O problema das
desilusões é que arrancam pedaços de nós.
Em cada falhanço
nosso, há uma parte de nós que fica irreparavelmente destruída. Que morre.
Todos nós temos as
nossas crenças: na vida, nas pessoas, nas relações. E de cada vez que uma
destas crenças é abalada, morre uma parte de nós.
Crescemos a ouvir
que o que não nos mata, torna-nos mais fortes. Mas mata-nos. Mas
enfraquece-nos.
Dizem-nos que se
acreditarmos, as coisas acontecem. E nós acreditamos. Acreditamos muito. Acreditamos
com todas as nossas forças. Mas as coisas nem sempre acontecem. E nós não
conseguimos continuar a acreditar.
A cada trambolhão,
as nossas crenças ficam mais fracas.
Acreditamos nos
laços familiares, acreditamos nas amizades, acreditamos no amor, acreditamos na
bondade, acreditamos nos nossos chefes, acreditamos que aquele casaco nos fica
mesmo bem.
E depois, sem
aviso, sem estarmos à espera, descobrimos que aquilo em que acreditávamos era
falso. Era uma ilusão.
E deixamos de
acreditar.
Em cada choque de
realidade, há uma parte de nós que se perde, para nunca mais ser recuperada.
É esse o problema
da vida: viver. Cada segundo que vivemos, não volta a acontecer.
Cada pedaço de nós
que nos é arrancado, não nos é devolvido.
E é uma merda. É
uma grandessíssima merda perceber que permitimos à vida destruir aquilo que
somos. Aquilo que fomos.
Tiram-nos a
inocência, a pureza, a vontade de acreditar. Destroem-nos irremediavelmente. E
não há nada que possamos fazer.