domingo, 31 de dezembro de 2017

Do ano que hoje termina e do ano que amanhã começa...

Pela primeira vez, desde que me lembro, não quero que um ano acabe. E não quero que comece um novo.

Habitualmente, anseio por um novo ano, por novas possibilidades, por novos dias, por tudo o que aí vem, por todos os sonhos e planos.

Este ano, não. Este ano gostava de ficar em 2017, cristalizada no tempo, em suspenso, sem daqui sair.

2017 foi um ano demasiado bom. Em tantos níveis diferentes. 2017 foi um ano feliz, um ano sereno, um ano de tantos sorrisos e memórias boas. 2017 não me levou nenhuma das minhas pessoas, e isso, por si só, é um luxo. Levou outras, tantas, mais ou menos próximas. Mas não me levou as minhas. E só posso estar grata por isso. 2017 trouxe-me outras pessoas. Muitas, tantas. Mais do que as que levou. E também só posso estar grata por isso. 2017 teve passeios, viagens, mergulhos no mar, concertos, piqueniques, jantares e copos, risos e gargalhadas. E também estou grata por isso. 2017 teve uma mudança de emprego, que tão bem me fez. 2017 obrigou-me a rever crenças, a deixar de lado medos e receios, a voltar a acreditar. 2017 teve lágrimas de alegria, teve emoções fortes, teve Van Gogh, teve muitas corridas, teve pores-do-sol, teve sushi sem fim, teve beijos, abraços e sorrisos. Faço um esforço, um esforço muito grande, e não me lembro de nada verdadeiramente mau que tenha acontecido em 2017. E isso, é um luxo tão, tão grande. Tão maior do que o que eu mereço.

E é por isso. É por isto tudo e mais ainda que não me lembro, que eu não quero sair de 2017.

Porque 2018 é uma incógnita. Porque há demasiadas dúvidas em cima da mesa. Porque ninguém sabe o que 2018 trará e o que se prevê não é muito bom. Queria muito estar feliz e dizer que vêm aí mais 365 dias cheios de possibilidades e coisas boas. Mas não sei. Eu não sei o que aí vem. E tenho medo de descobrir.

Para 2018 desejo-vos tudo o que quiserem mas desejo, sobretudo, a única coisa que este ano vou pedir para mim e para as minhas pessoas: saúde. Só isso. Que 2018 seja generoso nesse campo. O resto? O resto vem.

sábado, 30 de dezembro de 2017

Das corridas... - XLI

Estava eu aqui esticada no sofá, a tentar dormir cinco minutos, quando a minha mente começou a divagar e eu achei que era boa altura para vir aqui escrever qualquer coisa e fingir que este blogue não morreu.

E em que pensava eu? Que detesto treinar de manhã. De-tes-to. Gosto mesmo é de treinar ao fim do dia, para descomprimir depois de um dia de trabalho.

Mas... Eu também detesto provas ao fim dia. De-tes-to. Esta coisa de ontem ter ido para uma prova às nove da noite e de hoje ir para uma às cinco e meia da tarde, não é para mim. Gosto mesmo é de provas às nove da manhã, dez no máximo.

Pode parecer insano, mas faz todo o sentido, na verdade.

E agora vou indo, que o Marquês espera por mim.

domingo, 24 de dezembro de 2017

Dos meus votos...

Aprendi com o tempo que a forma como vivemos esta época é muito pessoal, muito nossa, e pode assumir mil feitios e estados de espírito.

Assim, só desejo que cada um tenha o Natal que deseja, com mais ou menos gente, com mais ou menos paz, com mais ou menos comida, com mais ou menos presentes.

Sejam felizes e façam os outros felizes!

quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Das músicas que eu canto...



Já por duas vezes dei com a colega que está sentada à minha frente a olhar para mim estupefacta, porque eu começo a cantar isto e nem dou por nada.

Acordei com isto na cabeça. E sim, é um estado de espírito.

sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

Do meu estado actual...

No escritório, de janela aberta, a ouvir o concerto que o Jorge Palma está a dar nos Armazéns do Chiado.

Eu bem disse que não acabava 2017 sem o ouvir ao vivo... Foi o que se arranjou!

quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

De como eu me deixei de certezas e me perdi em possibilidades...

Depois de ti, eu achei que uma parte de mim tinha sido irremediavelmente destruída. 

E, possivelmente, foi mesmo. Mas talvez o coração seja uma das partes do nosso corpo que se auto-regenera.

Depois de ti, eu achei que jamais seria capaz de voltar a confiar.

E, possivelmente, tinha razão. Mas a vida ensinou-me que viver em desconfiança não é viver. É arrastarmo-nos na incerteza dos dias, de dúvida em dúvida.

Depois de ti, eu achei que isso do amor era para os outros.

E, possivelmente, é mesmo. Mas não quer dizer que, teimosa como sou, eu não queira voltar a tentar.

Depois de ti, eu achei que não valia a pena o esforço, o risco, a possibilidade (que eu creio tão elevada) de voltar a passar pelo mesmo outra vez.

E, possivelmente, não vale. Mas, e se valer?

quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

Dos sítios onde eu vou... - IV

MACBETH

A semana passada fui assistir à estreia de Macbeth, no Teatro Nacional D. Maria II. E não, não é do Tiago Rodrigues. É do Nuno Carinhas, o que faz toda a diferença.

É um clássico. Um clássico reinventado numa encenação pouco clássica, mas um clássico.

As minhas expectativas não eram particularmente elevadas. Estava curiosa em relação ao João Reis e pouco mais. Como tal, também não saíram defraudadas.

É uma peça a que fui assistir, essencialmente, porque nunca tinha visto esta obra em palco e porque, com o cunho do São João, sabia que a qualidade era garantida.

E cumpriu com o que eu esperava. É um bom espectáculo, com bons actores, com uma encenação bem conseguida apesar de pouco convencional, com figurinos também pouco consensuais, mas, no geral, é uma peça bem conseguida e com pormenores interessantes.

Se gostam deste tipo de teatro, vão ver. 

segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

Das corridas... - XL

Então e o Trilho Saloio? Não fui.

