Toda a gente me pergunta se estou entusiasmada.
Não sou capaz de responder afirmativamente.
Não sou.
Talvez por ser sempre pouco efusiva. Talvez por ser sempre cautelosa. Talvez por ser aquela que analisa sempre todos os cenários mil e uma vezes, incluíndo os piores.
Não consigo sentir-me entusiasmada. Foi tudo muito rápido. É tudo demasiado assustador.
Estou a largar um daqueles empregos estáveis, seguros e confortáveis, que não me daria muitas chatices e que duraria a minha vida toda, se eu assim o quisesse.
Estou a atirar-me de cabeça para o desconhecido, para o incerto, para o inseguro.
E isso é assustador. Muito. Não me posso esquecer que, no fim de cada mês, sou só eu e as minhas contas para pagar (e as do Snow, já agora). Não me posso esquecer de todas as histórias que conheço de desemprego e de vidas que deram voltas tremendas. Não me posso esquecer de todos os riscos que estou a correr.
Não estou entusiasmada.
Ainda não me caiu bem a ficha.
Ontem caiu um bocadinho mais. Ontem, quando soube que sexta-feira é o meu último dia no actual emprego, as coisas começaram a tornar-se reais. Estava mentalizada para ainda trabalhar a próxima semana, até dia 31. Estava mentalizada para não ter férias, para ainda ter mais uma semana para fazer as despedidas, para deixar a casa arrumada. Mas não. Faltam dois dias e meio de trabalho. Ontem começou mesmo a cair a ficha.
Mas ainda não estou entusiasmada.
Lá para dia 3 à noite, quando tiver de pensar no que vestir no dia seguinte, talvez me dê o entusiasmo.
E nos dias seguintes. E em todos os que se seguirem a esses durante muito tempo. Espero eu.