quinta-feira, 30 de julho de 2020

Da Gravidez... - XII (ou da Toxoplasmose...)

Um dos temas que causa muito debate e troca de opiniões durante a gravidez é a toxoplasmose. O nível de desinformação é chocante, e o alarmismo é elevado.

Calhou que eu não sou imune à toxoplasmose. Eu tinha esperança de ser e poder ter uma gravidez sem me preocupar com esse tema, mas não sou.

Assim, investiguei muito sobre a gravidez e a toxoplasmose. Li artigos, pesquisei, informei-me. Informação é poder e fiquei com a clara sensação de que ainda não há informação suficiente sobre a gravidez e a toxoplasmose, o que leva à proliferação de mitos e crenças tontas. Talvez seja um tema que não renda muito dinheiro, e ninguém se dedica muito a estudá-lo, apesar de ter encontrado um artigo que referia estar em estudo uma vacina para a toxoplasmose... 

O único estudo que encontrei que referia a taxa de prevalência da toxoplasmose na gravidez em Portugal, falava numa taxa de 1,04%, mas era um estudo antigo. Ainda assim, este é uma taxa bastante baixa, o que não significa que este tema não mereça preocupação, uma vez que apesar da baixa probabilidade, o impacto de contrair toxoplasmose durante a gravidez, pode ser muito elevado, e ninguém quer isso.

Além das confusões habituais que se multiplicam nos famosos grupos de mães no Facebook, em que a toxoplasmose é associada a coisas como marisco, e em que há quem ache boa ideia excluir completamente da alimentação coisas como alface, tomate e frutas que não se possam descascar, há o eterno drama à volta dos gatos, que mexe com o meu sistema nervoso.

Sim, em 2020 ainda há quem use a toxoplasmose como desculpa para se ver livre dos gatos, durante a gravidez. Não sei se por ignorância ou por conveniência, mas é assustador.

Vamos lá ver...

Não vou entrar aqui em explicações demasiado técnicas e perdoem qualquer incorrecção, que não sou minimamente da área mas, basicamente, para um gato poder espalhar toxoplasmose por aí, ele tem de ter ingerido carne de animais infectados com toxoplasmose (ratos ou pássaros, por exemplo). Só assim, o gato contrai o parasita e expele os seus "ovos" nas suas fezes, coisa que acontece durante cerca de 14 dias e apenas uma vez durante toda a existência do gato (em gatos saudáveis, pelo menos). Para que uma grávida contraia toxoplasmose, a grávida tem de ingerir esses "ovos". Ou seja, precisa de comer essas fezes contaminadas ou andar a mexer-lhes com as mãos e levá-las à boca sem as lavar. Aqui entra também a questão dos cuidados com frutas e legumes frescos, que devem ser bem lavados, porque pode dar-se o caso de um gato que tenha o parasita durante aqueles exactos 14 dias ter feito as suas fezes em cima da maçã ou alface que vamos comer. Escrito assim, parece-me meio ridículo, mas talvez o problema seja só meu. 

Voltemos aos gatos de casa. No caso do meu Snow, que está comigo há 4 anos, que não tem contacto com outros animais, que não tem acesso ao exterior (ele bem queria), que não come carnes cruas (ele bem queria), digamos que a probabilidade de ele poder ter o parasita da toxoplasmose é assim a modos que nula... E, mesmo que o tivesse, seria por um período muito limitado no tempo. E, ainda assim, eu tinha de ingerir os ditos "ovos"... Assim, a probabilidade de eu poder contrair toxoplasmose graças a ele, é assim a modos que menos que nula... 

Eu sei que, saindo do contexto de cidade, há muita gente que tem gatos que andam na rua. Também sei que há muitos artigos estrangeiros, em que as realidades são bem diferentes, uma vez que em países como o UK o normal é os gatos entrarem e saírem de casa a toda a hora. Nesses casos, a preocupação deve ser diferente. Mas precisamos de ter a capacidade de pensar na nossa situação específica e no nosso caso.

E, no meu caso, não seria pelo Snow que eu iria contrair toxoplasmose. Ainda assim, o louco mais louco do que eu, a partir de certa altura, insistiu em ser ele a limpar a casota. Por mais que eu lhe tentasse explicar que não havia problema, ele quis fazer essa tarefa. E eu, obviamente, também não me queixei, não é verdade?