Então e o Trail de Alcanena? Não fui.

Este é o ano das provas em que me inscrevo e não vou. Já são 4 assim. Vá, 3, que o Trilho Saloio não conta.

Quis o meu corpo deixar-se atacar por umas quaisquer bichezas, que me deixaram de cama e com febre na sexta-feira e no sábado, e que tornaram toda e qualquer participação em toda e qualquer prova em algo pouco inteligente e recomendado. E eu, que tomo decisões pouco inteligentes mais vezes do que aquilo que seria expectável e aceitável, desta vez, achei por bem ouvir a voz da razão (não a minha, naturalmente), e deixei-me ficar em casa.

E o que eu me arrependi!... Diz que o Trail de Alcanena foi para lá de espectacular e eu fiquei mesmo triste por não ter ido! Sobretudo, porque ainda tive quem se metesse comigo a dizer que até podia ter conseguido uma boa classificação!... Claro que isso só aconteceria porque a concorrência era fraca mas... O que é que isso interessa?!

Terá de ficar para o próximo ano, pois claro. E, na loucura, até pode ser que para o ano eu, efectivamente, treine qualquer coisita. Ou não, pois claro.

Para já, gostava de conseguir voltar a respirar, deixar de tossir, e conseguir voltar a treinar esta semana, porque domingo há prova das localidades, e a essa não posso mesmo faltar. Nem que vá lá arrastar-me! O que me começa a parecer algo muito provável... Mas veremos!

domingo, 3 de dezembro de 2017

Das corridas... - XXXIX

Hoje foi dia da 1ª São Silvestre de Corroios.

Saí de casa e estavam 5 graus. E eu só pensava em voltar para a cama. Eu só pensava no pouco que tinha dormido. Eu só pensava no sofrimento que ia ser correr com tanto frio. Eu só pensava no jantar e no vinho da noite anterior. Eu só pensava que é preciso ser muito louco para sair de casa a um Domingo, tão cedo e com tanto frio.

Mas lá fui.

E... Parabéns à organização! Estacionamento de sobra, levantamento de dorsais a demorar 2 minutos, tudo bem indicado, casas-de-banho a sério, muita gente da organização por toda parte a esclarecer todas as dúvidas, e um ambiente muito bom!

Como tinha dito por aqui, eu nunca tinha estado em Corroios. Só fui porque a prova era gratuita e pela piada de ir correr num sítio novo. Mas, sendo um sítio novo, não sabia bem o que esperar. Há sempre um certo conforto em corrermos em sítios que já conhecemos, porque sabemos quais os troços difíceis, quais os fáceis, quando sobe, quando desce... Mas também há um certo encanto nesta descoberta do desconhecido.

O meu objectivo da prova era simples: fazer melhor do que na Corrida do Aeroporto. O que não era difícil, convenhamos... 

No entanto, teve a sua piada quando hoje concluí que esta foi apenas a terceira corrida de 10km que fiz este ano. O ano passado, perdi-lhes a conta!... Este ano, com os treinos para aquela que nós sabemos, e com as incursões pelo trail e por outras provas mais longas, as provas de 10km ficaram de lado, e só na recta final do ano é que estão a ser retomadas.

Isto tudo para dizer que estou um pouco desabituada deste tipo de provas e do que é gerir as mesmas, pelo que não sabia bem o que esperar. Mas... Tirei três minutos ao tempo do Aeroporto! Não sei como. É possível que tenha sido o frio a fazer-me correr mais depressa. Juro que nunca tive tanto frio numa prova e não me lembro da última vez que tinha corrido com uma camisola por cima da tshirt. Eu sou pessoa para correr sempre o mais fresca possível e hoje não consegui. Hoje, acho que não cheguei a aquecer. Além do muito frio que estava, estava imenso vento, e a prova tinha muitas zonas de sombra.

Mas... Sobrevivi! E acabei a sentir-me bem. Com a estúpida, mas já habitual, sensação de que podia ter feito melhor.

Mas vamos acreditar que estou simplesmente a guardar-me para o trail da próxima semana... Wish me luck!

E, ao escrever isto, lembrei-me agora que antes do trail da próxima semana, ainda tenho o Trilho Saloio em Sintra. Há pessoas que aproveitam os fins-de-semana grandes para ir passear e descansar. Depois há as que aproveitam para fazer duas provas.

Podia ser pior.

sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

Do mês que hoje começa e do Natal que aí vem...

Dezembro. O último mês do ano. Para muitos, o fecho de um ciclo. Para muitos, o mês das correrias e das tentativas, geralmente, frustradas de fazer tudo o que não fizeram nos outros 11 meses que ficaram para trás. O mês do Natal. O mês dos feriados e dos fins-de-semana grandes.

Eu gosto de Dezembro. Gosto muito. E gosto muito também do Natal, já se sabe. Já decorei a casa a semana passada, já comecei a preparar as coisas que vou oferecer e, apesar de ainda faltarem 24 dias, acho que começo a estar atrasada. Mas tento não pensar demasiado nisso.

Este ano, para mim, quero que o Natal seja diferente. Quero um Natal com menos consumismo. Quero um Natal com aquilo que, para mim, ele deve ter: partilha, solidariedade, convívio, as minhas pessoas, paz, tranquilidade. Não quero um Natal de excessos, não quero um Natal de presentes, não quero um Natal de correrias, não quero um Natal de obrigações.

O ano passado, escrevi isto. Este ano, o sentimento mantém-se.

Este ano, não vou comprar presentes. Vou fazer coisas, muitas coisas, para oferecer pequenas lembranças e cabazes de Natal. E vou pegar no restante dinheiro que gastaria em presentes e vou doá-lo a diferentes associações e projectos que ajudam aqueles que, ao contrário de mim, não são uns privilegiados e não vão ter um Natal como o meu. Não vão ter uma mesa com mais comida do que aquela que alguém consegue comer, não vão ter uma casa quente, não vão ter uma sala com um chão coberto de presentes. Não vão ter nada daquilo que eu, habitualmente, dou como garantido e a que, tantas vezes, me esqueço de dar o devido valor.

