Têm-se passado coisas muito estranhas na blogosfera ultimamente, têm. Eu, que não sou ninguém, e que só sei que nada sei, acho tudo isto muito estranho.
Sendo eu uma jovem ignorante, nada sei da vida e do que move o ser humano. Mas, mesmo sendo uma jovem, já ando nisto há uns anos (fui muito precoce!).
Comecei a escrever, e a publicar, na World Wide Web, no longínquo ano de 2001. E comecei a fazê-lo no Livejournal, uma comunidadezinha simpática, à escala mundial, em que fui escrevendo umas quantas baboseiras.
Nesses tempos, havia um espírito um bocadinho diferente daquele que há hoje pela blogosfera. O espírito era de união, de partilha, de comunidade no verdadeiro sentido da palavra. Eu era lida por, e lia, pessoas que nunca vi, com que nunca me cruzei, mas que sinto que conheço, e que me conhecem. Talvez por isso, quando me casei, e porque me pediram, senti-me no dever de partilhar com eles algumas fotografias do meu casamento. E não me dei sequer ao trabalho de tapar os rostos ou de esconder o que quer que fosse. Porquê? Porque não era preciso. Porque durante anos a fio partilhei com aquelas pessoas a minha vida, a minha intimidade. Sem as conhecer, confiava nelas. Sem nos conhecermos, apoiávamo-nos e ajudávamo-nos. De uma forma difícil de compreender para quem não experienciou tudo aquilo.
E eu estive aqui a fazer um esforço muito grande (o esforço possível, para os meus neurónios), e não me lembro de alguma vez ter lido um post ou um comentário a criticar ou a ofender quem quer que fosse. É que não me lembro de nenhum. Nem um para amostra.
Não quer isto dizer que o mundo era todo cor-de-rosa, fumávamos charros e vivíamos felizes na nossa bolha. Não. Simplesmente, as relações entre os livejournaleiros eram pautadas por algo que tem caído em desuso: o respeito.
Havia opiniões divergentes, havia posições contrárias perante certos temas, mas as coisas discutiam-se, conversavam-se, debatiam-se. Não se partia para a ofensa gratuita assim, sem mais nem menos.
Eu, que já se sabe que sou uma jovem ignorante nestas coisas da vida, sempre ouvi dizer que a minha liberdade terminava onde começava a dos outros. E sempre tentei reger a minha vida por este princípio. É muito giro ter um blogue, porque é. É muito giro escrever para aqui uns disparates, porque é. E até somos uns sortudos porque vivemos num país onde até há liberdade de expressão. Mas a nossa liberdade de expressão tem limites. Se não tem, devia ter. Aqui entram o bom senso, a boa educação e o respeito pelo próximo, de que falei mais atrás. Se juntarmos estas coisas todas e misturarmos bem, temos uma blogosfera saudável, onde cada um tem o seu canto onde escreve o que bem lhe apetece. Partindo sempre do princípio de que o que escreve, não é para ofender o outro. Quando esta mistura não é bem feita, quando falta o bom senso, quando falta o respeito, sai asneira. O resultado são blogues desprovidos de sentido, que vivem do achincalhamento (isto existe?) das outras pessoas. Saem assim uma espécie de velhas quadrilheiras com Cláudio Ramos, cujo passatempo favorito é falar mal dos outros. No caso do Cláudio Ramos, diz que ele é pago para isso. Noutros casos, deve ser mesmo pelo prazer de gozar, ofender, rebaixar.
E eu, na minha ignorância e ingenuidade, não consigo compreender qual é o prazer que pode advir daí.
Eu, na minha ignorância e ingenuidade, sempre achei que se não gostava de algum blogue ou blogger, tinha bom remédio: não lia. Deixei de ler alguns, e hei-de continuar a fazê-lo sempre que o entender. Agora andar a ler só para criticar? É coisa que não consigo compreender. Em primeiro lugar, porque há tanto blogue tão interessante para ler, que eu acho um desperdício de tempo estarmos a ler algo de que não gostamos. Em segundo lugar, porque a educação que o meu pai me deu me diz que eu não sou ninguém para andar por aí a ofender os outros só porque sim. A minha educação, diz-me que eu devo preocupar-me mais com a minha vida, e menos com a dos outros. A minha educação, diz-me que lá porque eu tenho opinião sobre tudo e mais alguma coisa (e sou menina para isso), nem sempre tenho de a partilhar com o mundo. Saber estar calada é, também, uma grande virtude.
E, só por isso, vou-me calar. Vou-me calar mas não sem antes dizer ao Mundo que devia parar para pensar um bocadinho antes de escrever ou dizer certos disparates que em nada melhoram o Mundo. Uma das coisas que eu aprendi com os anos foi mesmo isso, que se não tenho nada de bom para dizer, mais vale ficar calada.