domingo, 6 de maio de 2018

Da Maratona de Madrid... - II

Agora que passaram duas semanas, parece-me razoável começar, finalmente, a escrever sobre o assunto. Naturalmente que, uma vez que uma pessoa (ou esta pessoa, pelo menos) só faz uma maratona uma vez na vida, vou ter de fazer render o tema e talvez em 2020 ainda esteja a escrever sobre isto. Ou talvez não. Vamos ter de esperar para ver.

Comecemos pelo princípio. Não podia contar já o final, não é? Temos de manter aqui algum suspense. 

Comecemos então pelo antes.

O estado de espírito quando fui para Madrid, na véspera da Maratona, não era mesmo o melhor. Estava demasiado anestesiada para conseguir processar tudo o que estava a acontecer e, mais do que isso, o que ia acontecer no dia seguinte.

Aterrámos em Madrid perto da hora de almoço e o plano era irmos directamente à Expodepor, na IFEMA, por ser perto do aeroporto. E fomos.

Ao chegar à zona da feira, e ao começar a ver aquela gente toda, começou a surgir em mim algum entusiasmo com o que aí vinha. Quando, logo à entrada da feira, me deparei com um mural gigante com os milhares de nomes de todos os inscritos, não pude deixar de parecer uma barata tonta à procura do meu nome. E ele lá estava. E eu comecei a perceber no que estava metida.


(o momento em que este blogue deixou de ser anónimo e eu não quero saber... Olá! Eu sou a Inês!)

Seguiu-se o levantamento do dorsal, em que perdi uns bons dois minutos. Acho que perdi mais tempo a olhar para ele do que a levantá-lo. Era real. Tinha o dorsal nas mãos e aquilo ia mesmo acontecer. Tive de me agarrar ao louco mais louco que eu, porque só me apetecia chorar (vai ser uma constante em tudo que aí vem...). Depois, fomos levantar as tshirts. Mais dois minutos na fila. Tirámos umas fotos e decidimos ir almoçar e voltar à feira já de barriga cheia.


Eu nunca fui a nenhuma pasta party, pelo que não tenho comparação possível. Mas gostei desta. Como em tudo até aí, super bem organizada, com pouca fila, com zero confusão, com gente em todo o lado a explicar tudo. O almoço em si era massa com molho de tomate e chouriço com queijo, laranja para sobremesa, pão e bebidas diversas à escolha. Podíamos repetir as vezes que quiséssemos, mas eu fiquei pela primeira dose, depois de andar a catar o chouriço todo para o prato do louco mais louco que eu.


(olhar para o percurso num mapa maior do que eu foi um momento muito esclarecedor...)

Depois do almoço ainda demos mais uma volta pela feira, comprámos isotónico para irmos bebendo, eu comprei uma pulseira com uma medalha alusiva à Maratona, visitámos alguns stands e decidimos que o melhor mesmo era ir para o apartamento descansar.

Descansar. Essa coisa fantástica que eu não tinha feito nos dias anteriores.

Descansámos e depois saímos para jantar. Fomos a um italiano maravilhoso que eu já tinha reservado perto do apartamento. No caminho para o restaurante passámos, por coincidência, no Paseo del Prado, onde já estavam a preparar tudo para o dia seguinte. Ver aquela que seria a recta final e o pórtico da meta já montado mexeu comigo. Só me apetecia chorar, mais uma vez, ao mesmo tempo que me sentia entusiasmada. Apetecia-me gritar às pessoas na rua que no dia seguinte eu estaria ali a cortar aquela meta. Foi só uma vontade. Não gritei com ninguém. Mas podia ter acontecido.


Enchemo-nos de massa, bebemos muita água, demos uma volta a pé e regressámos ao apartamento.


Era chegada a hora de preparar o equipamento, os géis e afins, os phones, e o dorsal. Não tenho nenhuma daquelas fotografias com tudo a postos que ficam muito bem. Mas vi e revi tudo várias vezes. Só fiquei na dúvida quanto às meias, que acabei por escolher no próprio dia. Sim, eu sou óptima a tomar decisões. Sim, as meias (a par dos ténis) são daquelas coisas que devem mesmo ser decididas atempadamente e testadas e tudo e tudo. Mas eu sou eu. Nada a fazer.

