As pessoas. As pessoas entristecem-me muito.
Sou aquela que se faz de fria e bruta, que é conhecida no local de trabalho como "a que não gosta de pessoas", vivo fechada na minha bolha e sou muito pouco sociável.
Mas a verdade, a verdade é que no fundo sou uma romântica incurável e terrivelmente ingénua, que fica magoada quando se apercebe do que é o mundo real.
Tenho sempre dificuldade em lidar com a maldade, com a crueldade, com a indiferença, com o desrespeito. Não consigo aceitar certos comportamentos das outras pessoas e fico mesmo triste com eles. Mesmo quando não é nada comigo.
Fico muitas vezes a pensar como será possível. Pergunto-me o que terão algumas pessoas no lugar do cérebro, para terem certas atitudes.
E não falo de nada em concreto. E, ao mesmo tempo, falo de tudo.
Falo de comportamentos mesquinhos, falo de prejudicar um colega, falo dos comentários anónimos e ofensivos por aqui, falo de guerras dentro das famílias por coisas sem importância, falo de passarmos à frente de alguém numa fila, falo de não respeitarmos o próximo, falo de não darmos valor aos compromissos e promessas, falo da nossa indiferença perante a dor do outro, falo da falta de capacidade para olharmos além do nosso umbigo.
A nossa sociedade está cada vez mais podre. Mais sem valores. Mais pobre.
E isso entristece-me. Porque, na verdade, ainda não me tornei fria e cínica o suficiente para aceitar que assim é. Porque, na verdade, ainda não consigo acreditar que há pessoas intrinsecamente más. Porque, na verdade, não compreendo, e nunca compreenderei, como é que alguém magoa alguém de ânimo leve. Porque, na verdade, eu gosto tanto da minha bolha porque na minha bolha posso acreditar num Mundo melhor. E eu preciso desesperadamente de acreditar num Mundo melhor. É isso que me mantém viva.