Este ano, eu quero que o meu Natal seja diferente. Se alguém se quiser juntar, este é um dos projectos que vou ajudar. Podem contactar directamente o responsável ou podem falar comigo que eu articulo as entregas.

Que o vosso Dezembro seja tranquilo e que o vosso Natal seja feliz!

quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Das corridas... - XXXVIII

Então e tens corrido, Agridoce?

Pouco. Muito pouco. Mas tenho imensas provas na agenda. Há dias alguém me perguntava: “Mas tu não treinas? Só vais a provas?”. Sim, é mais ou menos isso.

Fiz a Corrida do Aeroporto (29 de Outubro), depois foi aquela espécie de trail na Quinta do Gradil (11 de Novembro), e, mais recentemente, a prova de Porto Salvo do Troféu de Oeiras (26 de Novembro). Nos entretantos, treini cinco vezes. Uma loucura, portanto!

Depois de ter desistido daquela prova que nós sabemos, entrei em modo birra com a corrida. Mas parece que a birra se está a acabar, até porque ainda faltam 5 provas até ao final do ano, e hoje desafiaram-me para mais uma. Talvez seja boa ideia começar a treinar… Ou então não, que no meio de tanta prova, quilómetros nas pernas não me vão faltar!

A próxima? São Silvestre de Corroios. Nunca fui a Corroios, nem sei bem onde fica, mas a prova era gratuita e pareceu-me um bom programa. 

Depois conto se foi ou não.

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Dos sítios onde eu vou... - III

No espaço de menos de um mês fui duas vezes ao Coliseu dos Recreios.

Não deixa de ser curioso que tenha trabalhado cinco anos muito perto do Coliseu e nunca lá tenho ido (uma ida ao circo com os meus ex-enteados não conta propriamente), e, agora, dois meses e meio depois de ter mudado de emprego, já lá fui duas vezes e é certo que lá volto este fim-de-semana.

O Coliseu é, para mim, uma sala muito especial. Foi lá que vi os Radiohead, no longínquo ano de 2002. Foi lá que vi os Silence 4, por duas vezes, no ainda mais longínquo ano de 2000. E foram todos concertos muito, muito bons. E muito, muito felizes. O dos Radiohead é, e continuará a ser sempre, um dos melhores concertos a que já assisti (e já lá vão muitos!).

E depois estive muitos anos sem lá ir. Mesmo muitos. Porque, a partir de certa altura, comecei a trabalhar ligada ao mundo dos espectáculos, e comecei a deixar de ir a outros espectáculos que não aqueles a que tinha de assistir, porque era paga para isso, salvo raríssimas excepções. E nunca houve nada que me levasse ao Coliseu.

Depois a vida deu voltas, eu deixei esse trabalho, a vida deu mais voltas, e eu dei comigo a voltar ao Coliseu.

Primeiro, The National. Depois, Father John Misty.

Dois concertos completamente distintos. Dois concertos incrivelmente bons.

Não estava particularmente entusiasmada com o concerto dos The National, mas acabou por ser muito bom! Um Coliseu esgotado, uma plateia ao rubro e um Matt Berninger completamente louco, fizeram um concerto muito animado, cheio de boa energia.

Já para Father John Misty as expectativas eram elevadíssimas e andava a ouvir o possível alinhamento em loop há já uns dias. E gostei tanto! Foi diferente, foi mais calmo, com muito menos interacção com o público (o único ponto menos positivo), mas o Josh Tillman é o Josh Tillman e tem uma voz inacreditável!

Depois de tantos anos sem lá ir, o Coliseu continua a ser um lugar de memórias felizes. Um lugar de bons concertos, de muito boa companhia e de muitas emoções.

Que assim continue.

terça-feira, 21 de novembro de 2017

Dos dramas da minha vida...

A pessoa tinha grandes planos para o próximo fim-de-semana: ficar barricada em casa; trocar a roupa de Verão e de Inverno; fazer uma selecção de roupa a dar, deitar fora e a ser substituída; destralhar a casa no geral; colocar as decorações de Natal; testar mais receitas de bolachas e começar as compotas para o Natal.

A pessoa ficou a saber que vai ao Vodafone Mexefest. Que são dois dias. Ou duas noites, vá. Mas são muitas horas.

A pessoa tem uma corrida Domingo.

A pessoa começa a achar que não vai fazer nem um terço do que era suposto no fim-de-semana.

Dá para atrasar o Natal só um bocadinho?

sexta-feira, 17 de novembro de 2017

Dos sítios onde eu vou... - II


Ontem fui ao Teatro Nacional D. Maria II. Ver o quê? A peça Sopro. De quem? Do Tiago Rodrigues. Só podia, claro. Nas últimas seis vezes em que fui ao teatro, em três fui ver peças dele. Detecto aqui um padrão talvez não muito saudável mas, fazer o quê? Gosto dele e do trabalho dele, e hei-de continuar a ir ver tudo quanto possa dele.

O que dizer de Sopro? Bom, começar por referir que as expectativas estavam muito altas. Demasiado, até. Toda a gente dizia maravilhas da peça, houve mesmo quem dissesse que era o melhor trabalho dele, as críticas eram incríveis. 

Já todos sabemos o que acontece com as expectativas: saem muitas vezes defraudadas. Não é por mal. Elas não têm culpa, coitadas. Mas é o que acontece.

E foi o que aconteceu. Se eu gostei da peça? Gostei. Gostei muito, até. Mas não é o melhor trabalho dele. Não é aquela peça que me deixe de boca aberta, como outras deixaram. É uma peça muito boa, é uma homenagem lindíssima à Cristina Vidal (figura quase invisível com quem tantas vezes me cruzei nos bastidores), e, diria mesmo, uma homenagem a todos os invisíveis do teatro (e não só). É uma viagem pelo tempo, é uma peça cheia de detalhes deliciosos e notas humorísticas, como é hábito no Tiago Rodrigues, é uma peça na qual os momentos de tensão estão muito bem conseguidos, é uma peça com uma Isabel Abreu brilhante, como sempre, é uma peça com uma surpresa (para mim) com o nome de Beatriz Brás, é uma peça muito bem conseguida, no geral.