Deitei-me, com a certeza de que não ia conseguir dormir. A pensar que não me tinha alimentado como devia nos dias anteriores, que não tinha bebido água suficiente, que não tinha dormido nem descansado nada de jeito. Com a certeza que a minha semana antes da Maratona tinha sido tudo o que não deve ser uma semana antes de uma Maratona. Mas a pensar também que já não havia nada a fazer e que agora era mesmo ir lá e correr. O que conseguisse. O que pudesse. 

E, eventualmente, adormeci. 


8 comentários:

  1. Olá Inês! (finalmente posso chamar-te pelo teu nome, eh eh).
    Indo pela ordem do que escreveste:
    - A tua única Maratona? Tem piada que eu quando fiz a minha primeira também garantia que ia ser a única. E meti muito bem isso na cabeça. Passado um mês... Bom, resumindo, já tenho 9 e quero continuar a somar. E algo me diz que não vais ficar por esta, por mais neste momento que estejas convencida que sim. Então tendo em conta que és tão novinha... :)

    - A emoção de olhar para o dorsal, a vontade de chorar... Tudo isto é Maratona e mexe imenso com todas as nossas emoções. Ah, e não passa com o fazermos mais :)

    - O percurso ser maior que tu? Pudera, não medes 42 Km?!? :)

    - Ver o pórtico da meta antes de a fazer? Mexe tanto connosco!!! Todo o empenho, luta, sofrimento, sonhos, está resumido naquela linha branca que tanto se sonha cruzar!

    - Fizeste muito bem em jantar num italiano. Em véspera, quanto mais pasta, melhor!

    - Em relação às meias, acredita que há muito atleta que se preocupa com os ténis e descura as meias. Meias que podem influenciar de que maneira uma prova.

    - Adormeceres a pensar que não tinhas feito tudo como devia ser? Foste tu e todos os que se inscreveram :)
    Claro que a semana anterior é que foi algo de incontrolável. Mas a resposta que deste no domingo, ainda realçou mais o teu fantástico feito.

    E por falar em domingo... estou em pulgas para ler o resto! Por favor não demores mais duas semanas :)

    Beijinhos e uma excelente semana!

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    1. Olá, João! :)

      Acredito que esta possa mesmo ser a única, por razões que hei-de desenvolver mais adiante. Mas nunca podemos dizer nunca, não é verdade? :)

      Eu já tinha olhado para o percurso dezenas de vezes mas vê-lo ali, naquele painel enorme, foi mesmo o momento em que me caiu a ficha e percebi a dimensão daqueles quarenta e dois quilómetros e cento e noventa e cinco metros!

      Nunca tinha experienciado esta passagem pelo pórtico na véspera e é, de facto, muito bom!

      Bom, eu preocupo-me sempre mais com as meias... Mais coisa menos coisa, os ténis estão sempre escolhidos. As meias são sempre aquilo que demoro mais a escolher antes dos treinos/provas!

      Vou tentar :)

      Um beijinho!

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  2. Olá Inês :)
    o que retive neste texto todo foi essa "vontade de chorar" por tudo e por nada. Revejo-me em muitas provas que fiz, daquelas que tinham um significado especial, fosse qual fosse ... bom sinal, sinal que esta Maratona era efectivamente algo de especial e é assim que eu acho que as Maratonas devem ser corridas. Estou ansioso pelo próximo capitulo :):):)

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    1. Olá, Carlos!

      Foi, de facto, algo que se manteve antes, durante e depois, por todas as razões e mais algumas. Foi uma prova de emoções, mesmo!

      Vem a caminho :)

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  3. Olha, afinal tu é que és a Inês? Esquece os meus comentários a todos os posts anteriores, foram engano... :)

    Quando são boas, as feiras das Maratonas têm esse condão de nos deixar bem arrepiados e com pele de galinha! Aguardo pelos próximos episódios, estou cada vez mais curioso para saber como correu! ;)

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    1. Norberto a ser Norberto :)

      Esta teve o condão de me fazer cair a ficha... O que começava a fazer falta!

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