Hoje não está a ser um dia fácil, não. O meu consolo é que daqui a meia hora o dia já acabou.
Já vim aqui várias vezes hoje, já abri e fechei isto várias vezes, e nunca consegui escrever. Mas agora acho que devo escrever. Para evitar escrever noutro sítio.
Eu acho que nunca falei aqui da minha mãe. Ou falei pouco. Ou falei daquela que é para mim a minha mãe, mesmo que não me tenha dado à luz.
Eu não tenho uma boa relação com a minha mãe. Não tenho. Podia dizer que nunca tive, mas isso seria exagerar porque a verdade é que não me lembro da relação que tinha com ela quando era pequena. Diz quem viu, que também não era grande coisa.
Passou o dia da mãe, e por todos os blogues se falava nisso. Eu deixei-me estar quieta. Pensei para mim que, se não ia dizer bem, mais valia estar calada.
Mas hoje não me apetece estar calada. Hoje apetecia-me responder ao e-mail que ela me enviou e mandá-la a um certo sítio. A minha mãe não percebe. Estivemos anos sem nos falarmos e, por ocasião do falecimento do meu avô, voltámos a falar há coisa de dois anos. Mas eu tenho uma certa vontade de voltarmos à fase de não nos falarmos.
E não me venham dizer que mãe é mãe. Não é. Garanto-vos que não é. Eu dou um (grande) desconto à minha mãe por todos os problemas de saúde que a minha mãe tem e teve mas, começando por aí, para mim, mãe que é mãe, não fuma na gravidez dos filhos. E ela fumou, na dos três filhos. Parece um detalhe ridículo? Talvez, mas é a ponta do icebergue. É apenas um pedacinho do que ela é enquanto pessoa e mãe.
Estou aqui a escrever disparates para não lhe escrever a ela. Hoje estou a ter um dia mau, muito mau, como já não tinha há muito. Dei por mim a fazer algo que não fazia há muitos, muitos anos. E tenho medo disso. E ela consegue pôr a cereja no topo do bolo. E apetece-me responder-lhe. Apetece-me dizer-lhe o que ela merece ouvir.
Apetece-me dizer-lhe que a "nova querida do meu pai" se chama Ana e que está com o meu pai há dez anos. Dez. Nem sei se ela e o meu pai estiveram tanto tempo juntos, mas se calhar não.
Apetece-me dizer-lhe que a "nova querida do meu pai" estava comigo quando eu soube que ia ser operada e, possivelmente, perder um ovário, foi comigo às consultas, foi comigo fazer os exames, levou-me até ao bloco operatório e chorou agarrada ao peluche que eu fiz questão de levar comigo, ficou acordada até que eu saísse do recobro, dormiu comigo no hospital, deu-me a mão, deu-me banho, esteve lá.
Apetece-me dizer-lhe que a "nova querida do meu pai" foi quem me arrastou para o psiquiatra quando passei pela minha segunda depressão, foi quem me arrancou da cama e me obrigou a lá ir.
Apetece-me dizer-lhe que a "nova querida do meu pai" foi quem foi comigo à procura da escola onde eu voltaria a sentir-me bem e motivada, para me preparar para me candidatar à faculdade.
Apetece-me dizer-lhe que a "nova querida do meu pai" também foi quem me arrastou para o médico quando estive à beira de uma anorexia, com 41 kgs.
Apetece-me dizer-lhe que a "nova querida do meu pai" levou-me ao bingo quando fiz 18 anos, e foi comigo fazer a tatuagem que sempre quis fazer.
Apetece-me dizer-lhe que a "nova querida do meu pai" perdeu horas à procura de vestidos de noiva na internet, e foi comigo à procura do meu vestido de noiva, dos sapatos, dos acessórios.
Apetece-me dizer-lhe que a "nova querida do meu pai" abraçou-me no dia do meu casamento, de lágrimas nos olhos, e me disse que estará lá sempre para mim.
E apetece-me dizer-lhe que eu acredito que sim, que ela estará lá sempre. Quanto à minha mãe, não acredito. Já deixei de acreditar há muito tempo.