Mas eu, na minha opinião muito minha, não achei uma peça extraordinária. E, do Tiago Rodrigues, eu não espero nunca menos do que algo extraordinário!

O problema sou eu, não é a peça.

Ide ver, se ainda forem a tempo!

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Do Quinta do Gradil Wine Trail Run

No passado Sábado participei no Quinta do Gradil Wine Trail Run, no Cadaval.

Já tinha saudades de uma prova de trail, estava super entusiasmada, era a primeira vez que ia fazer 20km, e tínhamos um grupinho giro (6 adultos e 4 crianças). As expectativas eram altas!

Se a prova correspondeu às expectativas? Depende do ponto de vista.

Se pensarmos no evento como um evento de promoção de vinhos que, por acaso, tinha um passeio pelo monte, foi espectacular. Se pensarmos no evento como uma prova de trail que tinha um almoço no final, foi péssimo.

A coisa começou logo mal ao início, com um caos no levantamento dos dorsais e uma organização inédita: quatro filas, divididas por ordem alfabética. Nunca tinha visto tal coisa. E não funcionou. A prova começava às 10h e eu só tive o meu dorsal na mão às 10h10. E cheguei lá às 9h15, não cheguei exactamente tarde. Estávamos a preparar-nos para ir pôr as coisas ao carro, porque tinham anunciado que ia começar mais tarde, quando alguém exclama: “Olhem! Já começou!”. Pois. O que vale é que o carro estava ao lado da partida. Ainda deu para uma selfie e lá fomos nós. Ou melhor, lá fui eu. Éramos três nos 20km e eu, como sempre, era a mais lenta. Começámos logo com uma subida jeitosa e eu resolvo parar para tirar uma fotografia. Quando dou por mim, só estavam meia dúzia de pessoas atrás de mim. É sempre bom começar uma prova nos últimos!...

A prova seguiu-se, com muito sobe e desce, com muito estradão. Não era particularmente difícil, não era nada técnica, não tinha subidas nem descidas de levar as mãos à cabeça, não tinha grande lama. Foi uma prova morna. O segundo abastecimento estava mais longe do que era suposto, mas uma pessoa começa a habituar-se a isso, não é verdade? Neste caso, só me custou porque vinha com os ténis a magoar-me e tinha decidido que só ia tratar disso quando chegasse ao abastecimento. Foram 2km a sofrer… Mas lá se resolveu.

A propósito de abastecimentos, eram fracos. No primeiro havia água e fruta, mas nem se dava por ela (pela fruta, leia-se). No segundo só havia água. Eu sei que estou mal habituada, mas em trail costuma haver mais umas coisitas, sobretudo para 20km. Mas eu ia prevenida e foi o que me valeu!

Em geral fiquei desiludida, de facto, porque a organização falhou em muita coisa e ainda estou para perceber se o percurso estava mal marcado ou se, em algum momento, um dos voluntários se esqueceu de dividir o pessoal dos 12km e o dos 20km. O que é certo é que a coisa correu mal. Ao chegar à Quinta do Gradil, e depois da parte gira de passarmos por dentro das adegas, e já com cerca de 13km feitos, mandaram-nos subir um monte pelo meio das vinhas, e voltar a fazer uma parte do percurso que já tínhamos feito. Até aí, tudo bem. O problema é que demos essa voltinha e voltámos ao mesmo sítio, e mandaram-nos fazer a mesma volta outra vez. E foi aqui que eu comecei a perguntar-me como raio é que eles iam controlar quantas voltas é que cada um já tinha dado e como é que nós saíamos daquele loop infinito e chegávamos à meta. Mas lá fui andando, até porque nesses últimos quilómetros até tinha arranjado companhia. Depois de dar duas voltas, e quando me preparava para fazer a terceira, porque ainda só tinha feito 17,5km, o voluntário diz-me: “Já deu duas voltas? Então não vale a pena dar mais. Pode ir por aqui em direcção à meta.” O “por aqui” era pelo meio do sítio onde estava a ser servido o almoço e onde estavam os atletas que já tinham terminado. Nada como uma prova de obstáculos para terminar, com zero apoio, e uma meta que terminava para lado nenhum e onde estavam apenas as três pessoas da organização. Surreal foi a palavra que eu mais usei. Porque foi. E surreal foi também o facto de dos três que fomos para os 20km, cada um ter feito uma distância diferente: 15km, 17,5km (eu!) e 20km. Talvez seja um conceito novo de trail freestyle: cada um faz a distância que quer! Escusado será dizer que as classificações e os prémios deram confusão e reclamações...  

Mas… Isto foi o trail em si. Seguiu-se o almoço.

O almoço era porco no espeto, servido no pão, com batatas fritas e salada, para os carnívoros. E um empadão de legumes, para os não carnívoros. Diz que o porco estava bom. Eu confirmo que o empadão estava bom. E havia sobremesa. E havia café. E havia castanhas (apesar de o tempo de espera ser, mais uma vez, surreal). E havia vinho. Muito vinho. E foi uma festa! Estive pouco mais de duas horas a correr, e estive mais de quatro horas à mesa a comer e a beber. Já disse que havia vinho? Havia vinho. Muito vinho.

Depois da grande maioria das pessoas se terem ido embora, ficaram uns quantos resistentes. E, aí, já não havia fila para as castanhas. E havia muitas garrafas sozinhas e abandonadas pelas outras mesas. Como estava com um grupo de gente boa, e como ao nosso lado estava um grupo de gente ainda melhor, não quisemos desperdiçar as pobres castanhas, nem deixar o vinho abandonado, e lá fizemos o sacrifício.

E valeu por esta parte! Valeu pelo convívio, pela festa, pelo bom ambiente, pela facilidade com que se mete conversa com as pessoas à nossa volta porque a malta da corrida é toda boa onda e quer mesmo é festa!

Se vou outra vez para o ano? Vou, pois! Por 15€ damos um passeio no monte, recebemos uma garrafa de vinho (prémio de finisher) e temos um almoço com vinho à discrição. Parece-me um bom negócio, não?


