quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Do Fim da Europa...

Ah! O Fim da Europa!...

Tanta coisa para dizer e não sei bem como...

Eu já tinha por aqui dito que a minha confiança estava em níveis abaixo dos mínimos. E estava. Com o aproximar da prova não melhorou nada, porque não consegui treinar grande coisa, e o pouco que treinei, não correu muito bem. Ia para uma prova de 17km, sendo que a última vez que tinha feito mais do que 10km, tinha sido na última meia, no início de Dezembro. A juntar a isso, a dificuldade da prova e das suas subidas, coisa a que não estou minimamente habituada (viva o Passeio Marítimo, sempre plano!). A juntar ainda, a probabilidade de chuva.

O meu estado de espírito na véspera da prova não era o melhor, estava muito cansada depois de uma semana de loucos que culminou com aulas no Sábado, não me estava a sentir muito bem, mal consegui jantar e dormi pouco. Domingo acordei pior (vou poupar-vos os pormenores muito gráficos mas digamos que passei bastante tempo na casa-de-banho), e quase não consegui comer de tão enjoada que estava. Isto são nervos, pensei eu. Vontade de correr a zero. Ansiedade a mil. Viagem para o Cabo da Roca em modo acelerado, porque com isto tudo acabei por me atrasar a sair de casa e tinha combinado com o grupo (e com quem tinha os dorsais) às oito.

Mesmo sem conseguir comer, o meu ânimo lá foi aparecendo, e os nervos foram acalmando. Viagem até Sintra. Caminhada até ao centro da vila, com paragem estratégica na Sapa (e não foi para comer queijadas, mas podia...). Obriguei-me a comer uma panqueca que tinha levado e uns frutos secos, porque sabia que era um disparate ir fazer 17km de estômago vazio.

Deixei a tralha toda e a roupa em excesso na carrinha que ia levar os bens dos atletas para a meta e acho que foi aí que me caiu a ficha. Fomos em grupo para junto da partida, fui encontrando gente conhecida, e comecei a entrar no espírito. Ia mesmo acontecer. Eu ia mesmo fazer aquela prova. Eu ia mesmo fazer aqueles 17km.

Tinha passado os dias anteriores a mentalizar-me que ia lá passear, ia aproveitar a vista, ia sem pressas, sem pressões. Tinha o meu objectivo de tempo definido, bastante vergonhoso, diga-se, mas era bastante realista, face à minha condição. Últimas despedidas, muitos sorrisos, e ouve-se o tiro de partida. Despedi-me de quem estava comigo (eu era a mais lenta do grupo - é o que dá ir correr com 9 homens que, efectivamente, correm...) e deixei-me ir no meu ritmo.

Desta vez, nem música levei. Foi a primeira vez que fiz uma prova sem música. E sabem que mais? Sobrevivi! E nem sequer senti falta! Eu sei que esta era uma prova atípica, mas, a verdade é que acho que vou começar a correr assim. Mais leve, mais focada.

O início da prova é complicado, começamos sempre a subir, e eu estava muito consciente da importância de me poupar nos primeiros quilómetros, sobretudo porque não estava a 100% e sabia que a qualquer momento o meu corpo podia fazer das suas e obrigar-me a parar. E foi isso que fiz. Muita gente conhecida foi passando por mim, sempre com uma palavra simpática, sempre com uma palavra de força, e eu lá continuei no meu ritmo de lontra. Sempre tranquila. Sempre sem pressões.

A prova foi difícil. Foi. Caminhei muito em muitas partes do percurso. Não quis saber. Nunca caminhei sozinha, isso é certo. E limitei-me a ouvir o meu corpo e a ir fazendo o que me apetecia. Mais uma vez, sem pressões. O tempo não estava grande coisa. Não choveu, propriamente, mas estava imenso nevoeiro e tanta humidade no meio da serra e das árvores, que parecia que estava a chover. Houve alturas em que tive muito frio e sentia-me muito desconfortável - é o que dá correr devagar. Fiz os primeiros 10km muito lentamente. Mesmo muito lentamente. Comecei a olhar para o relógio e a fazer contas. Comecei a achar que tinha feito aquele troço demasiado devagar e não ia conseguir cumprir o tempo que tinha definido na minha cabeça. A boa notícia é que ia começar a parte da prova que era sempre a descer. A má notícia é que ainda faltavam 7km e não podia correr o risco de acelerar demasiado e depois quebrar antes de chegar ao fim. Fui gerindo o esforço, fui baixando a média, e quando faltavam 2km, o meu rosto iluminou-se quando vi quem voltava para trás para me fazer companhia até à meta.

