No Sábado passado, quando acordei, tinha um email da TAP a informar de uma alteração na minha reserva para Valência em Dezembro. Por momentos, achei que o mundo tinha ensandecido de vez, e que já estavam a cancelar os vôos com 7 meses de avanço. Pois que não. Era só uma alteração de horário. Menos mal.
Entre os muitos planos que tínhamos (e temos) para este ano, Valência é só um deles. A diferença é que Valência continua em cima da mesa, até ordem em contrário. Será a primeira viagem com a nossa descendente, será uma viagem em família, e será a estreia do meu irmão numa Maratona. A ideia surgiu no final do ano passado, e logo tratámos de marcar os vôos e o alojamento. Longe de imaginar o que aí vinha... Ainda assim, tentamos manter algum espírito positivo, e queremos acreditar que talvez, só talvez, a prova se mantenha, se não houver uma nova crise com a Covid-19, mal entremos no tempo frio e no Inverno.
Mas Valência é só um dos muitos planos que tínhamos para depois...
Era suposto estarmos hoje em Portalegre. Era suposto ele estar a esta hora a estrear-se numa prova de 3 dígitos. Era para isso que ele andava a treinar, quando tudo isto começou. Também era suposto ele ter ido ao Marão. E era ainda suposto termos ido ao Trilho dos Pernetas, para onde íamos arrastar mais 6 elementos da família.
Como ele, tantos e tantos atletas tinham objectivos para esta altura. Tantos e tantos atletas andavam a treinar, a esforçar-se, a superar-se. Mas agora não há provas... Nem saberemos quando voltará a haver... É ingrato, pode ser frustrante, pode ser profundamente desanimador e deixar um sentimento de injustiça tremendo. São só corridas, dirão alguns. Não são. São sonhos e objectivos. E custa-me ver que ele andava a treinar imenso, estava em excelente forma, estava motivado e entusiasmado, e todos os planos ficaram mesmo para depois.
Por outro lado, temos assistido a desafios incríveis que mobilizam dezenas e centenas de atletas, mesmo que virtualmente e à distância. Temos assistido a provas e treinos em casa com distâncias absurdas. Temos visto atletas a reinventarem-se e a encontrarem força e motivação nos sítios mais improváveis. Temos, também, visto muita gente a encontrar na corrida a melhor forma de manter alguma sanidade mental, nestes tempos tão incertos.
Resta-nos (e incluo-me neste pacote mesmo não estando a treinar) tentar ir buscar algum ânimo não sei bem onde, tentar encontrar forças para continuar a treinar mesmo sem objectivos à vista, não baixar os braços e olhar em frente, acreditando que, mais tarde ou mais cedo, as provas vão voltar. Mesmo que em moldes diferentes, mesmo que com dinâmicas estranhas, mesmo que com muitas e variadas adaptações e restrições. As provas hão-de voltar. Talvez demorem uns meses. Talvez estejam à espera que eu possa voltar a correr, para voltarem comigo. Talvez a culpa disto tudo seja minha, que decidi obrigar o mundo a ser solidário com a minha gravidez e a minha impossibilidade de correr. Talvez. Mas o certo é que não vamos parar e as provas hão-de voltar. Com ou sem Covid-19.
Pois... Tantos e tantos planos de tanta gente. Para alguns, foram furados pelo virus, para outros, onde se inclui este teu amigo, também por outras razões. Para os primeiros, vamos aguardar que este hiato passe para tudo voltar ao que era. Para outros, há que esperar que tudo corra de maneira a ser possível o mínimo, já que o sonhado está fora de questão.
ResponderEliminarDesejo muito que possam ir àquela maravilhosa Maratona nessa Valência tão linda. Força!
Beijinhos