domingo, 7 de março de 2021

Dos pensamentos que me ocupam às cinco da manhã...

Não sei se tenho mais saudades das coisas que a Covid me tirou, se das coisas que a maternidade me tirou. Dadas as circunstâncias actuais, ambas confundem-se e é difícil identificar quais são quais. Pouco importa, na verdade.

Mas tenho saudades. Tenho saudades de restaurantes. De esplanadas. De ficar na praia até ao pôr do sol. De ir à Davvero comer um gelado. De ir a um concerto ou a um espectáculo. Tenho saudades das minhas pessoas. De estarmos juntos só porque sim. De respirarmos o mesmo ar sem medo do que daí pode vir. De nos abraçarmos. Eu, que nem sou de abraços. Porra. Tenho saudades de um abraço. Tenho saudades de tudo ser simples e fácil. De ir a algum lado, ser apenas ir a algum lado. Sem medos, sem paranóias, sem máscaras e sem desinfectantes. Tenho saudades de almoços de horas. De visitas inesperadas. De dias sem planos e sem horários. De dormir até tarde. De dormir, no geral. De me sentir leve e feliz. Tenho saudades da vida que tinha e que sei que nunca voltará. Com ou sem covid. Tenho saudades de correr nos trilhos. Das provas. A dois ou em equipa. Da sensação boa que vinha no final, que fazia esquecer o cansaço e eventuais maleitas. Tenho saudades de viajar. Daquela excitação boa que surgia sempre que entrava num avião, fosse qual fosse o destino. Ou num carro, pouco importa. Tenho saudades de Lagos. Dos percebes. Dos gelados. De Porto de Mós e do Zavial. Da pizzaria debaixo do prédio. Da mini varanda que aqui não temos. Tenho saudades dos pés descalços e dos chinelos. Do não ter pressa. Das caminhadas na marginal e nos passadiços. Tenho saudades de tanta coisa a que antes não dava o valor suficiente. Tanta.

É pena, é mesmo pena, que na maior parte dos casos, só demos valor às coisas quando deixamos de as ter. Seja por culpa da covid, seja por culpa da maternidade. 

Se tudo isto não servir para mais nada, que sirva para que eu aprenda a dar valor às pequenas coisas. 

6 comentários:

  1. Não damos o devido valor ao que (ilusoriamente) consideramos como adquirido...
    Iremos aprender? Não sei. É como num funeral abanarmos a cabeça afirmando que há pequenos nadas que nos enervam e afinal não têm qualquer valor, para logo de seguida cairmos no mesmo com a voragem quotidiana. Mas como esta situação está a arrastar-se há tanto tempo, as marcas que vai deixando podem ser a mola para essa nova aprendizagem. Pelo menos para o tentarmos...
    Beijinhos :)

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    1. Esperemos que sim, João! Que possamos mesmo aprender com isto!

      Um beijinho

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  2. Por acaso eu empre dei imenso valor àquilo que chamava de "pequenas coisas"...
    Nem tudo é da maternidade, nem tudo é do CoViD e sim, perdem-se muitas liberdades com a maternidade, mas ganha-se também, quanto ao CoViD acho que não ganhamos nada mesmo!

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    1. Eu achava que dava, mas, se calhar, não dava o suficiente... Neste momento, conto os dias para sentar o rabo na praia em Lagos, para comer os meus percebes, para comer um gelado e uma bola de Berlim. Não peço mais nada!

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  3. Eu sempre fui muito dada a abraços e manifestações de afecto. sou uma pessoa de proximidade e de convívio. A maternidade, da primeira vez, deixou-me de rastos...nos primeiros meses (até voltar a trabalhar e entrar no ritmo). O Covid parece-me que me vai marcar para sempre emocionalmente.

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    1. Eu nunca fui, e não sei se, depois disto, algum dia serei. Ainda vou demorar a conseguir voltar a aproximar-me e abraçar alguém... Acho que vamos mesmo ficar todos marcados por este ano de vida em suspenso!...

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