domingo, 26 de maio de 2013

Dos sonhos... - II

Só os sonhos nunca apodrecem...

Tudo o resto? Tudo o resto apodrece desde o momento em que surge.

A fruta apodrece se a deixarmos demasiado tempo na fruteira. A comida apodrece se nos esquecermos dela no frigorífico. Os carros apodrecem ao fim de muitos anos. Os livros apodrecem com a humidade, o bolor, o passar do tempo.

Tudo apodrece.

Nós, apodrecemos. Desde o momento em que nascemos, estamos a apodrecer. Cada dia que passa, apodrecemos. Cada ano, cada cicatriz, cada cabelo branco, apodrecemos.

Apodrecemos por dentro, nas entranhas do nosso ser. Contaminamos o nosso corpo e ele próprio envelhece. Apodrecemos.

Apodrecemos a nossa essência, o nosso ser, a nossa alma. Apodrecemos por inevitabilidades. Apodrecemos por contágio do mundo à nossa volta. Apodrecemos.

As relações apodrecem. Como a maçã, verde e lustrosa que trazemos do supermercado, e que vai perdendo a cor, o brilho, o sabor. Apodrece. Tal como as relações. Perdem o brilho, a cor, o sabor, até. Porque tudo apodrece. Porque o próprio crescimento apodrece.

Os sonhos? Os sonhos não. Esses nunca apodrecem. São sempre nossos, cor-de-rosa, com brilho e cor. Só os sonhos nunca apodrecem


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