P.S. - outra nota positiva para a organização (porque nem tudo foi mau!) vai para o serviço de babysitting. Era gratuito e permitiu que os casais com quem fui pudessem levar as crianças. Caso contrário, o mais provável era nem terem ido à prova. Assim, correu bem e toda a gente se divertiu: as crianças nos insufláveis, os pais a subir os montes. 

segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Dos sítios onde eu vou... - I

Temos nova rubrica por aqui. Assim eu consiga mantê-la.

E onde é que eu fui recentemente? Fui a um concerto no Museu do Oriente.

Mais precisamente, fui ontem ao concerto "Liszt e Vianna da Motta a 4 mãos", pelas mãos das pianistas Anna Tomasik e Savka Konjikusic.

E gostei tanto! Já tinha saudades de ver e ouvir piano ao vivo, gostei muito das obras escolhidas e as pianistas eram extraordinárias! Se ver tocar piano já é o que é, a quatro mãos é coisa para me deixar mesmo de boca aberta... Como é que elas conseguem não se enganar, não se atropelar, não embaraçar braços e mãos umas nas outras?... Transcende-me!

Gosto mesmo de piano e um dia gostava de ter um piano e gostava de voltar a tocar. É daquelas coisas que me relaxa imenso e que eu acho incrivelmente bonitas. Talvez um dia!...

E quanto é que custou este concerto incrível que me fez sonhar e matar saudades de algo de que gosto tanto? Nada. Era gratuito. E nem por isso estava cheio. A oferta cultural em Lisboa é cada vez maior e, muitas vezes, é mesmo gratuita. Só não tem acesso a cultura quem não quer!

Se gostam deste tipo de concertos, aproveitem, porque este não foi caso único.

Boa semana, com muita música, de preferência!

sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Do Web Summit...

Também eu quero falar sobre o Web Summit. Se toda a gente fala, eu também posso, certo?

Pois que parece que este ano virou moda falar do Web Summit. O ano passado ninguém dizia nada porque, na verdade, ninguém sabia bem o que aquilo era. Este ano, não. Este ano já toda a gente tem alguma coisa a dizer. E mal, de preferência.

E isso cansa-me. Aliás, maça-me, como diria alguém.

A primeira coisa que me inquieta é uma dúvida que me assola e não me deixa dormir. De todas as pessoas que criticam o Web Summit, quantas lá foram? Quantas lá estiveram? Uma em cada dez? Ou isso é exagero? É que, tenho para mim, muitos dos que criticam, têm aquilo a que comummente chamamos de… Dor de cotovelo! “Ah e tal, eu não fui mas não preciso de ir para saber que aquilo não presta! Eu lá gastava aquele dinheiro num bilhete! Ainda se fosse um jogo do Benfica!”

A segunda coisa que me inquieta (puxem um banco e sentem-se, que isto pode ser longo…) é não saber quantas pessoas acreditam verdadeiramente naqueles preços dos bilhetes. Seria interessante saber quantas pessoas, efectivamente, pagaram os referidos 1500€ (ou lá quanto era…). Claro que a organização não vai, nunca, divulgar tais dados. Aquilo é um negócio, claro está! Mas estou em crer que muito pouca gente, se é que alguma, pagou o preço total do bilhete. Eu não paguei, certamente. E mais 10 000 mulheres também não. E mais 10 000 jovens e estudantes também não.  E mais 2 600 jornalistas. E mais 1 200 oradores. E mais umas centenas de patrocinadores. E mais 2 100 start-ups. Será que alguém pagou? Fica a dúvida. Mas, ainda que tenha pago, alguém tem alguma coisa a ver com isso? Faz sentido discutir aquilo que alguém está disposto a pagar por alguma coisa? Generalizemos e imaginemos um homem e uma mulher a discutirem preços de sapatos e de bilhetes de futebol, por exemplo. Daria em alguma coisa? Não. Uma das primeiras coisas que se aprende em Marketing (e na vida, até), é que preço e valor não são a mesma coisa. O preço que cada um pagou para estar no Web Summit tem tudo a ver com o valor que cada um lhe atribui. E, mais uma vez, ninguém tem nada com isso.

Para mim, o Web Summit faz sentido. É um evento interessante, importante, e no qual continuarei a participar, se tiver essa possibilidade.

Para muitos dos investidores que lá estiveram, o Web Summit faz sentido. Conhecem projectos novos em que podem apostar, de forma rápida e concentrada.

Para muitos dos patrocinadores, o Web Summit faz sentido. Talvez por isso, vimos muitas empresas que estiveram lá o ano passado e fizeram questão de lá estar este ano outra vez.

Para muitas das start-ups, o Web Summit faz sentido. Todas, sem excepção, com as quais falei o ano passado, me disseram que valeu a pena. Já este ano, conheci mais de perto o caso de uma que vai sair em destaque numa publicação nacional como uma das dez ideias mais interessantes do Web Summit. E isso, não tem preço!

Se o Web Summit faz sentido para toda a gente? Não. Nem é suposto. Se todos pagávamos para lá ir? Não. Nem é suposto. Se todos achamos que aquilo é o máximo? Não. Nem é suposto.


Vamos respirar fundo mais vezes, vamos atirar menos pedras, vamos criticar menos, e vamos ser mais felizes. Sim?

segunda-feira, 6 de novembro de 2017

Das férias que já lá vão...

Resumo muito resumido das férias, porque, se não for assim, em 2020 ainda não falei delas:


Comecei por Amesterdão. Chegámos à hora de almoço, fomos pousar a tralha ao hotel, comprámos umas sandes no supermercado e seguimos para o centro. Começámos pela Heineken Experience (recomendo!), seguiu-se um passeio de barco pelos canais, depois jantar e seguiu-se o passeio da praxe pelo Red Light District.





A entrada inclui a oferta de três cervejas!


Só podia, não é?



Hamburguer vegetariano no The Butcher. Comer barato naquela terra não é fácil!


Muitas montras de babar...


E o famoso Red Light, com o registo possível:


Em Amesterdão ainda houve tempo para o Museu Van Gogh, o Rijksmuseum, a casa do Rembrandt, o Museu de Amesterdão, muitos passeios a pé, paragem para almoçar no Albert Cuyp Market, passagem pelo Mercado das Flores, entre muitas outras coisas que já não me lembro. 


