Se há coisa em relação à qual eu me sinto bipolar, é a corrida. Não consigo ser constante nem coerente. Há dias em que adoro, há dias em que detesto.
No Domingo, na Corrida Fim da Europa, foi um dos dias em que eu adorei. E adorei porque me senti muito feliz. Porque me senti bem. E podia terminar o relato por aqui e estaria tudo dito. Porque, no fim de contas, é isso que importa: sentirmo-nos bem!
Mas há muito mais para dizer. Obviamente.
O dia começou às seis e meia da manhã. Quem é que se levanta às seis e meia da manhã de um Domingo para ir correr? Os loucos. Estava um frio terrível e eu só queria voltar para a cama. O ponto de encontro era na área de serviço da A5 e depois seguimos na camioneta da equipa para a Azóia, onde íamos apanhar o autocarro para o início da prova. Parecíamos uma excursão de miúdos, todos na galhofa!
Chegámos a Sintra estupidamente cedo (é um dos defeitos desta prova, a meu ver, mas é talvez o único). Deu para fazer duas paragens técnicas em dois cafés, deu para comprar queijadas, deu para tirarmos muitas fotos, deu para nos reunirmos com mais elementos do grupo. Eu estava bastante tranquila, só tinha frio e só estava indecisa quanto ao que levar vestido durante a prova. Quando chegou a hora de deixar a mochila no bengaleiro (ponto muito positivo desta prova!), optei por ficar com a tshirt e a camisola de manga comprida por cima, porque estava mesmo muito frio e a serra é sempre uma incógnita. Depois do que sofri o ano passado e do desconforto que senti, não quis arriscar. Claro que acabei por tirar a camisola pouco depois do início e correr só de tshirt, que já se sabe que sou calorenta, mas antes calor do que frio.
Antes da prova ainda vi muitas caras conhecidas! Vi o N., e, finalmente, conheci a Fabiana e a Asmática! E é tão bom conhecer ao vivo e a cores pessoas que sentimos que já conhecemos depois de tanta partilha por aqui! Um dia destes, organizamos a Corrida dos Blogues! Quem alinha?
Assim se passou o tempo até que era chegada, finalmente, a hora da partida, e feitas as despedidas, lá fui eu. Tive companhia durante os primeiros 500 metros. Depois, como seria de esperar, fiquei para trás e deixei-me ir. Sabia que era importante gerir bem os primeiros 4km. E foi o que fiz. E sentia-me bem.
Não é por acaso que o slogan do Fim da Europa é "dificilmente haverá prova mais bonita". Não deve haver mesmo. Talvez quando fizer uma nos Açores possa comparar. Até lá, esta é mesmo a mais bonita. E este ano, com o sol e o céu limpo, as vistas eram mesmo incríveis. Em vários momentos dei comigo a olhar à minha volta, a apreciar, simplesmente. Sintra é mesmo um sítio muito especial e a descida em direcção ao Cabo da Roca é também uma experiência única.
Acabei a prova com um tempo que me deixou muito feliz. Tinha dúvidas se iria conseguir fazer melhor do que no ano passado, culpa de alguma falta de treino. Mas não só fiz melhor, como fiz menos oito minutos e meio. E oito minutos e meio é muito tempo!... Tinha a coisa relativamente controlada, mas entre os quilómetros 9 e 11 fui mais devagar, para fazer companhia a um colega de equipa que acabou por desistir e não sabia se ia conseguir recuperar. Depois de deixar esse colega para trás, encontrei uma rapariga que tinha aparecido um par de vezes nos treinos do grupo do meu subúrbio e acabei por ir com ela. Era a primeira vez que ela fazia uma prova tão longa e lá fui puxando por ela, quando ela queria abrandar. Acabámos por seguir juntas quase até ao final, e eu só me distanciei para fazer um esforço final nos últimos quinhentos metros, mais coisa, menos coisa. Depois daquela subida horrososa já perto do final, e quando entrei na última descida, já com a meta à vista, liguei o turbo e lá fui eu. Quando percebi que ia cortar a meta dentro da 1h50 fiquei tão, mas tão feliz, que, pela primeira vez, dei um salto ao cortar a meta.
É indescritível o quão diferente esta prova foi da do ano passado. E também eu acabei a prova a sentir-me completamente diferente. Se o ano passado estava super desconfortável, frustrada, cheia de dores e em sofrimento, este ano também estava cheia de dores mas muito feliz e orgulhosa de mim mesma.
A surpresa foi tanta com o meu resultado que havia quem dissesse que me tinha visto a ir em direcção à meta e havia quem dissesse que era muito cedo e que não podia ser eu! As minhas pessoas têm imensa fé nas minhas capacidades. Só que não.
O relato já vai longo... Tenho a sensação que fica muito por dizer mas também tenho a sensação de estar a ser ligeiramente chata e repetitiva.
Foi uma prova feliz. É o Fim da Europa. E isso basta. Quem já lá foi, sabe o que quero dizer. Quem nunca foi, vai ter de ir para perceber verdadeiramente o que quero dizer.