Estive há pouco ao telefone com uma amiga que perdeu o avô esta semana. Um AVC. Uma coisa horrível e inesperada. Um avô com quem ela viveu quase toda a vida e com quem tinha uma relação de grande proximidade. Um avô que desapareceu, assim, de um momento para o outro.
Isto foi na terça-feira, entretanto ela seguiu para a terra dele, e, nestes dois dias, pouco falámos. Trocámos algumas mensagens, tentei mandar-lhe força e mostrar que estava aqui. Nunca encontro as palavras certas nestas alturas e não sou de massacrar ninguém. Dou aos outros o que gosto que me dêem a mim: espaço e tempo.
Hoje, liguei-lhe depois de ela me dizer que o podia fazer. Sim, sou estranha nas minhas amizades (e nas relações, em geral). Peço autorização para ligar. Porque eu sei como sou. E sei como são algumas pessoas à minha volta. E não, às vezes não queremos mesmo falar com ninguém. Nem com as pessoas mais próximas.
Mas lá lhe liguei. Deixei-a falar, desabafar, despejar algumas emoções. E depois fui bruta. Disse-lhe a merda que isto era. Disse-lhe que a ficha ainda lhe ia cair. Disse-lhe que amanhã (porque já foi o funeral mas ainda não vai voltar ao trabalho e vai estar sozinha) ia ter um dia de merda, que ia chorar muito, que ia bater no fundo. Mas também lhe disse que tinha de o fazer. A adrenalina dos últimos dias, a urgência de tratar de tudo, a preocupação em dar apoio à avó e à mãe e a toda a família, a ocupação constante, nada disso lhe tinha ainda permitido fazer o luto dela. Mas ela tem de o fazer. Tem de chorar, tem de sofrer, tem de deitar cá para fora tudo o que acumulou nestes dias.
Disse-lhe isto tudo. Sem paninhos quentes. Fui bruta. Sou bruta. Ela sabe que eu sou assim. E sei que ela aguenta. Sei que ela gosta que eu seja assim porque já tem à sua volta gente que chegue para lhe dar as palmadinhas nas costas.
Às vezes, pergunto-me se devia ser tão bruta!... Porque sou. Com isto, com tudo. Não gosto de conversa de treta, detesto que me digam que vai ficar tudo bem quando me apetece berrar e espernear e partir tudo à minha volta. Há momentos de merda. Há momentos em que achamos que nada vai ficar bem. E não, não é por dizerem o contrário que muda alguma coisa. Acho que sou mais de enfrentar as coisas como elas são do que de fingir que não se passa nada.
A vida fez-me assim. Não sei se é bom, se é mau. Mas é o que é.
Desculpa contrariar a tua conclusão: não foste bruta. Foste sensata. Verdadeira. Lúcida. É certo que a realidade é dura, mas posso dizer-te por experiência própria (de quem já perdeu grande parte da família) que é importante que as pessoas encarem a realidade sim, porque é bastante mais dificil ultrapassar os problemas quando vivemos num mundo de ilusão. Portanto..acredita...estiveste bem. Ser amiga não é ser dizer aquilo que dá jeito ouvir...é ser honesta, verdadeira. E tu foste.
ResponderEliminarAbraço.
Também gosto de acreditar que sim :)
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