O que mais gostei? O Van Gogh, naturalmente.


Seguiu-se Bruges. Acho que nunca tinha estado na Bélgica e as diferenças são muitas em relação à Holanda. Achei Bruges muito turística, mas gostei. 



O primeiro contacto com Bruges foi à noite, e no dia seguinte fizemos uma Free Walking Tour (recomendo mesmo muito!), que deu para conhecer os principais pontos da cidade.


Em Bruges perdi a conta às montras de chocolates, macarrons, bolachas, e todo o tipo de doces.






Eu, concentradíssima, a olhar não sei bem para o quê...


Sabem aquela história de eles terem centenas de cervejas? Têm mesmo! Esta loja tinha quatro corredores inteiros, do chão ao tecto, com todo o tipo de cerveja.


Nesta loja havia todo o tipo de porcelanas com formatos de animais e decorações encantadoramente pirosas.




Dizem que é um dos sítios mais fotografados de Bruges. Pelo sim, pelo não, não quis dar cabo das estatísticas...

E, depois de Bruges, seguiu-se Ghent. É uma cidade mais pequena, onde a Universidade tem um peso importante, tornando-a menos turística e com uma vida muito diferente.







Depois de Ghent, seguiu-se Leiden, onde quase não tirei fotografias pois foi uma estadia muito curta, e, depois, o regresso a Amesterdão e a Lisboa.

Gostei muito da viagem, deu para passear, para ver muita coisa nova, para comer e beber, mas também deu para correr e descansar a cabeça (já que o corpo, além de doente, veio derreado...).

Quando é que são as próximas, mesmo?...


quarta-feira, 1 de novembro de 2017

Da Tapada de Mafra...

Hoje regressei aos trilhos. Depois do trail da Ericeira, em Junho, o meu foco foi outro, e os ténis de trail ficaram arrumados.

O cenário escolhido para o regresso foi a Tapada de Mafra. Já há muito tempo que lá queria ir e já tinha visto que têm uma actividade que se chama "Correr na Floresta", pela qual se paga 6,5€ (não é preciso marcação prévia).

E gostei muito. Foram 13,5km, sempre em trilhos de terra, pelo meio da floresta ou por terrenos mais áridos, com muito mais subidas do que esperava... Não tinha ideia da dimensão da Tapada, da sua diversidade e das suas paisagens.

O melhor de tudo? Os veados e os gamos! Conseguimos ver alguns e, fica a dica: não sejam como eu e não dêem gritinhos histéricos de cada vez que vos aparecer um à frente... E, lamentavelmente, também não vale a pena tentar correr atrás deles... Dá para fazer uns sprints e aumentar o ritmo, mas é só mesmo isso.

Deu para voltar a mexer as pernas, matar saudades dos trilhos e perceber que o trail de dia 11 vai custar bem mais do que gostaria... Espero que o Magusto no final compense!

domingo, 29 de outubro de 2017

Dos pesos que nos tiram de cima...

Já voltei a correr. E soube-me bem. Soube-me mesmo bem.

Senti-me mais leve e voltei a correr a um ritmo a que já não corria desde as Fogueiras (em Junho, portanto). Não se entusiasmem, que estamos a falar de um ritmo de 6'05. Diz o provérbio que "quem nasceu para lagartixa nunca chega a jacaré", pois eu digo: quem nasceu para tartaruga, nunca chega a lebre.
A verdade é que, nos últimos tempos, só me preocupava em fazer mais e mais quilómetros, sempre a um ritmo (ainda) mais lento. Tentava sempre manter-me no ritmo que previa manter no dia 5. E deixei de fazer treinos mais rápidos, ou em que o tempo fosse uma grande preocupação. 

Mas agora deixei de ter essa preocupação. Deixei de ter essa pressão. Porque era uma pressão. Uma pressão que agora desapareceu. Deixei de ter um plano de treinos a pressionar-me, deixar de ter a obrigação de correr quatro vezes por semana (o que raramente fazia e o que me deixava sempre a sentir-me culpada), deixei de ter um objectivo de quilómetros semanais. Deixei de não poder combinar coisas à sexta-feira à noite porque tinha de ir correr, nem ao sábado à noite porque domingo era dia de treino longo.

Sim, tudo isto é exagero da minha parte. Mas, na minha cabeça, era assim que me sentia.

E isto não era correr. Era uma obrigação. E eu já tenho um trabalho que é uma obrigação, já tenho uma casa para manter que é uma obrigação, já tenho uma família de gente doida que é uma obrigação (brincadeira!). Já tenho obrigações que bastem. E correr não pode ser uma obrigação. Não podia.

Mas correr voltou a ser um prazer. Agora posso correr quando quero, os quilómetros que quero, ao ritmo que quero. E, melhor ainda, posso não correr de todo, se for essa a minha vontade. E, eventualmente, até vou mesmo correr 4 vezes por semana. Mas porque me apetece. Porque me sabe bem. Porque me faz bem. E não porque um-plano-malvado-e-diabólico-a-isso-me-obriga.

Posto isto, é hora de voltar a correr só porque sim. É hora de voltar a melhorar o ritmo, para me voltar a aproximar dos meus tempos aúreos. E estou inscrita para a São Silvestre de Lisboa e Fim da Europa. E hoje fiz a Corrida do Aeroporto. E daqui a duas semanas vou voltar aos trails.



Que se desengane, quem achou que eu ia parar por causa disto!... (eu mesma, leia-se...)

quinta-feira, 26 de outubro de 2017

domingo, 22 de outubro de 2017

Do dia em que eu desisti da Maratona...

Foi hoje. Foi hoje que eu desisti da maratona. Foi entre o quilómetro 5 e 6 do meu treino matinal, de lágrimas nos olhos, que eu desisti da maratona.

A maioria das pessoas não vai perceber. E eu não vou conseguir explicar. É só uma maratona, dizem. Não, não é. É muito mais. Tão mais. Tão infinitamente mais.

