quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Da multiplicação da espécie...

Durante muitos milhares de anos o papel de mulher esteve sempre ligado ao papel de mãe. Quando isso não acontecia, era porque havia algo de errado.

Actualmente, felizmente, as mentalidades têm vindo a mudar. A pouco e pouco. Ainda há muito aquela ideia de que uma mulher casa e depois tem filhos. Já perdi a conta à quantidade de vezes que já me perguntaram quando é que vou ter filhos. E já me cansei de responder.

Eu não sei se vou ter filhos. Não sei se quero ter filhos. Neste momento, o que eu sei, é que me quero dedicar a 200% à minha vida profissional. Quero fazer o Mestrado e quero lançar-me a solo. E depois, talvez queira fazer o Doutoramento. Ou talvez queira ir para Londres. Ou talvez queira fazer outra coisa qualquer. Não sei. O que eu sei é que nos meus planos para os próximos anos, não entram filhos.

E, por isso, quando me perguntam quando é que vou ter filhos, eu respondo que nos próximos três anos não vai acontecer de certeza. Depois logo se vê.

E as pessoas olham para mim como se fosse um bicho-do-mato. Um alien ou coisa do género. Na minha geração, já se vai encontrando mais gente com esta mentalidade. Mas ainda é tão difícil...

Se, por acaso, eu algum dia decidir que não quero mesmo ter filhos, matam-me. Mas eu tenho esse direito, sabem? Ninguém é obrigado a ter filhos. Aliás, o Mundo era bem melhor se algumas pessoas fossem proibidas de ter filhos.

E eu, não achando que devesse ser proibida de ter filhos, tenho a consciência que não seria uma mãe brilhante. E, assim sendo, prefiro estar quieta no meu canto. 

É que eu não me babo com bebés, não adoro o cheiro deles, não gosto de lhes pegar ao colo e não acho o máximo quando eles se riem. E eu não acho que os bebés sejam a melhor coisa do Mundo. E escusam de vir dizer que quando for mãe, isto muda. Porque, se algum dia for mãe, e deixar de ser a Agridoce para passar a ser apenas mãe, internem-me. 

Eu consigo achar piada aos bebés se for durante uma hora ou duas, uma vez por semana, e se não chorarem. Mais do que isso, é difícil. E uma das razões que me faz não querer ter filhos tem que ver com o facto de eu não saber lidar com bebés a chorar ou com crianças que se portam mal ou fazem barulho. Não sei. Eu sou estupidamente racional e lido muito mal com o irracional. E não é fácil entrar no campo do racional com bebés. Se eles quiserem chorar, choram, se quiserem berrar, berram. E eu pouco ou nada posso fazer. Não posso virar as costas e sair de casa, só porque não me apetece ouvi-los.

Se calhar, pareço um bocado bruxa ao falar assim de crianças e bebés. Mas, pelo menos, eu tenho consciência das minhas capacidades, dos meus limites, da minha paciência. Eu não tenho filhos porque acho que não ia ter paciência para eles. E se é para ter filhos e depois enfiá-los em colégios, amas ou deixá-los em casa com a empregada, mais vale não os ter. Mesmo que pareça a bruxa má e egoísta.

9 comentários:

  1. Disseste tudo na ultima frase E "se é para ter filhos e depois enfiá-los em colégios, amas ou deixá-los em casa com a empregada, mais vale não os ter"... Pode ser que um dia vejas as coisas de outra maneira, ou então não! E tas o teu pleno direito... O que importa é seres feliz, com filhos ou sem filhos! ;) beijocas querida

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  2. Não acho que pareças bruxa má e egoista, acho sim que tudo tem o seu tempo e não se deve ter filhos só porque está na altura ou é o curso normal da vida! Concordo contigo, só o devemos fazer quando quisermos e nos sentirmos preparados... E também não me babo com bebés, gosto, acho graça, ás vezes também apetece! Mas depois penso nos berros, no choro, nas noites sem dormir, e chego á mesma conclusão que tu.. Ainda não tenho paciência!
    Beijinhos :)

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  3. Por acaso a mim nem me fazem muito essa pergunta, só esporádicamente e eu divirto-me a dizer que para já não. No entanto é de facto um sonho ter filhos, e até estava nos planos a curto prazo, ou seja mandá-lo vir daqui a um ano...mas da maneira que a coisa vai ficar dúvido! Logo é um sonho adiado... Eu respeito perfeitamente quem não quer ter filhos, não me causa estranheza nenhuma, tenho uns tios que não quiseram ter filhos, têm uma mente super aberta, uma aparência muito cuidada e são super divertidos, posso juntá-los com os meus amigos que se integram perfeitamente, e temos uma diferença de 20 anos!