Posto isto: parai de crucificar os gatos por causa da toxoplasmose, e preocupem-se mais com as carnes mal passadas e as saladas e frutas fora de casa. Mas também não entrem em paranóia e não excluam da alimentação alguns alimentos que são tão importantes e saudáveis... Bom senso e informação nunca são demais... E deixem os gatos em paz!

8 comentários:

  1. Muito bem escrito!
    A Mafalda também não era imune e o que lhe disseram por ter gato! (na altura só tínhamos ainda um). Mas é tudo uma questão de bom senso, como este texto bem demonstra
    Beijinhos :)

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    1. Se agora é o que é, nem imagino há uns anos!..

      Cada ums deve fazer o que acha melhor, mas custa-me ver tanta desinformação...

      Um beijinho, João! E festinhas à minha homónima :)

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  2. A ignorância por e vezes é uma benção, mas normalmente não o é!

    O pior é que muita gente é apenas papagaio e não tem um único pensamento original ou pensa por si própria.

    O que não é o caso, evidentemente ;)

    No nosso caso deixámos de comer saladas fora de casa e eu forcei ser eu a limpar a WC da gata, naquela teoria do sim, é impossível mas assim não acontece mesmo ahahaha.

    Mas ainda ouvimos umas quantas, sempre dos mesmos, é curioso (ou não...), mas os cães ladram e a caravana passa.

    Beijinhos

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    1. Neste caso, não é mesmo! Em temas tão importantes como este, as pessoas deviam mesmo tentar informar-se um pouco mais e não tomar decisões precipitadas (no caso dos gatos, sobretudo).

      Eu também abandonei as saladas e frutas fora de casa, e bem me custou! Uma pessoa até quer ser saudável, mas não dá...

      Oh! Há sempre tanta gente pronta a dar opiniões não solicitadas...

      Beijinhos

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  3. Sobre os gatos e a toxoplasmose, muito ouvi durante a gravidez, porque também não sou imune. A minha preocupação (e traçando cenários altamente improváveis), seria a caixa de areia. O gato utiliza a caixa, as fezes podem estar contaminadas, ele faz a higiene dele "lavando-se" com a língua, espalha os ovos no pêlo, eu faço festas, (confesso que não lavo as mãos de cada vez que faço um mimo ao gato) e posso eventualmente ficar contaminada. A probabilidade de isto acontecer comigo, 0%. O meu gato veio para casa há 7 anos e não saiu mais (tirando as fugas até ao terraço). Tive os cuidados que sempre tenho, lavando e desinfetando a caixa de areia, lavando bem os legumes e utensílios. Mas que ouvi barbaridades, ouvi... então se soubessem como o meu gato adorava dormir encostado ao meu barrigão de grávida :)

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    1. Sim, podemos entrar por aí. Eu deixei de dar festas em todos os gatos de rua com quem me cruzava, por exemplo... Porque, aí sim, podia haver algum risco, mesmo que baixo. Mas acho que com gatos de casa, como o teu e o meu, temos de ser racionais e relativizar.

      Ahahah as coisas que se dizem sobre isso... O meu bem tentava vir para o meu colo, mas deixou de conseguir a partir de certa altura :) mas é tão bom de ver!

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  4. E o sushi associado à toxoplasmose???? Ahahah essa então mata-me!
    É desaconselhado o consumo porque se ficares com gastrite pode levar a perda gestacional e em sítios com poucos cuidados pode haver contaminação cruzada se prepararem carne junto ao peixe.
    Mas é verdade, fruta e vegetais são essenciais e às vezes das poucas coisas que passam no 1o trimestre...
    Na Holanda não se testam grávidas para toxoplasmose, todas as grávidas assumem que podem ter e pronto, têm cuidado.

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    1. Eu não cheguei a comer sushi na gravidez, mas por causa da Covid... Em sítios bons e de confiança, e em que não usem frutas/vegetais no sushi, não me faz confusão nenhuma e já muitos obstetras dizem que não há problema nenhum!

      Tinha uma colega que também deixou praticamente de comer fruta, por causa disso... Juro que não entendo! Eu comi taaaanta fruta no final da gravidez. Perdia horas a lavar bem os morangos, mas comia quase um quilo por semana nos últimos tempos :D

      Faz sentido. Tal como têm de ter cuidado com outras coisas, é só mais uma!

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