segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Do tempo que não pára e que pesa...

Na mais recente ida ao Algarve uma das coisas que fiz foi ir visitar a minha Avó ao lar onde está. Ela está lá há alguns meses e esta foi a primeira vez que a fui visitar.

Outras considerações à parte, que já aqui referi que a minha Avó não é uma pessoa fácil e não temos a melhor das relações, senti necessidade de aqui escrever sobre isso.

À minha irmã mais nova, por exemplo, faz imensa confusão a questão dos lares. Eu tento explicar-lhe a minha perspectiva.

E a minha perspectiva é muito simples e muito pragmática e resulta de uma forma de ver a vida que se apoderou de mim durante este último ano.

Acho que posso dizer que mudei bastante nos últimos meses. Para melhor, digo eu. Mudei porque passei a ver a vida de uma forma muito mais simples e descomplicada. Passei a relativizar mais os problemas. Passei a dar valor às pequenas coisas. Passei a não dar importância a coisas sem importância. Sobretudo, acho que passei a simplificar.

Claro que, isto ainda é uma transformação em curso. Ainda tenho muito que crescer e aprender.

Mas uma das coisas que aprendi é que temos sempre de perspectivar as coisas. E, neste caso muito concreto, o facto de dar dois passos para trás e tentar ver as coisas de fora, faz-me concluir que estar num lar não é assim tão mau.

Antes de mais, convém esclarecer que a minha Avó é uma privilegiada. E é uma privilegiada porque está num lar porque quer. Foi ela que se inscreveu há já uns anos e foi ela que, quando abriu uma vaga, decidiu ir para lá. E é também uma privilegiada porque está num lar muito, muito, muito bom. Com óptimas condições, com toda a assistência de que precisa e com toda a liberdade para fazer o que quiser, e conseguir.

Posto isto, e sabendo eu que a minha Avó é uma excepção e não a regra, continuo a achar que ela está melhor no lar.

Por quê? Porque temos de pensar na alternativa. E a alternativa da minha Avó era uma vida cada vez mais solitária. Porque a minha Avó decidiu ir viver para o Algarve e, obviamente, que nós não a podíamos  visitar com a frequência com que o fazíamos em Lisboa. Além disso, a minha Avó tem 93 anos e aos 93 anos, já muitos dos amigos e familiares começaram a partir. Assim, a minha Avó passava muito tempo sozinha. Pior do que isso, com a saúde a degradar-se, ela saía cada vez menos de casa. E como não saía de casa, não comia. E passava o dia inteiro sozinha em frente à televisão ou a ler. 

Perante isto, eu mantenho que ela está melhor no lar. No lar, tem o pequeno-almoço, o almoço, o chá, o jantar e a ceia. E melhor, diz que a comida é boa e que até fazem uns petiscos de vez em quando. No lar,  tem uma casa-de-banho enorme com todos os apoios que precisa para se poder mexer e tem alguém que a vai ajudar a esfregar as costas no banho. No lar, tem o seu quarto, com a sua televisão, com as suas coisas, e não tem de se preocupar com as limpezas. No lar, conhece toda a gente e pára três vezes a meio do corredor para conversar com alguém. No lar, tem um terraço enorme onde se senta a apanhar Sol e a ler.

Sim, a minha Avó está melhor no lar do que fechada em casa sozinha.

Um lar é deprimente? É. Custa pensar que um dia podemos ser nós ali? Custa. Mas tomara a mim chegar aos 93 anos e ter clareza de espírito suficiente para perceber que estar num lar pode ser a melhor opção.

5 comentários:

  1. Aplaudo a tua avó de pé! Sabes que agora existem uns lares, que nem chamam de lar, mas sim casa de convivio e comunitaria (ehehehe) que ok.. são uma pipa de massa tipo 1000 a 1500 euros por mes, mas mais parece um hotel de luxo, mas na dinamica de lar, apesar de ter animação das 10h ás 19h, actividades etc... isto parece ser um bom negocio se soubermos dar o toque á coisa

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  2. Conseguiste escrever na íntegra aquela que é a minha opinião. Devemos encarar a "ida" para um lar como uma estadia prolongada num hotel. Pelo que, deverá ser feita quando ainda temos plenas capacidades motoras e intelectuais.

    Para quê estar numa casa sozinha se posso ter companhia?

    Bisouxxx

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  3. Concordo plenamente! Ainda existe aquela ideia de que os lares são um local de abandono de pessoas, é óbvio que não...é uma casa onde tem todas as condições e companhia, quer durante o dia, quer durante a noite. A minha avó também está num lar, é uma pessoa doente, mas está bem melhor do que estaria em casa, sozinha.

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  4. Completamente.
    Estar num lar é apenas dar-lhes o conforto do que sozinhos em casa dificilmente conseguiriam ter. Com a minha avó aconteceu precisamente o mesmo. Na altura custou-me horrores, mas hoje penso e tenho a certeza que foi melhor assim. E nunca a amei menos por isso. Antes pelo contrário. É um dos meus amores maiores.

    E morreu com uma tranquilidade imensa, logo acho que estava feliz. Porque sabia que tinha quem a amasse muito. E acho que isto é o melhor que se pode levar desta vida.

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  5. Os lares não têm que ser obrigatoriamente, lugares deprimentes. Temos que mudar mentalidade e costumes, pois a nossa população envelheceu e irá envelhecer cada vez mais e o nosso futuro passa por lares, onde todos sejamos tratados dignamente.
    Estou como a Me, vamos para o hotel :)

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