Apetece-me dizer-lhe que sempre que penso nos últimos dez anos, quem lá esteve foi a "nova querida do meu pai", não foi ela.
Apetece-me dizer-lhe que sempre que penso nos últimos dez anos, quem lá esteve foi a "nova querida do meu pai", não foi ela.
E apetece-me dizer-lhe tudo isto. Apetece-me dizer-lhe que se ela acha que nós nos estamos a afastar, talvez ela devesse pensar no porquê. Apetece-me dizer-lhe que não quero manter uma relação com ela só porque é suposto pais e filhos darem-se bem. É suposto. Mas não tem de ser assim. E eu estou farta de fingir que assim é. Sobretudo, para receber e-mails destes, com bocas para o ar, a diminuir alguém muito especial para mim. Estou farta.
Hoje, não vou fazer nada. Estou de cabeça quente. Irritada. Furiosa. Mas amanhã vou pensar seriamente se não lhe respondo à altura. Pode ser que isto me passe. Ou não.
São 00h32m no meu pc, um novo dia que espero que te corra muito melhor! :)
ResponderEliminarE Dá valor apenas a quem o tem. Se não tem valor, passa-se ao lado..
Um grande beijinho
Ana
Sabes que eu fiquei a aguardar o dia em que escreverias sobre isto.
ResponderEliminarE hoje foi um desses dias. Espero que te tenha aliviado. De todas as formas. Mesmo.
Sabes que podes sempre contar comigo. No meio do azar tiveste muita sorte, porque tens "a querida do teu pai" que te acolheu de braços abertos como uma filha. E eu tenho para mim que, mãe é aquela que cuida, mima, ama sem pensar se o sangue que corre nas veias é o mesmo.
Gosto muito de ti. E estarei, se algum dia precisares. Ou quiseres.
Podemos encontrar uma mãe em quem nós quisermos! Porque mãe não é quem dá à luz, é quem nos ama e nos coloca num altar...
ResponderEliminarFico feliz que tenhas encontrado essa pessoa (a Ana), essa mãe de coração e de amor!
Beijinho grande querida!
Obrigada a todas pelos vossos comentários. Foi só um desabafo, um despejar do saco, não resolveu nada, mas aliviou...
ResponderEliminarSegredo obrigada. Eu sei que sim, e tu sabes que é recíproco. Todos temos os nossos dias menos bons. Um grande beijinho!
Oh querida, fiquei sem palavras. Ou melhor, teria muitas mas que não podem ser escritas. Devem ser ditas e ouvidas... Infelizmente não o posso fazer.
ResponderEliminarTudo de bom. E força!
Bisouxxx
Ás vezes só o simples facto de escrever ajuda! Espero que contigo tenha resultado por muito pouquinho que seja! Mãe é quem está lá... e tu pelo menos tens isso! beijocas e força
ResponderEliminarEscrever as vezes é melhor que falar, e eu sei disso pois tenho aproveitado o meu blogue para falar de determinadas coisas que só consigo falar com o uma pessoa. E se te serve de consolo, que sei que não eu passo por algo parecido, mas com o meu pai, passado 4 anos voltamos a falar, mas só porque eu tenho duas irmãs que só vi uma vez, pois apenas são filhas dele e não daquela que é a minha mãe, e porque quero que elas saibam que eu existo e que um dia podem contar muito comigo.
ResponderEliminarBeijos e força
Diz o senso comum que "Parir é dor, criar é amor", e não há dúvidas que a verdadeira mãe é aquela que dá colo, palavras de conforto, que esteve sempre ao nosso lado, e tu minha querida, tens essa mãe, a Ana.
ResponderEliminarPor isso, tenta não ficar amargurada e, se te fizer bem, diz-lhe umas verdades. Às vezes, lava a alma.
Beijinho
Obrigada a todas, mais uma vez.
ResponderEliminarComo disse em cima, senti necessidade de despejar tudo isto aqui, para não lhe dizer a ela coisas que não devia. Mas a verade é mesmo essa, mãe é quem lá está e, felizmente, eu encontrei alguém que quer lá estar! E só posso estar grata por isso!
Beijinhos a todas :)