Apesar de pouco ou nada treinar, continuo a participar em algumas provas, e isso é que me vai fazendo mexer.
Este Domingo fiz o meu segundo trail e o eleito foi o Cork Trail, em Coruche.
Depois de há apenas duas semanas ter feito o meu primeiro trail debaixo de muita chuva e com muita lama, o cenário desta vez não podia ter sido mais diferente. Incrível como o tempo muda tanto, tão depressa! Domingo esteve um sol fantástico, mas isso implica calor. Muito calor. E o percurso incluía muito pó e muita areia. O contraste não podia mesmo ser maior!
Esta foi uma prova decidida com mais alguma antecedência, mais ponderada, era ligeiramente maior (13km no trail curto), mas era mais longe e obrigou a acordar muito cedo e fazer uma viagem de cerca de uma hora. Chegámos a Coruche pouco antes das nove, quando a prova longa (23km) começava às nove e meia e os dorsais ainda estavam por levantar. Fica a nota para não voltar a repetir esta proeza, por mais que custe sair da cama a um Domingo, mais cedo do que saio nos dias em que vou trabalhar...
Se no primeiro trail tive companhia o tempo inteiro, tive quem me desse a mão (literalmente), tive quem me ajudasse, tive quem me dissesse para comer, para beber água, para respirar, tive quem puxasse por mim, tive quem cortasse a meta de mão dada comigo, nesta prova estive sozinha. Bom, na verdade estive com mais 246 pessoas que acabaram a prova. Mas estive sozinha.
Depois da partida do trail longo, tive 15 minutos para me preparar para a minha prova e aproximei-me da partida, com o nervosismo a começar a aparecer. Acho que só quando fiquei sozinha é que me caiu a ficha e percebi o que estava a fazer. Até aí, a ansiedade estava toda em apoiar e ajudar quem estava comigo e ia fazer os 23km (sendo que, num dos casos, era uma estreia nessa distância).
Quando a prova começou eu sentia-me bem. Nervosa, mas bem. Mais uma vez, ia em espírito de passeio. Sabia que não tinha treinado, sabia que o trail ainda é uma novidade para mim e não podia comparar com a estrada, sabia que no final ainda ia ter muito que esperar por quem estava nos 23km. Ia sem pressas, sem pressões. E isso, faz toda a diferença!
O que dizer do trail em si? Muito giro, muito bem organizado, muito desafiante, com bons abastecimentos, com paisagens lindíssimas. Logo pouco depois do início tivemos de atravessar uma zona com água (lama, mais propriamente), em que eu bem me tentei desviar mas acabei por desistir e fiz vários metros com lama até aos tornozelos. Sem problema. Foi bom para entrar logo no espírito. E para me rir. Para me rir muito comigo mesma e com as reacções e expressões dos outros que lá andavam.
Diferença número um da estrada para o trail: é muito mais divertido e animado. Sem comparação.
Mas nem tudo foi animação!... Houve muita subida a pique. Daquelas em que temos a sensação que a qualquer momento vamos cair para trás, daquelas em que pomos um pé e ele se afunda na areia e não sabemos bem como vamos sair dali, daquelas em que não temos onde nos agarrar. E também houve muita descida igualmente a pique. Daquelas que nos fazem levar as mãos à cabeça sem saber o que fazer, daquelas em que olhamos para as pessoas à nossa volta que insistem para que passemos à frente, daquelas em que sabemos que a única opção é sentar o rabo no chão e ir descendo.
Diferença número dois da estrada para o trail: estamos constantemente a superar obstáculos que nos pareciam impossíveis.
Uma das partes boas dos trails, sobretudo para mim que vou em ritmo passeio, são os abastecimentos: parei 2 ou 3 minutos em cada um, para hidratar (tão importante com o calor que estava!), e para comer. Havia de tudo: laranjas (que são sempre as minhas melhores amigas), bananas, batatas-fritas, bolos, bolachas, marmelada, compotas, nutella (sim, nutella!), tostas, e, possivelmente, mais coisas das quais não me lembro. No final, a mesma coisa. Neste ainda ofereciam uma bifana e uma cerveja quando se acaba a prova (que eu, fofamente, ofereci a quem estava comigo).
Diferença número três da estrada para o trail: facilmente saímos de lá com mais peso do que quando chegámos. Não se iludam com a ideia de que a malta faz exercício para emagrecer.
Fiz um tempo miserável. Mas miserável mesmo. Não é conversa de falsa modéstia de quem até se safou. Não. O meu tempo está próximo do vergonhoso e arrependo-me muito disso. Mas sei que no próximo farei melhor (faltam três semanas!), e sei também que tenho de treinar. Trail não é estrada. Usam-se músculos completamente diferentes e a exigência é muito maior. Tenho mesmo de (inventar tempo e) treinar. Também sei que dificilmente o conseguirei, mas, pelo menos, fica o registo escrito para me ir mentalizando.
Diferença número quatro da estrada para o trail: ficam a doer-te músculos que não sabias que tinhas.
Se me vou dedicar ao trail? Não sei. Se vou deixar de correr em estrada? Não sei. Ainda tenho algumas provas de estrada já marcadas até ao Verão, e também continuo muito entusiasmada com elas. Acho que vou tentar aproveitar o melhor dos dois mundos. Não sei como, nem com que tempo. Mas posso ir sonhando com isso!...