Volto ao mesmo assunto. A Luarte comentou o post anterior e referiu que tinha visto uma reportagem sobre o ter ou não ter filhos. Eu, claro, fiquei curiosa e fui em busca da dita reportagem. Fui encontrá-la no site da RTP e acho que vale a pena vê-la.
Antes de mais, achei curioso ver a forma como o tema foi abordado. Foram entrevistadas famílias com as várias opções: sem filhos; com um filho apenas; com dois filhos; e com dez filhos.
Mais curioso foi ver que muito do que eu aqui tinha dito coincide com o que foi dito pela pessoa que foi entrevistada para representar o ponto de vista de quem não quer ter filhos. E não, eu não tinha visto a reportagem! Mas foram ditas coisas que eu aqui escrevi e foram ditas coisas que em tudo batem certo com o que eu penso. E eu acho importante que vá havendo estas reportagens, para que se vá passando a mensagem de que já não somos todos obrigados a ter filhos. Não somos, nem temos de ser, todos iguais.
Só há uma coisa com a qual não concordo. É que eu não acho que seja egoísmo não ter filhos. Eu acho, isso sim, que é de um egoísmo atroz ter filhos só porque sim, porque nos apetece, porque precisamos de ter filhos para sermos felizes, mesmo que não tenhamos condições para lhes dar uma boa vida. Isso sim, é ser egoísta. Não ter filhos por se ter consciência que não se seria um pai ou mãe à altura, ou porque não se tem condições para lhes dar uma boa vida, é, para mim, altruísmo.
E sim, choca-me o extremo oposto. Faz-me confusão ver famílias com dez filhos. Porque não sei até que ponto isso é bom, é saúdavel. Obviamente que se não quero que critiquem a minha opção, não tenho nada que criticar a dos outros, mas acho que posso dar a minha opinião. E a minha opinião é que com dez filhos, possivelmente, não se lhes dá tudo o que eles precisam/merecem. E falo das questões económicas, que influenciam a escola, as actividades extra-curriculares, mas também a alimentação e os tempos livres. E falo também das questões afectivas, do desenvolvimento social e cognitivo. Não deve ser fácil conseguir dar atenção aos filhos todos, todos os dias. Claro que eles compensam isso com o apoio dos irmãos, mas será que chega? Em termos de alimentação, por exemplo, o pai dessa família referiu que a alimentação era mais à base de carne e que o peixe era raro porque era mais caro. Será isto saúdavel? A meu ver, não é.
Claro que podemos sempre ter duas perspectivas: ok, eles não lhes dão tudo do bom e do melhor, mas dão-lhes muito amor e há sempre alegria, e há sempre companhia; ou podemos pensar que mais valia terem só um ou dois filhos (como os outros casais), e concentrarem os esforços e as atenções neles. O que é mais correcto? Não sei ao certo. São opções. São crenças de cada um.
Só mais uma pequena nota. Assustou-me ouvir dizer que 47% das famílias numerosas vivem com rendimentos abaixo do limiar da pobreza. Isto faz sentido? Não, não faz. Como diz o meu pai, devíamos fazer exames e ter que obter uma autorização para poder ter filhos. Porque devíamos. E não me venham dizer que as crianças também se criam com menos dinheiro. Porque crianças com frio e com fome, não conseguem ter bons rendimentos escolares. Porque crianças sem estímulos e sem um meio ambiente saúdavel, não se desenvolvem da mesma forma. E para andarmos a ter filhos a que não vamos poder dar hipóteses de ter sucesso na vida, mais vale não os ter.
Mas isto sou eu. Objectiva, fria, racional, pragmática. Eu, que acho que se tiver filhos algum dia (não é uma hipótese que eu negue completamente), é para lhes dar tudo o que tive para mim e ainda mais. Nunca menos. Se isso significar que nunca vou poder ter filhos, paciência.