A vantagem de ter passado por alguns psiquiatras e psicólogos, é que fui aprendendo algumas coisas. Fui ganhando ferramentas, fui aprendendo a dar um passo atrás e a perspectivar, fui aprendendo a analisar-me (minimamente) a mim própria.
Assim, facilmente concluo que uma das principais razões do meu desânimo de ontem (se não mesmo a única), resume-se numa palavra de três letrinhas apenas... Pai. E agora podia vir um psicólogo qualquer a correr, a dizer que eu estou apenas a projectar a minha culpa no meu pai. Não, é mais complexo que isso.
Não culpo o meu pai pelo meu insucesso (agora a terapeuta perguntava-me se considerava mesmo o que fiz um insucesso). Obviamente que não. Ele não tem culpa nenhuma. Então por que raio ele é para aqui chamado? Porque eu acho sempre, sempre, sempre, que não sou boa o suficiente (ah! as maravilhas da terapia...).
Já se sabe que a minha relação com a minha mãe roça o limiar do inexistente desde que eu me lembre. Cresci com o meu pai, fui educada pelo meu pai, durante muitos anos não conheci outra figura que não a do meu pai. E isso condiciona-me, claro. Faz de mim quem sou.
O meu pai (o melhor do Mundo, leia-se), é uma pessoa extremamente exigente e fomos educados assim. Daí este meu complexo de nothing is good enough. Daí os níveis de exigência que defino para mim mesma, daí a permanente insatisfação.
O que eu senti ontem perante a nota da minha tese de Mestrado foi desânimo, tristeza, fracasso, mas foi, também, o receio de, once again, ter desiludido o meu pai. Porque eu quero sempre, muito, ser um motivo de orgulho para o meu pai. E, sobretudo neste caso, em que foi ele que paitrocinou o mestrado, isso era ainda mais importante.
E eu sinto, honestamente, que falhei. Que podia ter feito tão mais. É a frustração de saber que tinha capacidade para muito mais e que não fiz, por que não fiz.
Posso arranjar desculpas, como qualquer terapeuta me diria condescendentemente: passei por um divórcio a meio do mestrado, mudei de casa, recomecei do zero, tenho dois empregos. No meio disto tudo, o que fiz foi um sucesso. Mas não é, sabem? E isso são apenas desculpas. Desculpas para, como sempre, não ter feito mais.
Vivo nesta rotina desde sempre: não faço o suficiente, fico triste com os resultados, digo que podia ter feito mais. Over and over again.
Ou talvez eu tenha feito o suficiente, para mim. Mas não fiz o suficiente, para o meu pai. Acho sempre que não fiz o suficiente.
No meio disto tudo, eu martirizo-me, penitencio-me, choro baba e ranho. O meu pai? O meu pai deu-me os parabéns e disse-me para escolher um restaurante para irmos comemorar o fim do mestrado.*
*(Um dia falarei sobre a minha veia drama queen que me leva a sofrer por mim, pelos outros, pelos males do mundo inteiro, só porque sim. Só porque gosto de me massacrar e fazer sofrer e desperdiçar horas de vida em modo depressivo. Isto levaria a todo um outro tema, ligado a este - o eu achar que, além de nunca ser boa o suficiente, nunca sou merecedora de nada de bom... E assim se poupam dezenas de euros em terapia... Maravilhoso mundo dos blogues!)