Consegui chegar ao fim, viva e inteira, e fazer menos um minuto e pouco do que tinha definido. Estava de rastos. Mas sentia-me tão bem! Tinha sido capaz. Depois dos nervos todos, depois do meu corpo a não colaborar, depois dos medos e inseguranças. Tinha conseguido!

Uma das primeiras coisas que disse quando cheguei ao pé do grupo foi que dificilmente me voltavam a apanhar naquela prova. Sentia-me demasiado desgastada. Estava muito desconfortável e nem o chá quente que ofereciam no final, me aqueceu. Juntem a isto uma caminhada de quase 3km, sempre a subir, para regressar ao carro, e imaginem o meu estado de espírito.

Deixei passar uns dias, deixei a "poeira" assentar, e agora, ao escrever isto, a perspectiva é diferente. Vou querer voltar, sim. Foi a prova com melhor ambiente que já fiz. De longe. Perdi a conta às pessoas que se meteram comigo (é o que dá ter uma camisola personalizada com o meu nome e com o nome da empresa pela qual corro - que não é a minha -, que se presta a algumas piadas), foram muitas as palavras trocadas, os sorrisos, os incentivos, as gargalhadas conjuntas com perfeitos desconhecidos. Apesar do frio e do nevoeiro, e de não ter visto nenhuma vista espectacular porque a visibilidade devia rondar os 20 metros, o ambiente no meio da serra é maravilhoso e único.

Vou querer voltar, sim. Porque sei que podia ter feito tão melhor!... Não estava a 100%, por um lado, e "engonhei" muito, por outro. Consta que entre quem acabou a prova depressa e esperava por mim na meta, fui apelidada de "ronhas", precisamente por já saberem que eu sou capaz de muito mais do que aquilo que faço e que sou muito queixinhas. E sou! Sou princesa mimada!... E eles têm razão... Eu podia ter feito bem mais, e acabei a prova com uma sensação agridoce. Sim, consegui. Mas sim, devia ter feito mais e melhor. É também esta frustração que me leva a querer voltar para o ano. Mas não digam a ninguém, que eu fartei-me de refilar com quem me convenceu a ir!...

Próximo grande objectivo? Meia-maratona de Lisboa.



(anda uma pessoa a estudar para, entre outras coisas, aprender a escrever no mundo online, e depois sai-se com um testamento que quebra todas as regras...)

2 comentários:

  1. Muitos parabéns pela vitória!
    O belo deste desporto é que não tem apenas como vencedor o primeiro mas sim todos aqueles que se superam e ultrapassam as dificuldades que possam estar a passar, como foi o caso dos problemas antes da corrida.

    E uma coisa aprendi eu neste mundo. O que dizemos e garantimos nos momentos finais duma corrida, ao estilo de "nunca mais...", são muito passageiros.

    Beijinhos, mais uma vez parabéns, e força para a Meia (que para mim vai ser especial pois vou, no local da primeira, realizar a minha Meia número 50)

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    1. Obrigada! :) Sim, eu não ia para esta prova preocupada com tempos. Só queria mesmo chegar ao fim, e cheguei :)

      Eheheh! É bem verdade! Quantos de nós não acabámos já uma prova a dizer "nunca mais!", e acabamos a fazer o mesmo outra vez? :)

      50 Meias? Uau! Então nem imagino a sensação no final! Para mim, vai ser apenas a quarta, mas vou para acompanhar uma amiga que vai fazer a sua primeira :) Vai ser muito especial, tenho a certeza!

      Continuação de bons treinos para Sevilha :)

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