    Beijinhos*

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  4. Pelo menos és sincera...também ainda não tenho instinto maternal desenvolvido...

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  5. Eu acho que é diferente quando são os nossos filhos.
    Eu não gosto de crianças, no geral não gosto. Mas o meu filho não vai ser uma criança para sempre pelo que não vou deixar de ter porque não gosto de crianças. É um futuro adulto e é para isso que tenho de o educar.
    Igualmente percebo o desagrado da ideia de ter filhos para os deixar na creche mas discordo. Seria fantástico se todas as mães (ou pais) pudessem cuidar a tempo inteiro dos filhos mas a verdade é que isso é muito difícil actualmente. Para além de que o mais importante é o modelo que lhe transmitimos. Uma mãe trabalhadora realizada, com projectos de vida para além dos filhos é, a meu ver, um grande modelo.
    Eu não tenho e não sei se irei ter filhos mas acho que os motivos para ter ou não nunca serão completamente racionais, partem sempre primeiramente do nosso desejo, de uma vontade que é irracional. E os desejos não se explicam, seria bom que as pessoas parassem de nos obrigar a explicar o que não pode ser explicado.
    Um filho é uma escolha que nos vai impedir de fazer algumas coisas como até aí.Mas os filhos também não são desculpa para não progredir na vida, nem os objectivos de vida são desculpa para não ter filhos. Conheço pessoas que viraram a vida do avesso (estudaram, trabalharam, cresceram) com filhos (uma delas com 3) e outras que sem nenhum nunca sairam da mesma rotina.

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  6. É exactamente por eu achar que não é uma coisa completamente racional, que eu não quero ter filhos. Acho que deve haver uma vontade, um desejo, de os ter. E eu não sinto isso! Se for racional, sim, tenho dinheiro e vida para isso, mas não chega. É preciso ter vontade, ter amor, ter paciência, ter essas coisas todas. E é nesse sentido que falo nos pais que os "abandonam" em qualquer lado. Têm dinheiro e condições, mas não têm vontade de os ter. Têm filhos porque sim, porque é suposto. Obviamente que falo das situações extremistas das crianças que estão nos jardins-escola das 7h às 19h. Mas há crianças assim, há pais assim! E, para isso, mais vale não os ter!

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  7. Este comentário foi removido pelo autor.

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  8. Este teu post fez-me lembrar uma reportagem que vi no fim-de-semana passado: "ter ou não ter filhos". Eu gostei imenso da reportagem porque foram retratadas todas as situações. E uma delas era um casal que pensava exactamente como tu. Cheguei a ler-te nas coisas que ela (era ela sobretudo a porta-voz) disse. Não sei se no teu caso, irás mudar de ideias, mas no caso desse casal esteve sempre bem definido que não queriam filhos. E as pessoas à volta, ao fim de poucos anos começaram a bombardeá-los com as mesmas perguntas do costume. Irra, que gente chata que não compreende que simplesmente existem outras pessoas que não querem ter filhos! Será assim tão difícil de compreender? Nem todos têm de achar que não há coisa melhor no mundo, ou que não há amor como o amor que se nutre por um filho, ou que a máxima realização pessoal passa por ser pai ou por ser mãe. Todas essas concepções servem apenas para quem as sente. E acho um piadão quando vejo ou leio pessoas que as tentam impôr como verdades absolutas aos outros. Os outros são simplesmente vistos como imaturos. Elas é que são as pessoas iluminadas! Mas será assim tão irracional não ter o desejo de querer um filho? Eu acho super natural, como o desejo contrário e, no entanto, estou do outro lado da barricada. Gostava de ser mãe e tenho esse instinto maternal, mas não pretendo impingir os meus projectos de vida a ninguém. Mas voltando, à reportagem, ela de tanto ser confrontada com a mesma pergunta vezes sem conta, viu-se simplesmente obrigada a arranjar uma estratégia de evasão. Passou a dizer que "não tenho filhos, porque não os posso ter". Assim, sim as pessoas compreendem. "Coitada, não pode ter filhos!". Assunto delicado, assunto tabu. Começou a ter descanso e paz. Preferia sentir o olhar misericordioso dos outros (como ela própria dizia), do que andar a explicar aquilo que era incompreensível, e por vezes ofensivo, aos outros.
    Beijinhos

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  9. Luarte obrigada pelo teu comentário! A questão é muito essa: aceitar que não somos todos iguais e que não temos todos de querer o mesmo. Fui procurar a reportagem e vou escrever sobre isso :) Acho que a solução de dizer que não se pode ter filhos é extremista, mas é, provavelmente, a única maneira de calar as pessoas e de as fazer perceber que não se deviam meter na vida dos outros! B eijinhos :)

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