Não é piada. Em Portugal gasta-se muito mais dinheiro em cápsulas de Nespresso do que em livros. Portanto, não é uma questão de preço. É uma questão de escolha. Somos um país que gosta de ostentar carros, Bimbys, garrafas de vinho caro e redondos copos de gin. Não somos um país que se orgulhe de ostentar conhecimento. (restante artigo no Observador)
Tentei encontrar dados concretos que suportem estas afirmações, mas não consegui. O que não quer dizer que as mesmas não sejam verdadeiras. Ou que me surpreendam. Queria apenas ter números reais da sua dimensão.
Como tão bem refere este parágrafo, somos um país de ostentações, de usar para mostrar, de marcas e exibições de riqueza constantes.
Sim. Tenho uma Nespresso. Sim. Tenho uma Bimby. Sim. Tenho um par desses copos redondos de gin da moda.
Contraditório?
Não.
Também tenho uma estante cheia de livros. Tenho um caixote no hall de entrada há meses e ainda há dias tive que explicar que não arrumo aqueles livros por não ter onde os pôr. Tenho muitos e variados caixotes com livros na garagem do meu pai à espera da minha próxima casa, do meu escritório, da minha biblioteca.
Ainda assim, não acredito que o conhecimento se meça no valor que gastamos em livros.
Eu não gasto muito dinheiro em livros. Sim, é essa a minha escolha. Eu escolhi ter um Kindle e se comprar livros para o mesmo, serão facturados no estrangeiro, não em Portugal. Também já por diversas vezes encomendei livros de sites estrangeiros. Tirando alguns livros que comprei para oferecer, este ano o único livro que comprei foi o do Tordo, que comprei em promoção no Continente por seis ou sete euros.
Sim, gastei mais dinheiro em cápsulas e em vinhos e em gins do que em livros. Muito mais. E sim, também foi por uma questão de preço. Mas foi, acima de tudo, a minha escolha.
Claro que esta frase fica bem. Quer chocar, agitar, mostrar que somos um país de ignorantes que só se preocupam com a imagem. E talvez sejamos, mesmo.
Mas se há coisa que tenho aprendido nos últimos tempos é que as generalizações e as assumpções são tão, mas tão perigosas... Tenho pensado sobre isso, tenho tentado julgar menos, tenho tentado desculpar mais, tenho tentado não assumir tanto. É fácil falar e dar opiniões sobre tudo e sobre nada, difícil é viver a vida dos outros.