quarta-feira, 3 de maio de 2017

Das corridas... - XIX

Isto de correr tem muito de bipolar.



Se os últimos posts sobre o tema foram de desânimo, o de hoje é de muito entusiasmo (também não pode ser sempre mau, certo?).

Enquanto no dia 1 de Maio muitos recordes se batiam em Lisboa, eu estava um pouco mais a norte, a dar início ao meu terceiro trail: o V Trail Nabantino, em Tomar.

Ia ser a minha estreia nos 15km, pouco ou nada conhecia do percurso, e havia pouca informação disponível (sobre os abastecimentos, por exemplo, não havia nada). Sabia que era um trail pequeno (em número de participantes), sem grandes vedetas (há tanta prova a acontecer ao mesmo tempo, que as pessoas estão cada vez mais dispersas), e sem grande alarido à sua volta. Diria mesmo que era uma prova quase desconhecida, fora da região. Mas, dado que a família tem casa perto de Tomar, achei que era de aproveitar e podia ser um bom treino de 15km.

Acordei tranquila, mas fiquei menos tranquila quando entrei no carro e às 8h10 estavam 5º... A prova começava às 9h e eu só pensava na roupa fresca que tinha escolhido. Felizmente, o tempo foi melhorando e aquecendo, tendo mesmo chegado a aquecer quase demais, perto do final.

O início da prova foi muito calmo. Éramos poucos, como se previa. Entre trail curto (15km) e longo (35km), devíamos ser cerca de 200 participantes no Trail Nabantino. Muito poucos, portanto. Eu estava bem disposta, tranquila, e entusiasmada qb. Mais uma vez, a minha preocupação estava com quem ia fazer os 35km. Ao lado disso, os meus 15km eram um passeio nas matas!

E foram... Quase!

Na véspera da prova tinha andado a ver os resultados do ano passado e tinha definido na minha cabeça um objectivo que me disseram, honestamente, que era pouco realista. O ano passado, o percurso teve 15km e as 4 primeiras mulheres fizeram abaixo de 2 horas, e eu meti na cabeça que havia de fazer menos de 2 horas (mesmo que isso não significasse garantidamente ficar nas 5 primeiras, porque podia haver mais gente mais rápida). Estava consciente que era um objectivo meio disparatado, mas achei que era uma boa motivação. E lá fui eu.

O primeiro quilómetro foi quase todo a subir e eu via muita gente a ultrapassar-me. Umas dores fortes nos gémeos logo ao fim de 500 metros a subir assustaram-me e comecei a ver a minha vida a andar para trás... Mas fui correndo devagar, com alguma caminhada pelo meio, e a coisa passou. Rapidamente me vi num grupo de 5 ou 6 corredores, sendo que eu era a mais lenta, e ia tentando acompanhá-los. O abastecimento, que devia ter sido aos 8km, foi perto dos 9,5km. Já disse que detesto que façam isso? Uma pessoa começa ali a desesperar, a pensar que está quase, quase, quase, e o abastecimento nunca mais aparecia... Já se comentava no grupo que se tinham esquecido de nós. Finalmente, uma placa a avisar que estava quase. Mais uma subidita, e lá estava ele. Curiosamente, depois de tanto esperar pelo abastecimento, peguei em dois bocados de laranja, parei 30 segundos, e segui viagem. 

Foi nesta altura que eu e outra corredora nos distanciámos um pouco do resto do grupo, entretanto ultrapassámos outro casal, e a dada altura ela começou a abrandar. Tentei puxar por ela, dado que ela tinha sido a minha lebre até aí (era a mais forte do grupo que eu tinha vindo a perseguir), mas ela quis mesmo ficar para trás. E eu andei muito tempo sozinha a partir daí, coisa que foi novidade para mim. Na minha larga experiência em 3 trails, nunca tinha estado sozinha sem ter ninguém à minha frente para seguir. E em trail isso quer dizer que sou eu que tenho de estar de olhos bem abertos, à procura das fitas e das indicações, e a garantir que não me engano, ao mesmo tempo que tenho de ver bem onde ponho os pés para não cair (ainda apanhei um grande susto quando tropecei e achei que ia cair ribanceira abaixo...). 

Foi também nessa altura, cerca dos 10km, que comecei a fazer contas ao tempo e a ver que a coisa estava a correr bem. Mais do que isso, eu sentia-me bem, coisa que já não acontecia há algum tempo em corrida (só pensava no horror que foi a Scalabis...). Mas eu sentia-me mesmo bem e só faltava um terço da prova. Aproveitei os 2km que se seguiram quase sem subidas e acelerei... Passei a ter como objectivo alcançar quem quer que fosse que me aparecesse à frente. E ao fim de algum tempo, lá apareceu um corredor. Com algum esforço, consegui passá-lo. Uns tempos depois, outra corredora. Parecia que ela fugia de mim!... Eu aproximava-me, ela acelerava... Às tantas, pensei que tinha de ter juízo. Não estava ali para me matar. Mas acabei por passá-la numa subida e o ânimo voltou. Fiz mais algumas ultrapassagens. E, entretanto, cheguei aos 15km com o relógio a marcar 1:58:02. Estão a imaginar o meu histerismo? Tinha conseguido o meu objectivo! Estava feito! O problema? O trail não tinha 15km... Tinham-me falado ao início que afinal teria 16km, mas acabaram por ser 16,6km.

