sábado, 5 de janeiro de 2013

Da terapia que faço a mim mesma...

A vantagem de ter passado por alguns psiquiatras e psicólogos, é que fui aprendendo algumas coisas. Fui ganhando ferramentas, fui aprendendo a dar um passo atrás e a perspectivar, fui aprendendo a analisar-me (minimamente) a mim própria.

Assim, facilmente concluo que uma das principais razões do meu desânimo de ontem (se não mesmo a única), resume-se numa palavra de três letrinhas apenas... Pai. E agora podia vir um psicólogo qualquer a correr, a dizer que eu estou apenas a projectar a minha culpa no meu pai. Não, é mais complexo que isso.

Não culpo o meu pai pelo meu insucesso (agora a terapeuta perguntava-me se considerava mesmo o que fiz um insucesso). Obviamente que não. Ele não tem culpa nenhuma. Então por que raio ele é para aqui chamado? Porque eu acho sempre, sempre, sempre, que não sou boa o suficiente (ah! as maravilhas da terapia...).

Já se sabe que a minha relação com a minha mãe roça o limiar do inexistente desde que eu me lembre. Cresci com o meu pai, fui educada pelo meu pai, durante muitos anos não conheci outra figura que não a do meu pai. E isso condiciona-me, claro. Faz de mim quem sou.

O meu pai (o melhor do Mundo, leia-se), é uma pessoa extremamente exigente e fomos educados assim. Daí este meu complexo de nothing is good enough. Daí os níveis de exigência que defino para mim mesma, daí a permanente insatisfação.

O que eu senti ontem perante a nota da minha tese de Mestrado foi desânimo, tristeza, fracasso, mas foi, também, o receio de, once again, ter desiludido o meu pai. Porque eu quero sempre, muito, ser um motivo de orgulho para o meu pai. E, sobretudo neste caso, em que foi ele que paitrocinou o mestrado, isso era ainda mais importante.

E eu sinto, honestamente, que falhei. Que podia ter feito tão mais. É a frustração de saber que tinha capacidade para muito mais e que não fiz, por que não fiz.

Posso arranjar desculpas, como qualquer terapeuta me diria condescendentemente: passei por um divórcio a meio do mestrado, mudei de casa, recomecei do zero, tenho dois empregos. No meio disto tudo, o que fiz foi um sucesso. Mas não é, sabem? E isso são apenas desculpas. Desculpas para, como sempre, não ter feito mais.

Vivo nesta rotina desde sempre: não faço o suficiente, fico triste com os resultados, digo que podia ter feito mais. Over and over again.

Ou talvez eu tenha feito o suficiente, para mim. Mas não fiz o suficiente, para o meu pai. Acho sempre que não fiz o suficiente. 

No meio disto tudo, eu martirizo-me, penitencio-me, choro baba e ranho. O meu pai? O meu pai deu-me os parabéns e disse-me para escolher um restaurante para irmos comemorar o fim do mestrado.* 



*(Um dia falarei sobre a minha veia drama queen que me leva a sofrer por mim, pelos outros, pelos males do mundo inteiro, só porque sim. Só porque gosto de me massacrar e fazer sofrer e desperdiçar horas de vida em modo depressivo. Isto levaria a todo um outro tema, ligado a este - o eu achar que, além de nunca ser boa o suficiente, nunca sou merecedora de nada de bom... E assim se poupam dezenas de euros em terapia... Maravilhoso mundo dos blogues!)

9 comentários:

  1. Não é uma plmadinha nas costas até porque cada um sabe o que sente e ninguém é dono da verdade, mas...já que o teu pai reagiu dessa forma...tenta aproveitar o que é possível. Achas que consegues dividir isso com ele (esse sentimento ?) Talvez te ajudasse a libertar um pouco mais. Digo eu (não sei). Como disse o meu faleceu agora perto do Natal e eu também queria sempre que ele tivesse orgulho em mim...e tinha (eu nem sequer era grande aluna), mas...agora sem ele é tão pior...
    Olha amiga...bem ou mal tenta mas é aproveitar todos os bocadinhos e quando te sentires assim...se conseguires...partilha com ele.
    Não me leves a mal a opinião, que na verdade não tem valor. Só tu saberás o que é melhor.
    Beijinho

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    1. Obrigada pelas tuas palavras. Acredito que, neste momento, não seja fácil para ti ler e falar sobre estes assuntos. Por isso, muito obrigada. Um grande beijinho!

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  2. (inserir asneira)... Este post podia ser escrito por mim. Tens neuroses muito parecidas com as minhas e eu também enumero os obstáculos por que passei durante este ou aquele processo e digo a mim mesma que não são desculpa (excepto que, quando estamos a passar pelo obstáculo, sabemos que custa e que precisamos das pausas todas que conseguirmos).
    Nos momentos de maior calma e clareza tento convencer-me de que sou humana, tenho direito a errar, tenho direito a tropeçar, e a deixar determinadas coisas incompletas na vida. E, acima de tudo, não posso levar a vida tão a sério... não vamos sair vivos dela, mais vale deixar fluir...

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    1. Ahahah! Não consegui não me rir com o início do teu comentário. Companheiras de neuroses, é sempre bom :) (mas é verdade, que eu sei que sim.).

      Deves saber, tão bem como eu, que não é fácil. Não é nada fácil assumir que somos humanas, que erramos... Tenho, muitas vezes, a sensação que não fui educada para ser humana. Ou se calhar, fui, e acho que não, e dramatizo nesse sentido. O tempo ajudar-me-à a perceber...

      Obrigada pelas tuas palavras e um grande beijinho!

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  3. Os pais vão estar sempre lá para nós, no matter what! Se fizeste aquilo que as circunstâncias (que não foram nada fáceis) permitiram, só tens de aceitar que fizeste o melhor que podias. Ter a vida de pernas para o ar e dois empregos, não é nada fácil e um mestrado, suponho, é demasiado exigente. Congratula-te pelo que alcançaste e por onde estás! Parabéns querida :)

    Beijinhos

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  4. És tu e o teu pai e eu e a minha mãe...

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