Só para que se saiba, não voltei ao Psiquiatra.
Aquela coisa do "ah e tal que forte e corajosa"? Esqueçam. Não voltei lá.
Não me apeteceu. Não fui capaz. Podia dizer que não gostei do médico. Era mais fácil. E até podia ter sido. E até pode ter sido. Mas, para ser franca, não foi só isso. Não voltei lá porque não fui capaz. A verdade é essa.
A medicação? Faço conforme me apetece. Uns dias mais, outros menos. A medicação descompensou-me imenso nos primeiros tempos (sim, é normal, eu sei...). E eu resolvi adaptá-la conforme bem me apeteceu. E tenho estado assim. Sei que os ansiolíticos me fazem bem. E tomo-os quando acho que preciso. O estômago agradece, que só tive uma ou duas crises nos últimos tempos. Também sei que os comprimidos para dormir deixaram de fazer efeito. E sei que os anti-depressivos, às vezes, me fazem bem. Estamos assim. Uns dias mais, outros menos.
Entretanto, experimentei outra abordagem. Psicoterapia. Tive a primeira consulta. A segunda, devido a uma história demasiado rocambolesca para ser reproduzida, não aconteceu. Vamos ver como corre a terceira, quando regressar a Lisboa. Perdi um bocadinho a fé. Mas se não for com esta psicóloga, será com outra. De qualquer forma, ela fez questão de me dizer que eu preciso do psiquiatra e da medicação. É sempre bom saber. Disse-lhe que ia pensar nisso. Talvez em Janeiro. Talvez. Se me apetecer.
Não sou forte. Não sou corajosa. Não dei o passo certo para me curar. Tenho consciência que não estou bem mas não faço grande coisa por isso. Faz parte, dizem. Porque é que falo nisto aqui? Porque acho que é importante falar nisto. Porque não é vergonha nenhuma. Porque não sou menos pessoa por isto. Porque sei, porque tenho a certeza, que não sou a única assim. E tenho pena que as pessoas continuem a esconder, que tenham vergonha, que não se tratem por causa do estigma que existe à volta dos problemas de carácter psicológico/psiquiátrico. Tenho pena. Custa-me. E acredito, ou gosto de acreditar, que se falar nisto, posso ajudar alguém. Mesmo que o meu exemplo não seja o melhor. Mesmo que eu não faça as coisas certas. Faz o que eu digo, não faças o que eu faço. Mas pode ser que alguém queira fazer as coisas certas.
Eu hei-de fazer. Um dia. Ate lá, fecho-me na minha bolha. Gosto da minha bolha. Gosto de estar sozinha. Gosto das minhas coisas, do meu espaço, do meu ritmo. E eu sei que é difícil para os outros lidarem com isto. Mas esta sou eu. Assim. Uns dias mais doce, outros dias mais acre. Take me as I am.