sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

Das corridas... - XLIV

Daqui a bocado passou um mês e eu não falei das últimas provas de 2017... Pergunto-me se valerá a pena nesta altura, mas, em querendo, podem sempre passar à frente.

Este ano achei que era boa ideia fazer a São Silvestre dos Olivais e a de Lisboa (já tinha feito a de Corroios e sempre ouvi dizer que "não há duas sem três").

Como a generalidade das minhas supostas boas ideias, não foi uma boa ideia.

O objectivo inicial era fazer a dos Olivais em ritmo passeio, acompanhando Senhor Meu Pai, e guardar-me para a de Lisboa, onde queria fazer um ritmo razoável (mesmo sabendo que era impossível bater o recorde do ano passado - é lá que está o meu melhor tempo aos 10km). Acontece que Senhor Meu Pai, ao fim de menos de 2km, dispensou a minha companhia (também sempre ouvi dizer que "mais vale só do que mal acompanhado").

Na corrida aprendemos muitas lições, e uma delas é mesmo esta: nem sempre é bom correr com companhia. Às vezes, é mesmo melhor estarmos sozinhos. Quando tentamos correr com pessoas com ritmos/objectivos diferentes dos nossos, tende a acontecer algo que não é bom para ninguém: vai toda a gente em esforço - uns para ir mais devagar, outros para ir mais depressa. Se há momentos em que isto é bom, e é o que, muitas vezes, nos ajuda a evoluir (quando corremos com quem corre mais depressa do que nós), há momentos em que isto é só parvo porque nos obriga a um esforço maior do que aquilo que devemos suportar e impede-nos de gerir a nossa prova (ou o treino) como devia ser. E foi isto que aconteceu. E eu tive de aceitar ver a minha companhia desprezada e tive de seguir sozinha.

Ora, em prova e sozinha, sem ter sequer uma musiquinha para me acompanhar, eu tive alguma dificuldade em manter-me no meu ritmo desejado de passeio e entusiasmei-me mais do que devia. Não fiz nenhum tempo de jeito (porque os dois primeiros quilómetros foram bastante lentos e porque a prova não é mesmo das mais fáceis), mas também não geri como devia o meu esforço.

O que não teria problema se não fosse a São Silvestre de Lisboa menos de 24 horas depois.

O relato já vai longo, por isso, vou resumir: quando acabei a São Silvestre de Lisboa só queria chorar. Sentia um aperto no peito enorme, não conseguia respirar, e só queria mesmo um abraço. O problema? Demorei uma pequena eternidade até voltar a encontrar as minhas pessoas. E quanto mais tempo passava, mais eu me sentia só e abandonada no ponto de encontro que tínhamos combinado. E com mais frio, e mais desesperada, e mais frustrada.

Sim, dramática como sempre.

A prova não correu bem. A partir dos 4/5 quilómetros, eu deixei de ter força nas pernas e a prova tornou-se um suplício. E a isto seguiu-se a parte que eu mais detesto em todas as provas naquela zona: a zona da Ribeira das Naus, com aquele chão horroroso, que não dá jeito nenhum, que me incomoda os pés, que me irrita. E depois a entrada na Baixa, e depois o começar a subir, e depois mais chão horroroso no Rossio, e depois os Restauradores, e depois a bela Avenida da Liberdade, e depois a rotunda do Marquês.

Fiz um tempo miserável. Estava mentalizada para fazer (bem) pior do que no ano passado, mas queria fazer menos de uma hora. Não consegui. Por 26 segundos, não consegui. E senti-me estúpida. Verdadeiramente estúpida. Porque sei que isto só aconteceu porque eu não soube gerir o esforço na noite anterior.

Podia ter feito duas provas espectaculares e não fiz nenhuma prova de jeito.

Agridoce: a aprender lições na corrida desde 2015.

10 comentários:

  1. Estamos sempre a acumular experiências que nos poderão vir a ser úteis no futuro. Foi o caso das 2 São Silvestres. Mas isto de enriquecer experiências, não significa que deixamos de cometer erros. Vamos sempre cometer e nalguns questionamos como foi possível termos caído nesse erro quando já saberíamos no que iria dar mas ignorámos.

    Sobre o correr acompanhado, é como dizes. O que se passa é quando alguém, o mais rápido, combina ir com alguém mais lento, tem que assumir que vai ao seu ritmo e não tenta forçar. Só assim resulta. E garanto-te que dessa forma resulta pois já vivi a experiência das duas formas, ser eu o acompanhado ou o acompanhante.
    Não havendo esse, digamos, pacto, é sempre uma experiência frustrante. Havendo, é uma experiência enriquecedora para ambos.

    Beijinhos e que tenhas um excelente fim-de-semana :)

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    1. "Mas isto de enriquecer experiências, não significa que deixamos de cometer erros. Vamos sempre cometer e nalguns questionamos como foi possível termos caído nesse erro quando já saberíamos no que iria dar mas ignorámos."

      Se tu com a tua experiência toda dizes isto... Eu nem questiono :) Mas sim, sei que não estou sozinha em alguns dos meus disparates!

      Eu já tive muitas experiências positivas dessas. Já tive quem puxasse por mim, e também já fui eu a puxar por alguém. E pode ser mesmo muito bom! Desta vez, e como se viu pelo resto da minha prova, eu é que estava mesmo com dificuldade em correr devagar (e o meu Pai estava a correr com algumas dificuldades em correr ao ritmo normal - que entretanto foram explicadas pelo regresso de uma anemia). Mea culpa inteiramente!