A partir dos 15km, que ainda incluíram uma subida simpática, achei que tinha de dar tudo por tudo no que faltava (mesmo sem saber ao certo quanto faltava...), sobretudo porque me esperava uma grande descida. Nessa descida, ainda fui ultrapassada por uma corredora que eu tinha conseguido ultrapassar, e andámos ali muito coladas. Já estávamos a entrar no parque do Mouchão, pouco faltava para a meta, e senti mesmo que ela não queria que eu a passasse, mas também senti que ela quebrou a dada altura, e foi aí que fiz o sprint final (pelo meio do parque, por cima de uma ponte, entre famílias e carrinhos de bebé...), e cortei a meta com 2:08:11, e a sentir-me muito, muito feliz! Nessa altura, tive pena de estar sozinha e de não ter com quem partilhar o feito, mas deu para meditar sobre o assunto. 

Naquele momento, ainda não fazia ideia em que lugar tinha ficado. Percebi que já tinha chegado muita gente e a única coisa que me interessava era que tinha superado o meu objectivo e feito um bom tempo (para mim, ok?). Fui comer qualquer coisa, bebi muita água, alonguei, e fui até ao carro alongar mais um bocado e buscar a roupa para trocar. Sabia que ainda teria muito que esperar por quem estava nos 35km. Com toda a calma, lá me troquei, fui comer mais qualquer coisa (ia alternando entre salgados e doces, numa grande misturada...), e fui buscar a imperial que ofereciam aos participantes (o trail é assim!). 

A dada altura percebi que já estavam a afixar classificações e, confesso, desanimei um bocadinho... Pensei que devia ter sido mesmo das últimas, para meia hora depois de eu ter chegado, já estarem a afixar resultados. Qual não é o meu espanto, quando vejo que fiquei em 5º do meu escalão! Em 5º!!! Parecia tolinha! Não queria acreditar! Certo que só éramos 8, mas eu tinha ficado em 5º! Lá tirei uma foto que partilhei, andei por ali a fazer tempo, e ainda fui ao centro de Tomar abastecer-me de doçaria conventual. Quando voltei para o Pavilhão Municipal, fui novamente espreitar as classificações, que já eram as finais dos 15km. Nesta altura, vejo que no meu escalão afinal tinham concluído 19 e não 8 participantes. Ainda fiquei mais feliz! Fui a 5ª em 19! Acho que para terceiro trail, não foi nada mau! Claro que foi um trail pouco concorrido, não foi particularmente difícil, e eu não posso ficar a achar que, de repente, virei croma dos trails. Tenho bem noção da sorte que tive para que isto acontecesse, mas também tenho noção que face aos 2 trails anteriores, neste esforcei-me bem mais, e os resultados apareceram.

E é por isto que as corridas são bipolares. Detestei a Scalabis, vim de lá super desanimada, e a querer desistir de correr. Vim do Trail Nabantino eufórica, super feliz, e a pensar que tenho mesmo é de treinar para continuar a evoluir.

Domingo tenho outra corrida, e é toda uma incógnita a forma como me vou sentir no final!...


(perdoai o testamento...)

12 comentários:

  1. Estás perdoada e 5o é excelente independentemente de ser concorrido ou não. Até porque se fossem os tais 15km tinhas ficado abaixo das 2h que era o teu objectivo!

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    1. Obrigada :) É isso mesmo, consegui o meu objectivo e fiquei muito feliz :D

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  2. Eu ainda me estou à procura3 de maio de 2017 às 16:25

    UAU! Muitos parabéns. Um trail é um trail e ficar em 5º lugar é espectacular. E gostei deste relato - até senti a minha pulsação a acelerar... Não pares.

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  3. Muitos parabéns, mais uma conquista!!A corrida é mesmo assim, com altos e baixos (literalmente :-))Com os teus relatos até ando com vontade de experimentar um trail, o problema é mesmo a falta de tempo para treinar. Bjs

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    1. No trail é mesmo com muitos altos e baixos! Ahahah :)

      Eu sei que muita gente não gosta, mas eu tenho estado a descobrir o trail e a gostar muito... Sugiro que experimentes ;) Nem que comeces com um percurso mais curto e vás com o meu espírito: passeio e ver as vistas!

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  4. Oh pá, gostei tanto de ler! Parabéns!!
    Estavas mesmo a precisar de uma corrida assim! Boa sorte já para domingo. Que esta euforia dure por muito tempo!

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    1. Obrigadaaaaa :)

      Não vais Domingo, pois não? Vai ser a minha última, tenho de dar tudo por tudo!

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    2. A última? Então temos medalha! :)
      Não vou domingo, estarei noutra prova em Odivelas.

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  5. Muitos e muitos parabéns! Pela marca, pelo excelente lugar e, principalmente, pela felicidade que a corrida deu.
    Foram os ares da minha terra :)
    Beijinhos e força para este domingo!

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    1. Muito obrigada, João! O que guardo é mesmo essa felicidade, que é o mais importante na corrida (para mim, pelo menos!).

      És de lá? Que engraçado! É uma bela terra, sem dúvida :)

      Obrigada, igualmente (se for o caso!)!

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