Quem foi acompanhando os altos e baixos deste percurso, ou, pelo menos, a parte que aqui fui partilhando, talvez não fique surpreendido. Eu não fiquei. No fundo, foi assumir aquilo que já sabia há algum tempo.

Foi assumir aquilo que a falta de treino provocou, que foi agravado nas duas últimas semanas. Nas duas últimas semanas o Universo fez questão de me enviar alguns sinais: voltei de férias doente, o que me obrigou a falhar (mais) um treino longo, e esta semana tive uma gastroenterite (coisa que nunca tinha tido) que me deixou de rastos e que me obrigou a faltar ao trabalho (coisa que não acontecia há sete anos).

Já há muito tempo que eu sabia que isto tinha tudo para correr mal e que, em muitas coisas, roçava o disparate. Hoje, tive a certeza. E, por isso, hoje desisto.

E desisto por ter a plena consciência de não ser capaz de fazer tal proeza. Porque sim, fazer uma maratona é uma proeza. Sempre disse que encarava esta mística distância com muito respeito. Sempre disse que não era para qualquer um. E, hoje, assumo: não é para mim.

Talvez um dia.

segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Do dia em que fiz uma Meia-Maratona com umas cuecas de homem...

Ontem fiz a minha quinta meia-maratona. Quinta! Ainda me lembro da ansiedade quando fiz a primeira e jamais pensei chegar à quinta. De facto, não era minha intenção participar na prova de ontem, como disse anteriormente. Mas com dorsal oferecido, e com muita e boa companhia, acabei mesmo por ir.

O meu principal receio, como aqui partilhei, era em relação ao calor. A distância não me assustava. O percurso não me assustava. Mas o calor... O calor estava a deixar-me verdadeiramente preocupada!

Eu estava mesmo convencida de que não ia conseguir. Eu estava estupidamente nervosa. Eu achava que não ia aguentar, que me ia sentir mal, que ia desistir (a única prova em que desisti até hoje, foi, precisamente, por causa do calor...). Eu estava com a confiança em níveis mínimos. Eu estava rabugenta (como comentou uma das colegas de equipa que nunca me tinha visto assim e brincou com a situação). Eu não estava mesmo nos meus dias.

Mas chegou a hora e a prova começou. Últimas despedidas e eu deixei-me ficar para trás. A prova começou e eram milhares de pessoas a correr na mesma direcção, cada uma com o seu objectivo, mas todas com o mesmo propósito: chegar ao fim. E eu, sozinha mas tão acompanhada, com a minha música, com o rio infinito à minha volta (e suas centenas de alforrecas gigantes), senti-me emocionada ao passar a placa do primeiro quilómetro. Estava arrepiada, de lágrimas nos olhos, a pensar que estava mesmo ali, estava mesmo a fazer aquilo. Não me canso de o repetir: a generalidade das provas longas são, para mim, viagens ao fundo do meu ser. Talvez por isso não me importe de as fazer sozinha. Ainda que a companhia possa ser muito importante em alguns momentos (lá chegaremos).

Fiz os primeiros quilómetros a sentir-me bem. Na ponte ainda havia algum vento, o que não deixava que o efeito do sol fosse tão forte, e, de quando em vez, alguém em sentido contrário buzinava e batia palmas. A generalidade das pessoas só devia mesmo estar a rogar-nos pragas por estarmos a dificultar o trânsito. Paciência. Eu estava feliz e não queria saber de gente refilona. A subida da ponte fez-se. Devagar, devagarinho, e depois começou a descida. Se há coisa que eu acho que marcou esta prova, para mim, foi a minha tentativa de controlar o ritmo: passei o tempo todo a olhar para o relógio, a obrigar-me a abrandar, mesmo nas descidas. O meu objectivo era muito claro, o meu ritmo estava definido, e eu sabia que era fundamental respeitá-lo, se queria ter alguma hipótese de chegar ao fim. E lá fui correndo. Chegou o quilómetro 6 e o primeiro abastecimento.

A zona do Parque das Nações fez-se bem. Havia alguma sombra, havia gente a aplaudir, havia a divisão da meia e da mini, e é uma zona que conheço bem, pelo que me sentia confortável. Fui tentando puxar por quem via a caminhar. Sem muito sucesso, diga-se.

Ao sair daquela zona sabia que ia começar a doer: acabava-se a sombra, íamos correr muito tempo em alcatrão e o calor começava a apertar. Sabia que aquela era a parte mais difícil mas também sabia que metade da prova estava feita. E bem feita. Foi também nesta zona que havia um abastecimento com fruta. Eu ia do lado esquerdo, onde só havia bananas, e quando olhei para a direita percebi que havia laranjas. Gostava que alguém tivesse filmado o meu ar e a rapidez com que cheguei ao lado direito para me agarrar a dois bocados de laranja! Indescritível! Eu adoro laranjas em provas. São, para mim, a melhor coisa que me podem dar! São frescas, doces, sumarentas, e parece que me dão um boost de energia! E fiquei mesmo feliz quando as vi! Uma pessoa contenta-se com o que pode nestes momentos, não é?... 

No entanto, as minhas adoradas laranjas obrigaram-me à minha primeira e única paragem: a sofreguidão era tanta que me engasguei. Tentei continuar a correr e a tossir, mas acabei por encostar, parar uns segundos para tossir a sério, e depois retomei o meu ritmo. Pouco tempo depois, vi uma corredora desmaiada na beira da estrada. Já estava a ser assistida, mas é sempre uma imagem assustadora e que me dá sempre que pensar. Penso sempre que me pode acontecer a mim, e tenho de me obrigar a ser racional e a não começar a panicar. E consegui. Foi também nesta zona que estava um carro dos bombeiros com um jacto de água, a "dar banho" aos corredores. E soube-me tão, mas tão bem! Acho que entre as laranjas e este pequeno banho, a que se juntou o gel que tomei, comecei a sentir-me realmente bem e a pensar que só faltava um terço da prova.