      Obrigada e uma boa semana para ti :)

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  2. No início desesperava muito por correr acompanhada, com o tempo comecei a ver as coisas de maneira diferente, um pouco de como disseste, muitas das vezes sou um atraso de vida para outros, como senhor meu pai por exemplo, mas pai gosta de fazer um esforço, desesperante é eu estar a puxar por mim e ele ir fazendo ziguezagues, levantando os joelhos ao peito e eu morrendo tentando acompanhar a sua passada, mas também já me aconteceu o inverso, ir a provas com amigas e até me estar a sentir em forma, pronta para o desafio, quando dou por mim estou muito mais à frente e volto para trás para as apanhar e ando nisto... enfim... é como dizes não é bom para ninguém. Agora a verdade é que a companhia ajuda imenso no combate à preguiça (meu maior aliado neste momento)!

    Quanto à S.Silvestre Lisboa, dou-te todo o meu apoio quanto ao piso na zona da Ribeira das Naus, ainda por cima eu sou uma desastrada, calçada normal a malta ainda tolera se não for em tempo chuvoso, agora aqueles calhau gigantes que não são práticos para nada e claramente para correr muito menos, é o pé a assentar de forma incorrecta, com fortes probabilidades de sofrer uma entrose, ou para os desajeitados como eu, forte probabilidade de queda. Para rematar, a bela subida do Rossio ao Marquês, mesmo quando já quase não existem cartuchos para gastar...

    A sensação de abandono no final... dava-te um abracinho, mas estou longe, só se quiseres vir fazer uma prova a Paris :)

    Já sabia que era dramática, mas acho que tu puxas essa 'veia' que há em mim!

    Ao menos já sabes que para o ano não te metes na mesma aventura e ainda que não tenhas feito nenhuma prova de jeito, fizeste-as, por si só já é um feito :) Força!

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    1. Como comentei com o João, por vezes, pode ser muito bom. Já tive momentos muito felizes em que foi essa companhia que fez toda a diferença (na minha prova ou na de quem eu acompanhei), mas, por vezes, corre mesmo mal para toda a gente...

      Obrigada pela solidariedade! Ahahahah! Hei-de ir a Paris correr um dia, sim! E tu largas a preguiça e vais também :)

      Sim, essa lição já aprendi! Mas, quero dizer... Logo se vê! Faço questão de fazer a de Lisboa, e este ano gostava de me estrear na da Amadora... Se a de Lisboa for a 30, estou feita outra vez! Ahahahah!

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  3. Correr com companhia, sobretudo em provas, exige mesmo esse pacto de que o João fala ali em cima e que depois tem que ser respeitado na íntegra para que ambos estejam confortáveis. Já estive de ambos os lados e da primeira vez que isso me aconteceu numa prova foi num trail solidário em Sintra, sem carácter competitivo. Eu corria há pouco tempo e um colega foi sempre de roda de mim a ajudar-me. Numa altura em que ele foi fazer um sprint por uma subida acima para depois esperar lá por mim outro atleta diz-me que "Se ele vai fazer a prova toda consigo tem aqui um grande amigo. Não se sinta mal e aproveite este apoio. Qualquer dia é você a ajudar assim alguém." E eu deixei de me sentir culpado.

    Ainda agora na SS Lisboa fiz eu de lebre, passei semanas a dizer que ia fazer a prova só para ajudar a malta e mesmo assim a colega que levei até ao Marquês mandou-me ir andando aos 5km e aos 8km porque não queria que eu fizesse um tempo "fraquinho sem necessidade". No fim agradeceu-me a ajuda para bater o record dela e admitiu ter sentido que a prova pareceu ter passado muito depressa de tão distraída que ia só por causa da companhia... e das minhas palhaçadas a meter-me com o público exactamente a partir desse zona manhosa que referes.

    Só sabes que foi um erro depois de teres feito as provas. Podia ter corrido bem se fosse dentro dos planos originais. Pessoalmente fazendo duas provas em dois dias colocaria sempre o foco na primeira. Fizeste as duas e isso é sempre positivo. Agora já sabes que tens que pensar duas vezes caso estejas perante uma situação semelhante.

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    1. Sim, como já disse anteriormente, pode ser uma excelente experiência. Neste caso, não foi. E por culpa minha, apenas.

      Eu coloquei o foco na segunda apenas porque a segunda era mais fácil e porque é nela que está o meu recorde pessoal dos 10km... Mas, na verdade, não coloquei o foco em nenhuma e foi o que foi. A verdade é que isso já não interessa nada agora e novos objectivos estão já aí :)

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  4. Sempre a aprender ;) ... mas não te preocupes. Vais continuar a "errar" e a "acertar" ... não leves isto das corridas demasiado a sério :)
    Olha vê lá uma coisa ... mais duas para o CV e mais histórias para contar.
    Boas Corridas e força nessas canetas :)

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    1. Não levo, não :) Dois dias depois já nem me lembro da neura :)

      Bons treinos!

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  5. Eu tenho corrido sempre sozinha. Na verdade corri acompanhada na minha 1ª corrida de 10km, o que foi ótimo porque a senhora foi ao meu ritmo mas sempre a puxar por mim... demorei 1 ano a conseguir melhor tempo. E da outra vez, em Alverca, fui eu que acompanhei a 1ª corrida da minha amiga, que se portou lindamente e foi basicamente o meu ritmo normal.
    De resto, tenho preferido ir sozinha.

    Como não há duas sem três, para o ano faço a SS de Lisboa. E espero ver-te à minha espera na meta! :P

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    1. Eu depende dos dias... Curiosamente, ou não, em trail gosto mais de ir sozinha, e em estrada, gosto mais de ir acompanhada.

      Vamos embora! Essa é daquelas que hei-de querer fazer sempre :)

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