Eu lido muito mal com o cansaço. Felizmente, ao longo dos anos, fui-me apercebendo disso e fui aprendendo a ler os sinais. O cansaço deixa-me particularmente instável, descompensada, emocionalmente desequilibrada, até.
E ontem eu estava particularmente cansada.
E ontem eu tive um dia particularmente difícil.
E esta combinação maravilhosa produziu um resultado maravilhoso.
O curioso e irónico nesta situação, é que o que ensombrou o meu dia de ontem, foi algo que há uns anos atrás talvez não me afectasse minimamente.
É curiosa a evolução que fazemos ao longo da vida, a forma como mudamos, os sonhos que temos e deixamos de ter.
Ontem ouvi, mais uma vez, a conversa sobre a necessidade de me despachar, se quero ter filhos. A conversa sobre possíveis complicações. A conversa sobre poder não conseguir engravidar (como se não tivesse já passado quase um ano da minha vida a tentar). A conversa sobre poder ter gravidezes não evolutivas. A conversa do costume. A pressão do costume.
Sim, eu gostava de ter filhos um dia. Apesar de ter passado a maior parte da minha vida a dizer que não os queria. Mas eu gostava de os ter num determinado contexto. Contexto esse que não existe neste momento e que, por vezes, duvido que volte a existir em tempo útil. Tudo isso me assusta, me deprime, me faz questionar o que ando aqui a fazer. Nada do que é a minha vida, corresponde ao que tinha planeado para ela, e há momentos em que tenho dificuldade em lidar com isso. Muita.
E eu já dramatizo e deprimo com a minha vida quanto baste. Não preciso que atirem mais achas para a fogueira.
Agradecida.