No entanto, pouco depois, a chegada ao Terreiro do Paço foi... Agridoce. Custou começar a aproximar-me daquela zona e ver tanta gente que já tinha terminado, feliz e contente a comer o seu gelado. Custou não ver nenhuma cara conhecida (a malta do meu grupo já devia ter acabado ou estar a acabar e tinha esperança de os ver), custou pensar que a meta estava já ali e eu ainda tinha de ir ao Marquês e voltar. Mas... Voltou a haver público nas ruas, voltou a haver animação (e pessoas a refilar com a Polícia que não as deixava atravessar a estrada), e eu pensei que só faltavam 4 quilómetros e que isso era um instante. Ao chegar ao Rossio meti conversa com uma corredora de um clube rival do meu nas Corridas das Localidades, mas acabei por lhe dizer que seguisse, porque íamos começar a subir e eu queria resguardar-me. 

Eis que chego aos Restauradores. Mais um abastecimento. E ao sair da Praça e ao começar a subida da Avenida, aparece uma colega de equipa, que tinha ido fazer a Mini e que tinha ido para ali esperar por mim, porque tinha dito que fazia a subida comigo. E eu fiquei tão, mas tão feliz quando a vi! Fiz uma festa enorme e lá fomos nós! Fiz a subida sempre no meu ritmo, a dizer-lhe para ter calma que eu já ia com dezoito quilómetros em cima, mas íamos na conversa, a contar como tinha sido a prova de cada uma, e à procura dos meninos da equipa, que não vimos. Mas vi o João Lima e ainda lhe desejei força! E sim, fiz a subida sempre a correr e na conversa, e ainda com fôlego para refilar com quem ia a caminhar e não tinha o mínimo cuidado de se desviar ou de se organizar, para que quem ia correr não tivesse de andar a fazer verdadeiras provas de obstáculos. O civismo do costume. Nada de novo... 

Quando estávamos a chegar ao cima da Avenida, eu só pedia que não nos obrigassem a dar a volta ao Marquês. É que o raio da rotunda é mesmo grande, é toda ao sol, e eu já não tinha muitas mais forças... Mas não. O retorno era antes da rotunda propriamente dita e, a partir daí, foi sempre a descer. Comecei a descer a medo, sem me soltar muito, mas depois larguei a garrafa que trazia e achei que era hora de dar tudo. E dei. E só pensava em chegar à meta, que nem sabia bem onde era. Obrigam-nos sempre a dar aquela voltinha, em vez de porem a meta no fim da Rua do Ouro!... Uma pessoa vem pela rua fora, vê uns pórticos e acha que é logo ali mas não... Toca de virar à esquerda, depois virar à direita, e depois sim! A meta!

Fiquei muito feliz ao cortar a meta! Dei um abraço à minha colega de equipa e só queria sair dali! Não estava a acreditar que tinha conseguido e que me sentia tão bem! Porque acabei a sentir-me bem. Com muito calor, a devorar o gelado que ofereceram (longe vai o tempo dos Magnums...), a beber muita água, mas a sentir-me bem e feliz. Mesmo tendo feito o meu pior tempo de sempre numa meia. Mesmo tendo feito mais dez minutos do que na mesma prova, há um ano atrás. Eu estava feliz! Eu tinha conseguido e tinha cumprido o meu objectivo: acabar a prova, no ritmo que me tinha proposto. Bom, na verdade, fiz mais um minuto do que era suposto. Mas, na verdade, a prova teve mais umas centenas de metros do que era suposto. Acho que foi ela por ela!

Se custou? Custou. Se pensei desistir? Pensei. Se quando passei na Expo me apeteceu seguir pelo percurso da mini? Apeteceu. Se quando vi a meta no Terreiro do Paço me apeteceu ficar por lá? Apeteceu. Se fiz alguma destas coisas? Não, não e não. Cheguei ao fim. Nem eu sei bem como, mas cheguei.

Ainda tenho as emoções a mil. Ontem passei o dia a sentir-me muito feliz e orgulhosa. E eu não sou destas coisas. Mas ontem achei mesmo que merecia! Quando as expectativas são muito baixas, é fácil sentirmo-nos assim! Hoje continuo a sentir-me bem, com algumas dores nas coxas (olá, contraturas!), e com umas bolhas muito bonitas como nunca antes tinha visto. Mas sinto-me bem. 

Não sei se os 2,5km que fiz a correr para a Gare do Oriente antes da prova me fizeram bem ou não. Mas sei que ter feito 1,5km a caminhar depois da prova, quando saí do metro no regresso, me ajudou. Sei que isto tudo não é o mesmo que fazer um treino de 25km, mas sei que as minhas pernas ontem fizeram muitos quilómetros, e sei que passei muitas horas em pé. E sei que me sinto melhor do que esperava.

Se já me decidi em relação ao Porto? Não. Só depois do treino do próximo Domingo.

Ah! E o título do post? Pois. É verdade. Fiz mesmo. Não dormi em minha casa e preparei o equipamento todo, levei tudo e mais alguma coisa, menos... As cuecas. Na véspera, era meia-noite e meia quando saltei da cama ao lembrar-me disto e pouco depois estava em frente ao espelho a rir-me à gargalhada com as cuecas que o louco mais louco que eu me emprestou. Apesar de não me ficarem muito bem, e de ficarem com algum tecido de sobra, tenho a dizer que eram confortáveis e fizemos uma bela prova juntas. Se alguém quiser experimentar, eram estas da Decathlon.

Também entra para a categoria das coisas que só me acontecem a mim!...

sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Das inspirações que nos chegam não sabemos bem de onde...

Don't Quit

When things go wrong as they sometimes will,
When the road you're trudging seems all uphill,
When the funds are low and the debts are high
And you want to smile, but you have to sigh,
When care is pressing you down a bit,
Rest if you must, but don't you quit.

Life is strange with its twists and turns
As every one of us sometimes learns
And many a failure comes about
When he might have won had he stuck it out;
Don't give up though the pace seems slow—
You may succeed with another blow.

Success is failure turned inside out—
The silver tint of the clouds of doubt,
And you never can tell just how close you are,
It may be near when it seems so far;
So stick to the fight when you're hardest hit—
It's when things seem worst that you must not quit.

by
John Greenleaf Whittier


(deparei-me com este poema no início desta semana, e achei que era muito, muito apropriado...)


Os devaneios Agridoces mais lidos nos últimos tempos...