terça-feira, 17 de março de 2020

Da COVID-19, que me fez voltar a escrever - haja alguma coisa positiva no meio disto...

Li por aí que, tal como houve um mundo antes e depois do 9/11, também haverá um mundo antes e depois da COVID-19.

Não tenho dúvidas disso.

Para a maioria das pessoas da minha geração, e de outras mais jovens, que nunca passámos por guerras, privações de liberdade, ou qualquer outra calamidade com impacto directo no nosso país que não a crise económica de 2008, tudo isto é novo. Mesmo para muitas outras pessoas de muitas outras gerações, tudo isto é novo.

Nunca nos tinha sido pedido que ficássemos em casa. Desconhecíamos o conceito de "isolamento social". Beijinhos e abraços eram o dia-a-dia das nossas vidas. Ir à rua, ao supermercado, ao café, eram actos banais que fazíamos sem pensar.

Agora, tudo isso acabou. Ou, pelo menos, acabou para a generalidade das pessoas com dois dedos de testa que já percebeu que isto não é uma brincadeira. Para as pessoas que já perceberam que temos tudo para ser uma Itália, mas que a nossa economia não suportará se nós nos tornarmos uma Itália. Na verdade, de que importará a economia, se uma boa parte de nós não estiver cá para contar a história?...

Choca-me, irrita-me, frustra-me. Nunca, tanto como agora, me cansaram as pessoas. É em períodos de crise que vemos o pior das pessoas: o egoísmo, a falta de civismo, a burrice, a inconsciência, a leviandade dos comportamentos, a falta de respeito pelo próximo.

Mas é também em períodos de crise que vemos o melhor das pessoas: a solidariedade, a disponibilidade para emprestar casas, para ir às compras, para fazer companhia à distância de um telefonema.

No fim de tudo isto, e certa de que o fim ainda está longe, sei que vamos todos ser diferentes. Quero acreditar que seremos melhores. Que daremos mais valor às pequenas coisas. Que teremos mais vontade de estar com os nossos mais vezes. Que iremos aproveitar as pequenas liberdades que hoje tomamos como garantidas.

Ou então vamos todos acabar mortos, porque entre a COVID-19, as bulhas no supermercado por um rolo de papel higiénico, e a falta de capacidade para viver em modo Big Brother durante 24 horas por dia, não vai sobrar ninguém.

Gostava que fosse a primeira opção, mas não ponho as minhas mãos no fogo que não seja a segunda.

Agora, como nunca, nunca fez tanto sentido: cá estaremos, sentados, à espera para ver.

8 comentários:

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    1. Nem imagino... Tenho pensado tanto nas pessoas que tenho à minha volta, como tu, que não podem parar... Força, Chata!

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  2. O que eu ainda não consegui perceber é a ideia por trás do açambarcamento de papel higiénico. Permanece um mistério para mim...
    Tropa do Batom

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    1. Pois que também ainda não percebi... Há teorias da psicologia que explicam mas, basicamente, é só parvo.

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  3. Amiga Inês, em primeiro lugar espero que esteja tudo bem convosco.
    Naturalmente que em períodos extremos vem ao de cima o melhor e o pior de cada. Como em tudo, tendemos a focar mais nas acções negativas que alguns tomam do que as muito positivas doutros. É assim em tudo, tal como se recebermos 20 criticas, 19 positivas e 1 negativa, ficamos a remoer a negativa. Faz parte da nossa natureza. Daí serem tão faladas as más acções em detrimento da série de pessoas que têm demonstrado toda a sua enorme bondade.
    Naturalmente todos ficarão diferentes mas ao fim de algum tempo a sua essência tende a regressar ao que sempre foram. Tal como em momentos dramáticos pela perda de alguém, todos temos a certeza que há coisas que não valem a pena mas ao fim dum certo tempo vai-se esquecendo essa ideia.
    No entanto, em cada caso fica uma cicatriz. E esta vai ser suficientemente grande para alguns aprenderem o que vale realmente a pena. Tal como aquilo que ontem parecia ser duma urgência inaudita e afinal aprendemos em escassos dias que não o era.
    Bom, estive para aqui a divagar quando a única coisa que pretendo desejar é que fiquem os 3 o melhor possível.
    Um grande beijinho

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    1. Eu até sou das que se tentam focar nas coisas positivas mas, de facto, há coisas que mexem mesmo comigo, por mostrar a pequenez de algumas pessoas... É triste, sabes? Se já me emocionei por ver as janelas cheias de gente a bater palmas, já me enervei por saber de gente egoísta que só pensa em si mesma, pondo os outros em perigo... Mas adiante.

      Tudo dependerá de quanto tempo tudo isto durar. Para já, ainda nos toleramos, ainda estamos relativamente sãos, ainda não percebemos bem a gravidade da situação. Mas daqui a duas semanas, um mês, dois meses... Não sei como vamos todos lidar com isto.

      Que possamos todos ficar mesmo o melhor possível!

      Um beijinho

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  4. É nestas alturas que o trigo é separado do joio, aplica-se aos nossos políticos e líderes, tecido empresarial e é claro, a todos nós.

    Podemos ter atitudes idiotas, altruístas ou simplesmente...sermos normais.

    Felizmente tenho tido mais contacto com pessoas que estão a ter um comportamento normal, até em lojas (embora num dos casos todas as embalagens de carne refrigerada tinham desaparecido à excepção de uma fora de prazo).

    Onde me irritei a sério foi ontem, numa simples corrida pelo parque onde todos estávamos com cuidado para não respirarmos para cima dos outros quando nos cruzávamos, havia um grupo de 3, aparentemente familiares, que quase que parecia que faziam de propósito para obrigar a parar, dar a volta, etc.

    Temos que perceber que há vida para além da Covid-19, que não pudemos fechar um país a menos que seja absolutamente necessário mas para tal todos nós temos que ter comportamentos ao nível do que nos é exigido.

    Estava aqui a divagar e lembrei-me de uma atitude idiota, que até pelo que percebi nem é das piores a nível dos nossos patrões mas que me vai levar, quando tudo isto estiver normalizado, a entregar a carta de demissão.

    Numa empresa de telecomunicações, houve séria resistência a tele-trabalho...isto para uma área que não sendo técnica não nos exige a presença nas instalações.

    Estávamos a discutir trocos, literalmente.

    Por isso, vamos animar-nos, aproveitar este tempo juntos, estamos sempre a queixar-nos que não temos tempo para estarmos com os nossos filhos, etc, e sairemos mais fortes no final.

    No seguimento deste meu devaneio:

    https://youtu.be/LPn0KFlbqX8

    Que se encontrem e assim se mantenham, todos bem.

    Beijinhos

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    1. Eu tinha-te respondido, um extenso comentário, mas vi agora que não ficou...

      Já não sei bem o que dizia, mas sei que se focava no que dizias sobre a atitude das pessoas e o que nos faz repensar certas coisas na vida. Estou como tu. É nesta fase que vemos, de forma por demais evidente, a pequenez de certas pessoas/instituições. Oxalá possamos fazer alguma coisa em relação a isso, quando tudo isto passar. Está nas nossas mãos dar a volta, e saber a quem dar valor, quando a tempestade passar.

      Vamos tentar tirar disto o que de bom podemos tirar, e não nos vamos focar demasiado no negativo.

      Que tu e os teus se mantenham em segurança!

      Um beijinho

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