tomámos um duche rápido e já tinha a minha ama à minha espera para começar a volta pelas "capelinhas". Dizia ela, que havia muita coisa que me queria mostrar, e que havia muita gente que me queria ver. Andámos às voltas, fizemos algumas visitas, e ela mostrou-nos algumas coisas, incluindo a casa onde eu vivi. Depois de todo este mini roteiro turístico pela Vila, fomos jantar.
E, neste dia, jantámos no Central Pub. É difícil ir a Santa Maria e não ir ao Central Pub. E vale mesmo a pena lá ir! É um sítio curioso, com uma decoração muito própria, onde são notórias as influências americanas (na ilha há muitos emigrantes que estiveram nos EUA e no Canadá), e onde são famosas as pizzas e o brownie. Pois que as pizzas merecem toda a fama que têm! São enormes, muito saborosas e baratas, como se quer. É um ponto de encontro para comer qualquer coisa, para tomar café, para beber um copo, com gente de todas as idades. Ficámos fãs.
Como estávamos cansados e queríamos acordar cedo, acabámos por nos deitar relativamente cedo. O dia seguinte, sexta-feira, era o dia que tínhamos para explorar e conhecer a ilha.
Começámos pelo Norte da ilha, pelos Anjos, depois seguimos em direcção ao Barreiro da Faneca, e ainda fomos à Ermida de Nossa Senhora de Fátima, onde iria começar a minha prova no dia seguinte. De toda a parte, em todos os caminhos, as vistas eram indescritíveis.
Alguém falou em vento e mar agitado?!
Continuámos a contornar a ilha pelo Norte, em direcção à zona oriental, e passámos pelo Miradouro das Lagoinhas. Daí, seguimos para a Baía de São Lourenço, uma das vistas mais conhecidas de Santa Maria, e ainda passámos no Poço da Pedreira, um lugar mágico, escondido, tão sereno e tão bonito!
Voltámos para a Vila para almoçar, fomos levantar os dorsais, e continuámos o nosso passeio, tendo como destino o Pico Alto, o ponto mais alto da ilha (onde as outras duas provas iam passar). Foi curioso estar lá em cima, ter vista a 360 graus para toda a ilha, e poder ver onde ia começar e terminar a minha prova. Visto assim, tornou-se mesmo real e, convenhamos, meio assustador... Nunca tinha tido esta experiência, de poder ver do alto todo o percurso que ia fazer numa prova, e foi mesmo especial!
Seguimos depois para o Farol de Gonçalo Velho, outro marco da ilha, já em Santo Espírito, onde depois fomos ver a zona da Maia, e a famosa Cascata do Aveiro (que não há foto que lhe faça justiça...).
À noite, jantámos no que é tido como um dos melhores restaurantes da ilha: Espaço Em Cena. Foi pena estarmos em modo véspera de prova e não podermos comer tudo o que nos apetecia... Mas fiquei com vontade de lá voltar, e o próprio espaço merece uma visita, pela decoração, pelo ambiente, pela quase estranheza que um espaço tão diferente naquela ilha nos causa. Comi uns hambúrgueres de peixe porco que estavam óptimos! E, para a sobremesa, um crumble de pêra com gengibre que estava qualquer coisa!...
O dia seguinte foi dia de prova, e já disse mais do que suficiente sobre isso. Dizer apenas que a noite terminou com um muito simpático jantar de entrega de prémios, com uma sopa de peixe maravilhosa e um ambiente muito bom!
No Domingo, dia de regresso, ainda houve tempo para as últimas visitas a quem não podia deixar de visitar, e ainda fui ver a casa onde eu vivi quando nasci. Hoje em dia, a visão é meio assustadora, porque está tudo ao abandono e em vias de ser destruído. Mas diz quem sabe que, há 35 anos atrás, havia ali um bairro muito particular, com uma comunidade engraçada de quem trabalhava no aeroporto e ali vivia, por serem maioritariamente pessoas do "continente" que ali estavam desterradas.
Não nasci para as poses de blogger...
Ainda demos um salto à Praia Formosa, uma praia muito especial pelas suas areias claras (contrariamente ao que acontece na maior parte das praias dos Açores), e onde se realiza o Festival Maré de Agosto. Nesta altura do ano tem muito pouca areia, mas no Verão vale a pena!
Seguiu-se um almoço muito especial, em casa da minha ama, que fez questão de cuidar de mim, como se eu ainda fosse pequena. Comemos tanto e tão bem!... E ainda vim carregada para Lisboa, pois claro. Malassadas, búzios, biscoitos, bolo de pão... Todas as calorias gastas no trail já estavam recuperadas antes mesmo de regressar a Lisboa!
Santa Maria é uma ilha pequena, de facto. Mas é uma ilha cheia de recantos e pérolas escondidas, que é impossível transmitir aqui. Santa Maria é, também, uma ilha de gente simpática, genuína e humilde, que gosta de bem receber. É uma ilha em que facilmente nos sentimos bem, onde nos deslumbramos, onde comemos maravilhosamente. Sim, sou suspeita. Mas, se puderem, não deixem de lá ir!
Eu, vim de lá com a promessa de não voltar a estar tanto tempo sem lá ir, isso é certo.