Ter a coragem. Ir buscar forças onde não as tenho. Impedir que o terror das horas futuras me paralise. Adivinhar sentido onde menos se encontra. Substituir o medo pelo que quer que seja. Ou menos que isso: o simples exercício na ocupação do tempo, a indispensável disciplina. Escrever só para mim. Esquecer os outros. Deitar fora a exaltação estética. Ao escrever-me, faço-me com o que não sou. E o que se vai escrevendo pode ser lido por todos porque não é lido por ninguém. Escrever só para mim e para Deus, se ainda tiver sentido. Não esquecer: um único pode valer mais do que uma multidão.
A ansiedade é uma corda à volta da garganta. Impede-me os movimentos, prende-me os pensamentos, entrega-me ao abandono. O dia fere. Só a noite, com a sua misericórdia, me traz algum alívio. A indistinção das coisas faz com que a minha alma aceite ser também indistinta.
Por nós não viveríamos. Não valeria a pena. Vivemos por causa dos outros. A própria vida foi-nos oferecida. A própria vida oferecemos.
Pedro Paixão, in Quase que gosto da vida que tenho.
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